Modelo para Estimativa do Rendimento de Grãos da Cultura do Milho para o Estado de Santa Catarina Angelo M. Massignam1 e Roger D. Flesch2 1 Eng. agr., Ph.D., Epagri. Caixa Postal 116. CEP 89.620-000. Campos Novos, SC. E-mail: [email protected]. 2 Eng. agr., Ph.D.,Epagri. Caixa Postal 502. CEP 88034-901. Florianópolis, SC. E-mail: [email protected]. Palavras-chave: modelo, rendimento de grãos, milho, radiação solar, deficiência hídrica. Revisão bibliográfica Em Santa Catarina, o milho desponta como a cultura de maior importância em área plantada (795.845 ha); em produção (2.792.530 t) e na formação do valor bruto da produção dos grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) (44,9 %) (Síntese ..., 2005). A produtividade anual da cultura do milho em Santa Catarina tem apresentado uma variabilidade, principalmente nos últimos três anos. Testa et al (1996) apontou a deficiência hídrica como uma das grandes causas da variabilidade da produção. Portanto, a estimativa do rendimento de grãos torna-se uma ferramenta importante para o planejamento e tomada de decisões desde a nível de propriedade rural até a nível de Estado. Uma das maneiras de estimar o rendimento de grãos tem sido por meio de modelos de simulação ou modelos de previsão de safra (Boote et al, 1996). Vários modelos utilizam à radiação solar para estimar o rendimento de grãos, em função da biomassa produzida e do índice de colheita. A quantidade de biomassa produzida por uma cultura é o resultado da quantidade da radiação solar interceptada e sua eficiência de conversão desta radiação em matéria seca (Monteith, 1977). Em condições de não restrição hídrica ou nutricional, e na ausência de doenças e pragas, o rendimento do milho está altamente relacionado com a quantidade de radiação interceptada pela cultura (Muchow et al, 1990). Entretanto, a ocorrência de deficiência hídrica reduz o rendimento de grãos pela diminuição da radiação interceptada, devido a redução do índice de área foliar e pela diminuição da eficiência da conversão da radiação solar (França et al. 1999). Os objetivos deste trabalho foram propor um modelo para estimativa do rendimento de grãos, com base nos valores diários de temperatura, radiação solar e disponibilidade hídrica (ETR/ETM) e determinar o efeito da deficiência hídrica no rendimento de grãos para a cultura do milho para o Estado de Santa Catarina. Este trabalho foi realizado com o intuito de disponibilizar um modelo para a estimativa do rendimento para estudar as melhores épocas de semeadura e a estimar a quebra do rendimento devido à ocorrência de deficiência hídrica em Santa Catarina. Material e Métodos Os experimentos foram conduzidos nas áreas experimentais da Epagri em Campos Novos e Chapecó. O clima, segundo a classificação de Köeppen, é Cfa e Cfb para Chapecó (670m de altitude) e Campos Novos (952 m de altitude), respectivamente (Pandolfo et al, 2002). O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com quatro repetições, no esquema fatorial 9 (épocas de semeaduras) x 3 (híbridos). Foram semeadas 9 datas, a partir de 21de agosto de cada ano, espaçadas em 21 dias entre si, nos anos agrícolas de 1996/97, 1997/ 98 e 1998/99. Os híbridos utilizados foram Cargilll 901, Pioneer 3099 e Agroceres 1051 que representam os ciclos superprecoce, precoce e normal, respectivamente. Entretanto, apresentar-se-á resultados somente do híbrido Pionner 3099. Os dados dos experimentos dos dois locais foram reunidos e totalizaram 54 ambientes para cada hibrido. O milho foi semeado a 90 cm de distancia entre fileiras e desbastado para uma população final de 55.000 plantas ha-1. A adubação foi feita com base na análise de solo para a obtenção de uma produtividade igual ou superior a 6.000 kg ha-1. O rendimento de grãos do milho corrigido para 13% de umidade foi relacionado com a variável radiação solar diária média e a relação entre evapotranspiração real e máxima, através da análise de regressão. O