i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Pré-dimensionamento da armadura longitudinal de seções de pontes em balanço progressivo, usando as expressões da NBR 6118-2003 Eduardo Maia Pan Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Prof. Dr. Roberto Chust Carvalho São Carlos 2009 ii DEDICATÓRIA Dedico esta monografia aos meus pais, André e Claudete, e ao meu irmão Anderson. iii AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos a minha família, quem me apoiou durante toda minha vida, principalmente nestes cinco anos de Universidade, e a quem eu devo tudo o que eu conquistei e ao que sou. Agradeço aos meus professores por terem me auxiliado durante todo o curso de Engenharia Civil, em especial ao Prof. Dr. Roberto Chust Carvalho, quem me auxiliou neste trabalho de conclusão de curso, com incentivo e sugestões. Agradeço aos meus grandes amigos que conquistei nestes cinco anos em São Carlos, por me incentivar e me ajudar em todas as horas que precisei, e pelos inúmeros momentos de alegria que passamos juntos. iv RESUMO RESUMO Este trabalho apresenta um pré-dimensionamento detalhado da armardura longitudinal de uma ponte em balanço progressivo, abordando os critérios descritos pela NBR-61182003, a partir de um exemplo numérico. O objetivo é demonstrar as etapas de cálculo envolvidas no processo, descrevendo passo a passo as verificações e o detalhamento, além de caracterizar os aspectos construtivos da tecnologia de balanços progressivos, comparando os resultados obtidos com os extraídos do exemplo real, comprovando a eficiência do método utilizado. Palavras-chave: concreto protendido, pontes em balanço sucessivo, armadura longitudinal. v ABSTRACT ABSTRACT This paper presents a detailed pre-sizing of the longitudinal reinforcement of a segmental prestressed concrete Box girder bridge, according to the criteria described by the NBR-6118:2003, from a numerical example. The goal is to demonstrate the calculation stages involved in the process, describing step by step the details, and to characterize the constructive aspects of segmental prestressed concrete box girder bridges, comparing the results achieved with the results obtained from the real example, proving the efficiency of the method used. Key-words: prestressed concrete, bridges, box-girder vi LISTA DE FIGURAS Figura 2-1 - Esquema estrutural do sistema de balanços sucessivos .......................................... 4 Figura 2-2 - Tipos estruturais de pontes de acordo com a ligação ............................................. 5 Figura 3-1 - Esquema longitudinal da estrutura ....................................................................... 11 Figura 3-2 - Seção longitudinal (trecho em escoramento direto) ............................................. 12 Figura 3-3 - Seção longitudinal (trecho em balanço progressivo)............................................ 12 Figura 3-4 - Seção transversal .................................................................................................. 12 Figura 3-5 - Divisão da seção transversal em trapézios ........................................................... 13 Figura 3-6 - Linha de influencia (L.I) de momento fletor em S10 ........................................... 16 Figura 3-7 - Linha de influencia (L.I) de momento fletor em S15).......................................... 17 Figura 3-8 - Esquema de diagrama de momentos .................................................................... 19 Figura 3-9 - Representação da trajetória do cabo após lançamento da aduela 4 ...................... 20 Figura 3-10 - Demonstração gráfica dos cálculos efetuados para o trecho de cabo curvo....... 22 Figura 3-11 - Demonstração gráfica dos cálculos efetuados para o trecho de cabo em deflexão .......................................................................................................................................... 23 Figura 3-12 - Tensões ao longo do cabo representante ............................................................ 26 Figura 3-13 - Gráfico das tensões ao longo do cabo após perdas iniciais (tentativas) ............ 27 Figura 3-14- Gráfico com as tensões finais no cabo após as perdas iniciais ............................ 30 Figura 3-15- Variação das perdas de protensão, ao longo do tempo, numa seção determinada de uma peça com armadura pós tracionada ...................................................................... 36 Figura 3-16– Esquematização do momento atuante ................................................................. 38 Figura 3-17- Região das abas da peça ...................................................................................... 39 Figura 3-18 - Disposição dos cabos de protensão .................................................................... 41 vii LISTA DE TABELAS Tabela 3-1 - Dimensões das aduelas......................................................................................... 13 Tabela 3-2 - Características geométricas das seções ................................................................ 13 Tabela 3-3. Momento Fletor e tensões devido ao peso próprio em S10 .................................. 14 Tabela 3-4- Momento fletor e tensões devido ao peso próprio em S15 ................................... 14 Tabela 3-5 Momento fletor e tensões devido a sobrecarga em ambas seções .......................... 15 Tabela 3-6-Tensões ao longo do cabo representante após perdas por atrito (lado esquerdo) .. 24 Tabela 3-7 Tensão ao longo do cabo representante após perdas por atrito (lado direito) ........ 25 Tabela 3-8 - Tensão ao longo do cabo representante após perdas por atrito (resumo) ............ 25 Tabela 3-9 – Tensões finais após perdas iniciais ...................................................................... 30 Tabela 3-10 - Considerações sobre efeitos reológico do concreto e do aço ............................. 31 Tabela 3-11 - Cálculo dos coeficientes de fluência e retração do concreto ............................. 32 Tabela 3-12 - interpolação dos valores dos coeficientes Ѱ ...................................................... 35 Tabela 3-13 - Tensão ao longo do cabo representante após perdas inciais e ao longo do tempo .......................................................................................................................................... 35 Tabela 3-14 -Tensão ao longo do cabo representante após perdas inciais e ao longo do tempo (continuação) .................................................................................................................... 36 Tabela 3-15 - Valores para cálculo de armadura longitudinal de seções retangulares ............. 38 Tabela 3-16 – Tensão no aço 𝜎𝑠𝑑 (MPa) com 𝐸𝑝 = 195000𝑀𝑃𝑎 ......................................... 40 Tabela 3-17 - Tensão no aço 𝜎𝑠𝑑 (MPa) com 𝐸𝑝 = 195000𝑀𝑃𝑎 (continuação) .................. 40 Tabela 3-18 - Classificação da agressividade ambiental .......................................................... 43 Tabela 3-19 - Exigencias de durabilidade relacionadas a fissuração e a proteção da armadura em função das classes de agressividade ambiental ........................................................... 43 Tabela 3-20 - Cálculo das perdas inciais dos cabos retilineos ................................................. 45 Tabela 4-1 - Cabos de uma viga ............................................................................................... 51 . viii SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................1 1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................2 1.2 OBJETIVOS............................................................................................................................3 1.3 ESTRUTURA DO TEXTO ......................................................................................................3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................................4 2.1 3. METODOLOGIA ....................................................................................................................9 PRÉ-DIMENSIONAMENTO DA ARMADURA LONGITUDINAL DE PROTENSÃO .........10 3.1 INFORMAÇÕES GERAIS E INDICAÇÃO DO SISTEMA DE UNIDADES DE PROTENSÃO. ....................................................................................................................................10 3.1.1 ESPECIFICAÇÃO DO ESQUEMA ESTRUTURAL .............................................................10 3.1.2 CÁLCULO DOS ESFORÇOS E DAS CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS ......................11 3.1.3 SISTEMA DE UNIDADE DE PROTENSÃO .......................................................................18 3.2 INDICAÇÃO DA TRAJETÓRIA DO CABO REPRESENTANTE ........................................18 3.2.1 SITUAÇÃO DE CÁLCULO – ADUELA 4 (SEÇÃO S15) .......................................................... 