MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PRPPG Coordenadoria Geral de Pesquisa – CGP Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bloco 06 – Bairro Ininga Cep: 64049-550 – Teresina-PI – Brasil – Fone (86) 215-5564 – Fone/Fax (86) 215-5560 E-mail: [email protected]; [email protected] EM QUE MEDIDA HOMENS E MULHERES, QUE VIVEM UMA RELAÇÃO POLIAMOROSA, SE DIFERENCIAM EM SUAS PRIORIDADES VALORATIVAS Renata Alves Albuquerque (Bolsista do ICV), Sandra Elisa de Assis Freire (Orientadora, Departamento de Psicologia/UFPI) Introdução O presente estudo objetiva compreender a relação entre valores humanos e a atitude das pessoas frente ao poliamor. Mais especificamente, identificar se há diferença das prioridades valorativas entre homens e mulheres que vivem uma relação poliamorosa ou assumem-se poliamorosos. Tendo em vista que as escolhas de uma pessoa são intermediadas pelos valores que esta possui, é importante analisar se existe tal diferença. O poliamor é uma forma de relacionamento na qual acredita ser possível e até mesmo natural, amar mais de uma pessoa simultaneamente. Vem se consolidando como uma das novas modalidades de relacionamento, podendo ser visto também como uma alternativa à monogamia. Adicionando ainda, o fato de que este se diferencia das demais relações não monogâmicas já conhecidas, pois traz como componente essencial, o lado afetivo (amor, carinho, por exemplo) da relação e não apenas o caráter sexual da mesma. Por se tratar de um tipo de conjugalidade relativamente novo, o poliamor tem sido alvo de interesse e assunto de pesquisas nos últimos anos, o que favorece na compreensão de como ele se configura e ajuda a pensar em possíveis implicações deste recente modo de se relacionar. Diante do que foi exposto, faz-se relevante então, avaliar de que maneira esta “nova” estrutura de relacionamento encontra espaço na sociedade atual, se há um perfil que se aproxime da pessoa poliamorista. Existem diferenças na forma como homens e mulheres vivenciam os valores, que os levam a optar pelo poliamor? Propondo-se a pensar e responder questões como estas que o presente trabalho foi realizado. Metodologia Amostra: Participaram da pesquisa 52 usuários de redes sociais, que fazem parte de comunidades de pessoas que são praticantes ou simpatizantes de relacionamentos abertos, como o poliamor. Estes tinham idade média de 28 anos (dp = 6,36; amplitude de 18 a 50 anos), sendo a maioria (55,8%) do sexo masculino. Contou-se com uma amostra de conveniência (não probabilística), uma vez que responderam aos questionários àqueles que se disponibilizaram em participar. Instrumentos: Os participantes responderam aos seguintes instrumentos, a Escala de Atitude Frente ao Poliamor (EAFP). Elaborada por Freire (2013), sendo composta por 10 itens, sendo respondidos em uma escala de cinco pontos, variando de 1 = Discordo totalmente a 5 = Concordo totalmente. O Questionário de Valores Humanos Básicos (QVB). Este instrumento é composto por 18 itens, que avalia seis subfunções valorativas (Gouveia, 2003; Gouveia & cols., 2008): existência, realização, normativa, suprapessoal, interativa e experimentação; é utilizada uma escala de resposta de sete pontos, variando de 1 = Totalmente não importante a 7 = Totalmente importante. E questões sociodemográficas. Os respondentes responderam a um conjunto de perguntas de cunho sócio demográficas, a exemplo de: sexo, idade, estado civil, religião. Procedimentos: A aplicação dos instrumentos se deu por meio de um questionário online composto pelas medidas utilizadas no estudo proposto; este ficou disponível em redes sociais em que as pessoas se assumiam praticantes ou simpatizantes de relacionamentos abertos, a exemplo do poliamor. Os instrumentos ficaram disponíveis aos usuários no período de trinta dias com o fim de promover o link que direcionará os participantes para página da internet que hospedará a pesquisa. Na página inicial do questionário online foram fornecidas todas as informações referentes ao estudo em questão, incluindo não apenas o modo de responder às escalas, como também foi enfatizado o caráter voluntário, anônimo e confidencial da participação na pesquisa e que a mesma não trará nenhum prejuízo ao respondente, sendo assegurada a garantia de que