A ESPIRITUALIDADE PRESENTE NO CUIDADO DA SAÚDE INTRODUÇÃO Estamos num evento gerado por um espaço educacional (FASE) que está preocupado com o desenvolvimento total do humano. Educar é trazer para a luz, um novo parto. O parto mais dolorido e iluminado é dar à luz a si mesmo. Educação é Iluminação. É a doação do EU ao SER DIVINO, isto é, a restituição ao lugar de onde o Humano provém: à sua Fonte Sagrada. Uma das características da pós-modernidade é o retorno ao Sagrado. Estamos vivendo o grande momento da mística e da espiritualidade. Espiritualidade é sentir o ritmo do próprio sopro como inspiração, expiração e inspiração. Respirar a vida segundo o Espírito. Respirar é deixar a energia passar sem nenhum bloqueio, é a fluência natural de sua Inteireza. Educar com Espírito é viver da Luz e mudar de mentalidade e de lugar; sobretudo, do lugar da acomodação. A Espiritualidade não é uma doutrina, é um Caminho. É o caminho do discernimento, que é a reta compreensão, o reto falar, a reta aspiração (ter sonhos e projetos), o reto agir. Vamos usar aqui o uso benéfico da linguagem Simbólica numa simbiose do material, do físico, do espiritual e do psicológico. Enfim, um mundo alegórico, para repassar um grande ensinamento. A arte de educar é a transformação do humano. A arte de educar é enveredar por um caminho de sinais que são setas indicativas para um rumo mais preciso. Estamos no mundo da Saúde, e saúde não é o contrário de doença. A palavra saúde vem do latim, “salus”, e significa: cuidar, sanar, sarar, encaminhar para o sadio da existência. A palavra salvação, tão querida pelas religiões, vem desta raiz. Toda vida sadia é um caminho inspirado pelo Amor, pelo Conhecimento e pelo Cuidado. Nesta reflexão, para fixar em nossa memória pontos essenciais, vou usar um Mito Grego. Em tempos de crises sempre ressurgem os Mitos. O mito é sempre usado para comunicar uma Ordem em meio a uma possível desordem; ele usa a linguagem figurada para elucidar as forças da existência. O mito é uma profunda compreensão da realidade vazada numa linguagem fantasiosa para provocar o natural e o real. 1. O MITO DA CARRUAGEM A vida é uma dinâmica, um movimento, uma viagem, um caminho de realização, um assanhamento de vivência que não permite o estático. A vida não é uma continuidade, mas sempre um salto de qualidade, uma busca de sentidos. Para os gregos, a vida é uma carruagem. O que é a Carruagem? O Mito da Carruagem é a alegoria para visualizar o que queremos, o que impulsiona nossos passos, onde queremos chegar. Trabalhar através dos símbolos uma Hermenêutica (a ciência da interpretação), uma representação e uma inspiração necessária. Os gregos diziam que para atingir o Olimpo (o lugar da morada dos deuses), era preciso subir, elevar-se, buscar o lugar mais alto e as coisas do alto; era preciso subir uma Carruagem de Fogo (força impulsiva, dinâmica, chama interior, potencialidade). A Bíblia diz que o Profeta Elias subiu ao céu numa Carruagem de Fogo (cfr. 2 Reis 2, 11-18 ). Boaventura de Bagnoreggio, biógrafo de São Francisco, diz que ele sobe numa Carruagem de Fogo para tocar o Divino (Legenda Maior, Prólogo 1,6). O que significa subir à montanha? Buscar o ponto mais alto. Elevação. Nível superior da existência. Altura (“alt”, altar), lugar onde a Divindade se manifesta. Monte Olimpo, Monte Atlas, Monte Athos, Monte Tabor, Monte Alverne. É a morada que possibilita o encontro entre o Humano e o Divino. Da Terra para o Céu. Da imanência à transcendência. Da horizontalidade para a verticalidade. O lugar onde o grande e o pequeno universo se tocam. A montanha significa estabilidade, imponência, fortaleza, permanência, posição de presença dominante, soberania, espaço sagrado, escalonada de degrau em degrau, persistência e fé na