20 3.3 CÁLCULO DAS PERDAS IMEDIATAS DO CABO REPRESENTANTE ............................23 3.3.1 CÁLCULO DAS PERDAS POR ATRITO CABO-BAINHA DO CABO REPRESENTANTE .23 3.3.2 CÁLCULO DAS PERDAS POR DEFORMAÇÃO DA ANCORAGEM DO CABO REPRESENTANTE .........................................................................................................................26 3.4 CÁLCULO DAS PERDAS AO LONGO DO TEMPO DO CABO REPRESENTANTE .........31 3.4.1 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A RETRAÇÃO ...........................................................32 3.4.2 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A FLUENCIA DO CONCRETO ..................................33 3.4.3 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A RELAXAÇÃO DO AÇO ................................34 3.5 CÁLCULO DO NÚMERO DE CABOS NO ELU ..................................................................36 3.6 VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS DE FISSURAÇÃO NA SEÇÃO DE MAIOR SOLICITAÇÃO E DETERMINAÇÃO DO FEIXE LIMITE PARA AS DEMAIS SEÇÕES. ..............42 3.6.1 ESTADO LIMITE DE DESCOMPRESSÃO (E.L.S-D) – COMBINAÇÃO DE AÇÕES QUASE FREQUENTES ................................................................................................................................44 3.6.2 ESTADO LIMITE DE FORMAÇÃO DE FISSURAS (E.L.S-F) – COMBINAÇÃO DE AÇÕES FREQUENTE. .................................................................................................................................47 3.6.3 VERIFICAÇÃO DE RUPTURA NO TEMPO ZERO ............................................................49 4. CONCLUSÃO ...............................................................................................................................51 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................54 1 1. INTRODUÇÃO Desde os primórdios, o homem tem a preocupação em construir pontes e viadutos, devido à necessidade de deslocamento e de habitar regiões próximas a água. É fato que devido à constante necessidade de construção deste tipo de estruturas, houve um aprimoramento continuo na técnica de construção, e no emprego de diferentes materiais, possibilitando a realização de pontes seguras e com vãos cada vez maiores. Na antiguidade, as pontes eram construídas basicamente por pedras, em forma de arcos; técnica desenvolvida pelos romanos com perfeição, muito utilizada também na idade média. Tal método possibilita a transposição de grandes vãos, devido a forma geométrica, que faz com que a estrutura trabalhe basicamente a compressão. A partir do século XVIII até meados do século XIX, a maioria das pontes era metálica, feitas de diferentes ligas de ferro, até o desenvolvimento do aço em 1860, que passou a ser o material mais utilizado. O concreto passou a ter papel preponderante na construção de estruturas a partir de 1900, com o desenvolvimento da teoria do concreto armado por Morsch. Isso foi o primeiro passo para Freyssinet, em 1928, viabilizar o concreto protendido usando aço de alta resistência para contrabalancear a retração e deformação lenta do concreto. Baseado nos fundamentos do concreto protendido, em 1930, Emilio Baumgart desenvolveu a tecnologia de construção de pontes por balanços sucessivos, empregando-a pela primeira vez na ponte sobre o Rio Peixe, vencendo um vão de 68m. Talvez a obra nacional mais marcante que emprega esta metodologia construtiva seja a ponte Presidente Costa e Silva, conhecida como ponte Rio-Niterói, a qual transpõe um vão de 12900m, apesar de terem sido empregados 3 diferentes métodos construtivos. Este método consiste no lançamento simétrico de aduelas protendidas nas duas extremidades do pilar de apoio de forma sucessiva, fazendo com que o encontro da superestrutura ocorra no meio do vão. 2 Sob o aspecto estrutural, é importante salientar que pontes em balanço sucessivo são construídas basicamente com seção caixão, devido à grande capacidade de distribuição de cargas em função da alta rigidez à torção (a torção, por ser mais rígida que a flexão diferenciada das almas, transporta praticamente todo o efeito de excentricidade), além da grande resistência à torção e grande resistência à flexão, seja para momentos positivos ou negativos (pois tem 2 mesas, superior e inferior). Em contrapartida, este sistema construtivo exige alguns cuidados durante a concepção do projeto, como por exemplo, em relação às contraflechas, uma vez que são mais elevadas em relação a construção de pontes por vigas continuas, além do fato do concreto ser solicitado muito novo, fazendo com que as deformações imediatas, sobretudo as lentas sejam relevantes, fatores que influenciam diretamente no cálculo. Os procedimentos e detalhes de cálculo desta metodologia construtiva serão abordados por este trabalho, focando mais precisamente nas armaduras longitudinais de protensão. 1.1 JUSTIFICATIVA É notável que o Brasil é um pais que possui uma hidrografia ampla com rios caudalosos e extensos, e por isso há necessidade de construção de pontes com vãos médios e grandes. Dentre as técnicas existentes, a mais eficiente para vencer este tipo de obstáculo é o sistema estrutural de viga em balanço progressivo. Tal técnica foi muito empregada nos anos 70, época do acelerado crescimento econômico do Brasil e da realização das grandes obras de infra-estrutura do país, como a ponte RioNiterói. Desde então não havia sido muito utilizada, até os dias atuais, porem já é possível ver seu emprego, por exemplo, no RODOANEL, maior obra viária em execução em território nacional. Além disso, trata-se de uma tecnologia genuinamente brasileira, desenvolvida por Emilio Baungarten, que apesar de ser bastante empregada em obras desta magnitude, é uma técnica que poucos dominam, devido a pouca bibliografia sobre o tema, além do longo tempo que ficou em desuso nos país. Este trabalho procura abordar este tema da forma mais abrangente possível, visando expor ao leitor como se aplica a norma para a determinação da armadura longitudinal para as condições de flexão. 3 1.2 OBJETIVOS Criar uma metodologia de pré-dimensionamento da armadura longitudinal de protensão para a seção mais solicitada (de apoio) de ponte em balanço progressivo levando em conta as prescrições da NBR6118:2003 e devidas as ações de flexão. Desta forma, serão abordados os estados limites último de flexão no tempo infinito e no tempo zero, assim como as verificações em serviço para atender a fissuração. 1.3 ESTRUTURA DO TEXTO Este texto é composto por um capitulo introdutório, e mais quatro capítulos, que abordam os seguintes temas: Revisão bibliográfica, Pré-dimensionamento da armadura longitudinal de protensão, Conclusão e Referencias Bibliográficas No capítulo introdutório é feita uma pequena contextualização do assunto, abordando aspectos históricos e construtivos, informando o objetivo e a justificativa do tema estudado. O capitulo dois é constituído por uma serie de extratos de livros utilizados como consulta do tema, servindo como subsidio teórico, além de expor ao leitor a metodologia de estudo empregada no trabalho de pesquisa. Já o capitulo três é onde ocorre todo o desenvolvimento de cálculo, baseando-se na teoria estudada e nos critérios da NBR-6118:2003, seguido do capitulo quatro, onde são analisados os resultados e feitas as considerações finais sobre o tema. Por último, há o capitulo a respeito das referencias bibliográficas, onde são listadas as obras consultadas para pesquisa do tema e desenvolvimento do trabalho. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este trabalho aborda a tecnologia de construção de pontes em balanço progressivo. É importante notar que um projeto de pontes é composto basicamente por duas partes: infraestrutura (fundações e pilares) e mesoestrutura (tabuleiro), esta ultima objeto de estudo do nosso trabalho, mais especificamente o pré-dimensionamento das armaduras longitudinais Primeiramente é necessário definir o que vem a ser a técnica de balanços sucessivos. Embora haja variações possíveis quanto ao projeto e modelo estrutural, descreve-se apenas o processo usualmente utilizado no Brasil. Segundo REZENDE (2007), indicado para grandes vãos, o processo de execução por balanços sucessivos constitui-se por concretagens de aduelas (segmentos de superestrutura, seccionados no sentido transversal e comprimentos que podem variar de 2 a 5 metros, normalmente) simetricamente opostas em relação ao eixo vertical do pilar. O avanço simultâneo em sentidos contrários é que garante o equilíbrio da superestrutura sobre o pilar até que as extremidades dos balanços sejam apoiadas ou continuadas ligando-se à outra extremidade de balanço. A figura 1 mostra o esquema geral para o processo de balanços sucessivos duplos e a trajetória dos cabos de protensão. As aduelas são protendidas aos pares, geralmente de maneira que os cabos de uma aduela sejam protendidos entre esta e a outra simetricamente oposta. Figura 2-1 - Esquema estrutural do sistema de balanços sucessivos 5 Para se realizar qualquer projeto de ponte dentro deste conceito, primeiramente devese definir que tipo de sistema estrutural adotar para o cálculo da obra de arte em questão. De acordo com PAS (2007), pode-se classificá-las dentro de 4 conceitos básicos, conforme pode ser identificado na figura 2: - Pórticos com ligações articuladas; - Pórticos isostáticos com viga Gerber; - Pórticos ou vigas com estabelecimento da continuidade; - Pórticos mistos. Figura 2-2 - Tipos estruturais de pontes de acordo com a ligação 6 Uma vez definida o sistema estrutural, é necessário identificar os esforços solicitantes na estrutura. Para o pré-dimensionamento da armadura longitudinal de protensão, considera-se uma parcela do peso próprio atuante, a carga acidental vertical, além da contribuição dos esforços hiperestáticos de protensão e esforços devido ao impedimento da realização das deformações diferidas, além dos acréscimos de peso próprio (pavimentação e defensas), conforme descrito no capitulo II, pagina II.1 de CARVALHO(1987). É importante frisar que a estrutura deve ser dimensionada tendo em vista os equipamentos de montagem, além da própria situação de montagem, que gerarão esforços solicitantes durante a etapa construtiva. Nota-se isso na ponte Internacional de Quintanilha, exemplo descrito por PEDRO & REIS & REIS (2008), na qual utilizaram para a estrutura em questão 4 cabos por aduela, sendo 2 por alma, com potencia média útil a longo prazo não inferior a 2900 e 1850 KN/cabo, e potencia útil sobre a seção do pilar de 3200KN e 2050KN/cabo, durante a construção, além dos cabos colocados visando a continuidade da ponte. A construção de obras de arte em balanço sucessivo pode ser realizada tanto com peças pré-moldadas, quanto com aduelas moldadas no local. Segundo LEONHARDT (1979) apud PAS (2007), a grande vantagem do processo dos balanços sucessivos com concreto moldado no local é a possibilidade de se dispor a armadura longitudinal para a limitação da fissuração através das juntas de concretagem, de modo a tornar possível uma protensão limitada ou parcial. A junta pode também transmitir perfeitamente à laje do tabuleiro as bielas comprimidas inclinadas e forças cortantes, desde que a superfície da junta seja áspera ou tornada áspera mecanicamente, a fim de que o concreto novo e o velho possam se ligar por meio de um “endenteamento”. Entretanto,um aspecto importante a ser considerado na construção in loco, é o surgimento de um esforço denominado de momento de restituição ou hiperestático da deformação lenta ocorrido após a concretagem do fechamento central. Isto se dá devido ao fato de ocorrer uma alteração no sistema estrutural, causando o impedimento da deformação diferida do concreto que prosseguiria até sua estabilização final. Desta forma, essa continuidade do tabuleiro impede o aumento da rotação diferida na seção, surgindo assim o esforço hiperestático. Inicialmente, este esforço é nulo no momento em que é feita a ligação e cresce progressivamente até um limite em função do fenômeno da relaxação, conforme MASON (1976). 7 Em contrapartida, em termos de produção, em obras construídas por avanço progressivo moldado no local, pode-se utilizar um grande número de frentes de trabalho, multiplicando a produção total, compensando assim o suposto atraso em relação às obras realizadas com pré-moldados, aspecto citado por PFEIL(1975). Atrelado a isto, temos o fato da possibilidade de variação de altura das aduelas, proporcionando uma construção mais racionalizada. A geometria da ponte é determinada a partir do cálculo de altura mínima necessária na seção de engaste do balanço, conforme proposto por GUYON (1966) e reiterado por CARVALHO (1987), através da seguinte expressão: k l 2 h1 1,35 2 C (2-1) Onde: h1 = altura mínima do balanço no engaste l = comprimento do balanço; γ = peso específico do concreto; C = tensão de compressão limite do concreto; ξ = coeficiente usado para corrigir o ponto de aplicação da resultante da carga permanente (em geral diferente de l/2); k = coeficiente que corrige o valor da resultante de peso próprio, pois esta não é igual ao produto da taxa de carga permanente máxima multiplicada pelo valor do vão do balanço; ζ = coeficiente que multiplicado pela altura fornece o valor do braço de alavanca. Partindo deste valor, pode-se determinar as demais alturas do meio do vão a partir de um calculo iterativo, utilizando a equação acima para o cálculo das alturas dos tramos, e consequentemente, dos valores correspondentes dos coeficientes em questão, repetindo-se este procedimento até a obtenção de resultados satisfatórios. Outra alternativa seria encarar essa equação como uma função de 2o grau, ou uma hipérbole, onde os demais valores já seriam automaticamente determinados, assim como descrito por CARVALHO(1987). 8 A determinação da geometria é necessária para se projetar o traçado dos cabos longitudinais de protensão, o que causará a variação dos valores e do numero de cabos necessários. Ainda de acordo com CARVALHO (1987), o pré-dimensionamento deve satisfazer as verificações de tensões normais nas bordas superior e inferior de cada seção, conforme a equação a seguir: 𝜎𝑠𝑢𝑝 = 𝑛𝑐 𝑥 𝑁1p 𝑁1p × ep 𝑀1 + − ≥σ 𝐴 𝑊𝑠𝑢𝑝 𝑊𝑠𝑢𝑝 (2-2) ou 𝑛𝑐 ≥ σc + 𝑀1 𝑊𝑠𝑢𝑝 1 𝑁1𝑝 𝑁1𝑝 𝑒𝑝 𝐴 + 𝑊𝑠𝑢𝑝 (2-3) Onde: 𝑛c = número de cabos existentes na seção em questão N1p = força normal de protensão de um cabo ep = excentricidade de cabo resultante na seção M1 = momento máximo atuante na seção c = limite de tensão de tração no concreto, ou quando for o caso a menor tensão de compressão Essa equação descrita acima se aplica para o bordo superior de uma seção genérica, porém quando se trata do bordo inferior, a equação é análoga, apenas com inversão dos sinais. A NBR 6118:2004 prevê ainda a obediência de outros critérios de segurança para a determinação da armadura longitudinal, tendo em vista os estados limites de serviço e estado limite ultimo, passando desde o grau de agressividade do ambiente até combinações de ações em serviço, sem esquecer de considerar as supostas perdas de protensão. Conforme MATTOS (2001), essas perdas de protensão podem ser divididas em dois grandes grupos: perdas imediatas e perdas ao longo do tempo. Dentro das perdas imediatas 9 há a perda devido a rigidez do sistema estrutural, perda no sistema de macaqueamento e nas placas de ancoragem, perda pelo atrito entra a armadura e a bainha, perda pela acomodação e deformação das ancoragens e perda pela deformação instantanea do concreto decorrente das protensões sucessivas; enquanto as perdas ao longo do tempo podem ser caracterizadas como perda pela retração do concreto, pela fluência, e relaxação do aço. É importante salientar que qualquer verificação só é possível após estabelecimento do traçado de um cabo representativo, para efeito de pré dimensionamento, que posteriormente possibilitará a determinação da quantidade total de cabos e seu detalhamento, conforme podese conferir em CARVALHO (2009). Ainda referente ao traçado dos cabos, MASON (1976) cita que é necessário projetar a protensão partindo-se dos apoios para os extremos dos balanços, de modo a garantir a estabilidade de cada aduela na fase de construção e do conjunto final. De acordo com o desenvolvimento do trabalho, esses aspectos serão melhor detalhados e explicados. 2.1 METODOLOGIA Visando atingir os objetivos propostos, serão realizadas as seguintes atividades: A- Revisão Bibliográfica: realizada com o objetivo de compreender a metodologia construtiva de balanços progressivos, e apresentar os métodos de cálculo do sistema em questão. B- Criação de um roteiro de cálculo: a partir dos dados referentes às características das pontes em balanços progressivo, ao detalhamento da armadura longitudinal de protensão e todas as suas especificações de cálculo (conhecimento adquirido através da pesquisa bibliográfica sobre o tema), foi criado um roteiro de resolução de armaduras longitudinais de protensão simplificado, detalhando passo a passo os procedimentos e quais restrições devem ser obedecidas, segundo a NBR 6118:2003. C- Aplicação: com o roteiro de cálculo, foi realizado um exemplo numérico referente ao cálculo de armadura longitudinal de protensão de uma ponte real, visando maior compreensão, demonstrando uma situação real de pré-dimensionamento, tendo em vista que pode-se verificar a eficácia e a precisão da resolução. D- Análise e apresentação dos resultados: Baseado nos resultados obtidos, analisou-se o significado dos mesmos, apresentando-os em seguida. 10 3. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DA ARMADURA LONGITUDINAL DE PROTENSÃO Segundo Carvalho (2009) um roteiro para o pré-dimensionamento da armadura longitudinal de vigas protendidas com aderência posterior pode ser descrito pelas etapas citadas abaixo: Especificar o Esquema estrutural Escolher e indicar o Sistema, unidades de protensão e informações gerais. Indicar uma trajetória para o cabo representante Efetuar o cálculo das perdas imediatas do cabo representante Efetuar o cálculo das perdas ao longo do tempo do cabo representante Efetuar o cálculo do número de cabos necessários levando em conta o estado limite último, usando o pré-alongamento do cabo representante para a seção (ou seções) de máxima solicitação Verificação dos estados de fissuração na seção de maior solicitação e determinação do feixe limite para as demais seções. Esta sistemática foi desenvolvida para vigas usuais de pontes simplesmente apoiadas (ou contínuas), e a idéia aqui é testá-la para o cabo de uma viga de ponte em balanço progressivo, em que a inércia varia e a protensão é efetuada por etapas. Para verificar a validade do procedimento, resolve-se um exemplo numérico que é o caso abordado em CARVALHO (1987): um viaduto localizado na estaca 4023, da rodovia São Paulo- Curitiba ( BR 116) no trecho Miracatu – São Paulo,. A seguir, detalha-se cada etapa de calculo. 