0 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE PEDRO URUBATAN NETO DA COSTA IMPORTÂNCIA DO LEVANTAMENTO DE INDICADORES FÍSICOS E ECONÔMICOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO LEITEIROS DA REGIÃO NOROESTE COLONIAL E CELEIRO DO RS Ijuí, RS, Brasil 2011 1 PEDRO URUBATAN NETO DA COSTA IMPORTÂNCIA DO LEVANTAMENTO DE INDICADORES FÍSICOS E ECONÔMICOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO LEITEIROS DA REGIÃO NOROESTE COLONIAL E CELEIRO DO RS Monografia apresentada ao curso de Especialização em Produção de Leite da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Produção de Leite. Orientador: Prof. Ms. Sérgio J. M. Bronze Ijuí, RS, Brasil 2011 2 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE A Comissão Organizadora abaixo aprova a monografia IMPORTÂNCIA DO LEVANTAMENTO DE INDICADORES FÍSICOS E ECONÔMICOS EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO LEITEIROS DA REGIÃO NOROESTE COLONIAL DO RS elaborada por PEDRO URUBATAN NETO DA COSTA como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Produção de Leite. COMISSÃO EXAMINADORA ___________________________________ Ms. Sérgio J. M. Bronze, Orientador ___________________________________ Prof. Examinador Ijuí, RS, 10 de novembro de 2011. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que direta ou indiretamente colaboraram com este estudo: pesquisadores das instituições ligadas ao Programa Rede Leite; extensionistas da EMATER-RS/ASCAR (Regional Ijuí), em especial aos colegas Lediomar Machado e José Hermann dos Santos; e às famílias dos agricultores estudados, pelo prestimoso auxílio no levantamento de dados. 4 “A mente avança até o ponto onde pode chegar; mas depois passa para uma dimensão superior, sem saber como lá chegou. Todas as grandes descobertas realizaram esse salto”. (Albert Einstein) 5 RESUMO Este estudo apresenta um conjunto de indicadores físicos e econômicos das Unidades de Produção Familiar (UPFs) com atividade de criação de bovinos leiteiros da região Noroeste Colonial do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O objetivo do estudo é ressaltar a importância desses indicadores para a qualificação do diagnóstico dos problemas técnicos, sociais e ambientais, com vistas à construção de sistemas produtivos mais sustentáveis. O trabalho chama atenção para o fato de a atividade leiteira ser complexa, envolvendo sistemas de cultivos diversificados, manejo diferenciado para as categorias de animais, emprego diário de mão de obra, entre outros, o que pode levar a erros de análises pelos técnicos e agricultores. O estudo está dividido em cinco partes: a) a introdução, que ressalta a importância socioeconômica da cadeia leiteira na região e a problemática envolvida neste trabalho; b) a revisão bibliográfica, com a situação atual da cadeia e a forma de organização da Pesquisa e Extensão Rural para o atendimento das demandas (Rede de Pesquisa-Desenvolvimento), e problemas enfrentados na elaboração dos custos de produção; c) a metodologia, que apresenta a caracterização das UPFs estudadas, bem como a metodologia de cálculos de custos e indicadores físicos de produção de 23 UPFs; d) o estudo de caso comparativo mais detalhado de duas UPFs; e e) as considerações finais sobre a relevância dos indicadores na elaboração de proposições técnicas aos agricultores. Palavras-chave: Unidades de Produção Familiar. Indicadores da produção leiteira. Custo de produção leiteira. 6 LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS Figuras Figura 1. Regiões dos COREDEs do Rio Grande do Sul................................ 11 Gráficos Gráfico 1. Gráfico 2. Gráfico 3. Preços recebidos pelos agricultores da Região Noroeste e celeiro do RS (corrigidos pelo IGP-DI, de 1º de outubro de 2011)............... 12 Média de preços recebidos pelos agricultores. Mínimo e máximo, 2001 a 2010, regiões Noroeste e Celeiro do RS (corrigidos pelo IGP de 1º de outubro de 2011).......................................................... 13 Produtividade de leite e investimentos em alimentação.................... 33 Tabelas Tabela 1. Tabela 2. Tabela 3. Tabela 4. Tabela 5. Tabela 6. Dados de caracterização das Unidades de Produção....................... Indicadores de produção................................................................... Indicadores econômicos totais.......................................................... Indicadores econômicos da atividade leiteira.................................... Indicadores físicos e econômicos das duas UPFs comparadas....... Níveis de intensificação na utilização de fertilizantes e concentrados..................................................................................... 21 27 29 32 38 38 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................9 1 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................11 1.1 SITUAÇÃO DA CADEIA LEITEIRA NA REGIÃO ................................................11 1.2 DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO NA ATIVIDADE LEITEIRA ..............................................................................................16 2 METODOLOGIA ....................................................................................................19 2.1 ESCOLHA DOS ESTABELECIMENTOS AVALIADOS.......................................19 2.1.1 Caracterização das UPFs estudadas ............................................................19 2.2 CÁLCULO DOS INDICADORES FÍSICOS E ECONÔMICOS ............................24 2.2.1 Cálculo dos indicadores de caracterização da UPFs..................................24 2.2.1.1 Área total da UPF em hectares (ha)..............................................................24 2.2.1.2 Superfície Agrícola Útil – SAU (ha) ...............................................................24 2.2.1.3 Área utilizada para leite no verão – AV (ha) ..................................................25 2.2.1.4 Área utilizada para leite no inverno – AI (ha).................................................25 2.2.1.5 Percentagem da área da atividade leite sobre a SAU (%) ............................25 2.2.1.6 Unidade de Trabalho Familiar (UTF) .............................................................25 2.2.1.7 Animais totais da atividade leiteira (cabeças – cab)......................................25 2.2.1.8 Vacas leiteiras totais (cab) ............................................................................25 2.2.2 Cálculo de indicadores de produção............................................................26 2.2.2.1 Produção de leite no verão (novembro a abril) em litros (L)..........................26 2.2.2.2 Produção por hectare no verão .....................................................................26 2.2.2.3 Produção por hectare no inverno ..................................................................26 2.2.2.4 Produção vaca total/ano................................................................................26 2.2.2.5 Produção vaca total/dia .................................................................................26 2.2.2.6 Produção por hectare média inverno e verão................................................26 2.2.3 Cálculo dos indicadores econômicos ..........................................................27 2.2.3.1 Indicadores econômicos totais da Unidade de Produção..............................27 2.2.3.2 Renda Bruta (RB) total da UPF (R$/ano) ......................................................28 2.2.3.3 Margem Bruta (MB) total da UPF (R$/ano) ...................................................28 2.2.3.4 Custo Operacional Efetivo (COE) da UPF (R$/ano)......................................28 2.2.3.5 Depreciação (D) total da UPF (R$ /ano)........................................................28 2.2.3.6 Custo Operacional Total (COT).....................................................................28 2.2.3.7 Margem Líquida (ML) total da UPF ...............................................................29 2.2.3.8 Indicadores econômicos da atividade leiteira ................................................29 2.2.3.8.1 Renda bruta da atividade leite (RBL) – R$/ano ..........................................29 8 2.2.3.8.2 Custo operacional efetivo da atividade leiteira (COEL) – R$/ano...............30 2.2.3.8.3 Margem Bruta Leite (MBL) – R$/ano..........................................................30 2.2.3.8.4 