subida, coragem. A ascensão física corresponde a uma ascensão espiritual. É a Mística da Consciência que precisa encontrar seu lugar mais vigoroso que abra um horizonte maior. É a senda da iluminação, o lugar da meditação necessária para o desenvolvimento espiritual. É onde se respira o ar mais puro. É a culminância. A aproximação com o firmamento. Perto das estrelas. As torres dos templos, as pirâmides do Egito, a torre da Babilônia, os mosteiros e eremitérios encravados nas montanhas e rochas. Cavernas e grutas que nos ensinam a viver dentro e viver sobre. Para o mundo mítico, Deus é aquele que brilha no alto! Que se manifesta no monte entre relâmpagos e trovões. O sol se põe de um modo mágico entre as montanhas. Lugares onde se escondem as Fontes, os mananciais, os tesouros. A Ordem tem que ser comunicada em lugares muito fortes e especiais. Os Dez Mandamentos, o Sermão da Montanha! É a Unio Mistica = a montanha é Pura Transcendência! É preciso chegar lá! O que é o Fogo? É o elemento da transmutação alquímica, a purificação, a fonte da vida. O Sol é a energia que se libera do interior da matéria, a energia que emana de cada ser humano. Do fogo nasce a Fênix, mais pura, mais forte, mais bela e perfeita. É o renascer das cinzas. No fogo se prova o ouro. É a transformação da energia. No fogo se consuma a água transformadora: alimento e obra. O Mito da Carruagem de Fogo que sobe em direção ao lugar mais alto é a dinâmica da existência, o movimento contrário a qualquer estagnação. É a Vida, a Corporeidade, a Estrutura, o nosso Arranjo Existencial, os nossos Projetos (“pro icere” = lançar para a frente ), os Esquemas, os Princípios, o Lugar onde somos colocados e que temos que fazer andar. Na Carruagem o Passageiro... Quem é o Passageiro? O Viajante? É a nossa Corporeidade (Corpo, Mente, Alma e Coração), a nossa Inteireza, a nossa Identidade, o nosso EU, a nossa Vida, ou quem ou o quê queremos colocar dentro da carruagem para conduzir. Como estou conduzindo tudo isto? Na Carruagem, o Cocheiro (ou o Condutor)... Quem é o Condutor? São nossos Mestres, nosso Guia, nossa Inspiração. Pode ser o Mestre dos Mestres, Jesus; pode ser Buda, Maomé, Ghandi, um Livro, alguém especial, uma filosofia de vida, um Projeto de Vida. Pode ser eu mesmo ou quem ou o quê eu quiser colocar ali... Conduzir vem de “ducor”, “ducere”: caminhos de condução aos mistérios da existência. Educar= educere: conduzir para fora, trazer para a Luz! Na Carruagem, as Rédeas... O que são as Rédeas? São as Diretrizes, os Códigos de Comportamento, os Valores, as Virtudes, a Moral, a Ética, as Leis, as Normas, os Mandamentos, os Estatutos, os Regimentos, os Projetos Pedagógicos, as Leis Civis, Religiosas ou Familiares. Na Carruagem, o Chicote... O que é o Chicote? Não é para bater, agredir ou castigar pela dor. Os grandes condutores de carruagem (cfr. o filme Ben Hur) não batem nos cavalos, mas estalam os chicotes para incentivá-los e instigálos; estalam no chão para motivar a força propulsora. É cutucar, beliscar, acordar, alertar! É o domínio e a motivação da vontade bem trabalhada. Acordar a alma é usar a Força de todas as Energias. Na Carruagem, os Cavalos... O que são os Cavalos? A “dínamis”, a potência, a força, o impulso, o dinamismo que leva para algum lugar. SÃO AS NOSSAS FORÇAS INTERIORES QUE PUXAM O CARRO DA NOSSA EXISTÊNCIA! Que levam a vida para frente, que impedem que fiquemos empacados em lugar nenhum. Os Cavalos de Força, no mito, representam nossas mais profundas ENERGIAS. O que é energia? O cuidado com nossas FORÇAS INTERIORES. É preciso ter Amor e Cuidado para com estas forças. Educar é acordar as energias, é mostrar e buscar as qualidades que eu ainda não tenho, ou que estão dentro de mim e que preciso despertá-las. No Mito