3.1 3.1.1 INFORMAÇÕES GERAIS E INDICAÇÃO DO SISTEMA DE UNIDADES DE PROTENSÃO. ESPECIFICAÇÃO DO ESQUEMA ESTRUTURAL Primeiramente, deve-se caracterizar a estrutura, qual sua geometria e seus componentes. O viaduto em questão é constituído de 3 tramos, sendo que os dois laterais 11 possuem altura constante, e vão de 28 metros concretados sobre escoramento direto, enquanto o tramo central é construído pelo processo de balanços sucessivos, dividido em dois balanços de 38 metros cada, com 6 m concretados sobre escoramento direto, e 8 aduelas de 4 m, com uma aduela de fechamento de 4m. O viaduto em planta é curvo, o que dificulta a execução e também limita o vão, que para balanços progressivos poderia ser maior. Pode-se perceber que neste caso adotou-se a solução de continuidade no ponto central, de forma que a carga acidental atua sobre uma estrutura contínua. O trecho em balanço possui inércia variável, devido à variação de altura da sua seção transversal. Trata-se de um trecho curvo em elevação, descrito por uma hipérbole com 2 pontos de passagem pré-estabelecidos, compreendidos na seção 10 e 20, com altura de 4m e 2m respectivamente. A seguir tem-se o desenho esquemático da estrutura: S10 28.00 Escoramento Direto 6.00 S20 32.00 Balanço Progressivo 4.00 S30 32.00 6.00 Balanço Progressivo 28.00 Escoramento Direto Fechamento Central Figura 3-1 - Esquema longitudinal da estrutura 3.1.2 CÁLCULO DOS ESFORÇOS E DAS CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS Antes de se definir os esforços solicitantes, deve-se calcular os dados geométricos das seções transversais. A partir das figuras 3-2, 3-3 e 3-4 e da tabela 3-1, retiradas de CARVALHO (1987), pode-se notar as dimensões da peça de acordo com sua variação de altura. 12 S0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 4.00 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 6.00 28.00 Figura 3-2 - Seção longitudinal (trecho em escoramento direto) trecho de fechamento S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18 S19 S20 aduela aduela aduela aduela aduela aduela aduela aduela 6.00 1 2 3 4 5 6 7 4.00 4.00 4.00 4.00 4.00 4.00 4.00 8 4.00 2.00 40.00 Figura 3-3 - Seção longitudinal (trecho em balanço progressivo) Pavimentação 0.20 0.07 0.35 1.50 0.15 0.35 h bw e 2.80 7.40 Figura 3-4 - Seção transversal 2.80 13 Tabela 3-1 - Dimensões das aduelas Seção S0 a S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18 S19 S20 h (cm) 400 359 331 303 278 255 235 218 207 201 200 e (cm) 60 53 49 44 40 35 31 26 22 17 15 bw (cm) 70 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 Conhecidas a geometria, é necessário calcular as demais características geométricas, como área, momento de inércia, centro de gravidade e módulo de resistência da seção. Para facilitar o cálculo, divide-se a seção em figuras com geometria simples (no caso trapézios), conforme notamos a seguir: 3 2 1 3 4 4 5 5 6 6 7 Figura 3-5 - Divisão da seção transversal em trapézios Tabela 3-2 - Características geométricas das seções Seção S0 a S10 S11 S12 S13 S14 S15 S16 S17 S18 S19 S20 2 A (m ) 12.49 9.80 9.27 8.76 8.26 7.77 7.32 6.89 6.50 6.15 6.00 Características Geométricas h (m) yinf (m) ysup (m) I (m4) 4.00 1.98 2.02 26.06 3.59 1.80 1.79 20.49 3.31 1.71 1.61 16.46 3.03 1.60 1.43 13.04 2.78 1.51 1.27 10.25 2.55 1.42 1.13 8.02 2.35 1.35 0.99 6.29 2.18 1.30 0.88 5.01 2.07 1.28 0.79 4.09 2.01 1.29 0.72 3.47 2.00 1.31 0.69 3.24 Winf (m3) 14.65 11.37 9.68 8.14 6.80 5.64 4.65 3.85 3.20 2.69 2.47 Wsup (m3) 14.41 11.47 10.25 9.11 8.07 7.13 6.37 5.67 5.18 4.84 4.70 14 Feito isto, é necessário calcular os esforços solicitantes da estrutura, tanto aquele referentes às ações permanentes, quanto às cargas acidentais. É importante ressaltar que estruturas construídas em balanço sucessivo são consideradas isostáticas na sua fase construtiva, situação em que são calculados os esforços provenientes da ação do peso próprio. Neste tipo de estrutura as cargas permanentes devido ao asfalto e a proteção lateral (sobrecarga) são consideradas com a estrutura hiperestática assim como a carga acidental, uma vez que atuarão apenas após o estabelecimento de continuidade da estrutura. A seguir são apresentados os cálculos de tensão devido ao peso próprio em apenas duas seções, S10 e S15 (a notação neste caso é a que considera tensão de compressão com o sinal positivo). No caso foram escolhidas tais seções, pelo seu aspecto demonstrativo, uma vez que uma localiza-se no inicio e a outra na parte intermediária do balanço. Além disso, não é escopo deste trabalho a execução detalhada de todos os cálculos dos esforços. Tabela 3-3. Momento Fletor e tensões devido ao peso próprio em S10 Momento Fletor e tensões devido ao peso próprio (g1) em S10 Após 2 2 lançamento da Mg1 (tf.m) σc, inf (tf/m ) σc, sup (tf/m ) aduela 1 -1242 84 -86 2 -2322 158 -161 3 -3681 251 -255 4 -5282 360 -366 5 -7091 483 -492 6 -9091 619 -629 7 -11219 765 -778 8 -13495 789 -802 Tabela 3-4- Momento fletor e tensões devido ao peso próprio em S15 Momento Fletor e tensões devido ao peso próprio (g1) em S15 Após 2 2 lançamento da Mg1 (tf.m) σc, inf (tf/m ) σc, sup (tf/m ) aduela 5 -149 26 -21 6 -574 101 -80 7 -1242 220 -174 8 -2126 377 -298 15 Neste caso, deve-se frisar que efetua-se o cálculo de esforços de acordo com o lançamento de cada aduela, uma vez que há o acréscimo de cargas, e consequentemente ocorrem mudanças nos momentos da estrutura e nas tensões. Com relação aos esforços provenientes das cargas acidentais e das sobrecargas, resolve-se a estrutura continua. Neste caso, o problema encontra-se na variação de inércia das seções transversais ao longo do tramo. Para isso, para cada aduela considera-se uma inércia média. A resolução consiste no cálculo de linhas de influencia para cada aduela, considerandose a aplicação de uma carga unitária como mostram as figuras a seguir 3.6 e 3.7. Desta maneira, ao calcular-se os trens tipo, pode-se combiná-los com as linhas de influência, obtendo-se os valores de momentos máximos e mínimos devido a carga acidental e a sobrecarga. O trem-tipo adotado para tal cálculo é de classe 36 (na época em que se executou a obra este era o trem tipo máxima quer foi mantido neste trabalho a fim de fazer as verificações), ou seja, é um veiculo com 3 eixos e peso total de 36 tf. Já a sobrecarga atuante devido ao asfalto é 4,44tf/m. Tabela 3-5 Momento fletor e tensões devido a sobrecarga em ambas seções Momento Fletor e tensões devido ao peso próprio (g2) e carga acidental Seções 10 15 Mg2 (tf.m) -2790 40 K1.Mq.min K1.Mq.máx (tf.m) (tf.m) -3331 -317 68 419 Maiores detalhes de cálculo da estrutura podem ser encontrados em CARVALHO (1987). 16 Figura 3-6 - Linha de influência (L.I) de momento fletor em S10 17 Figura 3-7 - Linha de influência (L.I) de momento fletor em S15) 18 3.1.3 SISTEMA DE UNIDADE DE PROTENSÃO A seguir serão listadas as unidades de protensão utilizadas: Concreto: fck > 260kgf/cm2 Aço CP190 RN Cabos de 7 e 12 cordoalhas, com ∅ = ½ “ Dext para 12 ∅ ½ “ = 7cm, A = 11,84 cm2 Dext para 7 ∅½ “ = 5,5cm, A= 6,91cm2 Tensão limite nominal a tração (fptk) = 19000 kgf/cm2 Tensão nominal para alongamento de 1% (fp0,1K) = 17100 kgf/cm2 Coeficientes de relaxação pura (para 1000h e 20°) Y50 = 0, Y60 = 1,5%, Y70 = 2,5%, Y80 = 3,5%. Módulo de deformabilidade (Ep) = 1,9 x 106 kgf/cm2 Coeficiente de atrito (m)=0,25 Desvio angular (b)= 0,01 rd/m Sistema de protensão Rudloff – perda durante a cravação (∆𝑙) = 6mm OBS: Alguns dos valores acima não são mais empregados em dimensionamentos de estruturas atuais. Utilizou-se os mesmos dados de CARVALHO (1987), para efeito de comparação. 