Depreciação Leite (DL) – R$/ano ...............................................................30 2.2.3.8.5 Custo Operacional total do Leite – COTL (R$/Litro)...................................30 2.2.3.8.6 Margem Líquida Leite – MLL (R$/ano) .......................................................30 2.2.3.8.7 Margem Líquida Leite por vaca e por área média ......................................30 2.2.3.9 Margem líquida por UTF ao mês...................................................................31 2.2.3.10 Margem líquida por vaca total ao ano .........................................................31 2.2.3.11 Margem líquida por área total média no inverno e verão ............................31 2.2.3.12 Custo alimentar da atividade leite – CAL (R$).............................................31 2.2.3.13 Custo alimentar por vaca.............................................................................31 2.2.3.14 Custo alimentar por litro ..............................................................................31 3 ESTUDO DE CASO COMPARATIVO DE DUAS UPFs ........................................33 3.1 ESTUDO DE CASO DE DUAS UPFs .................................................................34 3.1.1 Sistema alimentar na UPF MG.......................................................................34 3.1.2 Sistema alimentar na UPF SV........................................................................35 3.1.3 Discussão .......................................................................................................36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................39 REFERÊNCIAS.........................................................................................................40 9 INTRODUÇÃO Um sistema de produção pode ser definido como um conjunto de atividades agrícolas e pecuárias e não agropecuárias, estabelecido por um produtor e sua família para garantir a reprodução de sua exploração; é o resultado da combinação dos meios de produção (terra e capital) e sua força de trabalho disponíveis no entorno socioeconômico e ecológico determinado. (DEFUMIER apud APOLLIN; EBERARDT, 1999, (p.32). Os sistemas de produção com atividade leiteira são relevantes nos aspectos socioeconômicos, sendo que a renda gerada por estes estabelecimentos tem impacto significativo na economia local, uma vez que parte expressiva é investida localmente. As famílias de produtores destinam esta renda para custear despesas mensais de serviços e aquisição de bens de consumo. Então, ao promover ações de gestão técnica, social e econômica nestes estabelecimentos e com consequente aumento da renda, é possível obter ganhos na economia local através do efeito multiplicador desta renda. Isso se deve ao fato de que os produtores tendem a exercer seu poder de compra no comércio local (SILVA NETO; CALLEGARO, 2004). Trennepohl (2010) avaliou que o efeito multiplicador de impacto da produção leiteira gera o índice de 0,790 de valor adicionado para cada R$ 1,00 de Valor Bruto da Produção de Leite e mais um acréscimo de outros 0,375 por unidade de VBP adicionado pelo restante da cadeia produtiva dos laticínios. Por isso, buscar melhorias nos sistemas de produção de leite no sentido da melhoria da renda é fundamental para o desenvolvimento dos pequenos municípios, seja pelo efeito direto na manutenção de postos de trabalho nas unidades de produção familiares, seja indiretamente na movimentação gerada no mercado local. A obtenção de melhorias nos sistemas de produção, buscando redesenho que os tornem mais 10 sustentáveis, passa pelo correto diagnóstico de seu funcionamento. O entendimento do funcionamento do sistema produtivo permite aos produtores e à assistência técnica propostas técnicas mais apropriadas, que atingem os objetivos das famílias de forma mais sustentável. É necessário o conhecimento mais detalhado, descrevendo os itinerários técnicos dos cultivos e do manejo das criações, bem como aspectos de gestão, procurando compreender as regras que a família gestora adota para as tomadas de decisões. Embora reconhecendo a fundamental importância de uma leitura sistêmica para um mais adequado diagnóstico da unidade de produção, este estudo foca as questões relativas à renda e aos indicadores físicos de produção. Nas UPFs ora estudadas, um aumento de produtividade de leite por vaca tende a uma maior renda líquida, mas há que se perguntar: por quanto tempo a unidade de produção permanecerá nesta condição? É neste detalhe que os indicadores podem ajudar nas correções de rumo, se for o caso. Por outro lado, há UPFs com os mesmos níveis de produtividade, mas com rendas líquidas muito menores ao ponto de gerar preocupação, cabendo aos extensionistas auxiliar os agricultores no redesenho do funcionamento do sistema. A maior parte do custo nos sistemas de produção leiteiros é a alimentação, que nas unidades de produção deste estudo varia de 54,3 a 84% e na região não fica distante disso. Melhorar a eficiência do sistema alimentar e dos demais custos repercute diretamente na renda das famílias e, portanto, no desenvolvimento regional. O conhecimento mais detalhado dos componentes do custo alimentar e demais custos, bem como de indicadores físicos de produção e eficiência zootécnica, pode ajudar na busca de alternativas de melhoria na renda da atividade leiteira. 11 1 REVISÃO DE LITERATURA 1.1 SITUAÇÃO DA CADEIA LEITEIRA NA REGIÃO As Regiões Noroeste Colonial e Celeiro do RS (figura 1) compreendem 32 municípios (tabela 1). Segundo estimativas da Emater/RS-Ascar (2008), nessas regiões existem 14.521 produtores de leite e uma produção média diária de 950 mil litros, obtida na maioria em estabelecimentos rurais do tipo familiar de pequena escala. 1 Figura 1. Regiões dos COREDEs do Rio Grande do Sul. Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul (2011). Nessas regiões, nos últimos anos, o setor de produção de leite vem passando por modificações significativas. Entre 2002 e 2003 esse setor enfrentou graves problemas. Por um lado, os acontecimentos relativos ao risco de falência da Parmalat, que determinaram perdas significativas para alguns produtores e, além de 1 Os Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs), criados oficialmente pela Lei nº 10.283, de 17 de outubro de 1994, são um fórum de discussão e decisão a respeito de políticas e ações que visam ao desenvolvimento regional. Seus principais objetivos são a promoção do desenvolvimento regional harmônico e sustentável; a integração dos recursos e das ações do governo na região; a melhoria da qualidade de vida da população; a distribuição equitativa da riqueza produzida; o estímulo à permanência do homem na sua região; e a preservação e a recuperação do meio ambiente (GOVERNO DO ESTADO DO RS, 2011). 12 insegurança, geraram alterações importantes na concentração da coleta de leite, com migração de um elevado número de produtores para a empresa Elegê Alimentos (atual BR Foods). Em 2002, o preço do leite atingiu níveis inferiores (figura 2) e o da soja elevou-se, sendo que essa condição fez com que parte das áreas de pastagens fosse tomada pela soja. Já nos anos de 2004 e 2005 a situação começou a se inverter em função dos efeitos da estiagem na produção de soja e a redução no seu preço, o que estimulou um aumento da produção de leite. Além de se considerar os preços médios de leite pagos aos produtores, é necessário considerar a política heterogênea de preços praticados pelas indústrias (figura 3). grafico 1 - Preços recebidos pelos agricultores da Região Noroeste e Celeiro do RS 2001 (corrigidos igpdi 1º outubro 2011 ) 2002 R$ 2003 0,95 2004 0,85 2005 0,75 2006 2007 0,65 2008 0,55 2009 0,45 2010 0,35 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Gráfico 1. Preços recebidos pelos agricultores da Região Noroeste e celeiro do RS (corrigidos pelo IGP-DI, de 1º de outubro de 2011). Fonte: Emater/RS-Ascar, Escritório Regional Ijuí (2011). No período de 2002 a 2005 outra mudança importante ocorreu na comercialização, ou seja, grandes cooperativas que intermediavam a relação de compra de leite entre a Elegê (atual BR Foods) e os produtores retiraram-se do processo de coleta e comercialização de leite. Foi o caso da Cooperativa Tritícola de Três de Maio (Cotrimaio), da Cooperativa Tritícola de Panambi (Cotripal), da Cooperativa Tritícola Alto Jacuí Ltda (Cotrijal) e, por último, no segundo semestre de 2005, da Cooperativa