PROMOÇÃO, PRESERVAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA QUALIDADE E EXCELÊNCIA NO DECIVIL Parte I - Formulação do problema e pistas para intervenção O Desafio É inegável que na vida do Decivil temos frequentes situações de qualidade de desempenho, por parte quer de docentes quer de discentes. Se tal é motivo de júbilo, não deve levar-nos a esquecer que, ao lado dessas situações temos outras de sub-desempenho persistente, também em qualquer destes corpos. Este documento tem como objectivo abrir o processo de discussão e adopção de reformas do nosso modelo de funcionamento, no sentido de, de uma forma sistemática, promover a qualidade e a excelência e combater o sub-desempenho. Esta reflexão pode e deve ter lugar sem esperar pelos resultados de uma outra relativa à definição da orientação estratégica do DECivil para os próximos dez anos – a desenvolver no próximo ano lectivo - na medida em que incide sobre os instrumentos e procedimentos que convém ter activos para assegurar a capacidade de avançar eficazmente em relação a objectivos e metas que sejam definidos, seja no plano dos estímulos para a acção, seja no dos controles e penalizações que permitem limitar a incidência dos casos de deriva ou mesmo de recuo em relação Àquelas metas. Parece claro que, a um nível genérico, a nossa ambição tem de ser no sentido de preservar e aumentar a relevância do DECivil no IST e na sociedade portuguesa em geral, bem como no contexto das escolas europeias de engenharia, aumentando a capacidade de geração e gestão de recursos for forma a aumentar também o grau de controle próprio sobre o nossos objectivos e metas, e sobre as trajectórias e os ritmos de avanço para essas metas. Quer a evolução demográfica, quer a previsível redução da duração dos cursos por adopção da Declaração de Bolonha vão certamente impedir que continue a verificar-se a expansão dos nossos quadros de pessoal docente, levando por isso não só a uma maior competição por esses lugares, mas também a riscos acrescidos de desânimo dos mais novos, que poderão ver-se sem perspectivas de evolução profissional nesta área. Temos de ser capazes de manter o estímulo aos mais novos, sobretudo aos de maior capacidade. Por outro lado, tudo indica que o financiamento público das actividades universitárias se irá tornar não só mais escasso em geral, mas sobretudo mais dependente da qualidade dos resultados atingidos Ainda sem discussão das metas concretas ao nível de produtos a desenvolver ou posicionamentos a atingir, as seguintes orientações deverão ser um elemento central de qualquer processo de desenvolvimento do DECivil, devendo por isso constituir referencial para os instrumentos de promoção da qualidade e excelência que se pretende activar: manter a capacidade de atracção de muitos alunos de excelente nível, quer em graduação, quer crescentemente na pós-graduação, e reforçar a capacidade de os formar de forma reconhecida como muito boa pelo mercado e pelos próprios manter e reforçar a alta qualidade do nosso corpo docente e da sua imagem junto da comunidade científica e do mercado profissional, a nível nacional e internacional aumentar a capacidade de influenciar as agências de gestão da investigação e as grandes instituições públicas com responsabilidades nos nossos domínios de actuação no sentido de atribuição de verbas significativas para a investigação e desenvolvimento nestes domínios, correspondentes a partes tão importantes da despesa nacional pública e privada, e com tão forte influência directa na qualidade de vida dos cidadãos reforçar significativamente a capacidade de valorização dos recursos existentes e de geração de recursos adicionais, e de os aplicar ao serviço dos objectivos estratégicos de desenvolvimento do DECivil 1/1 Devemos por esta via assegurar maior qualidade em tudo o que fazemos, e maior satisfação dos agentes ao fazê-lo. Dado o âmbito da nossa actividade, essa qualidade tem de ser reconhecida pelos nossos clientes directos (alunos e entidades contratantes na investigação e prestação de serviços) e indirectos (sociedade em geral) e ainda pelos nossos pares, mas desde logo e em primeiro lugar por nós próprios; A Situação Actual O Decivil dispõe de um conjuntos de activos docentes notável, reconhecidos a nível académico e profissional quer no país quer no estrangeiro. O Ensino Leccionamos presentemente três Licenciaturas e 9 Mestrados, além de colaborarmos em várias outras licenciaturas do IST e de os nossos docentes darem ainda apoio a cursos do ensino superior em vários pontos do país. Na formação a nível de Mestrado somos claramente o Departamento com maior número de alunos, de cursos e de cadeiras oferecidas no IST. Produzimos um pouco mais de uma dezena de doutores por ano, sendo os nossos programas de doutoramento já capazes de atrair estudantes de vários países estrangeiros. A licenciatura em Engenharia Civil voltou a ser este ano o curso do IST com o melhor perfil de notas de acesso em toda a escola, situando-se ainda como um dos