ciclo do milho foi dividido em quatro subperíodos de desenvolvimento, ou subperíodos fenológicos, dados por: SP1, da emergência até 80% da acumulação dos graus dias da floração; SP2, de 80% da acumulação dos graus dias da floração até 20% da acumulação dos graus dias da floração à maturação fisiológica; SP3, de 20% até 80% da acumulação dos graus dias da floração à maturação fisiológica e SP4, de 80% até 100% da acumulação dos graus dias da floração à maturação fisiológica. A relação entre evapotranspiração real e a máxima (ETR/ETM) foi obtida através do balanço hídrico. Para o cálculo do balanço hídrico, utilizou-se o método de Thornthwaite e Mather. A capacidade de água disponível (CAD) foi calculada em função dos valores de umidade do solo à capacidade de campo (35 cm3cm-3) e no ponto de murcha permanente (17,5 cm3 cm-3) que foram tomados de curvas características de retenção de água no solo (Milton da Veiga, 2004, dados não publicados). O comprimento efetivo das raízes foi de 60 cm, porém foi considerando um crescimento exponencial da raiz da emergência até a floração, consequentemente, a CAD foi variável desde um valor mínimo na emergência até um valor máximo na fase de florescimento das culturas, a partir do qual permaneceu constante. Os valores de evapotranspiração potencial foram calculados segundo Penman, utilizando-se o programa SISAGRO. A demanda climática ideal ou evapotranspiração máxima foi calculada pela correção da evapotranspiração de referência a partir do coeficiente de cultura. Os valores diários do coeficiente de cultura foram baseados em Doorenbos e Kassam (1979) e foram obtidos por funções matemáticas, onde a variável independente foi graus dias acumulados. Os graus dias foram calculados usando as equações de Ometto (1981) com temperaturas basais inferior de 10ºC e superior de 30ºC (Cross e Zuber, 1972; Gilmore e Rogers, 1958). Adotou-se o critério de optar pelo modelo que apresentou significância, ao nível de 5% de probabilidade, e ao mesmo tempo, os parâmetros do modelo fossem também significativo ao nível de 5% de probabilidade. Selecionou-se o modelo que apresentou maior coeficiente de determinação. Resultados e Discussão Nos modelos de regressão linear e quadrática do rendimento de grãos em função da radiação solar média para os quatros subperíodo entre a emergência e a maturação fisiológica para o híbrido de milho Pionner 3099 (Tabela 1), somente os modelos dos subperíodos 2, 3 e 4 foram significativos. Muchow et al. (1990) num estudo do efeito da temperatura e da radiação solar no rendimento potencial do milho concluiu que a temperatura do ar e a radiação solar incidente influenciaram a variação do rendimento potencial do milho em diferentes ambientes. Sob condições favoráveis de crescimento, a produção de biomassa é diretamente proporcional a quantidade de radiação solar interceptada, e para um dado índice de colheita, o rendimento de grão é diretamente proporcional a biomassa. A influencia da temperatura é na duração do crescimento e desenvolvimento. Tabela 1. Modelo de regressão linear e quadrática do rendimento de grãos (kg ha-1) em função da radiação solar média para os quatros subperíodo entre a emergência e a maturação fisiológica para o híbrido de milho Pionner 3099. Modelo Coeficiente de determinação Re nd = a + bRad1 NS Re nd = -6361,02 + 25,79 Rad 2 0,447 Re nd = -3297,49 + 20,86 Rad 3 0,622 Re nd = 35,47 + 15,03Rad 4 0,554 Re nd = a + bRad 2 + cRad 2 2 Re nd = -15207,10 + 81,23Rad 3 - 0,0738Rad3 2 Re nd = -9236,3303 + 68,88 Rad 4 - 0,0731Rad4 2 NS 0,661 0,644 Os modelos de regressão linear ou quadrático entre a radiação solar média nos subperíodos (2, 3 e 4) explicam de 44,7% a 66,1% da variação devida ao ambiente, sendo que o subperíodo 3 (de 20% até 80% da acumulação dos graus dias da floração à maturação fisiológica) apresentou maior coeficiente de determinação. Variando o período em torno dos subperíodos 2 a 4, o maior coeficiente