Regional Tritícola Serrana (Cotrijuí), de Ijuí. 13 Neste período, por óbvio, as indústrias fizeram a negociação direta com os produtores. No início de 2005, estas mesmas cooperativas se agruparam com outras e anunciaram a criação da Central Gaúcha de Lacticínios (CCGL) e a construção de uma indústria de processamento de leite com capacidade para um milhão de litros por dia, cuja fábrica foi inaugurada em Cruz Alta-RS, no mês de maio de 2009, e está em pleno funcionamento. Atualmente o Rio Grande do Sul é alvo de grandes investimentos por parte da indústria de lácteos, possivelmente atraídos pelas condições agroecológicas e sociais (mão de obra com tradição em produção de leite), bem como limitações advindas de competição por área e mão de obra com outras commodities, como o caso da cana de açúcar, em São Paulo e Minas Gerais. Pode-se citar investimentos nesta região ou próximo daqui, tais como: ampliação em 500 mil litros diários da planta da BR Foods, localizada em Ijuí-RS; construção de fábrica da DPA – Nestlé, em Palmeira das Missões-RS, a 100 km de Ijuí; construção de fábrica da BR Foods em Três de Maio, a 100 km de Ijuí. Grafico 2 -Média de preços recebidos pelos agricultores. Mínimos e máximos, 2001 a 2010, Regiões Noroeste e Celeiro do RS (corrigidos IGPDi 1º outubro de 2011) 0,75 0,70 0,65 R$ 0,60 0,55 0,50 0,45 0,40 0,35 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Gráfico 2. Média de preços recebidos pelos agricultores. Mínimo e máximo, 2001 a 2010, regiões Noroeste e Celeiro do RS (corrigidos pelo IGP de 1º de outubro de 2011). Fonte: Emater/RS-Ascar – Escritório Regional Ijuí (2011). Outro componente desse cenário é a construção de alternativas pelos produtores que procuram se organizar e criar pequenas cooperativas que possibilitem melhorar suas condições frente às indústrias. Atualmente são 17 14 cooperativas, envolvendo aproximadamente 3.000 associados. Ultimamente estas cooperativas avançaram na organização, constituindo a Associação Gaúcha de Empreendimentos Lácteos (AGEL), cujo nome fantasia é “Rede Dalacto” e pretendem num primeiro momento garantir melhores condições de negociação com as empresas, mas se discutem outras formas de cooperação, quer seja na área de assistência técnica ou de agroindustrialização. Conjuntamente a essas alterações cresce a pressão dos produtores e de suas organizações por um serviço de assistência técnica que auxilie na elaboração de alternativas para o desenvolvimento dos sistemas de produção. Organizações envolvidas com Assistência Técnica têm questionado muito acerca da efetividade de seus métodos de ensino junto aos produtores, em que somente repassar informações através de cursos e palestras parece resultar em um efeito muito aquém do esperado em termos de aplicação prática por parte dos produtores. Parte dessa dificuldade pode estar no fato de os técnicos apresentarem dificuldade em formular suas recomendações a partir da visão do sistema de produção como um todo, e não apenas da produção de leite isoladamente (SILVA NETO; CALLEGARO, 2004). Isso remete a duas questões: uma de método de extensão e outra de método de conhecimento dos problemas técnicos e formulação de proposições. Em texto publicado no site Milck Point, Krug et al. ressaltam que a concentração dos treinamentos não condiz com a demanda das pessoas do setor produtivo. Esse comentário não sugere que os treinamentos em tecnologias de produção não são necessários, mas que precisam ser melhor equilibrados com os tipos de conhecimento demandados pelas pessoas consultadas. (apud COSTA, 2006, P.11 ). Além disso, o número de profissionais que prestam assistência técnica nessa área é reduzido (COSTA, 2006). As entidades regionais de ensino, pesquisa e extensão, procurando dar conta desta demanda técnica, nos últimos anos vêm implementando o Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira, denominado simplesmente de “Rede Leite”, composto pelas seguintes instituições: Emater/RS-Ascar, Embrapa Pecuária Sul, Embrapa Clima Temperado, Unijuí, Fepagro, Unicruz, IF Farroupilha/Campus Santo Augusto, CESNORS/UFSM e 15 Coopperfamiliar. A Pesquisa-Desenvolvimento é definida como a experimentação em meio físico e social real, em verdadeira escala, das possibilidades e condições de mudança técnica e social do meio rural (BILLAZ; DUFUMIEER apud WÜNCH, 1995). Para Silva et al. (2010), as bases atuais das atividades desse programa ocorrem em três níveis: - estão sendo acompanhadas mais de 50 unidades de produção agrícola com atividade leiteira distribuídas na região, denominadas de Unidades de Observação (UOs); - foram selecionadas três dessas unidades para que se fizesse um acompanhamento mais criterioso com intervenções acordadas previamente com os produtores, constituindo então as Unidades de Referência (URs). - o terceiro nível são as Unidades de Experimentação Participativa (UEPs), ou seja, são realizados experimentos em função das demandas constatadas e geradas nos demais níveis, os quais são conduzidos nas instituições ou mesmo junto aos produtores. Outras ações são realizadas pela rede dentro deste processo de construção, como por exemplo: – encontros da Rede Leite, que são dias de campo onde famílias de UOs semelhantes se reúnem. Pela parte da manhã realizam caminhadas no interior da UPF, realizando a leitura da paisagem e passando por pontos relevantes que a família que sedia o evento queira mostrar. Na parte da tarde são realizadas discussões sobre o que foi visto na manhã. Neste dia de campo participam, além dos familiares das UOs, pesquisadores das instituições, extensionistas das prefeituras e organizações dos agricultores familiares, bem como lideranças municipais; – atualmente foram constituídos os grupos temáticos, que são equipes de pesquisadores e especialistas encarregados em aprofundar o entendimento de problemas e potencialidades (pontos críticos) que se apresentam no âmbito das UOs; – fórum anual, onde se reúnem todos os participantes para avaliação e planejamento; 16 – fóruns técnicos internos, que são espaços para pesquisadores extensionistas nivelarem conhecimentos; – dias de campo, visando demonstrar resultados. Como resultados, de forma mais geral, a Rede já pode enumerar: – racionalização do uso de seus recursos de pesquisa, por parte das instituições envolvidas, com experimentos sendo operacionalizados em conjunto e a partir de problemas técnicos discutidos com o conjunto dos atores; – construção de algumas referências em práticas em processos desenvolvidos nas UPFs que podem ser difundidas para outras famílias; – o espaço de ação da Rede tem servido para a envolvimento dos estudantes das instituições de ensino através de participação em bolsas de pesquisa e na elaboração de Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCC). Como limite, por parte das instituições de ensino pode-se observar a dificuldade de envolvimento de departamentos que não os tradicionais ligados às técnicas de produção agrícola, ou seja, departamentos na área da Economia, Sociologia, Psicologia, Pedagogia, Saúde e Engenharia. Com base nesta experiência da Rede Leite, atualmente outra região – denominada região dos COREDES Fronteira Noroeste e Missões – iniciou uma articulação semelhante, porém sem o foco para sistemas produtivos com pecuária leiteira, como o caso da Rede Leite, ou seja, é aberto para todos os sistemas relevantes da região. 