dois de melhores classificações de entre os vários cursos de Engenharia Civil em todo o país O Curso de Arquitectura não tem as melhores notas de acesso nesta área em Portugal, mas isso devese largamente à exigência da disciplina de Matemática para admissão ao curso. No conjunto de alunos admitidos, com nota de acesso mínima de 140.8, a classificação média da outra disciplina específica (Geometria Descritiva) foi de 182.5 O curso de Engenharia do Território, que tem tido algumas dificuldades de captação de alunos, tem a dificuldade de competir com outras licenciaturas (Geografia, Planeamento e similares) de saídas profissionais semelhantes mas ser um dos dois únicos que exige a Matemática como disciplina de entrada. Nesse conjunto de dois cursos, o nosso capta mais de 85% dos acessos. O nosso plano de promoção deste curso vai ser baseado na divulgação das vantagens de trabalhar em Planeamento com bom domínio das ferramentas matemáticas. A oferta de cursos de mestrado tem vindo a ser alargada, sendo actualmente em número de 10, dos quais 3 em cooperação permanente com outras instituições. Dada a variação da base de cálculo, os indicadores globais de desempenho nesta frente estão menos disponíveis. Apesar destes indicadores genericamente muito positivos, a preparação dos nossos licenciados à saída da escola apresenta importantes lacunas no cotejo internacional, nomeadamente na capacidade de formulação e estudo autónomo perante problemas diferentes dos ensinados das aulas, e na capacidade de gerir os processos de trabalho quando colocados perante múltiplas tarefas a serem realizadas em paralelo Há ainda indicadores insatisfatórios de duração média do percurso escolar nas nossas licenciaturas (6,2 anos em Engª Civil e 6,1 em Engª do Território; Arquitectura ainda está a completar o 1º ciclo), e de taxas de abandono durante o percurso. Mas temos-nos contentado em gerir as taxas de sucesso escolar sem aprofundar a discussão sobre o verdadeiro nível de competência dos nossos licenciados. Os melhores 10% dos nossos licenciados são de facto excelentes e sê-lo-iam quase seguramente qualquer que fosse o sistema de ensino por que passassem, pelo que a nossa verdadeira luta tem que ser pela boa qualidade da preparação técnica e humana da generalidade dos nossos licenciados, pelo menos dos 80% melhor classificados. O calendário e modelo de ensino recentemente aprovados pretendem criar condições que estimulem os alunos a um trabalho mais regular e intenso (reduzindo por essa via a ocorrência de cadeiras em atraso e a duração dos percursos académicos); Devemos também criar condições para atender rapidamente às situações de deriva em que alguns alunos caem, frequentemente conducentes ao abandono dos estudos a que acederam com tanto esforço. Há que estudar os moldes em que funciona o programa existente a nível do IST e ver de que forma podemos reformá-lo ou melhorá-lo; 2/2 Dois apoios de grande significado neste processo de atracção de bons estudantes e preparação de engenheiros de alta qualidade são a informação bibliográfica (física ou electrónica) e o contacto regular com as grandes figuras e obras da engenharia e arquitectura nacionais. Estão já definidos os processos pelos quais estes dois apoios serão activados a partir do ano lectivo de 2003/04, com a realização de seminários de iniciação ao uso da biblioteca nas cadeiras introdutórias do 1º ano e de aprofundamento e focagem no início dos perfis de especialização (no 4º ano, segundo semestre), e com o programa “A Roda do Engenho” que incluirá uma palestra mensal dirigida aos nossos estudantes e a produção e preservação de material documental de referência sobre essa palestra. A investigação Os nossos três centros de investigação conseguem sistematicamente boas avaliações, e os seus investigadores são responsáveis por alguns dos projectos de investigação mais importantes realizados em Portugal nos respectivos domínios. Mas os níveis de participação nas melhores redes que desenvolvem projectos internacionais de investigação, bem como de publicações internacionais em revistas de referência são ainda escassos, e limitados a apenas alguns dos grupos de investigação; A produção de doutoramentos é interessante mas limitada, com um número médio de 0,12 doutoramentos por ano e por doutorado no Departamento. As limitações e oscilações nos programas de bolsas da FCT podem ajudar a explicar algumas lacunas, mas temos de ser capazes de avaliar essas dificuldades, daí deduzindo necessidades de obtenção de recursos financeiros alternativos para apoio aos doutoramentos; Tem sido muito baixa a capacidade de captação de fundos públicos dirigidos à investigação em Engenharia Civil ou em Arquitectura e Urbanismo (domínios mais relevantes para nós na classificação de áreas científicas pela FCT). A prestação de serviços É também limitada a angariação de verbas próprias através da prestação de serviços, com valores anuais médios por doutorado que têm oscilado em torno de 22 000 Euros, no conjunto das acções