AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO LEITEIRA DE BÚFALAS NA REGIÃO SUDOESTE DE SÃO PAULO Sergio Augusto de Albuquerque Fernandes1 Caio Rossato2 Otavio Bernardes3 Introdução As explorações leiteiras comerciais de búfalas têm uma trajetória relativamente recente em nosso meio, tendo sido impulsionada principalmente pelo surgimento de lacticínios especializados que, a partir da década de 90, vêm transformando o leite desta espécie em laticínios finos, particularmente a “mozzarella”, cujo maior valor agregado têm permitido uma remuneração maior ao produtor. O estímulo da maior remuneração, a alta fertilidade natural da espécie, sua longevidade reprodutiva resultando numa menor taxa de descarte e maior velocidade de expansão, o bom desenvolvimento ponderal das crias, permitindo atingir performances de desenvolvimento comparáveis aos de raças bovinas especializadas, além de projetos privados de fomento desenvolvidos a partir da década de 80 na região sudoeste do Estado, promoveram expressiva expansão numérica dos rebanhos locais. Concomitantemente, o interesse econômico na produção leiteira levou alguns criadores regionais, a investirem em pesquisas e programas de seleção que resultaram em um grande avanço na produtividade leiteira dos animais desta espécie. Assim, conforme levantamento de Tonhati e cols em 1999 que avaliou a produção em propriedades no Vale do Ribeira-SP tendo constatado uma produtividade média de cerca de 1.200 kg/lactação e, posteriomente, ampliando a base de animais controlados incluindo inclusive algumas propriedades com melhor nível de manejo, tal produção atingiu cerca de 1.600 kg/lactação. Material e métodos A fim de aferir a produtividade média na região sudoeste do Estado, foram controladas 201 matrizes bubalinas distribuídas em 5 propriedades localizadas nos municípios de Sarapuí e Pilar do Sul, sendo duas em regime de uma ordenha diária e as demais em 2 ordenhas diárias. Na avaliação da produção e duração das lactações foram consideradas apenas as lactações em que se dispunha do registro das parições e do encerramento das lactações ou, que pelo menos a duração tenha ultrapassado 250 dias. Alguns registros podem estar com produção distorcida em face do primeiro controle ter sido feito após 100 dias do parto. Na ausência do registro, considerou-se encerramento da lactação 15 dias após o ultimo controle efetuado. Em todas as propriedades além de volumosos os animais recebiam alguma suplementação de concentrados, em geral, resíduo úmido de cervejaria (RUC), sendo que em numa delas, alem do RUC, os animais em lactação recebiam ainda polpa cítrica e caroço de algodão em função de seus níveis produtivos. Numa das propriedades sob uma ordenha diária, a mesma era mecânica e na outra, manual. Nas submetidas a duas ordenhas diárias, em uma a mesma era manual e nas demais, mecânica. Resultados e discussão Conforme se observa na tabela abaixo, a produção geral média observada foi de 2.122 kg por lactação, com duração média de 255 dias, resultando numa produção média diária de 8,4 kg. O pico médio observado foi de 11,2 kg. Ajustando a produção para 305 dias de duração (através de fórmula de regressão entre produção acumulada e numero de dias em lactação) obteve-se uma média de 2.321 kg por lactação (sem ajuste para ordem de cria face o não registro desta informação). Produção Média 2.121,8 pa305 2.321,1 med/dia 8,4 pico 11,2 duração 254,9 cab. 40,2 Produção pa305 med/dia pico duração cab. 1 ord/d 1.459,8 1.636,0 6,1 8,3 240,6 32,0 2 ord/d 2.431,0 2.641,1 9,5 12,6 261,6 45,7 426.475,3 466.534,7 Total 201 Os resultados observados apresentaram diferenças expressivas nos rebanhos sob exploração em uma ou duas ordenhas diárias. Assim, a produção média foi respectivamente para uma e duas ordenhas, de 1.460 kg e 2.431 kg/lactação (66% superior para duas ordenhas), a duração média foi de 241 dias para uma ordenha e de 262 dias para duas ordenhas (9% superior), resultando que a média diária foi de 6,1 kg em uma ordenha e 9,5 kg em duas ordenhas (56% superior). O pico médio observado foi respectivamente de 8,3 kg/d e 12,6 kg/d (52% superior em 2 ordenhas). Quanto à produção ajustada a 305 dias, observou-se 1.636 kg em uma ordenha e 2.641 kg em duas ordenhas. Apesar da literatura referir um aumento de cerca de 30% com a adoção de uma segunda ordenha diária, notamos que as propriedades que a adotam costumam também agregar um melhor manejo alimentar ao rebanho, resultando, como foi observado, um aumento superior a este com adoção destas práticas de manejo (não só pela maior produção diária quanto por uma maior duração da lactação). A projeção total da produção destas 201 matrizes resulta em cerca de 426.475 kg de leite na lactação e, considerando-se um consumo médio de cerca de 480 kg de leite por bezerro (observação pessoal) resulta que estas cinco propriedades disponibilizaram cerca de 330.000 kg de leite para comercialização nesta lactação o que resultou num valor global de produção de cerca de R$ 231.000,00 ou, em média, R$ 1.149,25 por matriz, (leite comercializado a R$ 0,65/litro) sendo que as propriedades que exploram os animais em uma ordenha este valor foi de R$ 686,00 por matriz parida e nas com duas ordenhas, este valor atingiu cerca de R$ 1.366,00 (99% superior). Considerando o valor de um bezerro desmamado em cerca de R$ 300, e uma taxa de desmame de 90%, teríamos que cada matriz de um rebanho explorado em uma ordenha diária resulta numa receita bruta anual de R$ 887 e nas com duas ordenhas diárias, numa receita bruta de R$ 1.500. Relativamente aos dados obtidos na literatura, observamos que a produtividade média em uma ordenha diária foi cerca de 20% superior à observada por Tonhati no Vale do Ribeira em 1.999, e, em duas ordenhas diárias superou em 50% a produção média observada pelo autor em 2002, destacando-se ainda que em uma das propriedades a média geral observada envolvendo 55 primíparas e pluríparas foi de 2.955 kg com duração de 285 dias, mostrando não só a grande variabilidade na produção, fator que favorece uma rápida seleção e aumento de produtividade por adoção de melhores técnicas de manejo, bem como a elevado potencial econômico da exploração leiteira da espécie e ainda, a qualidade dos rebanhos bubalinos leiteiros existentes na região sudoeste de SP. 1 Doutorando em Ciência Animal e Pastagens ESALQ Médico Veterinário – Casa Agricultura de Pilar do Sul 3 Bubalinocultor – proprietário do Sítio Paineiras da Ingai – Alambari-SP 2