1.2 DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO NA ATIVIDADE LEITEIRA Muito se tem discutido sobre o correto levantamento dos custos da atividade leiteira em função de sua complexidade. Para Gomes (1999), algumas características peculiares da atividade impõem dificuldade, tais como: a) produção simultânea de carne e leite; b) elevada participação da mão de obra familiar, dando subjetividade na apropriação dos custos. Gomes (1999, p.2) ainda ressalta que a “complexidade do cálculo do custo de produção da atividade leiteira recomenda forte interação do técnico, que está determinando o custo, e o produtor, na busca de uma interpretação do resultado que mais se aproxime da realidade”. Deve ser levado em 17 conta, para a adequada apropriação dos custos, os objetivos da família produtora. Por exemplo, se há intenção de aumentar o rebanho é possível que custos maiores ocorram no período que antecede a estabilização no patamar desejado. Se não houver esta ponderação, pode-se estar levando a uma avaliação equivocada da realidade daquela família. A atividade leiteira tem produção conjunta de leite e de animais (terneiros, novilhas e vacas de descarte), o que torna mais difícil a sua análise, ou seja, exige mais atenção, pois se deve separar o custo que vai para o leite e o que vai para a produção de animais. Ressalta-se ainda que ao se levantar o custo geral em uma unidade de produção leiteira, está se calculando o custo da atividade leiteira e não somente o custo de produção do litro do leite. O mais correto é comparar o preço do leite com o seu custo e não o preço do leite com o custo da atividade leiteira. No levantamento dos itens de custo, o ideal seria separar o que vai para a produção de leite e o que vai para produção de animais. Dada a dificuldade prática desta separação em nível de unidade de produção, é possível usar um artifício: aplica-se o percentual equivalente à renda bruta do leite e da venda dos animais no custo geral da atividade e assume-se como verdadeiro que o equivalente à renda bruta do leite é o custo do leite e que, o percentual da renda dos animais será o custo de produção destes animais (GOMES, 1999). Outra falha no entendimento dos custos é a questão da estabilização do rebanho e sua influência nos custos. Gomes (1999, p.4) afirma que: se, no período analisado, o produtor vendeu muitos animais, o custo do leite será baixo; ao contrário, se ele não vendeu animais ou vendeu pouco, o custo será alto. Portanto, o ideal seria que o rebanho estivesse estabilizado, e as vendas de machos, de fêmeas excedentes e de vacas descartadas fossem normais, isto é, mesmo com tais vendas, o rebanho do início do período analisado seria do mesmo tamanho no final em razão dos nascimentos e da própria evolução do rebanho. Acontece que, frequentemente, as vendas não mantêm o rebanho estabilizado, o que representa uma complicação no cálculo do custo do leite. Um erro frequente é a dupla contagem dos custos que ocorre nas seguintes situações, segundo Gomes (1999): – Serviços mecânicos: quando o produtor tem trator e são considerados os custos de conservação e reparos, depreciação, combustível e lubrificantes, deve- 18 se considerar estes elementos na composição do custo de uma pastagem, por exemplo, e não contabilizar horas-máquina como se o trator fosse alugado. – Concentrado produzido na propriedade: para o produtor que produz seu próprio concentrado, o que importa para ele é o custo de produção deste concentrado, e não o preço de mercado, porque ele não produz concentrado para vender, mas sim para transformá-lo em leite. A produção de concentrado é uma atividade complementar à de leite. É o mesmo raciocínio da atividade de criação de novilhas, que complementa à de produção de leite. Outro ponto que gera algumas controvérsias é o caso da depreciação do rebanho. Para Lima et al. (2001), quando o rebanho está estabilizado as vacas têm a capacidade de se autoreproduzirem a cada nova cria que gerarem. Por esta razão, não se deve computar a depreciação, a não ser nos casos em que o produtor compra matrizes de outros rebanhos para fazer a reposição. 19 2 METODOLOGIA 2.1 ESCOLHA DOS ESTABELECIMENTOS AVALIADOS Esta avaliação de custos e de indicadores físicos se deu a partir de Unidades de Produção Familiares (UPF) assistidos pelas Equipes Municipais da Emater-RS no “Programa Rede Leite” (Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira do Noroeste do Estado do RS) que consiste atualmente, entre outras atividades, no acompanhamento de uma rede de mais de 50 Unidades de Produção Familiar (UPF) leiteiras, as quais representam diferentes sistemas de produção. Para o presente estudo foram avaliadas 23 UPFs, cujos dados foram levantados mensalmente durante o período de janeiro a dezembro de 2010. Os dados eram anotados pelos extensionistas e sistematizados em uma planilha Excel. 2.1.1 Caracterização das UPFs estudadas Caracterizam-se pelo uso de mão de obra familiar com poucas situações de contratação eventual de empregados. Situam-se em solos com variadas condições de relevo e fertilidade nas seguintes situações: alta declividade e solos rasos com dificuldade extrema de mecanização e área reduzida; menor declividade, mas com limite de tamanho de área; área maior, menos declivosa e com mecanização. A ordenha é mecanizada em todas as UPFs. No verão o sistema de forrageamento tem como base uma pastagem perene tropical, sendo basicamente composto de gramíneas (poaceae) do gênero Cynodon sp., predominando a cultivar Tifton 85, além de gramíneas anuais de verão, como: capim sudão (Sorghum bicolor), sorgo forrageiro (sorghum bicolor ) e milheto (Pennisetum americanum L.) . O manejo das pastagens perenes de tifton se dá através de subdivisões com cerca eletrificada (piquetemento) que variam de 20 a 32 unidades de piquetes fixos. Nas pastagens anuais de verão utilizam piqueteamento em menor número em função da disponibilidade de mão de obra, uma vez que precisam ser desfeitos para o cultivo de inverno. No inverno são utilizadas pastagens de aveia e azevém e raramente misturas com leguminosas. 20 Um sistema de cultivo forrageiro que vem crescendo é a sobressemeadura de espécies de inverno (aveia e azevém, basicamente) nas áreas de tifton, com bons resultados. A eficiência deste sistema em termos de produtividade de forragem está ligada ao manejo adequado, sendo necessário que os animais permaneçam o maior tempo possível sobre as pastagens, visando repor a maior quantidade possível de dejetos, numa altura média de resíduo de 7 cm para garantir uma qualidade de solo sob o ponto de vista físico, o que favorece o desenvolvimento das pastagens sobressemeadas. Afora o retorno dos dejetos, a reposição da fertilidade normalmente é feita com insumos industriais. Como estratégia para cobrir a falta de alimentos nos intervalos de ciclos entre pastagens de inverno e verão (vazio forrageiro de outono e primavera) a maioria dos produtores lança mão de silagens de milho, principalmente. Nas regiões de difícil mecanização o vazio forrageiro do outono tem sido contornado com cana de açúcar, que é fornecida moída no cocho. A suplementação com alimentos concentrados é presente em todas as UPFs, sendo de produção própria (“ração caseira”) ou formulações industriais. A ração caseira é normalmente composta de milho produzido na propriedade e misturado a farelo de soja adquirido no mercado. Essas unidades produtivas também fazem uso de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) na sua produção. Realizam ordenha mecanizada, utilizam refreador para o resfriamento do leite e muitas não dispõem de sala de ordenha com fosso, o que precariza as condições de trabalho dos ordenhadores, geralmente originando problemas de dores na coluna. Nessas UPFs os sistemas de produção combinam, além da produção leiteira, a produção de autoconsumo com hortas, frutas, raízes e criação de pequenos animais, além de produções para o mercado, principalmente da soja. Quanto ao rebanho predominam animais de raça leiteira de origem europeia, como Jersey e Holandeza ou a cruza delas. Como estas unidades há mais de 20 anos investem em inseminação artificial, incentivadas por políticas públicas via Prefeituras, pode-se observar um bom potencial produtivo. A tabela 1 demonstra dados da caracterização das UPFs estudadas. 21 Tabela 1. Dados de caracterização das Unidades de Produção UPF (código) Área total da UPF Superfície Agrícola Útil (SAU) Unidade de Trabalho Familiar (UTF) (ha) (ha) (unid.) AJ 12,0 11,6 2,0 APL 12,0 9,7 2,0 BG 7,5 5,5 1,6 BP 19,6 12,1 2,4 BZG 25,8 20,2 2,2 BZJ 22,3 21,3 3,0 BZM 25,8 23,0 1,5 BZW 32,3 30,3 2,5 Descrição sucinta Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno. Trator, ensiladeira, ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Soja para o mercado. Trator, ensiladeira terceirizada, ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Mecanização dos cultivos terceirizada e difícil devido ao relevo. Ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Mecanização dos cultivos terceirizada e de media implementação devido ao relevo. Cultivo de milho para grãos e silagem. Resfriador de expansão e ordenhadeira Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Soja para o mercado. Trator e equipamentos para mecanização dos cultivos. Resfriador de expansão e ordenhadeira. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Soja para o mercado. Trator e equipamentos para mecanização dos cultivos. Resfriador de expansão e ordenhadeira. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Soja para o mercado. Trator e equipamentos para mecanização dos cultivos. Resfriador de expansão e ordenhadeira. Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Soja para o mercado. Trator e equipamentos para mecanização dos cultivos. Resfriador de expansão e ordenhadeira. Sala de ordenha com fosso Área utilizada para atividade leiteira no verão (AV) (ha) % Área utilizada para atividade leiteira no inverno (AI) (ha) % Área com pasto perene utilizada na atividade leiteira Animais totais da atividade leiteira Vacas leiteiras totais (ha) cab. cab. 11,3 97% 5,5 47% 2,8 44 24 6,4 66% 6,0 62% 1,4 27 15 5,0 91% 1,0 18% 1,0 18 12 9,6 79% 5,0 41% 2,8 28 14 9,8 48% 9,0 44% 5,0 34 20 6,0 28% 19,5 92% 3,0 26 16 2,5 11% 13,5 59% 0,0 13 8 11,3 37% 20,0 66% 1,3 43 18 22 (... continuação da tabela 1) UPF (código) Área total da UPF Superfície Agrícola Útil (SAU) Unidade de Trabalho Familiar (UTF) (ha) (ha) (unid.) BRG 11,5 10,1 2,2 CT 15,3 13,6 2,0 CR 17,0 13,0 2,0 DR 6,1 3,6 2,0 ES 13,8 6,0 2,2 IJA 15,5 14,5 4,0 IJC 11,5 10,5 1,8 MG 9,2 7,7 2,0 Descrição sucinta Atividade leiteira, cultivo de milho grão e silagem para uso interno a unidade de produção. Trator e equipamentos para mecanização dos cultivos terceirizados. Resfriador de expansão e ordenhadeira sala de ordenha com fosso. Atividade leiteira, cultivo de milho grão para uso interno na propriedade. Sistema voisin de pastoreio. Utilização de cana de açúcar e mandioca como suplementação. Ordenhadeira com transferidor, resfriador de imersão. Arrenda para terceiros um a área para soja. Atividade leiteira, cultivo de milho para silagem e grão para uso interno na unidade de produção. Trator e equipamentos. Ordenhadeira e resfriador de imersão. Atividade leiteira, produção de milho tração animal, para uso interno na unidade de produção. Ordenha manual e sem resfriador a granel (congelador) Atividade leiteira. Difícil mecanização devido ao relevo. Milho somente para silagem com mecanização terceirizada. Tração animal. Utilização ampla de cana de açúcar picada nos vazios. Ordenhadeira com transferidor, resfriador de expansão e sala ordenha com fosso. Atividade leiteira, soja e milho para mercado. Milho silagem, silo armazenagem concentrado comercial. Trator e demais equipamentos para o cultivo. Sala de ordenha. Ordenhadeira e resfriador de imersão. Atividade leiteira, milho para silagem. Pastagens com leguminosas. Ordenhadeira com sacador de teteiras, transferidor e controle informatizado da produção. Sala ordenha com fosso. Trator e equipamentos para cultivo. Atividade leiteira. Milho grão e silagem para consumo interno. Arrenda parte da área para terceiros p/soja. Pastagem de capim elefante piqueteada. Concentrado caseiro. Difícil mecanização devido ao declive do terreno. Tração animal. Ordenhadeira e resfriador de expansão. Área utilizada para atividade leiteira no verão (AV) Área utilizada para atividade leiteira no inverno (AI) % Área com pasto perene utilizada na atividade leiteira Animais totais da atividade leiteira Vacas leiteiras totais (ha) cab. cab. (ha) % (ha) 5,2 51% 5,0 50% 1,4 17 8 6,2 45% 7,3 54% 4,8 42 24 12,9 99% 5,0 38% 0,0 30 15 2,7 74% 2,0 55% 0,8 10 4 5,3 88% 4,0 66% 0,5 30 18 9,0 62% 4,0 28% 4,0 42 34 10,0 95% 10,0 95% 2,0 68 34 6,4 83% 5,5 71% 3,0 14 10 23 (... continuação da tabela 1) UPF (código) Área total da UPF Superfície Agrícola Útil (SAU) Unidade de Trabalho Familiar (UTF) (ha) (ha) (unid.) NR 27,7 25,7 2,0 RD 6,5 6,0 1,8 AS 5,3 5,2 2,1 SM 10,7 6,0 1,0 SV 7,3 7,0 1,5 SN 13,5 10,0 2,0 VG 10,3 6,7 2,0 Descrição sucinta Atividade leiteira, milho para silagem e grãos para uso interno.Pastagens com leguminosas. Soja para mercado. Trator e equipamentos. Sala de ordenha com fosso, resfriador de expansão. Atividade leiteira. Milho para grão e silagem ambos consumo interno na propriedade. Ordenhadeira e congelador. Atividade leiteira, soja mecanização terceirizada. Milho silagem para uso interno. Presta serviço de inseminador. Ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira em área declivosa. Milho para silagem. Mecanização terceirizada. Ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira. Milho para silagem. Sobressemeadura em tifton com leguminosas. Concentrado comprado. Silo armazém de concentrado. Renda não agrícola da esposa. Mecanização terceirizada. Sala ordenha fosso, ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira. Soja para mercado. Silagens de grãos de milho e de planta inteira. Trator e demais equipamentos. Ordenhadeira e resfriador de expansão. Atividade leiteira. Feijão para mercado e consumo. Milho grãos e silagem para uso interno. Tração animal e mecanização terceirizada (silagem) Ordenhadeira e resfriador de expansão. Fonte: dados da pesquisa – Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite. Área utilizada para atividade leiteira no verão (AV) (ha) % Área utilizada para atividade leiteira no inverno (AI) (ha) % Área com pasto perene utilizada na atividade leiteira Animais totais da atividade leiteira Vacas leiteiras totais (ha) cab. cab. 15,0 58% 18,5 72% 5,5 36 25 4,6 77% 4,0 67% 1,8 17 8 2,0 38% 4,0 77% 1,0 12 6 5,5 92% 3,0 50% 2,0 19 16 6,8 97% 6,8 97% 3,5 31 17 6,3 63% 6,0 60% 1,0 21 11 6,0 89% 6,0 89% 1,5 36 19 24 2.2 CÁLCULO DOS INDICADORES FÍSICOS E ECONÔMICOS Para a correta compreensão dos indicadores apresentados neste estudo, e como se trata do primeiro ano de levantamento de indicadores físicos e econômicos nas UPFs do Projeto Rede Leite, ressalta-se que se trata do “marco zero” da situação de cada uma das UPFs. As análises comparativas a serem realizadas nos próximos anos serão comparadas com este marco zero. Desta forma, os dados ora apresentados levam em conta os seguintes critérios: – com relação ao rebanho considerou-se a situação média que vem ocorrendo nos últimos três anos, ou seja, a média de animais que permanecem para produção, que são descartados, vendidos e consumidos como alimentos; – com relação às áreas de cultivos (grãos, silagens e pastagens) que são empregadas na atividade leiteira, leva-se em conta os dados do ano-calendário de 2010; – todos os dados de custos são relativos ao ano-calendário de 2010; – com relação à produtividade dos grãos utilizou-se os dados médios dos últimos três anos; – quanto à produção de leite utilizou-se os dados do ano-calendário de 2010. 2.2.1 Cálculo dos indicadores de caracterização da UPFs 2.2.1.1 Área total da UPF em hectares (ha) Toda área utilizada para leite e demais atividades são consideradas próprias, arrendadas e/ou posse. 2.2.1.2 Superfície Agrícola Útil – SAU (ha) Área total da UPF deduzida a área efetivamente não aproveitada para produção (matas nativas, sangas, rochas, etc.). 25 2.2.1.3 Área utilizada para leite no verão – AV (ha) Somatório da área utilizada com pastagens, silagens e áreas proporcionais à produção de grãos utilizados na atividade leiteira. 2.2.1.4 Área utilizada para leite no inverno – AI (ha) Somatório da área utilizada na atividade leiteira no inverno, composto por pastagens, silagens e áreas proporcionais aos grãos utilizados na atividade leiteira. 2.2.1.5 Percentagem da área da atividade leite sobre a SAU (%) Área total utilizada no verão ou inverno, comparada à área total de cada estação. 2.2.1.6 Unidade de Trabalho Familiar (UTF) Equivale ao trabalho de um ano de uma pessoa, corrigido de acordo com a idade, sendo: 12 a 17 anos: 65% da UTF; 17 a 60 anos: 100%; + 60 anos: 75% da UTF. Também se corrige o tempo trabalhado, por exemplo: se uma pessoa trabalha meio turno na propriedade e tem 16 anos, calcula-se assim: 1 x 0,5 x 0,65 = 0,375 UTF. 2.2.1.7 Animais totais da atividade leiteira (cabeças – cab) Todas as categorias de animais, inclusive machos, que são criados e que são oriundos da atividade leiteira. 2.2.1.8 Vacas leiteiras totais (cab) Todas as vacas, inclusive vacas que também são utilizadas para tração nas tarefas da atividade leiteira, mas que contribuem com a produção de leite, quer para venda quer para amamentar terneiras(os). 26 2.2.2 Cálculo de indicadores de produção 2.2.2.1 Produção de leite no verão (novembro a abril) em litros (L) Toda produção leiteira (vendida, consumida como alimento e consumida pela terneira). 2.2.2.2 Produção por hectare no verão Considera a produção de verão dividida pela área utilizada no verão (AV). 