serão respeitados todos os preceitos éticos estabelecidos para pesquisas com seres humanos. No final dessas informações existia uma opção para que eles confirmassem a participação; só confirmando é que eles poderiam responder a pesquisa, este configurava o Termo de Conhecimento Livre e Esclarecido. Em média, os participantes concluíram sua participação em 40 minutos. Análises de dados: Como se tratou de um estudo que utilizou uma abordagem quantitativa, esta pressupõe a previsão de mensuração das variáveis pré-estabelecidas, almejando verificar e explicar sua influência sobre outras variáreis. Foi utilizado o pacote estatístico PASW (versão 18) para a realização das análises descritivas (medidas de tendência central, dispersão e frequência), Teste t. Resultados e Discussão De acordo com os resultados obtidos, homens e mulheres não se diferenciaram quanto às suas prioridades valorativas. Como fica claro na tabela acima, não se verifica diferença em relação às subfunções experimentação (t = -0,67; gl = 50; p < 0,79), realização (t = -1,73; gl = 50; p < 0,11), existência (t = 0,77; gl = 50; p < 0,76), suprapessoal (t = -0,47; gl = 50; p < 0,60), interativa (t = 0,35; gl = 50; p < 0,21), e normativa (t = -1,35; gl = 50; p < 0,50). Respondendo ao objetivo focal deste estudo, o que se verificou é que não existe, para a amostra em questão, diferença das prioridades valorativas entre homens e mulheres. Dado que de certa maneira surpreende, pois apesar de não haver muitos estudos relacionando poliamor e valores, ao consultar a literatura encontraram-se, em diversos autores, características que se diferiam em homens e mulheres, e que seriam possíveis evidências de como esses dois grupos aderem ao poliamor por motivos diferentes. Como visto na pesquisa de Walston (2001) na qual um número maior de mulheres declarou ter aderido ao poliamor pelo fato de terem se apaixonado (Anapol, 2010). Diamond (2009) faz referência à questão da “fluidez sexual” mais presente no sexo feminino e que daria mais liberdade na forma como estas se relacionam. Ou mesmo, como essas diferenças entre os sexos orientam a forma de adesão e manutenção dos seus relacionamentos de maneira geral. Outro aspecto que pode ser explorado é o sentimento do ciúme, que segundo Duma (2009) se apresenta de forma diferente em homens e mulheres, trazendo o sexo masculino como mais ciumento quando se trata do componente sexual de uma relação e o feminino como mais preocupado com os aspectos afetivos do relacionamento. Em um tipo de conjugalidade como o poliamor, esta característica se apresenta como um desafio para a manutenção da relação, acrescentando ainda o fato de que o componente afetivo é tão importante quanto o sexual, constitui-se uma dificuldade para ambos os sexos na consideração em adotar tal tipo de relacionamento. Atenta-se ainda para uma informação interessante referente a essa amostra, o fato de que o número de homens supera o de mulheres, diferente do que é encontrado nos demais estudos feitos com grupos de poliamoristas. É importante considerar que, embora se trate de uma amostra relativamente pequena (o que revela certa dificuldade em encontrar tal grupo mesmo pela internet), os resultados se mostram relevantes e trazem informações novas a respeito do contexto estudado. Conclusão Levando em conta o objetivo principal do trabalho realizado, que consistia em verificar se existe ou não diferença das prioridades valorativas entre homens e mulheres que se dizem poliamistas, não se encontrou uma diferença significativa em relação a esse aspecto. Sendo assim, espera-se que novos trabalhos sejam realizados abordando o tema, que é relevante, porém ainda pouco estudado. Tais trabalhos levariam a um enriquecimento da literatura sobre a temática e permitiria maior conhecimento sobre esta. Referências Gouveia, V. (2003). A natureza motivacional dos valores humanos: evidências acerca de uma nova tipologia. Recuperado em 15 de fevereiro de 2013. Obtido em: http://www.scielo.br/pdf/epsic/v8n3/19965.pdf Gouveia, V. V; Milfont, T. L; Fischer, R. & Santos, W. S (2008). Teoria funcionalista dos valores humanos. Em M. L. M. Teixeira (org.), Valores humanos e gestão: novas perspectivas (p. 47-80). São Paulo: Editora SENAC. Palavras-chave: Poliamor, valores, sexo.