I n F O R M A t I 15 A 18 DE nOVEMBRO V Mude um destino O C U R I t I B A ( P R ) A AMB quer ser a voz das crianças que vivem em abrigos. Por isso, realizou ontem, no Teatro Ópera de Arame, o pré-lançamento do movimento Mude um destino – Campanha da AMB em favor das crianças que vivem em abrigos. Na mesma noite foi exibido pela primeira vez o documentário O que o destino me mandar, dirigido pela jornalista Ângela Bastos, especialmente produzido com o intuito de conscientizar a sociedade sobre a dura realidade de meninos e meninas que vivem em abrigos. Página 3 Foto Digital Produções Simone faz parte das 80 mil crianças que vivem em abrigos no Brasil Reflexões sobre o desenvolvimento do país O s participantes do XIX Congresso Brasileiro de Magistrados iniciaram ontem os debates no sentido de contribuir para o desenvolvimento nacional. O objetivo é propor alternativas a partir da perspectiva da magistratura e do pensamento plural de especialistas em diversas áreas. Até o final do evento, no dia 18, mais de 45 nomes de peso terão participado do XIX Congresso. Parte das discussões são baseadas nos resultados da Pesquisa AMB 2006, o mais amplo estudo sobre o que os magistrados pensam acerca de questões essenciais para o país. Os primeiros debates foram sobre impunidade, economia e meio ambiente. Os dados da pesquisa vão basear as discussões de hoje, quando serão realizados painéis sobre reforma política, relações de trabalho e formação de magistrados. Impunidade Meio Ambiente Entrevista Personalidades de peso da comunidade jurídica debatem problemas e possíveis soluções na área. Destaque para contribuição que pode ser dada pela magistratura. Página 2 Resultados da Pesquisa AMB 2006 na área são considerados surpreendentes. Conferencistas apresentam medidas para viabilizar o aprimoramento do Judiciário em relação ao tema. Página 4 Conceituado constitucionalista dá pontapé inicial na programação científica do XIX Congresso. Ele fala sobre o papel da magistratura frente à política em entrevista ao encarte do evento. Página 2 Judiciário e impunidade Conexão Direta: Canotilho Proatividade dos magistrados é apontada como solução m dos mais conceituados constitucionalistas no mundo, José Joaquim Gomes Canotilho iniciou ontem a programação científica do XIX Congresso Brasileiro de Magistrados falando sobre o papel dos juízes frente à política. Ele apontou as relações quase sempre “turbulentas” entre Judiciário e política e destacou uma diferença fundamental na forma de brasileiros e europeus encararem a atuação do Judiciário em questões que, a princípio, seriam de competência de outro Poder da República. “Na Europa, os principais juristas se manifestam contrários a isso, considerando tal atitude uma interferência indevida. Aqui no Brasil, isso é visto com mais naturalidade”, afirmou. Leia a seguir entrevista concedida por ele. U ma pergunta provocativa iniciou o debate do painel que abordou o tema Judiciário e impunidade: se no Brasil a impunidade é a regra, qual a visão do Judiciário a respeito da legitimidade da punição? A indagação de Salo de Carvalho, especialista em Direito criminal e um dos painelistas, tinha como motivação levantar a discussão sobre o tema, que foi abordado na Pesquisa AMB 2006. Segundo dados do estudo, mais de 85% dos juízes apontam o excesso de recursos como principal aspecto para a existência de impunidade no país. Outros fatores também são apontados como vilões: deficiência do inquérito policial afirmam que a demora (74,1%), demora no encerrano encerramento do processo mento do processo (83,9%) e contribui para o aumento da a existência de quatro instâncias impunidade de julgamento (68,1%). O diretor da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joaquim Falcão, que também integra o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), sugeriu que os juízes descubram formas de colaborar para a redução da impunidade no país. Ele aponta um novo meio de atuação para a categoria: o magistrado “juridiscionalmente proativo”, atuando a partir de um perfil baseado no tripé “juiz criador da paz, viabilizador da lei e agente da efetividade judicial”. Mesmo não sendo um entusiasta da repressão, o constitucionalista e professor de Direito apontam o excesso de Constitucional da Universidade recursos como principal do Estado do Rio de Janeiro aspecto para a existência da (Uerj) e da Escola da Magistraimpunidade no país tura do Estado do Rio de Janeiro Luís Roberto Barroso defende que são necessários mais investimentos nas instituições ligadas ao sistema repressor, como a polícia, o Ministério Público (MP), o Judiciário e o sistema penitenciário. Segundo Barroso, a Constituição de 1988 aumentou o poder de atuação do MP e do Judiciário, o que não aconteceu com a polícia. “É preciso dar prestígio institucional, valorização funcional, equipamento, boa remuneração, treinamento e motivação para que a polícia não seja seletiva na sua investigação, além de uma ideologia de direitos humanos, para que não seja truculenta.” 