Grego, a Carruagem da Existência é puxada por 6 cavalos de força. Eles representam as nossas Forças Interiores! Quais são estas forças? Vejamos: 2. DEIXAR-SE CONDUZIR PELAS FORÇAS INTERIORES 2.1 O EMOCIONAL: São nossas Emoções Luminosas: amor, alegria, realização (favor não confundir com sucesso), felicidade, esperança, fé, ânimo, entusiasmo... e tudo o que quisermos acrescentar nesta lista... Temos que trabalhar nossas emoções luminosas para que não sejamos tomados pelas polaridades da vida, pelas contrariedades, pelas Emoções Sombrias: tristeza, angústia, infelicidade, ansiedade, desmotivação, desânimo, impaciência, depressão, carga de negatividade... e tudo que não podemos acrescentar e que temos de erradicar desta lista... Não podemos deixar apagar ou decair as Emoções Luminosas, porque elas são as nossas positividades. Hoje, há o cultivo do trágico, do sombrio, do negativo. Temos que fazer frente a isso com as nossas melhores emoções. Cada emoção, aparecendo num segundo, tem que vir para sempre. Não podemos deixar cair a Inspiração da Primeira Hora! É preciso ter o hábito de sentir emoções harmoniosas. 2.2 O SENTIMENTAL: São as Emoções Luminosas colocadas em comum. Sentimento é diferente da emoção, apenas num detalhe: são as minhas emoções que eu dou para alguém, para o sagrado, para o “eu mesmo”, para um projeto, para uma profissão. É o mandato judaico-cristão: “Amar a Deus, ao Próximo, e a Si Mesmo, com toda Alma, com todo Ser, com todo Entendimento”. O Sentimento é a Emoção luminosa que eu ofereço para alguém ou para alguma causa. 2.3 O MENTAL: A razão, o intelecto, o ensinamento, o pensamento, o aprendizado, o discipulado. Tudo isso deve levar à compreensão da Existência e instaurar a Consciência, e a consciência leva ao Discernimento: a Purificação da Escolha, isto é, a escolher sempre o Melhor, e não o banal, o medíocre, o insignificante. 2.4 O CORPORAL: É o Físico! O Corpo Ativo e Instintivo. Cuidar do corpo físico, ativo e instintivo. É o equilíbrio da atividade física. Cuidar da Saúde! Saúde não é contrário de patologias; saúde não é cuidar de doenças, mas sim, fazer o que o Coração e o Corpo pedem. Saúde é escutar mais o Coração e o Corpo. Dormir bem, comer bem, cuidar do lazer, do descanso, equilibrar as horas de trabalho; não é receituário..., é purificar a escolha pela Vida. É o equilíbrio emocional e biológico. 2.5 SEXUAL: Não misturar sexualidade com genitalidade. O sexual, aqui, são as energias luminosas do Amor, do Afeto, da Libido, da Masculinidade, da Feminilidade, da Corporeidade e da Sexualidade. Não jogar estas energias fora, de qualquer jeito, com qualquer pessoa, em qualquer situação. A verdadeira sexualidade é ser Fonte de Alegria e Prazer, é a capacidade de ter prazer na vida, de ter prazer em cada inspiração. É a energia básica do sentirse bem. É preciso sentir o estado sexual, isto é, uma transparente capacidade de Amar. Todos querem ser amados..., mas preste atenção com quem você vai dividir a força de sua energia de Amor. Espalhe estas energias em tudo o que você faz! Não deixe que nenhuma religião condene seu afeto, porque condenar o afeto é reprimir o Amor. 2.6 O ESPIRITUAL: É cuidar do Espírito! O Espírito também precisa de aperfeiçoamento. É cuidar de nosso centro, de nosso eixo. É despertar, em cada momento, as forças espirituais que estão em nós. É ter um Deus dentro! A força espiritual une harmoniosamente estas seis forças. Não se pode separar o que Deus uniu! É o tema desta reflexão! 