de ensino em outras escolas (5,7 %), projectos de consultoria (70,2%) e cursos de especialização ou de formação contínua, estes últimos realizados através da FUNDEC (24,2 %). Mas o mais significativo neste domínio não é o valor global ou unitário da receita gerada, mas sim o facto de que não tem havido discussão nem orientação geral quanto às direcções de esforço a privilegiar, volumes de receitas a atingir, ou aplicações preferenciais dos recursos assim disponibilizados. A disponibilidade dos docentes para o Serviço à escola e ao departamento Ainda que de um modo geral se verifique uma boa capacidade de mobilização de esforços em tarefas úteis ao Departamento ou à Escola, ocorre que demasiadas vezes as solicitações recaem sobre os mesmos docentes, conhecidos pela disponibilidade e responsabilidade com que executam essas tarefas. Há no entanto um número elevado de docentes a tempo inteiro que, para além dum presença reduzida fora do horário das aulas, conseguem efectivamente subtrair-se a estas tarefas. Além de injusto para com os colegas, este comportamento reduz significativamente a capacidade de realização de acções voluntárias pelo Departamento A organização interna O Decivil é reconhecido genericamente no IST como um departamento bem organizado e que responde eficazmente às solicitações dos órgãos centrais da escola. Mas é incipiente a nossa organização no que respeita à capacidade de projecção externa das nossas capacidades, à detecção de oportunidades e à gestão e controle dos processos produtivos associados aos projectos de prestação de serviços. Síntese e Apontar do Rumo Como se vê, a situação actual está longe de ser desfavorável no contexto nacional, mas não pode satisfazer-nos na medida em que existem lacunas significativas na preparação dos nossos alunos, apresentamos índices de rendimento relativamente baixos no processo de ensino, temos múltiplas áreas de investigação bastante distantes dos melhores níveis na União Europeia, e controlamos muito pouco a nossa trajectória e ritmo de evolução. 3/3 A explicação que se encontra para esta situação decorre da presença de dois factores: por um lado o primado das actuações decididas a nível individual ou de pequeno grupo; e por outro o elevado nível médio de qualificação, seriedade e empenho dos nossos docentes e funcionários. A interacção destes dois factores produz alguns resultados notáveis mas dispersos, algumas práticas apenas medianas, e sobretudo uma tremenda dificuldade de definição colectiva de rumos Internamente, um dos problemas mais graves com que nos defrontamos é a apatia de uma parte dos nossos docentes, que se limitam a assegurar as suas funções docentes mas não se envolvem (ou quase) em outras actividades com maior exigência de iniciativa própria ou de trabalho intenso. Ainda que a expressão quantitativa destes casos seja limitada, é claro que, por um lado a legislação e a tradição protegem essas práticas, mas por outro elas constituem factor muito limitativo do potencial de melhoria sistemática do nosso Departamento. Assim, do ponto de vista da organização, o grande desafio é criar condições que permitam e estimulem que passemos a pensar e funcionar mais como uma organização coesa e pujante e menos como um conjunto de indivíduos notáveis mais “soltos”, minimizando nesse processo a ocorrência dos desempenhos medianos ou sofríveis A base dessa coesão e pujança tem de ser por um lado a consciência do grupo de que elas são benéficas e porventura mesmo indispensáveis no contexto actual se quisermos manter ou elevar o nosso orgulho e satisfação profissional, e por outro lado a montagem de um sistema de avaliação e retroacção regular, incidente sobre todas as nossas frentes de actuação e sobre todos os indivíduos Há por isso que lançar um conjunto de iniciativas tendentes a melhorar em geral a qualidade dos nossos processos e produtos, e por outro a limitar e reduzir as situações individuais de manifesto desinteresse e mérito de produção insuficiente. Como é evidente, a recente decisão do Governo no sentido da reforma da Administração Pública aponta na mesma direcção que este documento, podendo a legislação e regulamentações daí decorrentes vir a criar condições favoráveis para a definição e aplicação de medidas mais eficazes para a promoção da qualidade e excelência no DECivil Como tem sido anunciado, há a intenção de promover no próximo ano lectivo a discussão da estratégia do Decivil num horizonte aproximado de dez anos. No entanto, esse exercício só fará sentido se formos capazes de extrair dessa discussão um conjunto de objectivos e rumos assumidos colectivamente como os mais desejáveis para o Departamento, mas também de, a partir daí, nos comportarmos como uma organização coesa que funciona com eficácia em sintonia com essas orientações. A discussão que aqui se abre tem em vista despertar as consciências para essa necessidade e abrir a discussão sobre os instrumentos a que podemos recorrer para a plena assunção desse comportamento. jmv / 7 Julho 03 4/4