2.2.2.3 Produção por hectare no inverno Considera a produção de verão dividida pela área utilizada no inverno (AI). 2.2.2.4 Produção vaca total/ano Produção de leite no ano dividida pelo número médio de vacas que permaneceram na UPF durante o ano. 2.2.2.5 Produção vaca total/dia Produção vaca total/ano dividida por 365 dias. 2.2.2.6 Produção por hectare média inverno e verão Produção total de leite, dividida pela média das áreas de verão e inverno. A tabela 2, a seguir, demonstra os indicadores de produção. 27 Tabela 2. Indicadores de produção UPF (código) Produção de leite verão (nov-abr) Produção de leite inverno (maio-out) Produção total anual Produção /área verão Produção área no inverno Produção vaca total / ano Produção media vaca total dia Produção/ha média inverno/ verão (litros) (litros) Litros litros/ha litros/ha litros litros/dia litros/ha AJ 90.967 90.845 181.812 8.050 16.517 7.576 20,8 21.644 APL 45.973 55.045 101.018 7.183 9.174 6.735 18,5 16.293 BG 9.575 10.325 19.900 1.915 10.325 1.658 4,5 6.633 BP 25.275 28.383 53.658 2.633 5.677 3.833 10,5 7.350 BZG 22.890 25.445 48.335 2.336 2.827 2.417 6,6 5.142 BZJ 31.002 36.284 67.286 5.167 1.861 4.205 11,5 5.277 BZM 16.942 21.300 38.242 6.777 1.578 4.780 13,1 4.780 BZW 28.887 38.749 67.636 2.556 1.937 3.758 10,3 4.322 BRG 24.447 19.248 43.695 4.701 3.850 5.462 15,0 8.568 CB 69.759 73.068 142.827 3.672 2.706 5.713 15,7 6.210 CT 38.663 37.789 76.452 6.236 5.177 3.186 8,7 11.326 CD 34.371 37.674 72.045 17.186 2.691 5.146 14,1 9.006 CR 28.110 28.110 56.220 2.179 5.622 3.748 10,3 6.282 DR 2.981 4.041 7.022 1.104 2.021 1.756 4,8 2.988 ES 48.457 45.207 93.664 9.143 11.302 5.204 14,3 20.143 EP 76.744 81.769 158.513 7.309 4.088 7.548 20,7 10.394 IJA 85.213 93.357 178.570 9.468 23.339 5.252 14,4 27.472 IJC 77.570 92.610 170.180 7.757 9.261 5.005 13,7 17.018 JC 6.908 9.117 16.025 671 1.013 2.003 5,5 1.661 MG 18.182 27.685 45.867 2.841 5.034 4.587 12,6 7.709 NR 72.459 78.314 150.773 4.831 4.233 6.031 16,5 9.001 QZ 61.810 82.341 144.151 6.868 5.146 7.208 19,7 11.532 RD 7.485 7.595 15.080 1.627 1.899 1.885 5,2 3.507 SJ 45.975 63.500 109.475 2.856 3.969 4.055 11,1 6.821 AS 9.584 9.047 18.631 4.792 2.262 3.105 8,5 6.210 SM 50.503 45.974 96.477 9.182 15.325 6.030 16,5 22.700 SV 58.566 55.332 113.898 8.613 8.137 6.700 18,4 16.750 SN 25.111 24.297 49.408 3.986 4.050 4.492 12,3 8.034 SB 103.413 110.004 213.417 6.672 4.911 8.892 24,4 11.262 VG 29.854 24.439 54.293 4.976 4.073 2.858 7,8 9.049 Fonte: dados da pesquisa - Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite. 2.2.3 Cálculo dos indicadores econômicos 2.2.3.1 Indicadores econômicos totais da Unidade de Produção Aqui é considerado todo o sistema de produção, ou seja, o somatório de todas as atividades da UPF, que envolve além da atividade leiteira, os grãos para o 28 mercado (soja, milho, feijão, trigo, etc.) e a produção animal (suínos, aves, gado de corte, etc.), in natura ou processadas. A renda não agrícola, como aposentadoria e prestação de serviços, não foi considerada neste estudo, embora relevante na sustentabilidade dos sistemas produtivos. 2.2.3.2 Renda Bruta (RB) total da UPF (R$/ano) É o somatório de todas as vendas de produção (in natura ou processada), além de toda produção consumida como alimento da família, utilizando, neste caso, o preço de mercado. 2.2.3.3 Margem Bruta (MB) total da UPF (R$/ano) Renda Bruta (RB) total deduzido o Custo Operacional Efetivo (COE): MB = RB – COE 2.2.3.4 Custo Operacional Efetivo (COE) da UPF (R$/ano) Gastos efetivamente pagos a terceiros com mão de obra contratada, insumos, serviços, impostos e taxas, reparos em benfeitorias e máquinas e outras despesas de custeio. 2.2.3.5 Depreciação (D) total da UPF (R$ /ano) Todas as depreciações de máquinas e equipamentos calculadas como segue: D = valor novo – valor de sucata Vida útil 2.2.3.6 Custo Operacional Total (COT) Custo operacional efetivo menos a depreciação. 29 2.2.3.7 Margem Líquida (ML) total da UPF Renda Bruta menos o Custo Operacional Total: ML = RB – COT Tabela 3. Indicadores econômicos totais UPF (código) AJ APL BG BP BZG BZJ BZM BZW BRG CB CT CD CR DR ES EP IJA IJC JC MG NR QZ RD SJ AS SM SV SN SB VG Margem Bruta (MB) (R$) 61.774,18 34.999,63 21.505,40 19.850,78 23.499,11 37.575,11 40.446,79 25.745,00 11.417,43 36.042,48 35.305,92 46.726,71 7.175,47 2.454,96 33.945,67 56.621,71 77.805,13 78.530,45 7.898,04 21.571,37 58.771,51 49.351,14 4.864,10 41.395,00 8.482,28 37.108,40 30.065,79 23.237,70 111.638,32 28.444,85 Depreciação (D) (R$) 10.258,14 6.523,65 7.888,50 4.239,00 4.207,50 7.493,36 11.452,50 13.927,50 1.543,50 6.039,36 4.392,00 18.089,94 5.155,50 1.865,70 2.893,35 10.805,36 9.361,94 6.015,75 1.640,25 2.604,00 7.410,60 14.385,00 888,75 10.599,86 1.066,50 4.820,00 2.158,41 5.870,25 20.568,75 2.929,50 Margem Líquida (ML) (R$) 51.516,04 28.475,98 13.616,90 15.611,78 19.291,61 30.081,76 28.994,29 11.817,50 9.873,93 30.003,12 30.913,92 28.636,77 2.019,97 589,26 31.052,32 45.816,35 68.443,19 72.514,70 6.257,79 18.967,37 51.360,91 34.966,14 3.975,35 30.795,15 7.415,78 32.288,40 27.907,38 17.367,45 91.069,57 25.515,35 Fonte: dados da pesquisa – Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite. 2.2.3.8 Indicadores econômicos da atividade leiteira 2.2.3.8.1 Renda bruta da atividade leite (RBL) – R$/ano É o somatório da renda obtida com as atividades leiteiras (venda de leite + venda de animais + vendas de leite processado – queijos, iogurtes, etc.). 30 2.2.3.8.2 Custo operacional efetivo da atividade leiteira (COEL) – R$/ano Concentra os custos da atividade leiteira, como mão de obra contratada, concentrados, manutenção de forrageiras não anuais, mineralização, sanidade, energia e combustíveis, material de ordenha, inseminação artificial, frete de leite, impostos e taxas, reparos em benfeitorias e máquinas e outras despesas de custeio. 2.2.3.8.3 Margem Bruta Leite (MBL) – R$/ano Igual à Renda Bruta do leite menos o Custo Operacional Efetivo da atividade leiteira. 2.2.3.8.4 Depreciação Leite (DL) – R$/ano O cálculo envolve a depreciação de máquinas, benfeitorias, forrageiras perenes e animais de serviços. Para o cálculo da depreciação foi utilizado o método linear. No caso das vacas considerou-se depreciação somente para animais adquiridos de terceiros, uma vez que para Lima et al. (2001), vacas advindas de terneiras criadas na UPF não depreciam pois há reposição contínua. 2.2.3.8.5 Custo Operacional total do Leite – COTL (R$/Litro) Refere-se ao custo operacional efetivo do leite menos a sua depreciação total. 2.2.3.8.6 Margem Líquida Leite – MLL (R$/ano) É a Renda Bruta da atividade leiteira menos o custo operacional total do leite: RBL – COTL. 2.2.3.8.7 Margem Líquida Leite por vaca e por área média Neste caso é considerada a média das áreas totais de verão e inverno utilizadas para atividade leiteira, ou seja, margem líquida dividida pela médias das áreas inverno/verão. 31 2.2.3.9 Margem líquida por UTF ao mês É a margem líquida anual, dividida pelo número de UPFs e por 12 meses. 2.2.3.10 Margem líquida por vaca total ao ano Refere-se à margem líquida anual, dividida pelo número de vacas. 2.2.3.11 Margem líquida por área total média no inverno e verão Igual à margem líquida anual dividida pela média da área de verão e de inverno, ocupada pela atividade leiteira. 2.2.3.12 Custo alimentar da atividade leite – CAL (R$) Despesas pagas a fornecedores externos à Unidade de Produção para aquisição de fertilizantes e demais insumos para os cultivos de grãos, pastagens, silagens e demais forrageiras; conservação e reparos de máquinas e construções utilizados nos cultivos de grãos, pastagens, silagens e demais forrageiras e demais operações; depreciação de máquinas e construções utilizados proporcionalmente nos cultivos de grãos, pastagens, silagens e demais forrageiras e demais operações; despesas com concentrados e demais alimentos adquiridos de terceiros. 2.2.3.13 Custo alimentar por vaca Igual ao custo alimentar da atividade dividido pelo número de vacas total permanecida no rebanho no ano. 2.2.3.14 Custo alimentar por litro Refere-se ao custo alimentar da atividade leiteira (CAL) dividido pela produção anual de leite Na tabela 4 são demonstrados os indicadores de custos da atividade leiteira. 