3.2 INDICAÇÃO DA TRAJETÓRIA DO CABO REPRESENTANTE Para o pré-dimensionamento da estrutura, deve-se primeiramente traçar o cabo representante, visando o cálculo posterior das perdas (como dito anteriormente). Para isto, deve-se conhecer o traçado do diagrama de momentos, uma vez que a armadura de protensão tem como função resistir aos mesmos. Desta forma, de forma simplificada, a trajetória dos cabos segue o traçado do diagrama. No caso de pontes em balanço progressivo, deve-se considerar o aspecto construtivo da estrutura. Para tanto, é importante considerar aduela por aduela, conforme descrito a seguir: Inicialmente faz-se o primeiro tramo com a primeira aduela Repete-se o procedimento com as demais aduelas 19 De forma genérica, e baseado nos valores expostos de esforços nas seções S10 e S15, pode-se estimar o seguinte diagrama de momentos esquemático para tal estrutura: última aduela penúltima aduela aduela "i" primeira aduela S10 Figura 3-8 - Esquema de diagrama de momentos Fazendo-se isto, percebe-se que para executar-se a verificação completa de qualquer seção, existem n verificações no tempo zero e tempo t, ou seja, a cada lançamento de uma nova aduela, é necessário realizar os cálculos de esforços e perdas, uma vez que há alteração na configuração da estrutura. Por exemplo: Ao efetuar-se o dimensionamento da aduela 1, deve-se realizar a verificação da mesma no instante que ela é lançada, e no instante em que as aduelas seguintes são lançadas, no caso as 7 aduelas restantes. É interessante notar a variação do diagrama de momentos, uma vez que os esforços negativos são maiores com o avanço das aduelas, enquanto os momentos positivos são maiores nas aduelas mais próximas do apoio. Como trata-se apenas de um pré-dimensionamento, será utilizada esta envoltória de momentos para efeito do traçado dos cabos. Além disso, para efeito de pré-dimensionamento, não há necessidade de um cálculo tão detalhado. Visto isso, o cabo representante será aquele que caracteriza a estrutura após o lançamento da aduela 4 (seção S15). Foi escolhida esta situação de cálculo, pois trata-se de uma seção intermediária da estrutura, capaz de fornecer um valor médio dos esforços no cabo durante o processo construtivo como um todo. Além disso, o pré-dimensionamento será realizado com base na 20 seção de apoio, uma vez que trata-se da seção mais solicitada da estrutura. Assim, será verificada a seção em questão para o tempo infinito e, portanto, com todos os esforços (carga permanente, sobrecarga permanente e carga acidental), considerando a estrutura já trabalhando de forma contínua. O momento hiperestático de protensão é, neste caso, estimado. Segundo CARVALHO (2009), no cálculo de balanços progressivos deve-se utilizar sempre curvaturas com raios próximos aos raios mínimos, quando o cabo termina na aduela com traçado curvo. Neste caso, adota-se cabo de 12 ϕ ½ “, cujo raio mínimo é 12m. Respeitando esta regra, considera-se que as curvas dos cabos são descritas por uma função de segundo grau, mais precisamente por um arco de circunferência, uma vez que facilita a determinação de ângulos e coordenadas, conforme pode-se conferir no capitulo 8 de CARVALHO (2009). 3.2.1 SITUAÇÃO DE CÁLCULO – ADUELA 4 (SEÇÃO S15) S0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 aduela aduela aduela aduela 4.00 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 2.80 6.00 1 2 3 4 4.00 4.00 4.00 4.00 28.00 Cabo corrigido Traçado do cabo Figura 3-9 - Representação da trajetória do cabo após lançamento da aduela 4 Partindo-se da extremidade da aduela visando garantir o raio mínimo do cabo, inicia-se os cálculos: 21 Trecho curvo (entre S15 e S14) 𝐻2 = 255 − 10,5 = 117𝑐𝑚 2 R2 = R2 = x22 + h22 2h2 6,52 + 1,17 2 2x1,17 → R2 = 18,64cm 6,5 tgθ2 = 18,64−1,17 → θ2=20,41° Tem-se que o final do cabo encontra-se no CG da peça, pois se o mesmo se encontrasse em qualquer posição diferente, ocorreria a geração de esforços que poderiam comprometer o equilíbrio da estrutura. De acordo com CARVALHO (2009), deve-se deixar no mínimo 1 metro de distância horizontal em relação à extremidade, de forma que este trecho tenha cabo reto, visando a ancoragem. Assim tem-se: θ 20,41 CD′ = R2. tan − D′ D = 18,64 . tan − 1 = 2,35 2 2 h2′ = CD′ . senθ = 2,35 . sen 20,41 = 0,821 x2′ = CD′ . 1 + cosθ = 2,35 1 + cos 20,41 = 4,55 Assim: R2′ = 4,55 + 0,8212 = 13,03m > 12𝑚 valor próximo 2 . 0,84 4,55 tgθ2′ = 13,03−0,821 → θ2´=20,43° Obs: a nova trajetória está representada em azul. É importante notar o valor do ângulo de saída do cabo. O mesmo não pode ser muito alto, pois dificulta a colocação do mesmo na peça. No caso, 20,41° é um ângulo bom. 22 S11 a S12 S13 B B' S14 C X2' X2 S15 D' H2 CG D 2' Cabo corrigido Traçado do cabo 02' 2 Figura 3-10 - Demonstração gráfica dos cálculos efetuados para o trecho de cabo curvo Trecho deflexão (entre S5 e S10) h1 = h2 − 2a h1 = 255 − 21 = 231cm k= h = 115,5cm 2 x1 = 2 . 2,8 + R1 = 2,8 = 7 cm 2 72 + 1,1552 = 21,78cm > 12𝑚 2 .1,155 tgθ1 = 7 → θ1 = 18,74° 21,78 − 1,155 23 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 a 1 Figura 3-11 - Demonstração gráfica dos cálculos efetuados para o trecho de cabo em deflexão 3.3 CÁLCULO DAS PERDAS IMEDIATAS DO CABO REPRESENTANTE As perdas imediatas ocorrem devido à forma como se procede a protensão e das propriedades elásticas do concreto e do aço. Considera-se perdas imediatas aquelas ocasionadas devido ao atrito entre o cabo e a bainha ou concreto; devido à deformação da ancoragem e por deformação imediata do concreto. Esta ultima é desprezada no pré-dimensionamento, em função da falta de conhecimento do número de cabos. A seguir, o cálculo será devidamente detalhado. 3.3.1 CÁLCULO DAS PERDAS POR ATRITO CABO-BAINHA DO CABO REPRESENTANTE É interessante comentar que há as perdas por atrito devido à protensão do macaco hidráulico, e consequentemente perda na ancoragem dos cabos, porém são compensadas por pressão manométrica aplicada no macaco, conforme pode-se conferir no capitulo 3 de PFEIL (1980). 24 Utilizando os valores dados anteriormente e a trajetória do cabo representante, efetuase os cálculos. Deve-se frisar que serão efetuados os cálculos tendo em vista tanto a ancoragem realizada à extremidade direita do cabo, quanto à extremidade esquerda, uma vez que trata-se de duas ancoragens vivas, influenciando assim no comportamento das tensões ao longo de sua trajetória. Tabela 3-6-Tensões ao longo do cabo representante após perdas por atrito (lado esquerdo) Seção S0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 x(m) 0 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 6 4 4 4 4 D x(m) a(°) Da(°) Da(rad) e -m(Da+bx) (Mpa) Fs' . e -m(Da+bx)(Mpa) 0 2.8 5.6 8.4 11.2 14 16.8 19.6 22.4 25.2 28 34 38 42 46 50 0 0 0 0 0 0 19 19 19 19 19 0 0 0 21 21 0 0 0 0 0 0 19 38 57 76 95 95 95 95 116 137 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.33 0.66 0.99 1.33 1.66 1.66 1.66 1.66 2.02 2.39 1.0000 0.9930 0.9861 0.9792 0.9724 0.9656 0.8826 0.8067 0.7373 0.6739 0.6160 0.6068 0.6008 0.5948 0.5373 0.4854 1400.00 1390.23 1380.54 1370.91 1361.34 1351.85 1235.62 1129.38 1032.27 943.52 862.39 849.55 841.10 832.73 752.26 679.56 25 Tabela 3-7 Tensão ao longo do cabo representante após perdas por atrito (lado direito) Seção S15 S14 S13 S12 S11 S10 S9 S8 S7 S6 S5 S4 S3 S2 S1 S0 x(m) 0 4 4 4 4 6 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 2.8 D x(m) 0 4 8 12 16 22 24.8 27.6 30.4 33.2 36 38.8 41.6 44.4 47.2 50 a(°) 0 21 21 0 0 0 19 19 19 19 19 0 0 0 0 0 Da(°) 0 21 42 42 42 42 61 80 99 118 137 137 137 137 137 137 Da(rad) 0.00 0.37 0.73 0.73 0.73 0.73 1.06 1.40 1.73 2.06 2.39 2.39 2.39 2.39 2.39 2.39 e -m(Da+bx) (Mpa) 1.0000 0.9034 0.8161 0.8079 0.7999 0.7880 0.7202 0.6583 0.6017 0.5500 0.5027 0.4992 0.4957 0.4922 0.4888 0.4854 Fs' . e -m(Da+bx)(Mpa) 1400.00 1264.71 1142.49 1131.12 1119.87 1103.20 1008.34 921.65 842.40 769.97 703.77 698.86 693.99 689.15 684.34 679.56 Repara-se que a tensão inicial aplicada é 1400MPa, isto porque de acordo com a norma, esta tensão deve ser igual a 0,74fptk e 0,82fpyk. Como fpyk ≈ 0,9 fptk, utiliza-se o menor valor destes. Assim: 𝜎𝑝𝑖 = 0,74 𝑥 1900 = 1406 𝑀𝑃𝑎 𝑎𝑑𝑜𝑡𝑎𝑑𝑜 1400 𝑀𝑝𝑎 Desta forma, ao realizar-se a intersecção das duas situações, tem-se: Tabela 3-8 - Tensão ao longo do cabo representante após perdas por atrito (resumo) Seção S0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 D x(m) 0 2.8 5.6 8.4 11.2 14 16.8 19.6 22.4 25.2 28 34 38 42 46 50 Fs' . e -m(Da+bx)(Mpa) 1400.00 1390.23 1380.54 1370.91 1361.34 1351.85 1235.62 1129.38 1032.27 943.52 862.39 849.55 841.10 832.73 752.26 679.56 Fs' . e -m(Da+bx)(Mpa) 679.56 684.34 689.15 693.99 698.86 703.77 769.97 842.40 921.65 1008.34 1103.20 1119.87 1131.12 1142.49 1264.71 1400.00 26 Tensão ao longo do cabo (Mpa) 1600.00 1400.00 1200.00 1000.00 800.00 600.00 400.00 200.00 0.00 0 10 20 30 40 Perdas por atrito (ancoragem a esquerda) 50 60 Posição x (m) Perdas por atrito (ancoragem a direita) Perdas por atrito (intersecção) Figura 3-12 - Tensões ao longo do cabo representante 3.3.2 CÁLCULO DAS PERDAS POR DEFORMAÇÃO DA ANCORAGEM DO CABO REPRESENTANTE Ao realizar-se a ancoragem de um cabo, há sempre um pequeno retrocesso no cabo que estava esticado, devido ao sistema de ancoragem por cunhas, o que provoca uma queda de tensão no mesmo, conforme pode-se consultar em CARVALHO (2009). Desta forma, é necessário verificar as perdas no cabo devido à este fenômeno. O processo de cálculo neste caso se faz por tentativa, através do gráfico de tensões descrito acima. Baseado na teoria de resistência dos materiais, supõe-se que o cabo possui um comportamento elástico, de forma que a queda de tensão é descrita por: 𝜔 = 𝐸𝑝. ∆𝑙 Onde: 𝜔 = 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑑𝑒𝑣𝑖𝑑𝑜 𝑎 𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑔𝑒𝑚 𝐸𝑝 = 𝑚ó𝑑𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑎𝑠𝑡𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 ∆𝑙 = 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑢𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑎 𝑐𝑟𝑎𝑣𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 Desta forma tem-se: (3-1) 27 𝜔 = 𝐸𝑝. ∆𝑙 𝜔 = 1,9 𝑥 105 𝑥 0,6 = 114000 Cabe agora traçar no gráfico uma curva simétrica à encontrada, de forma que a área entre as duas tenha o valor igual ao ∆𝜎. Desta forma, será possível encontrar o valor os (MPa) respectivos valores das tensões ao longo das seções da peça. 1400,00 1390,23 1380,54 1370,91 1361,34 1400,00 1351,85 1335,32 1235,62 1270,63 1280,40 1290,09 1299,72 1309,29 1318,78 1129,38 1100,00 1400,00 1119,87 1032,27 1008,34 1103,20 1131,12 1142,49 1264,71 1205,17 1144,20 1005,46 800,00 5 0 10 15 1a tentativa (seção S5 e S14) 2a tentativa (seção S6 e S13) Alternativa correta 20 25 30 35 40 45 50 Posição x (m) Figura 3-13 - Gráfico das tensões ao longo do cabo após perdas iniciais (tentativas) Pode-se notar pelo gráfico acima que foi necessário interpolar valores, uma vez que as áreas encontradas deram maiores ou menores que o valor encontrado acima. A seguir detalhase o processo de cálculo: Ancoragem à esquerda Traçando-se as curvas simétricas em relação ao pontos conhecidos S5 e S6, obtém-se os valores de área 67.026 e 425.018 respectivamente, sendo que ω encontra-se neste intervalo. Desta forma, é necessário fazer uma interpolação de valores. Com isso, estima-se a área do gráfico através o uso de figuras geométrica conhecidas, no caso trapézios: 28 𝜔𝑠5 + ∆𝜎. 1400 + ∆𝜎 . 