COMPOSIÇÕES DE FUNÇÕES GERATRIZES E A FÓRMULA EXPONENCIAL Grande parte do poder de funções geratrizes vêm de composição delas! Observação. Sejam F (x) = X fn xn n≥0 G(x) = X gn xn n≥0 duas séries formais. A composição F (G(x)) é bem definida desde que g0 = 0. Exemplo 0.1. Dada uma função f : N → C, vamos calcular X g(n) = f (a1 )f (a2 ) . . . f (ak ) onde a soma percorre todas as composições a1 + a2 + . . . + ak = n, onde ai ≥ 1, e k ≥ 1. Por exemplo g(3) = f (3) + f (1)f (2) + f (2)f (1) + f (1)f (1)f (1) Seja F (x) = X f (n)xn n≥1 G(x) = 1+ X g(n)xn n≥1 Observe que G(x) = 1 1 − F (x) Use o exemplo acima para resolver os seguintes problemas. Exercício 1. Mostre que X a1 a2 . . . ak = F2n onde a soma é sobre todas as composições a1 +. . .+ak = n, e F• é a sequência de Fibonacci. Exercício 2. Mostre que X (2a1 −1 − 1) . . . (2ak −1 − 1) = F2n−2 onde a soma é sobre todas as composições a1 + . . . + ak = n. Exercício 3. Mostre que X 2{#i | ai =1} = F2n+1 onde a soma é sobre todas as composições a1 + . . . + ak = n. Date: Terça Feira, 26 de Junho de 2012. 1 2 G. BUJOKAS 1. Significado combinatório A partir dessa seção, nós vamos precisar de funções geratrizes exponenciais. Vamos usar a seguinte notação. Para uma função f : N → C, nós associamos X xn f (n) Ef (x) = n! n≥0 Dada duas funções f, g, nós queremos entender qual é o significado de Ef (Eg (x)) (essa expressão é bem definida se g(0) = 0). Vamos usar a seguinte notação. Para um conjunto finito S, seja #S = o número de elementos de S P(S) = o conjunto de todos os subconjuntos não vazios de S Π(S) = {{S1 , . . . , Sk } ⊂ P(S) | S1 ∪ S2 ∪ . . . ∪ Sk = S e Si ∩ Sj = ∅ para i 6= j} O conjunto Π(S) vai ser chamado o conjunto de partições de S. Observe que o conjunto de partições de {1, 2, . . . , n} não é igual ao conjunto de partições do inteiro n. Por exemplo Π({1, 2, 3}) = {{{1, 2, 3}}, {{1, 2}, {3}}, {{1}, {2, 3}}, {{1, 3}, {2}}, {{1}, {2}, {3}}} Teorema 1.1. Dadas funções f, g, defina uma função h satisfazendo X h(#S) = g(k)f (#S1 )f (#S2 ) . . . f (#Sk ) {S1 ,...,Sk }∈Π(S) para qualquer conjunto finito S. Então Eh (x) = Eg (Ef (x)) Exemplo 1.1. Suponha que f (#S) é o números de maneiras de dar uma “estrutura F” nos elementos de S, e g(#S) para uma “estrutura G”. Então h(#S) é o número de maneiras de dividir os elementos de S em grupos, e aplicar uma estrutura F em cada grupo, e uma estrutura G no conjunto de grupos. Figura 1. “Filas organizadas em círculo” A FÓRMULA EXPONENCIAL 3 Por exemplo, considere o seguinte problema. Nós queremos dividir um conjunto de n pessoas em grupos, colocar cada grupo em um fila, e organizar os as filas em um círculo (como na figura 1). Qual é o número an de maneiras de fazer isso? Seja f (n) = n! o número de maneiras de colocar n pessoas em uma fila, e g(n) = (n − 1)! o número de maneiras de colocar n elementos em um círculo. Então X xn X x = Ef (x) = xn = n! n! 1−x n≥1 n≥1 Eg (x) = 1 + X (n − 1)! n≥1 X xn xn =1+ = 1 − log(1 − x) n! n n≥1 Pelo teorema 1.1, Ea (x) = Eg (Ef (x)) = 1 − log 1 − x 1−x = 1 − log(1 − 2x) − (− log(1 − x)) X xn =1+ (2n − 1) n n≥1 =1+ X (2n − 1)(n − 1)! n≥1 xn n! Portanto, an = (2n − 1)(n − 1)!. Exercício 4. Prove que an = (2n − 1)(n − 1)! usando uma bijeção. Exercício 5. Algumas crianças brincam assim: elas se dividem em grupos, e em cada grupo uma criança fica no centro, e as outras crianças do grupo formam uma roda em volta dela. A roda pode ter apenas uma criança (nesse caso, ela segura suas próprias mãos), mas sempre tem que ter uma criança no centro. Seja c(n) o número de configurações que n crianças podem formar. Calcule a função geratriz exponencial de c(n). Calcule também a função geratriz exponencial XX xn ck (n)tk n! n≥0 k≥0 onde ck (n) é o número de configurações com exatamente k rodas. 