32 Tabela 4. Indicadores econômicos da atividade leiteira Margem liquida leite/UTF/ mês Margem líquida leite /vaca total (cód) (R$) (R$) AJ 2.146,50 2.146,50 6.132,86 0,36 0,42 2.118,93 0,28 67% 0,18 65% 88% APL 1.008,53 1.613,64 3.903,97 0,32 0,36 1.764,61 0,26 73% 0,17 66% 95% BG 400,74 641,18 2.564,72 0,45 0,48 505,62 0,30 64% 0,17 57% 84% BP 511,11 1.051,43 2.016,44 0,38 0,46 1.217,86 0,32 70% 0,18 56% 74% BZG 600,38 792,51 1.686,19 0,28 0,34 582,84 0,24 70% 0,01 5% 59% BZJ 434,26 977,09 1.226,15 0,33 0,40 1.311,87 0,31 77% 0,11 35% 59% BZM 472,88 1.063,99 1.063,99 0,27 0,35 1.092,84 0,23 65% 0,07 30% 47% BZW 87,79 146,32 168,29 0,44 0,59 1.195,90 0,32 54% 0,02 6% 50% BRG 253,09 835,21 1.310,14 0,44 0,48 1.623,29 0,30 62% 0,15 51% 72% CT 1.068,52 1.068,52 3.799,19 0,28 0,33 659,40 0,21 62% 0,18 89% 89% CR 65,87 105,40 176,65 0,49 0,58 1.531,40 0,41 71% 0,16 38% 69% DR 24,55 147,31 250,75 0,35 0,62 370,91 0,21 34% 0,08 36% 36% ES 1.015,61 1.489,56 5.766,02 0,37 0,40 1.309,88 0,25 63% 0,19 77% 85% IJA 1.294,06 1.826,90 9.556,11 0,31 0,35 1.444,83 0,28 78% 0,16 59% 84% IJC 3.357,16 2.132,79 7.251,47 0,43 0,46 1.761,24 0,35 76% 0,24 69% 85% MG 749,50 1.798,79 3.023,18 0,21 0,25 778,13 0,17 67% 0,07 43% 70% NR 1.926,17 1.849,13 2.759,89 0,28 0,32 1.609,82 0,27 84% 0,11 42% 67% RD 151,26 408,41 759,84 0,40 0,46 479,45 0,25 55% 0,19 76% 76% SA 210,54 884,28 1.768,55 0,39 0,44 844,72 0,27 62% 0,10 37% 69% SM 2.690,70 2.018,03 7.597,27 0,34 0,39 1.892,42 0,31 80% 0,24 76% 91% SV 1.427,31 1.511,27 3.778,17 0,43 0,44 2.122,46 0,32 71% 0,21 67% 80% SN 496,85 1.084,04 1.938,93 0,36 0,47 1.429,64 0,32 68% 0,21 65% 75% VG 977,56 1.234,82 3.910,26 0,17 0,23 402,09 0,14 62% 0,10 71% 87% UTF Margem liquida Custo leite/ha total operacional (área média efetivo (COEL) inverno/ da atividade verão) leite/litro (R$) (R$) Custo operacional total (COT) da atividade leite/litro Gastos com alimentação/ vaca total (CAL/vaca) Custo alimentar/ litro % custo alimentar sobre o COT (R$) (R$)/ vaca (R$) % Fonte: dados da pesquisa - Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite. Custo do concentrado por litro R$ / litro Custo do concentrado sobre o custo alimentar Custo da silagem + concentrado sobre o custo alimentar % % 33 3 ESTUDO DE CASO COMPARATIVO DE DUAS UPFs Analisando todas as UPFs, o gráfico 3 indica que há uma correlação positiva muito forte (calculado pela planilha Excel = +0,91) entre o valor investido em alimentação e a produtividade. Como era de se esperar, entretanto, para algumas UPFs há diferença de produtividade para o mesmo nível de investimento, possivelmente em função de diferenças genéticas, gestão da alimentação (qualidade e quantidade de acordo com os períodos produtivos dos animais) e gestão da produção e aquisição de alimentos (custo de produção de matéria seca oferecida aos animais). Quanto à genética para produção as unidades estudadas apresentam características semelhantes. Já a correlação entre a produtividade e a margem líquida por vaca é menor, mas estatisticamente forte (+ 0,75) e isso se deve a elementos como a composição do custo dos alimentos e dos demais custos. O entendimento mais aprofundado da composição dos custos pode ajudar a indicar sistemas de produção mais sustentáveis. Apresenta-se a seguir a situação de duas UPFs selecionadas, onde é possível constatar unidades de produção com margens líquidas próximas, mas com custo do sistema alimentar diferenciado. Grafico 3 -Produtividade leiteira e investimento em alimentação Gastos com alimentação ( R$/ vaca) 2.500,00 2.000,00 1.500,00 1.000,00 500,00 0 1.000 2.000 3.000 4.000 5.000 6.000 Produtividade (litros/vaca ano) Gráfico 3. Produtividade leiteira e investimento em alimentação. Fonte: dados da pesquisa - Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite (2008). 7.000 8.000 34 3.1 ESTUDO DE CASO DE DUAS UPFs Visando compreender o significado dos elementos do custo de produção e indicadores de produção separou-se duas UPFs do conjunto das estudadas para uma avaliação mais detalhada. Escolheu-se as UPFs de código MG e SV em função do tamanho das superfícies agrícolas úteis serem próximas, sendo MG igual a 7,7 ha e SV igual a 7,0 ha, sendo este o fator mais restritivo para ambos e, também pela diferenciação na intensidade do uso dos insumos, principalmente fertilizantes e concentrados. A tabela 5 indica a diferenciação das duas UPFs para vários indicadores e a tabela 6 indica a diferenciação na utilização de fertilizantes e concentrados. Com relação às condições do agroecossistema, a MG apresenta relevo bastante declivoso e solo com afloramento de rochas, mas de boa fertilidade natural. A Unidade SV apresenta relevo menos declivoso, solo profundo e igualmente de boa fertilidade. 3.1.1 Sistema alimentar na UPF MG Basicamente a alimentação constitui-se de pastagens perenes e anuais com suplementação de concentrado e silagem. As perenes são um hectare de Tifton (Cynodon nlemfluensis) e 0,5 hectare de Capim Elefante (Pennisetum purpureum), variedade “Cameron”, manejados em piqueteamento, sendo o de tifton dividido em 20 e o Capim Elefante em 10. Após a ordenha os animais vão para área de tifton, ficando até a ordenha da tarde, à noite pastejam o capim elefante, que é manejado numa altura mínima de 50 cm (altura do joelho do proprietário) e máxima de 150 cm. O tifton sempre é manejado com resíduo de 10 cm, visando à conservação do solo e da pastagem. As vacas secas pastejam no mesmo lote das em produção. A família dispõe da área de 1,5 ha de campo nativo de excelente qualidade como área de manejo para vacas secas e demais animais do rebanho, inclusive de serviço. Nestas pastagens perenes utiliza 100 kg/ha/ano de adubo químico (fórmula 05-20-20) e 100 kg/ha/ano de ureia. No inverno, a partir do mês de maio, em função das geadas, são implantadas nas áreas de tifton e capim elefante, em sobressemeadura, pastagens anuais de azevém e ervilhaca consorciadas. 35 No inverno são semeados de forma consorciada, aveia (Avena strigosa) e azevém (Lolium multiflorum). Além da sobressemeadura, são semeados ainda nesta estação mais quatro ha deste consórcio, ou seja, 80 kg/ha de semente de aveia e sete kg/ha de semente de azevém. A adubação é química com 125 kg/ha de adubo químico (fórmula 05-20-20) e 75 kg/ha de ureia. O cultivo de capim sudão é realizado em área de 0,7 ha, com o uso de 60 kg/ha de semente, 200 kg/ha de adubo químico (fórmula 05-20-20) e 150 kg/ha de ureia. A cultura do milho é de grande importância para a UPA, sendo realizada a semeadura na safra (agosto e setembro) e safrinha (janeiro a fevereiro), após a colheita da silagem. A fertilização é realizada com adubo químico (170 kg/ha da fórmula 5-20-20), mais ureia (120 Kg ha) e as sementes são oriundas do Programa Troca-Troca de Sementes do Governo Estadual. A produção obtida é toda consumida na propriedade, na forma de silagem e grão. O produtor faz silagem do pé inteiro do milho em área de dois ha para uso na dieta do plantel leiteiro. A silagem é usada principalmente para as vacas em lactação nos vazio forrageiro de outono e primavera. O milho em grão é plantado em área de 1,8 ha e a produção obtida é armazenada na propriedade e destinada à alimentação dos animais leiteiros da UPA, além de ser usado na alimentação de suínos e aves destinados à subsistência familiar. A UPF realiza a suplementação das vacas em ordenha na base de um kg de concentrado (67% de milho triturado, 30% de farelo de soja triturado e 3% de sal mineral) para cada três litros produzidos acima de 12 litros diários 3.1.2 Sistema alimentar na UPF SV No verão foram empregados 32 piquetes em 3,5 ha de pastagem perene de Cynodon dactylon da cultivar Florakirk para vacas em produção e secas. Utilizou-se uma adubação industrial de 240 kg de NPK (5-20-20) e 150 kg de ureia em duas aplicações de outubro e fevereiro Foram semeados 3,3 ha de milho destinado exclusivamente para silagem que é fornecida durante todo ano, em maior quantidade nos períodos de vazio outonal e de primavera. O milho é implantado com 36 adubação industrial com 170 kg ha da fórmula 18-46-00 e 100 kg de K2O, mais 120 kg /ha de ureia. No inverno são destinados 3,3 ha para pastagem de aveia preta e nabo forrageiro (Raphanus sativus) consorciados, sendo empregados na semeadura 70 kg e 10 kg de sementes, respectivamente. O nabo cumpre o papel de descompactador do solo e reciclador de nutrientes, uma vez que os animais não o apreciam como forrageira. A adubação é de 300 kg /ha da fórmula 8-16-24 e mais 150 kg de ureia/ha. No inverno também é aproveitada toda a área de pastagem perene de Forakirk, com pastagem de aveia e azevém sobressemeada, numa densidade de 85 kg e 90 kg/ha de sementes, respectivamente, sendo esta densidade considerada alta para a média da região. O produtor, porém, justifica a estratégia em função da segurança alimentar, ou seja, com esta densidade praticamente garante o pasto em sobressemeadura. Nesta área a adubação é 240 kg/ha de NPK 5-20-20 e mais 150 kg/ha de ureia. O manejo dos animais consiste em mantê-los sobre a área de Florakirk permanentemente, dia e noite, durante todo o ano, mesmo que a oferta seja mínima em determinadas épocas, visando ao retorno dos dejetos, ou seja, evitar que parte dos dejetos fique no entorno nas construções, causando problemas ambientais e perda de nutrientes do solo. No inverno, sobre as áreas de pastagem anual de inverno (aveia e nabo) utiliza-se o pastejo durante o dia, voltando os animais a permanecer sobre a Florakirk durante o restante do tempo. Com este manejo o produtor conseguiu atingir níveis de 35 t/ha de matéria seca de forragem ao ano numa área de 3,5 ha de Florakirk. O concentrado é adquirido de fora da unidade de produção, de empresa fornecedora, a qual armazena em silo a granel. 