de determinação (0,728) da regressão quadrática entre o rendimento de grãos da cultura do milho e a radiação solar média foi obtido no subperíodo floração à maturação de fisiológica (Tabela 2). Resultados semelhantes foram obtidos por Lozada e Angelocci (1999) que utilizaram modelo de regressão múltipla. Sendo que o modelo mais representativo do rendimento de grãos foi o que considerou as variáveis temperatura média do ar e a deficiência hídrica para o subperíodo floração a colheita. Os coeficientes de determinação da regressão entre o rendimento de grãos e a relação ETR/ETM não foi significativa em nenhum subperíodo, indicando não ter havido associação direta nas condições em que ocorreram os experimentos. Resultados semelhantes foram encontrados por Lozada e Angelocci (1999). Entretanto, segundo Matzenauer et al (1995), a relação entre a ETR/ETM e a deficiência hídrica são as variáveis mais eficientes para indicar as variações de rendimentos de grãos de milho no Rio Grande Sul. Para estudar o efeito da deficiência hídrica no rendimento de grãos do milho foi testados alguns modelos publicados (Matzenauer et al, 1995; Barbi et al, 1996; Lozada e Angelocci, 1999). Os modelos que descrevem a relação entre o rendimento de grãos da cultura do milho e as variáveis radiação solar média do subperíodo floração à maturação fisiológica e a disponibilidade hídrica (ETR/ETM), média diária em quatro subperíodos, estão apresentadas na Tabela 2. A relação entre a ETR/ETM do SP! foi significativa em um modelo e analisando a equação pode-se observar que com o aumento da deficiência hídrica aumenta o rendimento, não tendo um significado biológico. Segundo Bergonci et al (2001) a deficiência hídrica que ocorre no período vegetativo interfere pouco no rendimento de grãos do milho, pois não afeta significativamente o numero de grãos por espiga. A relação entre a ETR/ETM do SP2 não foi significativa em nenhum dos três modelos testados. Estes resultados estão de acordo com Lozada e Angelocci (1999). Entretanto, estes resultados contrariam alguns estudos (Matzenauer et al, 1995) os quais apontam que o período da cultura do milho que engloba a floração e início do enchimento de grão é o mais critico em relação a deficiência hídrica. A deficiência hídrica do SP3 foi significativa nos três modelos estudados e apresentou os maiores coeficientes de determinação. A deficiência hídrica no SP4 foi significativa em dois modelos. Portanto, o subperíodo de enchimento de grãos (SP3 e SP4) foi o mais crítico em relação à deficiência hídrica. Tabela 2. Modelo de regressão múltipla do rendimento de grãos (kg ha-1) em função da radiação solar média para o subperíodo entre a floração e à maturação fisiológica e a relação ETR/ETM para os quatros subperíodo entre a emergência e a maturação para o híbrido de milho Pionner 3099. Modelo Coeficiente de determinação 2 0,728 Re nd = -15740,51 + 84,70 Rad − 0,0782 Rad (a + bRad + cRad )× Def 1 (a + bRad + cRad )× Def 2 (- 18864,78 + 102,58Rad - 0,0991Rad )× Def 3 (- 21985,99 + 118,15Rad - 0,1190 Rad )× Def 4 Re nd Re nd Re nd Re nd = = = = Re nd Re nd Re nd Re nd = -17191,22 + 102,49 Rad - 0,0998 Rad 2 - 3295,82 Def 1 = a + bRad + cRad 2 + dDef 2 = -22146,77 + 96,3116 Rad - 0,0934 Rad 2 + 4751,02 Def 3 = -21883,52 + 101,78 Rad - 0,0994 Rad 2 + 3015,22 Def 4 2 2 2 2 ( ( ( ( ) ) Re nd = a + bRad + cRad 2 × Def 1d Re nd = a + bRad + cRad 2 × Def 2 d Re nd = - 18261,98 + 99,23Rad - 0,0954 Rad 2 × Def 3 0,7502 Re nd = a + bRad + cRad 2 × Def 4 d ) ) NS NS 0,782 0,700 0,754 NS 0,790 0,751 NS NS 0,787 NS Conclusões O rendimento de grãos da cultura do milho pode ser estimado a partir de variáveis radiação solar média do subperíodo floração a maturação fisiológica e a ETR/ETM no subperíodo enchimento de grãos, principalmente o subperíodo que vai de 20% até 80% da acumulação dos graus dias da floração à maturação fisiológica). 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