2. A fórmula exponencial As aplicações mais comuns de mais comum do teorema 1.1 são com g(n) = 1, isso é, com X xn Eg (x) = exp(x) = n! n≥0 É tão comum que merece ser enunciado como um corolário: 4 G. BUJOKAS Corolário 2.1 (Fórmula exponencial). Dada uma função f , defina uma função g satisfazendo X f (#S1 )f (#S2 ) . . . f (#Sk ) g(#S) = {S1 ,...,Sk }∈Π(S) para qualquer conjunto finito S. Então Eg (x) = exp(Ef (x)) Exemplo 2.1. A intuição é que várias estruturas são formadas por componenn tes conexas. Por exemplo, o número g(n)(= 2( 2 ) ) de grafos com n vértices, e o número f (n) de grafos conexos. Ou o número g(n) de florestas, e o número f (n) de árvores. Usando a fórmula exponencial, a gente consegue construir uma sequência da outra. Por exemplo, uma permutação w é uma união disjunta de ciclos. Seja c(n) = (n − 1)! o número de maneiras de colocar n objetos em um ciclo. Então X xn X xn Ec (x) = (n − 1)! = = − log(1 − x) n! n n≥1 n≥1 Se b(n) = n! é o número de permutações, então Eb (x) = exp(Ec (x)) = exp(− log(1 − x)) = X xn 1 = n! 1−x n! n≥0 o que é coerente. Exercício 6. Seja an o número de permutações de n elementos em que todos os ciclos tem tamanho 2 ou 1 (isso é, w é uma involução). (a) Calcule a função geratriz exponencial de an . (b) Seja In ⊂ Sn o subconjunto de involuções (então an = #In ), e Fix(w) o número de pontos fixos de w ∈ Sn . Calcule X X xn tFix(w) n! n≥0 w∈In (c) Conclua que para qualquer n ≥ k, X Fix(w) w∈In k n = an−k k (d) Prove essa identidade usando uma bijeção. Exemplo 2.2. A gente pode usar a idéia acima para construir a seguinte função geratriz. Dada uma permutação w de n elementos, seja ck (w) = o número de ciclos de tamanho k e defina c (w) c (w) C(w) = t11 t22 . . . tncn (w) o monomial indicador de ciclos. Seja Sn o conjunto de todas as permutações de um conjunto de n elementos. Vamos compactar toda a informação dos monômios indicadores na seguinte função geratriz: X X xn F (x, t1 , t2 , . . .) = C(w) n! n≥0 w∈Sn A FÓRMULA EXPONENCIAL 5 A fórmula exponencial nós dá a seguinte identidade: x x2 x3 + t2 + t3 + . . .) 1 2 3 Exercício 7. Seja a(n) o número de permutações w ∈ Sn que admitem uma raiz quadrada, isto é, existe u ∈ Sn tal que u2 = w. Mostre que F (x, t1 , t2 , . . .) = exp(t1 a(2n + 1) = (2n + 1)a(2n) Exercício 8. Seja f (n) o número de maneiras de escolher um subconjunto S ⊂ {1, . . . , n} e uma permutação w ∈ Sn tal que w(i) 6∈ S se i ∈ S Mostre que f (n) = Fn+1 n!. Exercício 9. Seja k ≥ 2. Mostre que o número de permutações w ∈ Sn tal que todos os ciclos têm tamanho múltiplo de k é 12 ×2×3×. . .×(k−1)×(k+1)2 ×. . .×(2k−1)×(2k+1)2 ×(2k+2) . . .×(n−1) Exercício 10. Prove que o número de pares (u, v) ∈ Sn tal que u2 = v 2 é igual a p(n)n!, onde p(n) é o número de partições de n. Exercício 11. Agora faça os exercícios 7, 8, 9 e 10 com bijeções! 3. Referências A melhor referência que eu conheço é o excelente Enumerative Combinatorics do Richard Stanley. Esse material está no volume 2. E-mail address: [email protected]