83,9% dos magistrados 85% dos magistrados U AMB – A Pesquisa AMB 2006 mostra que dois terços dos juízes acham que a Justiça Eleitoral deve expedir normas para regulamentar o processo eleitoral. Como o senhor analisa isso? José Joaquim Gomes Canotilho - Ressalvo que não conheço a fundo a problemática brasileira mas, à primeira vista, não me agrada muito que o juiz crie normas eleitorais. O procedimento eleitoral tem de ser normativamente regulado, e normas não são criadas pelos juízes, mas sim pelo Poder Legislativo. O juiz pode, depois, ver se os grandes princípios de um procedimento eleitoral justo estão ou não conciliados na própria lei. Não compete a ele, no entanto, criar resoluções para resolver problemas eleitorais. AMB – Como o senhor avalia a proposta dos magistrados de discutir o desenvolvimento nacional? José Joaquim Gomes Canotilho – A AMB se converteu em uma parceira social importante e não há porque mudar. O homem isolado, neste caso, o juiz isolado, o agente do Ministério Público isolado, o advogado isolado, são pessoas desarmadas. E são pessoas desarmadas não apenas no contexto da sua profissão, mas no próprio contexto do sistema político, do sistema constitucional. Vejo que os magistrados (brasileiros) vão investir no desenvolvimento e na Justiça. Boletim do XIX Congresso Brasileiro de Magistrados. Página da internet: www.amb.com.br E-mail: [email protected] Edição: Daniella Borges e Raquel Raw Reportagem: Giselli Briski, Guillermo Alexander Rivera, Joanelise Brandão, Letícia Capobianco, Thaís Cieglinski. Programação visual: Marcos Tavares Gráfica Radial Foto Digital Produções Expediente 15 A 18 DE nOVEMBRO Foto Digital Produções Magistrados assitem ao documentário no Teatro Ópera de Arame, em Curitiba AMB lança campanha a favor de crianças em abrigo Movimento lançado pela AMB quer sensibilizar sociedade para dura realidade desses meninos e meninas S erá o primeiro Natal de Simone longe da família. O pai abandonou a adolescente e outros três irmãos logo depois que a mãe faleceu, há quase um ano. “Ele foi parando de colocar comida em casa, preferiu ficar com a outra mulher. Desde aí a gente não fez mais parte da família, ele nos deixou pra lá”. Por trás do sorriso da moça de dezessete anos, que aparenta alegria, há, na verdade, um legado de tristeza. Ela sabe na ponta da língua o que a levou a passar onze meses no abrigo Lar Semente da Manhã, em Santa Catarina. “Abandono familiar”, responde em linguagem técnica, cuja tradução seria “falta de amor”. Simone chegou ao abrigo acompanhada de outros três irmãos menores, uma menina de 11 anos e outros dois meninos de seis e quatro anos. Ontem ela participou do pré-lançamento do movimento Mude um destino - Campanha da AMB em favor das crianças que vivem em abrigos, no Teatro Ópera de Arame, em Curitiba. Na ocasião, foi exibido pela primeira vez o documentário intitulado O que o destino me mandar, dirigido pela jornalista Ângela Bastos, com o apoio cultural da AMB, e produzido especialmente para que a magistratura brasileira, em conjunto com a sociedade, possa apontar soluções para a difícil realidade enfrentada pelas crianças e adolescentes que vivem em abrigos. O documentário mostra o dia-a-dia desses meninos e meninas. “Com esta campanha, a AMB dará visibilidade e voz às crianças que vivem em abrigos, fará a sociedade enxergar o problema”, disse Ângela Bastos. Para ela, “o ideal seria ter mais varas especializadas em assuntos como crianças em situação de risco”. O presidente da AMB, Rodrigo Collaço, adiantou que a campanha convidará os juízes de todo o país a levar para suas comarcas as C U R I t I B A ( P R ) idéias da campanha, mostrando, por exemplo, “como é fácil adotar uma criança”. Segundo Collaço, o problema não é a legislação e, sim, o que os candidatos a pais adotivos elegem como pré-requisitos ao adotar. “A procura é geralmente por crianças brancas e de pouca idade”, lembra ele. Foram feitas mais de mil cópias do documentário, que podem ser solicitadas à AMB. Ceia sem família A campanha da Associação será intensificada no próximo ano, quando acontecerá o lançamento oficial do movimento Mude um destino. Um dos objetivos é que menos crianças, como