Entrar ou não na Internet O que era um dilema de grandes empresas, tornou-se agora comum à maioria das pequenas e médias empresas brasileiras Segundo estatísticas recentes do Sebrae (Serviço de Apoio à Pequena e Micro Empresa), cerca de 40% das empresas de pequeno porte do país já estão conectadas à internet. Mas o próprio Sebrae admite que poder acessar a rede ou ostentar o cobiçado endereço ponto com não significa que a empresa esteja fazendo negócios pela internet. A grande maioria dos empreendedores que compraram um lote na internet para ter direito a um endereço virtual tomou esta atitude basicamente por modismo ou para fazer marketing publicitário. A corrida de empresas para a Web tirou todo o glamour do modismo e aumentou brutalmente a disputa por visibilidade na rede, obrigando o empreendedor a ter que inflar o orçamento de marketing cibernético, muito além do desejado ou prudente. A decisão de transformar ou não a empresa num negócio também virtual tornou-se ainda mais complicada depois da implosão violenta no fenômeno das ponto com nos Estados Unidos, onde três em cada quatro novas empresas virtuais já jogaram a toalha ou enfrentam uma dramática batalha pela sobrevivência. Hoje a era das fortunas instantâneas na Web terminou e a especulação financeira com empresas virtuais acabou criando um congestionado cemitério de aventuras ponto com. A complexidade da definição em torno da adesão ao comércio eletrônico vem do fato de que não se trata apenas de abrir mais um ponto-de-venda. Os pioneiros nesta modalidade de varejo descobriram, muitos de forma traumática, que o comércio eletrônico tem uma cultura própria, exige uma tecnologia específica e cara, está apoiado num marketing especializado e principalmente implica assumir riscos maiores do que a média dos pequenos e micro empreendedores está acostumada a assumir. Uma das mais tradicionais empresas de móveis dos Estados Unidos e um audacioso grupo de investidores na chamada Nova Economia sofreram na própria carne as conseqüências da mudança de cultura empresarial gerada pelo comércio eletrônico. A Shaw Furniture Gallery (uma das maiores fábricas de móveis dos EUA, com uma história de 60 anos) e a Living.com (que pretendia ser uma espécie de Amazon.com do varejo eletrônico de móveis) se aliaram, no que foi considerado um casamento cibernético ideal. Mas, contra todas as expectativas, a aventura, além de fracassar rotundamente, provocou uma tragédia empresarial. A versão cimento e tijolo da Shaw e a sofisticação virtual da Living.com não resistiram ao choque de hábitos e processos entre a Velha e a Nova Economia. Ambas as empresas pediram concordata, sepultando na mesma vala comum uma sólida história empresarial e o voluntarismo de empreendedores com menos de 30 anos. A concorrência feroz no varejo cibernético e a renovação frenética das tecnologias disponíveis no mercado complicam enormemente a tomada de decisões por parte de gerentes e executivos. Quem comprar hoje um sistema de banco de dados para comércio eletrônico, por exemplo, gastará pelo software, digamos R$ 50 mil, mas deve estar preparado para desembolsar outro tanto em treinamento, customização e suporte. Tudo isso para que o sistema entre em operação normal no prazo de seis a oito meses e comece a dar lucros dentro de um ano e meio, na melhor das hipóteses. É enorme o estresse imposto a executivos criados no universo industrial e que de repente são obrigados a tomar decisões cruciais sobre tecnologias com as quais eles não têm muito intimidade. Os riscos deste cassino corporativo são enormes e a taxa de mortalidade de empresas mostra que a transição da economia analógica para a digital não pode ser feita de forma caótica como aconteceu até agora. Por isso algumas das maiores marcas mundiais resolveram recentemente trocar de marcha e reduzir a velocidade da mudança, para diminuir os solavancos da entrada na economia virtual. Isso facilitará muito a vida do pequeno empresário, mas não o livrará da aflição de colocar o futuro de sua empresa na dependência de decisões que ele deve tomar hoje, sem estar 100% seguro de que fez a opção certa. Aproximadamente 70% das micro e pequenas empresas terão que entrar na internet mais cedo ou mais tarde, se quiserem sobreviver no mercado. Seus donos ou executivos estão diante da típica situação: se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.