0 2 S 2 L 1 O I W N Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia USP U B E N O [email protected] Jornalistas x pesquisadores: conflito ou parceria A cultura científica e a cultura jornalística moldam perfis profissionais distintos A ciência como vocação x a ciência como mais um espaço de cobertura Níveis distintos de compreensão e domínio do objeto O cientista é sempre um especialista O jornalista é, na maioria das vezes, um generalista Jornalistas x pesquisadores: conflito ou parceria A arrogância e a impaciência são atributos de ambas as categorias O cientista pratica o discurso da competência O jornalista ignora a humildade As incompreensões derivam, quase sempre, da falta de conhecimento sobre o contexto em que o outro se insere Jornalistas x pesquisadores: conflito ou parceria O cientista preocupa-se, sobretudo, com a avaliação dos seus pares O jornalista preocupa-se, sobretudo, com a avaliação da audiência O que significa comunicar ciência? A comunicação pressupõe a eliminação de distâncias entre os interlocutores Comunicar ciência é um ato de cidadania Jornalistas x pesquisadores: conflito ou parceria O jornalista precisa entender que a comunidade científica é sensível e conservadora O cientista precisa entender que o jornalista briga com o tempo Há tensões reais na construção da parceria Um pressuposto básico: a neutralidade não existe No Jornalismo Científico, assim como na cobertura jornalística em geral, a neutralidade não existe porque todas as fontes estão em tese comprometidas com seus vínculos, compromissos e interesses. Evidentemente, há diferenças importantes entre formas e modalidades de compromisso levando em conta o interesse público. O que seria a neutralidade em Jornalismo Científico? Valer-se de fontes independentes, desvinculadas de interesses empresariais, políticos, de grupos existentes na comunidade científica ou pessoais? A pergunta básica : é possível encontrar estas fontes? Estas fontes verdadeiramente existem? Os compromissos da produção científica A produção científica está comprometida com um problema ou tema de pesquisa, com a trajetória particular do pesquisador ou do grupo de pesquisa ao qual ele se filia, com os agentes (Estado ou empresa) que financiam o projeto de pesquisa e inclusive com o momento histórico (determinado pela convergência de fatores econômicos, políticos, sócio-culturais etc). A produção científica não é, em essência, isenta, mas condicionada. Um olhar real, não negativo, sobre a “ falta de neutralidade” A consciência de que toda produção científica tem seus compromissos não representa, necessariamente, uma condenação. As perguntas básicas são: a) Os compromissos falseiam ou manipulam os resultados da pesquisa? b) Quem lucra com esta produção científica em particular? c) O interesse público está sendo privilegiado? d) O que significa efetivamente interesse público? Uma constatação importante Algumas áreas de pesquisa são críticas no que diz respeito à ação dos lobbies e estratégias de intervenção/manipulação e os resultados de pesquisa costumam, em determinadas situações, estar sob suspeita: Indústria da saúde Indústria do tabaco Indústria agroquímica e de biotecnologia Indústria da alimentação etc As restrições na produção e na divulgação científica É preciso enxergar a ciência, a tecnologia e a inovação como mercadorias sujeitas a determinados condicionamentos: Restrição à produção Restrição à transferência Restrição ao uso Enfim, a ciência, a tecnologia e a inovação não estão disponíveis para todos. Um dado dramático e uma conclusão A maioria dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação está direcionada para a indústria da guerra. A contrapartida do progresso técnico pode ser a tecnoexclusão, a agressão ao meio ambiente, a hegemonia de determinados países etc. Logo, o contexto da produção científica precisa ser visto também sob uma perspectiva política, econômica, sócio-cultural e não apenas em sua vertente eminentemente técnica. O Jornalismo Científico pode também estar contaminado A contaminação ocorre pelo compromisso das fontes O diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da Monsanto ou da Novartis, ainda que um cientista ilustre, é uma fonte independente? Que informações contrárias aos transgênicos podemos encontrar no CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia? A Microsoft admite as vantagens do software livre? O Jornalismo Científico pode também estar contaminado A contaminação ocorre pelo olhar do repórter ou editor ou mesmo da editoria em geral Todo repórter ou editor tem uma leitura particular da realidade e, além do seu racionalismo, incorpora visões de mundo e idiossincrasias Que conceito de floresta praticam as editorias de economia? O Jornalismo Científico pode também estar contaminado A contaminação ocorre na negociação com a audiência Como o jornalista científico precisa, necessariamente, adaptar sua pauta, sua linguagem/discurso à audiência, sua matéria/reportagem incorpora condicionamentos. Uma mesma pauta pode gerar distintas matérias (mais ou menos detalhadas, com mais ou menos termos técnicos, mais ou menos abrangentes etc) dependendo do tipo de mídia (impressa, eletrônica, especializada etc). O Jornalismo Científico pode também estar contaminado A contaminação ocorre pelos interesses dos empresários da comunicação e dos anunciantes Há, muitas vezes, conflitos entre pautas, focos, fontes e interesses comerciais, de tal modo que alguns temas controversos e que envolvem grandes interesses acabam sendo jogados para debaixo do tapete. Há coberturas cosméticas de determinados temas (“nunca se coloca o dedo na ferida ou se dá o nome aos bois”) e outras que apenas permanecem na superfície. É notório o caráter pouco investigativo do jornalismo científico. O Jornalismo Científico pode também estar contaminado A contaminação tem ocorrido pela intervenção de doutrinas/ igrejas que vem se apropriando dos veículos e buscando impor princípios e valores religiosos. O embate criacionismo x teoria da evolução A controvérsia das células-tronco e do aborto A tentativa de “sacralizar” a ciência O avanço perigoso das pseudociências A mídia tem dado espaço cada vez maior para teorias que não têm respaldo empírico e que buscam travestir-se de ciência. O jornalista científico encontra-se frequentemente num dilema e sob pressão: ignora as novas alternativas e faz o jogo do status quo, descarta a possibilidade de aumentar a leitura/audiência de suas matérias? A qualificação da informação e o interesse público O jornalista científico tem que ter compromisso com o interesse público (não confundir com o interesse do público), tem que qualificar as informações, confrontar as fontes e avaliar a sua dependência (vínculo) em relação ao tema. A armadilha da monofonte A sedução do sensacionalismo A democratização do conhecimento e a prática da divulgação científica A democratização do conhecimento científico deve ser o objetivo principal da parceria entre jornalistas e pesquisadores Incluir a população no debate de temas de ciência, tecnologia e inovação Rejeitar as “panelinhas” e o mau uso político da ciência Defender a profissionalização das estruturas de comunicação dos centros produtores de conhecimento A parceria pesquisadores/jornalistas como melhor (ou única) alternativa A parceria entre pesquisadores e jornalistas é a melhor ( ou única) alternativa para uma divulgação científica comprometida com o interesse público, com a soberania nacional e com a inclusão da sociedade no processo de tomada de decisões que dizem respeito à ciência, tecnologia e inovação.