Simone, percam o direito à convivência familiar e se sintam tão sozinhas. Ângela Bastos há pouco tempo passou a entender o significado da solidão sentida pela adolescente. “Depois que conheci essas crianças meu conceito de solidão nunca mais foi o mesmo.” Os natais são os momentos mais difíceis para Simone. “Porque é o momento em que tá todo mundo com a família. Mas lá nós também temos ceia e presépio.” Não faltará ceia, nem árvore de Natal. Mas faltará o carinho do pai e o abraço fraterno dos irmãos de Simone. Eles foram adotados por famílias que vivem em Portugal. “Eu acho que foi melhor e que mesmo que todo mundo me culpe, por não ter sido capaz de cuidar deles, eu sei que eles vão estar bem melhor lá do que aqui”, resigna-se. Simone é bastante jovem, uma menina, mas já pensa em ter uma família. “Não quero encontrar novos pais, acho que está na hora de ter a minha própria família”. Talvez o que Simone queira mesmo é não passar mais natais sozinha. Direito Ambiental Conferencistas apresentam medidas para viabilizar o aprimoramento do Judiciário em relação ao tema O segundo dia do XIX Congresso Brasileiro de Magistrados também abriu espaço para a discussão do papel do Poder Judiciário na defesa do meio ambiente. O painel sobre esse assunto foi mediado pelo desembargador Paulo Roberto Vasconcelos, presidente da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), e contou com as presenças do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Hermann Benjamin e dos advogados especialistas em matéria ambiental Édis Milaré e Marcelo Abelha Rodrigues. Os resultados da Pesquisa AMB 2006 na área foram analisados e, para os painelistas, revelaram dados surpreendentes. Para Édis Milaré, o fato de a maioria dos magistrados (70,9%) considerar questões ambientais como prioridade máxima é um forte indicativo da importância do tema na atualidade. Em relação ao papel dos magistrados, os conferencistas enumeraram medidas apontadas por eles como essenciais para o aprimoramento efetivo do tratamento dado à matéria ambiental, como a criação de varas especializadas e de assessorias de peritos especializados, bem como a viabilização de cursos regionais de aperfeiçoamento Números da pesquisa 64% dos magistrados consideram a legislação ambiental boa ou muito boa 50,9% dos magistrados consideram ruim a atuação do Poder Executivo em relação ao tema 70,9% dos magistrados dão máxima prioridade à questões de natureza ambiental “ Foto Digital Produções Frase do dia “O lema de todos os profissionais brasileiros, para que a economia efetivamente cresça, deve ser fazer mais e gastar menos.” Raul Velloso e de pós-graduação na área para magistrados, em parceria com instituições de ensino superior, além da edição de manuais sobre direito ambiental. O estudo realizado pela AMB, sob coordenação da cientista política Maria Tereza Sadek, mostra que a magistratura pensa na mesma linha dos especialistas. Quarenta e dois por cento dos juízes que responderam à pesquisa são totalmente favoráveis à criação de um manual de prática ambiental judicial para os magistrados, e 49,1% são totalmente favoráveis à especialização dos magistrados em direito ambiental. O ministro Hermann Benjamin saiu em defesa de uma magistratura mais atuante em prol da questão ecológica, enfatizando o que denominou de “Judiciário protagonista”. Bastante crítico, ele apontou a morosidade da Justiça como um dos principais empecilhos à resolução de questões ambientais no Brasil. Para Rodrigues, os julgamentos envolvendo questões ambientais deveriam ser tratados em caráter de urgência. Ele defendeu que a magistratura esteja na vanguarda dessa discussão e elogiou a iniciativa da AMB de fomentar a discussão sobre o assunto. “O direito ambiental é uma ciência nova, que requer sedimentação, e este evento nos propicia essa possibilidade”, ressaltou. Magistrados lançam livros no congresso A AMB reservou um espaço especial para os magistrados lançarem livros durante o evento: um estande localizado no nono andar do Estação Embratel Convention Center. Ao todo, serão lançadas no local dez publicações de nove autores. Destaque para o livro A Reforma do Processo Civil, do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luiz Fux, cuja publicação recebe apoio institucional da AMB e da Escola Nacional da Magistratura (ENM). Na obra, Fux expõe com precisão todo o conjunto da reforma processual civil, realizando uma análise profunda das mudanças realizadas nessa legislação nos últimos anos em nosso país. Das 10h45 às 11h05, os autores realizam uma breve explanação sobre suas obras no estande.