𝑙 = 114000 2 0 67026 + ∆𝜎. 1400 + ∆𝜎. 1400 + ∆𝜎 . 𝑙 = 114000 2 0 ∆𝜎 . 𝑙 = 46974 2 0 Considerando o trecho entre S5 e S6 retilineo, tem-se: 𝜎𝑠6 − 𝜎𝑠5 ∆𝜎 = 280 2𝑙0 1351,85 − 1235,62 ∆𝜎 = 280 2𝑙0 𝑙0 = 1,204 ∆𝜎 Substituindo na equação anterior, tem-se: ∆𝜎. 1400 + ∆𝜎 . 1,204. ∆𝜎 = 46974 2 ∆𝜎 = 33,082 𝑀𝑃𝑎 𝑙0 = 1,204 .33,082 = 39,83𝑐𝑚 Colocando os valores no gráfico, chega-se a área igual a 113.982, valor bem próximo a 114000, podendo ser adotado. Ancoragem à direita Traçando-se as curvas simétricas em relação aos pontos conhecidos S14 e S13, obtém-se os valores de área 54.754 e 206.008 respectivamente, sendo que ω encontra-se neste intervalo. Desta forma, é necessário fazer uma interpolação de valores. Com isso, estima-se a área do gráfico através o uso de figuras geométrica conhecidas, no caso trapézios: 29 𝜔𝑠14 + ∆𝜎. 400 + ∆𝜎 . 𝑙 = 114000 2 0 54754 + ∆𝜎. 400 + ∆𝜎. 1400 + ∆𝜎 . 𝑙 = 114000 2 0 ∆𝜎 . 𝑙 = 59246 2 0 Considerando o trecho entre S14 e S13 retilineo, tem-se: 𝜎𝑠14 − 𝜎𝑠13 ∆𝜎 = 280 2𝑙0 1264,71 − 1142,49 ∆𝜎 = 280 2𝑙0 𝑙0 = 1,636 ∆𝜎 Substituindo na equação anterior, tem-se: ∆𝜎. 400 + ∆𝜎 . 1,636. ∆𝜎 = 59246 2 ∆𝜎 = 119,10 𝑀𝑃𝑎 𝑙0 = 1,636 . 119,10 = 194,85𝑐𝑚 Colocando os valores no gráfico, chega-se a área igual a 114.796, valor bem próximo a 114000, podendo ser adotado. É importante ressaltar que há tolerâncias nos valores encontrados, uma vez que se trata de um processo aproximado de cálculo por tentativa, portanto as discrepâncias são fruto da imprecisão das aproximações realizadas. Como resultado final, tem-se os seguinte gráfico e os seguintes valores de tensão: 30 Tensão ao longo do cabo (Mpa) 1500.00 Perdas por atrito (intersecção) Tensões no cabo após perdas iniciais 1400.00 1335.32 1280.4 1299.72 1318.78 1300.00 1309.29 1290.09 1270.63 1235.62 1200.00 1205.17 1119.87 1129.38 1100.00 1142.49 1144.2 1131.12 1103.2 1032.27 1008.34 1000.00 1005.46 900.00 Posição x (m) 800.00 -5 5 15 25 35 45 55 Figura 3-14- Gráfico com as tensões finais no cabo após as perdas iniciais Baseado no gráfico acima, tem-se a tabela com os respectivos resultados de tensão: Tabela 3-9 – Tensões finais após perdas iniciais Seção S0 S1 S2 S3 S4 S5 S5A S6 S7 S8 S9 S10 S11 S12 S13 S13A S14 S15 D x(m) 0 2.8 5.6 8.4 11.2 14 14.398 16.8 19.6 22.4 25.2 28 34 38 42 44.052 46 50 Fs' . e -m(Da+bx)(Mpa) 1270.63 1280.4 1290.09 1299.72 1309.29 1318.78 1335.32 1235.62 1129.38 1032.27 1008.34 1103.2 1119.87 1131.12 1142.49 1205.17 1144.2 1005.46 Os resultados grifados em amarelo representam os valores de intersecção das curvas azul e verde descritas no gráfico. 31 3.4 CÁLCULO DAS PERDAS AO LONGO DO TEMPO DO CABO REPRESENTANTE As perdas ao longo do tempo têm como principal causador os fenômenos reológicos que estão sujeitos o aço e o concreto. Por esses fenômenos, pode-se compreender a fluência e a retração do concreto e a relaxação do aço, e seus efeitos são descritos pelo quadro a seguir, retirado de CARVALHO (2009): Tabela 3-10 - Considerações sobre efeitos reológico do concreto e do aço Fenômeno Atuação -origem Causa Retração Concreto Fluência Concreto Relaxação Aço Variação de volume Tensão permanente deformação permanente efeito no concreto encurtamento Efeito no aço perda de tensão encurtamento perda de tensão ------------ perda de tensão De acordo com CARVALHO (2009), na maioria dos casos em que as variações de tensões no concreto e na armadura é pequena, pode-se fazer uma série de simplificações. No caso, pode-se considerar as perdas de forma isolada, ou seja, cada uma é independente da outra. Assim vale a seguinte expressão: 𝑝,𝑐+𝑠+𝑟 (𝑡, 𝑡𝑜) = ∆𝜎𝑝,𝑐 (𝑡, 𝑡0) + ∆𝜎𝑝,𝑠 (t, t0) + ∆𝜎𝑝,𝑟 (t, t0) (3-2) Onde: 𝑝,𝑐+𝑠+𝑟 (𝑡, 𝑡𝑜)= perda total de protensão devido fluência, retração e relaxação ∆𝜎𝑝,𝑐 (𝑡, 𝑡0) = perda de protensão devido fluência (considerando-a isolada) ∆σp,s (t, t0)= perda de protensão devido retração ∆𝜎𝑝,𝑟 (t, t0) = perda de protensão devido a relaxação (considerando-a isolada) Antes de se iniciar o cálculo, é necessário determinar alguns parâmetros. No caso, esses parâmetros são valores finais do coeficiente de fluência (t,to) e da deformação específica de retração cs(t,to) do concreto. 32 Dessa maneira, usa-se Inforsatto (2009) com a tabela dada: Tabela 3-11 - Cálculo dos coeficientes de fluência e retração do concreto É interessante notar que as condições do ambiente e do material influenciam diretamente neste cálculo. Determinou-se os valores de umidade relativa (75%), temperatura média (20°C), abatimento do concreto (7cm) a partir de dados experimentais, além de ter sido estipulado o tipo de cimento utilizado, no caso CPII. Em relação aos dados geométricos, podem ser encontrados no item 3.1.2, com a ressalva que na determinação do perímetro da seção em contato com o ar não considera-se a região de asfalto, apenas a projeção horizontal inferior e as laterais da peça. Essa tabela foi construída de acordo com as equações e fórmulas presentes no Anexo III, da NBR 6118:2003. Assim, tem-se os seguintes valores: Coeficiente de fluência do concreto ∅ 𝑡∞, 𝑡0 = 2,323 Deformação específica de retração do concreto εs t∞, t0 = -1,79 . 10-4 3.4.1 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A RETRAÇÃO A perda por retração é dada por: 33 ∆σp,s = Ep . εs ∞, 5 (3-3) Onde: ∆σp,s = perdas do concreto devido a retração Ep = módulo de elasticidade do aço de protensão εs ∞, 5 = deformação especifica de retração do concreto Logo, tem-se o seguinte resultado: ∆σp,s = 1,9x105 x1,79x10−4 = 34,01 MPa 3.4.2 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A FLUENCIA DO CONCRETO A perda por fluência do concreto é dada por: ∆𝜎𝑝,𝑐 = 𝐸𝑝 .𝜎 . ∅ ∞, 5 𝐸𝑐 𝑐𝑔,𝑔 (3-4) Onde: ∆𝜎𝑝,𝑐 = Perda por fluência do concreto 𝐸𝑐 = Módulo de elasticidade do concreto 𝐸𝑝 = módulo de elasticidade do aço de protensão 𝜎𝑐𝑔,𝑔 = tensão que ocorre no concreto no nível do centro de gravidade da armadura de protensão e devido à ação das cargas permanentes inclusive a protensão ∅ ∞, 5 = Coeficiente de fluência do concreto No caso, valor de Ec é dado pela seguinte expressão: 𝐸𝑐 = 0,85𝑥5600𝑥 𝑓𝑐𝑘 𝐸𝑐 = 0,85𝑥5600𝑥 26 = 24.271 𝑀𝑃𝑎 Em relação ao valor de 𝜎𝑐𝑔,𝑔 , o mesmo é dado pela seguinte expressão: (3-5) 34 𝑁𝑝 𝑁𝑝 . 𝑒 2 + − 𝐴𝑐 𝐼 𝜎𝑐𝑔,𝑔 = 𝑖 𝑀𝑔𝑖 .𝑒 𝐼 (3-6) Onde: 𝑁𝑝 = força de protensão total, 𝐼 = inércia da seção transversal 𝑒= excentricidade dos cabos de protensão. M i gi = Mg1+ Mg2+.......+Mgn Mg1 – momento fletor devido a carga permanente estrutura Mg2 – momento fletor devido a sobrecarga permanente estrutural, ou outra carga de caráter permanente. 𝐴𝑐 = área da seção transversal Neste caso, pode-se adotar 𝜎𝑐𝑔,𝑔 = 5MPa, conforme pode-se confirmar em CARVALHO (2009). Assim, tem-se: ∆𝜎𝑝,𝑐 = 3.4.3 1,9x105 . 5 . 2,323 = 90,925 𝑀𝑃𝑎 24.271 CÁLCULO DAS PERDAS DEVIDO A RELAXAÇÃO DO AÇO Antes de efetuar o cálculo de relaxação do aço, é necessário inicialmente considerar o nível de tensão no mesmo, através da seguinte expressão: 𝑟= 𝜎𝑝 1103.2 = = 0,5806 𝑓𝑝𝑡𝑘 1900 Observa-se que 𝜎𝑝 utilizado foi o valor mínimo de protensão encontrado. Isso mostra que houve uma perda de 42% de tensão até então. Baseado neste valor, interpola-se o mesmo com os valores conhecidos, (vide item 3.1.3): 35 Tabela 3-12 - interpolação dos valores dos coeficientes Ѱ Tensão inicial 0,5 fptk 0,5806 fptk 0,6 fptk Perdas (%) 0 k 1,5 Efetuando a interpolação, chega-se a k=1,209 Assim, para o tempo infinito tem-se: Ѱ∞ = 2,5xѰ1000 = 2,5𝑥1,209 = 3,02% Finalmente, tem-se a equação da perda por relaxação: ∆𝜎𝑝,𝑟 = σp . Ѱ∞ (3-7) Onde: ∆𝜎𝑝,𝑟 = perda por relaxação do aço σp = valor de protensão na seção mais solicitada (no caso S10) Ѱ∞ = coeficiente de relaxação ∆𝜎𝑝,𝑟 = 1103,2 . 0,0302 = 33,35 MPa Resumindo, as perdas totais ao longo do tempo: 𝑝,𝑐+𝑠+𝑟 𝑡, 𝑡𝑜 = 34,01 + 90,925 + 33,35 = 158,29𝑀𝑃𝑎 Considerando esta perda constante para todo a extensão do cabo, tem-se a seguinte tabela: Tabela 3-13 - Tensão ao longo do cabo representante após perdas inciais e ao longo do tempo Seção σS (Mpa) t=t0 σS (Mpa) t=∞ S0 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 1270.63 1280.4 1290.09 1299.72 1309.29 1318.78 1235.62 1129.38 1112.34 1122.11 1131.8 1141.43 1151 1160.49 1077.33 971.09 36 Tabela 3-14 -Tensão ao longo do cabo representante após perdas inciais e ao longo do tempo (continuação) Seção σS (Mpa) t=t0 σS (Mpa) t=∞ S8 S9 S10 S11 S12 S13 S14 S15 1032.27 1008.34 1103.2 1119.87 1131.12 1142.49 1144.2 1005.46 873.98 850.05 944.91 961.58 972.83 984.2 985.91 847.17 De uma forma genérica, pode-se expressar as perdas nos cabos de protensão pelo seguinte gráfico, extraído de PFEIL (1980): Figura 3-15- Variação das perdas de protensão, ao longo do tempo, numa seção determinada de uma peça com armadura pós tracionada 3.5 CÁLCULO DO NÚMERO DE CABOS NO ELU O dimensionamento de estruturas de concreto protendido, no estádio limite ultimo, é basicamente o mesmo de estruturas em concreto armado, conforme descrito na NBR6118:2003. 