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9/7/2009 10:24:59 Um herói do seu tempo e para todo o tempo OPINIÃO ­ ARTIGO Thiago Ribas Filho* Miranda Rosa (falecido a 12 de março último) foi uma figura mágica, iluminada, no campo do magistério e da magistratura, missões que exerceu com grande dignidade, amor, esperança e fé. Professor em muitas faculdades de Direito, foi quem levou para lá a Sociologia, mostrando a necessidade que veio a ser implantada da criação da cadeira de Sociologia Jurídica. Como ser humano e profissional, não foi, apenas, um exemplo para todos nós; é um herói do seu temoi e para todo o tempo. Ao iniciar minha carreira de magistrado, aprovado no concurso de outubro de 1963, passei a conhecê­lo melhor, sendo que, como advogado, já era admirador da sua postura e capacidade, evidenciada em seus julgados. Encontrava­o, quase sempre, quando estava em companhia dos colegas e amigos Fonseca Passos e Polinício Buarque de Amorim. Fui nomeado por ele diretor da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), na época em que ele a presidia. Participei de sua luta e dosfrimento por ocasião da elaboração da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) pelo governo da Diratura Militar, em 1979. Teve ele acesso ao projeto e trabalhamos muito, apresentando sugestões de acréscimos e retiradas de dispositivos, com muito pouco sucesso. Muito mais adiante, fizemos parte da comissão de juízes criada pela AMB, na presidência de Paulo Galloti, para, juntamente com sociólogos do Iuperj, elaborar pesquisa que culminou na apresentação do Perfil do Magistrado Brasileiro, mostrando não só quem eram os magistrados do País, como também qualu o seu pensamento sobre o Judiciário e os problemas brasileiros. Modéstia à parte, produziu­
se um grande estudo, pioneiro e inédito sobre a figura do magistrado de todos os segmentos do judiciário, sendo grande a atuação de Miranda Rosa, por sua experiência e clarividência. admiração. Teve participação extraordinária na sua associação de classe, e a prova disso está no fato de que, no curso da presidência da AMB, foi além de sua missão local, interlocutor de colegas de outros países, granjeando sua confiança e admiração, ao ponto de haver sido eleito presidente da União Internacional de Magistrados, exercida com grande brilhantismo. Foi um homem simples e bom, sem vaidades, apesar da grande cultura e da oportunidade que teve de exercer importantes funções. Eu diria que o compositor Gonzaguinha poderia ter se inspirado nele ao colocar um verso em uma de sua canções onde fala da beleza de ser um eterno aprendiz. Isto é o que ele foi, sempre em busca de novas descobertas, novos caminhos, acreditando no ser humano, na sua capacidade de criar, de se renovar, cair e se regenerar. Miranda Rosa, doente, alquebrado, cego nos seus últimos dias de vida, nunca desesperou, nunca perdeu a fé nos homens, embora ultimamente se mostrasse um tanto perplexo com a onda de violência , de egoísmo, de vaidade, de muitos que, em todos os segmentos, chegaram ao poder sem estar preparados para isto, sem o espírito de realmente bem servir. Acredito que seu modo de ser, sua vida, devam ser um farol a iluminar nosso caminho, a abrir uma luz para que se volte a colocar o homem como medida de todas as coisas, a afastar a vaidade, a inveja, a ambição de ser o melhor, o todo­poderoso, que leva, incrível e inutilemnte, a querer apagar o passado, a busca de fazer esquecer o trabalho de homens, como ele, que souberam colocar o seu tijolo na construção de um mundo melhor. Velho e bom amigo Miranda Rosa, que bom seria se, no mundo, todos fossem iguais a você! *Desembargador aposentado, ex­presidente do TJ­RJ e da Amaerj 
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