Na subescala da Solidão relações com a família, verificou-se que quem vive numa instituição tem piores relações com a família do que quem vive com algum membro da família; embora, quem vive só com a mãe também está algo distante da família. O presente artigo tem como objectivo analisar e comparar a solidão dos adolescentes que se encontravam em risco com adolescentes que não se encontravam. A amostra é constituída por 70 indivíduos e foi dividida em duas partes iguais (35+35), segundo o critério do risco que os indivíduos corriam. Assim, foram considerados indivíduos de risco os alunos que estavam sinalizados pelo tribunal ou pela CPCJ (Comissão Protecção de Crianças e Jovens); alunos cuja idade era bastante mais avançada do que o ano de escolaridade que frequentavam; e alunos que pertenciam a turmas consideradas problemáticas. O instrumento utilizado foi a Escala de Diferenciação de Solidão (DLS, Schmidt e Sermat, 1983). Os resultados sugerem que os jovens em risco frequentam anos escolares menos avançados, têm menos relações afectivas, sentem-se menos ligados aos companheiros, vivem em instituições ou com os companheiros. Os jovens sentem-se próximos dos membros da própria família, sendo que os alunos que frequentam o 9º ano são os que sentem mais proximidade da família, seguidos pelos alunos do 10º ano e, por fim, os de 6º ano. Destes jovens, os que vivem em instituições sentem-se mais menos próximos da família. Assim, os alunos em que o encarregado de educação são os pais, são aqueles que se sentem mais próximos da família; os alunos cujos encarregados de educação são técnicos de instituições sentem-se mais afastados da família. Globalmente, consideram sentir um contacto próximo com os membros da família, mas, os jovens institucionalizados são os que têm menos contactos com as famílias. Os alunos que vivem numa instituição dão-se significativamente pior, do que os outros, com a família. Os alunos que não estão em risco estão mais significativamente envolvidos nas relações românticas ou maritais, do que os que estão em risco. Os alunos de 18 e 19 anos estão mais envolvidos numa relação romântica cooperativa do que os alunos de 15, 16, ou 17 anos. Os que frequentam a área de organização de eventos são os que estão mais envolvidos numa relação romântica cooperativa. Os que frequentam o 9º e 10ºanos de escolaridade estão mais envolvidos numa relação romântica cooperativa do que os alunos que frequentam o 6º ano. A maioria dos alunos considera ter um bom relacionamento com a maior parte dos membros da família mais próxima. Os alunos que vivem com a mãe e padrasto são os que têm pior relacionamento com a família, seguindo-se os alunos institucionalizados e os que vivem só com a mãe. A maior parte dos alunos sente que pode recorrer aos amigos que os rodeiam para pedir ajuda quando necessitam. Consideram que existe alguém na comunidade onde vivem que se preocupam com eles. Os alunos mais novos (15 e 16 anos) têm relações mais próximas dos amigos do que os alunos mais velhos (18 e 19 anos), afirmando que se permitem a eles próprios tornarem-se próximos dos seus amigos. De uma forma geral, os alunos encaram uma relação romântica ou sexual como uma segurança emocional que precisam para a relação. Na comunidade ou vizinhança, sentem que têm raízes ao nível de sentimentos de pertença. Os alunos mais velhos (19 anos) são os que têm menos amigos no lugar onde vivem. Questionados se recebem muita ajuda e apoio dos amigos, os alunos mais novos (15, 16, 17 e 18 anos) são os que recebem significativamente mais apoio dos amigos do que os mais velhos (19 anos). Os alunos do 9ºano referem receber mais apoio dos amigos do que os de 10º e 6º ano de escolaridade. Grande parte dos alunos considera que a família ouve o que dizem. Os sujeitos que não estão em risco percepcionam mais e melhor se o namorado/marido percebem quando estão preocupados e encorajam-nos, do que os sujeitos que estão em risco. Quem vive com a mãe percepciona mais significativamente que o companheiro/a o/a compreende e apoia, sendo as pessoas que vivem numa instituição as que menos percepcionam este facto. A maioria dos questionados afirmam conhecer as pessoas da comunidade que compreendem e partilham os seus pontos de vista e crenças. Os rapazes sentem mais afinidade com as pessoas da sua comunidade do que as raparigas. Na primeira subescala, relações com amigos, reparou-se que quanto mais velhos são os sujeitos, mais distantes se sentem dos amigos. Na segunda subescala, relações com a família, verificou-se que quem vive numa instituição tem piores relações com a família do que quem vive com algum membro da família; embora, quem vive só com a mãe também está algo distante da família. Na terceira subescala, relações românticas, verificamos que quem vive numa instituição ou só com o pai tem relações românticas piores do que quem vive só com a mãe, com os pais ou com a mãe e o padrasto. Os alunos em risco encontram-se nas turmas de 1º e 2º ano de mesa e 1º e 2º ano de cozinha, enquanto os alunos que não estão em risco frequentam o 1º ano de organização de eventos e o 1º ano de cozinha/hotelaria. Os alunos em risco frequentam sobretudo o 6º e 9º ano de escolaridade, enquanto os alunos que não estão em risco frequentam o 10º ano. Apesar de serem mais novos, os alunos do 6º ano tem idades próximas dos alunos do 9º e 10º ano. Parece haver uma proximidade entre o facto de os alunos estarem em risco e terem mais idade do que a que deveriam ter relativamente ao ano escolar. Os alunos que não se encontram em risco estão mais envolvidos em relações amorosas do que os alunos em risco. Os alunos que não estão em risco sentem-se mais apoiados pelos companheiros/as do que quem está em risco. Os alunos que vivem com o pai, mãe, ou os pais em conjunto e mãe e padrasto estão menos em risco do que quem vive em instituições ou com namorado/companheiro/marido. Os alunos que vivem com o pai, mãe, ou os pais em conjunto e mãe e padrasto frequentam mais uma área cientifica mais avançada do que quem vive em instituições ou com o namorado/companheiro/marido. Tendo em conta os preditores do risco, a variável “área científica” é a variável com maior poder preditivo do risco. A variável “relações com a família” é a que tem maior poder preditivo na explicação do valor total da escala de solidão. In Ribeiro, C (2012). A Solidão em Adolescentes em Risco. Dissertação de Mestrado em Trabalho Social e Intervenção Socioeducativa, ISCET: Porto.