37 Para o cálculo da armadura longitudinal, considera-se o tempo infinito e a tensão da armadura na seção mais solicitada, no caso S10 (seção de apoio). Nota-se que não é a seção que possui maior perda de tensão do aço. Desta forma, calcula-se primeiramente o pré-alongamento, através da lei de Hooke: 𝜀𝑝 = 𝜎𝑝,𝑆10,𝑡=∞ 944,91 = 190000 = 0,497% 𝐸𝑝 Prosseguindo com os cálculos, é necessário determinar KMD. Dessa maneira, utiliza-se os dados geométricos da seção S15 (seção em contato com o ar). Para efeito de cálculo, considera-se a seção caixão como sendo uma viga T. 𝐾𝑀𝐷 = 𝑀𝑑 𝑏 . 𝑑2 . 𝑓𝑐𝑑 (3-8) Onde: 𝑀𝑑 = momento máximo no estado limite ultimo 𝑏= dimensão da base da peça 𝑑= altura útil 𝑓𝑐𝑑 = resistência do concreto de dimensionamento No caso, considera-se b= 7,4m e d= 4,0 - 0,25 = 3,75m (valor de 0,25 é arbitrado, correspondente a soma dos cobrimentos e da armadura passiva). Assim: 𝑀𝑑 = 1,3𝑥 𝑀𝑔1 + 𝑀𝑔2 + 1,5 . 𝐾1 𝑀𝑞𝑚 á𝑥 + 1,0𝑀𝑓𝑒𝑐 𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑀𝑑 = 1,3𝑥 −134950 − 27900 + 1,5 𝑥 −33310 + 1,0𝑥 13495 = −248175 𝐾𝑁𝑚 𝐾𝑀𝐷 = 248175 = 0,1284 26000 7,4 . 3,752 . 1,4 38 0.25 CG 0.35 1.50 0.35 d 4.00 bw Md e b= 7.40 Figura 3-16– Esquematização do momento atuante OBS: É importante notar que o momento é estimado como sendo 10% do momento após lançamento da última aduela, pois como se trata de um pré-dimensionamento, não se faz necessário calculá-lo precisamente nesta etapa. Através da tabela a seguir , de CARVALHO (2009), retira-se os demais dados: Tabela 3-15 - Valores para cálculo de armadura longitudinal de seções retangulares 39 Devido a proximidade de valor, é possível adotar KMD = 0,1284, logo KX=0,2086 e KZ=0,9166 e 𝜀𝑠 = 1%. Portanto: 𝑥 = 0,2086𝑥3,75 ≅ 0,7822𝑚 > 0,6𝑚 𝑓 − 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑙𝑎𝑗𝑒 𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 Conclui-se que se trata de viga T, logo é necessário separar os momentos de acordo com a porção resistente da estrutura, ou seja, as abas e a alma. Momento resistente pelas abas (M1) d z1 0.70 0.60 b= 7.40 Figura 3-17- Região das abas da peça 𝑀1𝑑 = 7,4 − 2𝑥0,7 𝑥 0,6 𝑥 0,85 𝑥 26000 𝑥 𝑧1 1,4 𝑧1 = 𝑑 − 0,6 2 𝑀1𝑑 = 6 𝑥 0,6 𝑥 15785 𝑥 3,45 = 196058𝐾𝑁. 𝑚 Momento resistente pela alma (M2) 𝑀1𝑑 = 248175 − 196058 = 52123𝐾𝑁. 𝑚 𝐾𝑀𝐷 = 52125 = 0,142 26000 1,4 . 3,752 . 1,4 Assim, KX=0,2354, KZ=0,9058 e 𝜀𝑠 = 1% 𝑥 = 0,2354𝑥3,75 ≅ 0,88𝑚 40 Tem-se que tanto para a alma quanto para as abas, 𝜀𝑡 = 𝜀𝑝 + 𝜀𝑠 = 0,5 + 1 = 1,5% Usando a tabela a seguir, encontra-se o valor de 𝑓𝑝𝑑 = 150,7𝐾𝑁/𝑐𝑚2 Tabela 3-16 – Tensão no aço 𝝈𝒔𝒅 (MPa) com 𝑬𝒑 = 𝟏𝟗𝟓𝟎𝟎𝟎𝑴𝑷𝒂 e(‰) 5.250 6.794 7.438 8.167 9.000 9.962 10.000 12.500 15.000 17.500 CP175 1025 1264 1316 1344 1365 1368 1368 1378 1388 1397 CP190 1025 1314 1411 1459 1482 1486 1486 1496 1507 1517 Tabela 3-17 - Tensão no aço 𝝈𝒔𝒅 (MPa) com 𝑬𝒑 = 𝟏𝟗𝟓𝟎𝟎𝟎𝑴𝑷𝒂 (continuação) e(‰) 20.00 22.50 25.00 27.50 30.00 32.50 35.00 37.50 40.00 CP175 1407 1416 1426 1436 1445 1455 1464 1474 1484 CP190 1527 1538 1548 1559 1569 1579 1590 1600 1611 Consequentemente: 𝐴𝑝 = 𝑀𝑑 196058 52125 = + = 478,9 𝑐𝑚2 0,60 𝑘𝑧 . 𝑑 . 𝑓𝑝𝑑 0,9058 𝑥 3,75 𝑥 150,7 (3,75 − 2 ) 𝑥 150,7 OBS: lembra-se que 𝑘𝑧 𝑥 𝑑 = 𝑧 Assim, encontra-se o número de cabos. Supondo: 𝑘1 = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑏𝑜𝑠 𝑑𝑒 12∅ 1 2 " 𝑘2 = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑏𝑜𝑠 𝑑𝑒 7∅ 1 2 " 𝑘1 𝑥 11,84 + 𝑘2 𝑥 6,90 = 478,9 Supondo 𝑘1 = 𝑘2 = 𝑘: 𝑘1 11,84 + 6,90 = 478,9 𝑘 = 25 𝑐𝑎𝑏𝑜𝑠 41 Tentando 𝑘1 = 24: 24 𝑥 11,84 + 𝑘2 𝑥 6,90 = 478,9 𝑘2 = 28,22 𝑐𝑎𝑏𝑜𝑠 𝑎𝑟𝑟𝑒𝑑𝑜𝑛𝑑𝑎 − 𝑠𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 28 Assim, tem-se 24 cabos de 12∅ 1 2 " e 28 cabos de 7∅ 1 2 ". Calculados o número de cabos é necessário verificar a nova situação, conforme a disposição dos cabos demonstrada a seguir, visando a conferência dos cálculos: cabos de 7 1 2" cabos de 12 0.35 1 2" 1.50 0.15 0.35 Figura 3-18 - Disposição dos cabos de protensão Nota-se que pela simetria da figura, calcula-se apenas metade da seção transversal. Dessa forma, encontra-se o centro de gravidade da peça: 𝑦𝑐𝑔 = 4 𝑥 10,5 + 2 𝑥 24,5 + 2 𝑥 38,5 + 2 𝑥 52,5 + 2 𝑥 66,5 = 28,43𝑐𝑚 12 𝑥 1 + 14 𝑥 0,583 OBS: 0,583 é a proporção da área do cabo de 7∅ 1 2 " em relação ao cabo de 12∅ 1 2 ". . Dessa forma, tem-se: 𝑑 = 4,00 − 0,2843 ≅ 3,72𝑚 (valor bem próximo do d adotado anteriormente). 42 Momento resistente pelas abas (M1) 𝑀1𝑑 = 6 𝑥 0,6 𝑥 15785 𝑥 (3,72 − 0,3) = 195453𝐾𝑁. 𝑚 Momento resistente pela alma (M2) 𝑀1𝑑 = 248175 − 195453 = 52722𝐾𝑁. 𝑚 𝐾𝑀𝐷 = 52722 = 0,1465 26000 1,4 . 3,722 . 1,4 Assim, KX=0,2354, KZ=0,9058 e 𝜀𝑠 = 1% Tem-se que tanto para a alma quanto para as abas, 𝜀𝑡 = 𝜀𝑝 + 𝜀𝑠 = 0,5 + 1 = 1,5% Portanto, valor de 𝑓𝑝𝑑 = 150,7𝐾𝑁/𝑐𝑚2 (igual ao valor encontrado anteriormente) 𝐴𝑝 = 𝑀𝑑 195453 52722 = + = 483 𝑐𝑚2 0,60 𝑘𝑧 . 𝑑 . 𝑓𝑝𝑑 0,9058 𝑥 3,72 𝑥 150,7 (3,72 − 2 ) 𝑥 150,7 Logo, utilizando o mesmo número de cabos encontrado, tem-se: 24 𝑥 11,84 + 28 𝑥 6,90 = 477,36 𝑐𝑚2 ∆𝐴𝑝 = 483 − 477,4 = 5,6 𝑐𝑚2 Esta diferença na armadura é compensada por armadura passiva, caso aço de 50MPa: 𝐴𝑠 = 3.6 𝐴𝑝 𝑥 𝑓𝑝𝑑 5,6 𝑥 150,7 = = 19,41 𝑐𝑚2 → 16∅ 1 2 " 50 𝑓𝑦𝑑 1,15 VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS DE FISSURAÇÃO NA SEÇÃO DE MAIOR SOLICITAÇÃO E DETERMINAÇÃO DO FEIXE LIMITE PARA AS DEMAIS SEÇÕES. Para se realizar as verificações de fissuração é necessário determinar a classe de agressividade ambiental a qual a peça está sujeita. A partir da tabela demonstrada à seguir, tem-se que a classe de agressividade é nível IV. Dessa forma, é necessário realizar a verificação, no tempo infinito, considerando a combinação quase permanente e freqüente respectivamente. 43 Tabela 3-18 - Classificação da agressividade ambiental Tabela 3-19 - Exigencias de durabilidade relacionadas a fissuração e a proteção da armadura em função das classes de agressividade ambiental 44 Além disso, segundo a NBR 8681:2003, deve-se considerar os coeficientes Ѱ1 e Ѱ2 iguais a 0,3 e 0,5 respectivamente. Com isso, tem-se os seguintes parâmetros: 𝜎𝑡=∞ = 945 𝑀𝑃𝑎 𝐴𝑝 = 477,36 𝑐𝑚2 𝑁𝑝𝑡 =∞ = 477,36 𝑥 94,5 = 45110 𝐾𝑁 𝐴 = 12,49 𝑐𝑚2 𝑊𝑖 = 14,65 𝑐𝑚3 𝑊𝑠 = 14,41 𝑐𝑚2 𝑀𝑔1 = −134950 𝐾𝑁. 𝑚 𝑀𝑔2 = −27900 𝐾𝑁. 𝑚 𝑀𝑞𝑚𝑖𝑛 = −33310 𝐾𝑁. 𝑚 𝑀𝑞𝑚 á𝑥 = 680 𝐾𝑁. 𝑚 𝑀𝑓 = −13495 𝐾𝑁. 𝑚 𝑒 = 1,74 𝑐𝑚 Os cálculos demonstrados a seguir são todos baseados nas equações (2-2) e (2-3), contendo algumas variações de sinal conforme os esforços atuantes na peça. 3.6.1 ESTADO LIMITE DE DESCOMPRESSÃO (E.L.S-D) – COMBINAÇÃO DE AÇÕES QUASE FREQUENTES Neste caso, os limites são: Tração: σ= 0 Compressão: estado limite de compressão excessiva (ELS-CE) - σ= 0,7fck Logo, com fck = 26MPa, tem-se a seguinte condição: 0 ≤ 𝜎 ≤ 18200 45 Borda Superior Situação de momento mínimo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf + Ѱ2 xMqmin + − A Ws Ws (3-9) 45110 45110 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,3x33310 + − 12,49 14,41 14,41 σs = −1999,45 𝐾𝑁/𝑚2 < 0 não atende Como se pode notar, não atende as condições limites. Isto pode ser explicado por ter-se adotado apenas um cabo representante para a estrutura como um todo. Além disso, supôs-se que a trajetória de todos os cabos é curva, o que implica em uma perda muito elevada. Dessa forma, aumenta-se o número de cabos, e adota-se uma trajetória retilínea para os cabos de 7∅ 1 2 ", causando uma mudança na perda imediata dos mesmos. Tomando como parâmetro os gráficos 3-13 e 3-14, tem-se que a perda inicial do trecho retilíneo do cabo representante é uniformemente variada, de forma que adota-se um pensamento análogo: Tabela 3-20 - Cálculo das perdas iniciais dos cabos retilíneos Seção S0 S1 S10 x(m) 0 2.8 28 σ (Mpa) 1400.00 1390.23 1302.30 D σ (Mpa) 0 9,77 97,7 Com isso, tem-se: 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑐𝑢𝑟𝑣𝑜 (12∅ 1 2 ") → 945 𝑀𝑃𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑙𝑖𝑛𝑒𝑜 (7∅ 1 2 ") → 1302,23 − 34 − 91 − 33 = 1144,23 𝑀𝑃𝑎 46 Encontradas as novas tensões nos cabos, é necessário encontrar as forças de protensão: 𝑁𝑝 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑐𝑢𝑟𝑣𝑜 (12∅ 1 2 ") → 24 𝑥 11,84 𝑥 94,5 = 26853,12 𝐾𝑁 𝑁𝑝 𝑛𝑜 𝑐𝑎𝑏𝑜 𝑟𝑒𝑡𝑖𝑙𝑖𝑛𝑒𝑜 (7∅ 1 2 ") → 28 𝑥 6,9 𝑥 114,423 = 22105,94 𝐾𝑁 𝑁𝑝 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 = 26853,12 + 22105,94 = 48959,06 𝐾𝑁 Isolando-se os termos dependentes de 𝑁𝑝 da equação de fissuração, tem-se: 𝑘 𝑥 48959 𝑥 1 1,74 + = 11057 12,49 14,41 𝑘 = 1,12 Isto significa que é necessário aumentar a armadura em 12%, ou seja, passaria de 52 cabos para 59 ao todo, divididos em 27 cabos de 12∅ 1 2 " e 32 cabos de 7∅ 1 2 ". Assim, o novo valor de Np é igual a: 𝑁𝑝 = 27 𝑥 11,84 𝑥 94,5 + 32 𝑥 6,9 𝑥 114,423 = 55474,36 𝐾𝑁 σs = 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,3x33310 + − = 81,77 