3 A SÍNTESE DOS SENTIDOS GERAIS DESTAS FORÇAS A força da Educação é reencantar os Sentidos da Vida. E o os sentidos da vida não são um só. Vamos perpassar o Sentido da Vida na Síntese que abraça todos os sentidos: 3.1 O SENTIDO BIOLÓGICO Somos de uma bela espécie: a Espécie Humana, isto é, mais do que Raça. Raça é etnia, é uma questão mais cultural. Espécie é mais forte. Pertencemos à Família Humana. O sentido biológico nos leva a perguntar: qual o sentido de existir Homens e Mulheres sobre a terra e que compõem esta maravilhosa espécie? Ou será que também somos uma espécie em extinção? Temos que sobreviver como Espécie Humana forte, com subjetividades fortes, como reprodução de um tipo humano forte. Saúde é cuidar da Espécie Humana e não apenas tratar doenças. É dizer: “Eu quero viver ao lado da vida! Eu quero dar sentido a este tempo que me é dado para viver nesta terra! Eu quero prolongar minha existência nesta terra!”. O sentido biológico é preparar com qualidade a inevitável curva biológica: vida e morte, finito e infinito. Temos que prolongar nossa finitude! Eu não existo só para mim, existo para a Vida em seu todo! É o corpo da consciência planetária, faço parte de uma família cósmica! 3.2 O SENTIDO SOCIAL Ser humano é ser relacional. É redescobrir em cada momento o sentido das relações. Na qualidade de nossas relações existe uma revelação. É viver para! Viver para a família, viver para as amizades, para os grupos humanos. É sobreviver na sociedade (o que não significa ser igual a todos). É a corporeidade. É pertencer a um corpo social. É aperfeiçoar o currículo, a carreira, os negócios, a empresa, o status. Vencer os medos de mudanças. Ter um papel determinante no grupo. É o corpo social! Você faz parte de uma família humana! Eu não existo só para mim, existo para os outros! 3.3 O SENTIDO ESPIRITUAL É nascer para a sua verdadeira identidade: estar mais ligado ao Ser que nos faz ser! Nascer para a verdadeira individualidade: ser pessoa forte! É o corpo sutil! Alimentar de alma seu corpo, para fortalecê-lo diante dos apelos do mundo. Cuidar de seu centro sagrado, ter contatos com o que é superior. A felicidade está em buscar esta força divina. É fazer transparecer nossa face sagrada, nossa esfera espiritual. E isto não tem limite! É não enterrar os talentos que Deus nos deu. É encontrar e moldar estes talentos e desenvolvê-los, multiplica-los, ampliar a vida. Cada dia Deus bate à sua porta e diz: “Você é capaz! O que você faz com os talentos que eu lhe dei?” Você faz parte de uma família espiritual! Por isso é muito importante conviver com grupos de fé e espiritualidade. Isto é essencial para que corpo, mente, alma e coração sejam mais fortes. Não deixe sua alma sem energia. Um sentido apenas social e profissional pode criar você sem alma, mas o sentido espiritual não! O biológico passa. O social é mutante. O espiritual é para sempre! CONCLUSÃO Esta reflexão só tem uma finalidade: revelar o caminho da Inteireza. Quando a pessoa não é inteira não é feliz! A alegoria da Carruagem de Fogo com os seus Seis Cavalos de Força é para firmar em nós, num Movimento necessário, os dons, os frutos, os códigos, os empenhos, as buscas e os projetos que levamos conosco. Uma reflexão pode ser um chicote cutucando a mente, a alma, o corpo..., para acordar em nós um pensamento forte, com atividades fortes. É assim que conquistaremos uma saúde física, mental e espiritual. Hoje estas forças transmitem para nós um ensinamento especial. Despertar a alma é equilibrar e controlar instinto e moral. Todas estas nossas forças lembram que temos uma Espiritualidade que nos move a fazer tudo o que temos que fazer com intuição, imaginação, raciocínio, emoção, sensação e unção. A Carruagem de Fogo é uma oposição à Carruagem do Drácula com suas forças do mal, porque o monstro também é forte. Usemos estas forças como uma missão no mundo. Educar a qualidade pessoal é ética. Educar para uma transformação é ser um ser evoluído. Educar para a Espiritualidade é Força Divina! PAZ E BEM! Frei Vitório Mazzuco OFM