3.1.3 Discussão A tabela 5 demonstra que MG apresenta produtividade por vaca e por área menores que SV, o que pode ser decorrente do sistema alimentar, uma vez que os 37 indicadores de consumo de concentrado em SV são significativamente mais elevados, podendo repercutir na produtividade. A diferença genética fica difícil avaliar com maior precisão, mas podemos afirmar que há uma vantagem (com base em uma avaliação superficial fenotípica) em SV com relação a características que levam a produtividade leiteira por vaca, uma vez que MG parte (há seis anos atrás ) de um gado mais azebuado e muda o perfil via inseminação artificial e a introdução de novilhas especializadas (holandesa). Quanto a dinâmica reprodutiva do rebanho, os levantamentos apontam uma semelhança, ou seja, nos dois casos as matrizes têm obtido uma cria por ano. Levando em conta o fator restritivo terra, é correto afirmar que SV consegue maior eficiência econômica, pois tem maior margem líquida por hectare. Se levarmos em conta, porém, o número de vacas o que repercute em uma maior emprego de mão de obra (mais animais significa mais tempo envolvido com o manejo), a MG apresenta-se mais eficiente, uma vez que tem maior margem líquida por vaca. Caso MG optasse por uma maior renda anual, semelhante a SV, a permanecer seus indicadores por vaca, deveria aumentar em mais quatro o número de vacas. Deve-se levar em conta, no entanto, que com mais vacas possivelmente haveria restrição de pastos, o que elevaria os custos com silagem e concentrado para manter a produtividade, podendo significar menor margem líquida, não atingindo, portanto, o seu objetivo. A UPF SV poderia optar por seguir os indicadores de margem líquida por vaca de MG, o que permitiria reduzir em 2 a 3 o número de vacas, o que seria uma hipóteses a ser efetivamente testada uma vez que menor número de animais reduz mão de obra e pressão sobre a qualidade dos solos na área de cultivos e nos arredores da sala de ordenha (problemas de excesso de formação de barro devido ao aumento do número de animais). Quanto à questão da sustentabilidade dos dois sistemas de produção, analisada pelo aspecto da fertilidade do sistema e da renda, parece que a opção em avaliar a possibilidade de reduzir vacas em SV poderia ser relevante, uma vez que reduziria o número de unidades animais por hectare e sua influência no aspecto fertilidade2 da propriedade. 2 Fertilidade aqui entendida como qualidade química, física e biológica dos solos numa perspectiva temporal. 38 Também é relevante ressaltar que no cálculo da margem liquida, o preço recebido por MG é menor em 18,75% que SV, o que justifica mais ainda um exame mais criterioso do sistema alimentar de SV, uma vez que em uma situação de queda de preço a sustentabilidade econômica fica mais fragilizada em função da redução da margem. No caso, MG suportaria mais a redução de preço. Tabela 5. Indicadores físicos e econômicos das duas UPFs comparadas Código da Unidade familiar de Produção (UPF) MG Área total da UPF (ha) 9,2 Superfície Agrícola Útil SAU (ha) 7,7 Área utilizada para atividade leiteira no verão (ha) 6,4 Área utilizada para atividade leiteira no inverno (ha) 5,5 Área com pasto perene utilizada na atividade leiteira (ha) 3,0 Animais totais da atividade leiteira (cabeças) 14 Animais totais da atividade leiteira (Unidade animal) 15,3 Unidades Animais por hectare utilizado (UA) 2,57 Vacas leiteiras totais (cabeças) 10 Produção de leite verão - novembro a abril (litros) 18.182 Produção de leite inverno - maio a outubro (litros) 27.685 Produção total anual (litros) 45.867 Produção/ha media inverno e verão (litros) 7.709 Produção vaca total/ano 4.587 Produção media vaca total dia (litros) 12,6 Margem bruta Leite (R$) 19.949,57 Margem bruta por vaca (R$) 1.994,96 Depreciação leite (R$) 1.961,63 Margem líquida leite (R$) 17.987,94 Margem Líquida leite/vaca total (R$) 1.798,79 Margem liquida leite por ha total – área média inverno/verão (R$) 3.023,18 Custo alimentar por vaca (R$) 778,13 Custo alimentar por litro (R$) 0,17 Custo operacional efetivo (COEL) da atividade leite/litro (R$) 0,21 Depreciação por litro (R$) 0,04 Custo operacional total (COT) da atividade leite/litro (R$) 0,25 Preço recebido por litro (R$) 0,52 Margem líquida por litro (R$) 0,27 % custo alimentar sobre o COT 67% Custo concentrado por litro (R$) 0,07 Custo da silagem por litro (R$) 0,05 Custo da pastagem (R$) 0,05 Fonte: dados da pesquisa – Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite (2008). SV 7,7 7,0 6,8 6,8 3,5 31 26,2 3,86 17 58.566 55.332 113.898 16.750 6.700 18,4 27.750,25 1.632,37 2.058,73 25.691,52 1.511,27 3.778,17 2.122,46 0,32 0,43 0,02 0,44 0,64 0,20 71% 0,21 0,04 0,06 Tabela 6. Níveis de intensificação na utilização de fertilizantes e concentrados. Item Uso de Fertilizante comercial Unidade de Produção MG SV Nitrogênio : 255 kg /ha Nitrogênio: 292 kg /ha P2O5 : 120 kg /ha P2O5 : 176 kg /ha K2O : 120 kg /ha K2O : 206 kg /ha 39 Consumo de concentrado 2,63 (kg/litro produzido/dia) Fonte: dados da pesquisa – Emater/RS-Ascar, Projeto Rede Leite (2008). 5,70 CONSIDERAÇÕES FINAIS É fundamental que os produtores procurem estabelecer indicadores para sua atividade. Isso permite uma melhor tomada de decisão na busca por melhores indicadores que sejam coerentes com o projeto de vida da família, a gestora da atividade. Outro fator importante é que possuindo indicadores, a atuação da assistência técnica fica mais qualificada, uma vez que poderá não somente ajudar em questões pontuais (por exemplo, diagnóstico de doenças ou problemas de produtividade nas forrageiras), mas fazer uma análise mais ampla e, portanto, uma proposição técnica mais coerente. Além dos indicadores físicos e econômicos é necessário que as Unidades de Produção tenham anotações de indicadores zootécnicos, como intervalo entre partos, índices de mortalidade, taxas de prenhez, pois ajudam a elucidar melhor os gargalos da atividade. Trabalhar na perspectiva de uma maior margem líquida para os produtores significa também maior dinamização da economia local, pois a renda-leite, como já discutido anteriormente, é em boa parte gasta localmente. 40 REFERÊNCIAS APOLLIN, F.; EBERHARDT, C. A Analisis y diagnóstico de los sistemas de produción en el médio rural: guia metodológica. Quito: Camaren, 1999. 241 p. COSTA, P.U. 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Rede Leite: Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Pecuária de Leite. Bagé. Embrapa Pecuária Sul, 2010 (Documentos/Embrapa Pecuária Sul, ISSN 1982-5390; 100). SILVA NETO, B.; CALLEGARO, S. S. Desenvolvimento e urbanização na região de Ijuí. Apostila de Aula. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Manejo Sustentável de Agroecossistemas. Departamento de Estudos Agrários. Ijuí: Unijuí, 2004. 41 TRENNEPOHL, D. Avaliação da contribuição potencial das principais atividades agropecuárias para o desenvolvimento econômico da Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional-Universidade de Santa Cruz – UNISC, 2010. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp 146241.pdf>. Acesso em: 24 out. 2011. WÜNCH, J. A. Diagnóstico e tipificação de sistemas de produção: procedimentos para ações de desenvolvimento regional. 178 fls. Dissertação de Mestrado. 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