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,41 14,41 Situação de momento máximo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf − Ѱ2 xMqmax + − A Ws Ws (3-10) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 − 0,3x680 + − = 789,4 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,41 14,41 47 Borda Inferior Situação de momento mínimo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf − Ѱ2 xMqmin − + A Wi Wi (3-11) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,3x33310 − + = 8729,75 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,65 14,65 Situação de momento máximo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf − Ѱ2 xMqmax − + A Wi Wi (3-12) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 − 0,3x680 − + = 7923,97 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,65 14,65 Analisando-se a maior e a menor tensão encontrada, tem-se: σmax = 8729,75 𝐾𝑁/𝑚2 < 18200 𝐾𝑁/𝑚2 σmin = 81,77 𝐾𝑁/𝑚2 > 0 3.6.2 ESTADO LIMITE DE FORMAÇÃO DE FISSURAS (E.L.S-F) – COMBINAÇÃO DE AÇÕES FREQUENTE. Neste caso, os limites são: Tração: 𝜎 = 𝑓𝑐𝑡𝑚 = −0,3 𝑥 3 𝑓𝑐𝑘 2 Compressão: estado limite de compressão excessiva (ELS-CE) - σ= 0,7fck Logo, com fck = 26MPa, tem-se a seguinte condição: −2634 ≤ 𝜎 ≤ 18200 48 Borda Superior Situação de momento mínimo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf + Ѱ1 xMqmin + − A Ws Ws (3-13) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,5x33310 + − = −380,55 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,41 14,41 Situação de momento máximo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf − Ѱ1 xMqmax + − A Ws Ws (3-14) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,5x680 + − = 641,91 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,41 14,41 Borda Inferior Situação de momento mínimo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf + Ѱ1 xMqmin − + A Wi Wi (3-15) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 + 0,5x33310 − + = 9184,5 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,65 14,65 49 Situação de momento máximo: σs = σs = Np Np x e Mg1 + Mg2 − Mf − Ѱ1 xMqmax − + A Wi Wi (3-16) 55474 55474 x 1,74 134950 + 27900 − 13495 − 0,5x680 − + = 8024,42 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,65 14,65 Analisando-se a maior e a menor tensão encontrada, tem-se: σmax = 9184,5 𝐾𝑁/𝑚2 < 18200 𝐾𝑁/𝑚2 σmin = −380,55 𝐾𝑁/𝑚2 > 2634 𝐾𝑁/𝑚2 3.6.3 VERIFICAÇÃO DE RUPTURA NO TEMPO ZERO Além das verificações no tempo infinito, é necessária a verificação de ruptura no tempo zero. Dessa forma, as tensões iniciais e os limites são diferentes dos utilizados até então: Tensões iniciais: 𝜎𝑝𝑡 =0 → 𝑐𝑎𝑏𝑜 12∅ 1 2 " → 110,32 𝑥 27 𝑥 11,84 = 35267 𝐾𝑁 𝜎𝑝𝑡 =0 → 𝑐𝑎𝑏𝑜 7∅ 1 2 " → 130,2 𝑥 32 𝑥 6,9 = 28748 𝐾𝑁 𝜎𝑝𝑡 =0 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 35267 + 28748 = 64015 𝐾𝑁 Limites (adotando-se fcj = 20MPa) Tração: 𝜎 = 1,2 𝑥 𝑓𝑐𝑡𝑚 = 1,2 𝑥 0,3 𝑥 3 202 = 2,652𝑀𝑃𝑎 Compressão: 𝜎 = 0,7 𝑥 𝑓𝑐𝑗 = 0,7 𝑥 20 = 14 𝑀𝑃𝑎 50 Borda Superior σs = σs = Np Mp Mg1 + − A Ws Ws (3-17) 64015 64015 x 1,74 134950 + − = 3490 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,41 14,41 Borda Inferior σs = σs = Np Np x e Mg1 − + A Wi Wi (3-18) 64015 64015 x 1,74 134950 − + = 6733,75 𝐾𝑁/𝑚2 < 14000 𝐾𝑁/𝑚2 12,49 14,65 14,65 51 CONCLUSÃO 4. Baseado nos resultados obtidos, é possível comparar o número de cabos encontrados no trabalho, e o número real de cabos, a partir da tabela a seguir, extraída de CARVALHO (1987): Tabela 4-1 - Cabos de uma viga Cabo Seção Inicial Seção final Tipo de Ancoragem Tipo de cabo Comprimento do cabo (m) Comprimento total (m) 1,2,4 S0 S11 Ativa-ativa 12Φ1/2" 34 102 3,5,7 S0 S12 Ativa-ativa 12Φ1/2" 38 114 6,8,10 S0 S13 Ativa-ativa 12Φ1/2" 42 126 9,11,13 S0 S14 Ativa-ativa 12Φ1/2" 46 138 12,14 S0 S15 Ativa-ativa 12Φ1/2" 50 100 15,16 S0 S16 Ativa-ativa 12Φ1/2" 54 108 17,18 S0 S17 Ativa-ativa 12Φ1/2" 58 116 19,20 S9 S18 Ativa-ativa 12Φ1/2" 36.8 73.6 21,22 S0 S19 Ativa-ativa 12Φ1/2" 66 132 23,24,25,26 S8 S19 Passiva-ativa 7Φ1/2" 43.6 174.4 27,28,29,30 S7 S18 Passiva-ativa 7Φ1/2" 42.4 169.6 31,32,33,34 S6 S17 Passiva-ativa 7Φ1/2" 41.2 164.8 35,36,37,38 S5 S16 Passiva-ativa 7Φ1/2" 40 160 39,40 S4 S15 Passiva-ativa 7Φ1/2" 38.8 77.6 41,42 S4 S14 Passiva-ativa 7Φ1/2" 34.8 69.6 43,44 S3 S13 Passiva-ativa 7Φ1/2" 33.6 67.2 45 S2 S12 Passiva-ativa 7Φ1/2" 32.4 32.4 46 S4 S12 Passiva-ativa 7Φ1/2" 26.8 26.8 47,48 S2 S11 Passiva-ativa 7Φ1/2" 28.4 56.8 Somando-se a quantidade de cabos, chega-se ao valor de 44 de 12Φ1/2” e 52 de 7Φ1/2” (considerando que a tabela acima expressa o número de cabos de apenas uma viga, e portanto é necessário multiplicar o valor por 2). 52 Dessa forma, ao comparar-se com a quantidade encontrada, tem-se 27 cabos de 12Φ1/2” e 32 de 7Φ1/2”, sendo quase metade do valor, porém deve-se considerar que no exemplo demonstrado no trabalho, considerou-se todos os cabos de mesmo comprimento, indo de S0 a S19, diferentemente da situação expressa acima. Com isso, visando uma comparação mais precisa, calcula-se o volume de cabos em ambos os casos: 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑏𝑜𝑠 𝑥 á𝑟𝑒𝑎 = 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 REAL 𝑐𝑎𝑏𝑜 12∅ 1 2 " → 2019,2 𝑥 0,001184 = 2,39𝑚3 𝑐𝑎𝑏𝑜 7∅ 1 2 " → 1998,4 𝑥 0,00069 = 1,37𝑚3 TRABALHO 𝑐𝑎𝑏𝑜 12∅ 1 2 " → 1782 𝑥 0,001184 = 2,11𝑚3 𝑐𝑎𝑏𝑜 7∅ 1 2 " → 2112 𝑥 0,00069 = 1,45𝑚3 Como pode-se notar, os valores encontrados são bem próximos dos reais, sendo que ao somar-se os volumes, chega-se a uma diferença de 0,2m3, equivalente a 5% do valor total apenas. É necessário frisar que este trabalho tratou de demonstrar apenas um prédimensionamento, sendo que em uma etapa posterior, o detalhamento seria necessário, de forma que seria possível estudar diferentes combinações de cabos, com comprimentos variados. Além disso, é interessante notar que particularmente neste caso, o fator determinante do número de cabos foi a verificação de fissuração, sendo que isto ocorreu devido as perdas majoradas, em função da adoção de um cabo genérico, de comprimento único, (já que considerou-se um pensamento análogo ao pré-dimensionamento de pontes em vigas continuas). É importante salientar que todos os valores encontrados dependem diretamente da trajetória dos cabos, sendo que quanto mais curvo, maiores suas perdas de tensão. Tendo isto em vista, estudando um melhor traçado, é possível otimizar-se a quantidade dos mesmos. 53 De uma forma geral, conclui-se que o método de pré-dimensionamento empregado foi eficiente, uma vez que atendeu a quantidade efetiva de cabos da estrutura, sendo que visando atingir resultados mais precisos é necessário realizar um estudo mais refinado, abordando as variações da estrutura ao longo do tempo, e suas etapas construtivas, conforme descrito ao longo do trabalho. 54 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, R. C. Contribuição para o cálculo de pontes em balanços progressivos. Dissertação de mestrado. São Carlos: EESC/ Departamento de Engenharia Civil. 1984. GUYON. Y. Constructions em beton pré-contraint. Tome 1. Etude de la section/ classes etats limites. Paris, Eyrolles, 1966. LEONHARDT, F. Construções de concreto, v.6: princípios básicos da construção de pontes de concreto. Rio de janeiro, Interciência, 1979. LIMA,V.S. Pontes em balanço progressivo. Trabalho de Conclusão de curso. São Carlos: UFSCar/ Departamento de Engenharia Civil, 2008. MASON,J. Pontes em Concreto Armado e Protendido: Princípios de Projeto e Cálculo. Rio de Janeiro, LTC- Livros Técnicos e Cientificos, 1976. PAS, T. C. M. A técnica de balanços progressivos para execução de pontes e viadutos em concreto armado e protendido. Trabalho de Conclusão de curso. São Carlos: UFSCar/ Departamento de Engenharia Civil. 2007. 45p. 2007 PFEIL, W. Ponte Presidente Costa e Silva, Rio –Niterói: métodos construtivos. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1975. MATTOS, T.S. Programa para analise de superestruturas de pontes de concreto armado e protendido. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ/ Departamento de Engenharia Civil. 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-6118: projeto de estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro, 2004. PEDRO,J.J.O;REIS,A.;REIS,P. Concepção, projeto e construção da ponte internacional de Quintanilha. Guimarães, ENCONTRO NACIONAL DE BETÃO ESTRUTURAL,2008. 55 REZENDE, P. E. O processo de balanços sucessivos em aduelas pré-fabricadas de concreto na construção de pontes e viadutos. Rio de Janeiro, II CONGRESSO BRASILEIRO DE PONTES E ESTRUTURAS, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PONTES E ESTRUTURAS. 2007. STUCCHI,F. R. Notas de aula de pontes e grandes estruturas. São Paulo: USP/Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações.Desconhecido. CARVALHO,R. C. Estruturas em concreto protendido: cálculo e detalhamento.Notas de aula. São Carlos: UFSCAR/Departamento de Engenharia Civil. 2009. PFEIL, W. Concreto Protendido. Rio de Janeiro, LTC- Livros Técnicos e Cientificos, 1980 INFORSATO T. B. Considerações sobre o projeto, cálculo e detalhamento de vigas préfabricadas protendidas com aderencia inicial em pavimentos de edificações. Dissertação de mestrado. São Carlos: UFSCar/Departamento de Engenharia Civil ,2009