(Tradução) Interpelação escrita Uma vez que o Governo decidiu recuperar os centros de habitação temporária e transformá-los em escritórios do Governo, dezenas de idosos que moram sozinhos, num desses centros no Norte do Patane, estão muito magoados porque têm de mudar de casa. Como as obras tiveram já início, alguns dos idosos que ainda não se mudaram sofrem muito com o barulho e a sua mágoa é, realmente, difícil de descrever. As habitações temporárias existem para dar resposta a necessidades urgentes. Isto é, para valer temporariamente a quem precisa de casa por determinadas razões, enquanto que constitui obrigação da Administração colocar, quanto antes, ao dispor de quem precisa, habitações de carácter permanente e estável. Infelizmente, não são poucos os cidadãos que, por diversas razões, habitam nesses centros durante muitos anos, há mesmo quem tenha lá vivido durante mais de dez anos. Isto demonstra, claramente, a faceta burocrática das autoridades competentes. Com vista à ampliação dos escritórios, abandonam-se repentinamente os centros de habitação temporária e expulsam-se todos os moradores que lá vivem. Esta atitude do Governo é muito difícil de compreender, tal como não percebemos qual dos princípios é que o Governo vai seguir, se o de “melhor servir o cidadão” se o de “melhor servir os dirigentes governamentais”! Os idosos sós que sempre viveram nos centros de habitação temporária habituaram-se de tal maneira a viver em colectividade que acabaram por estabelecer fortes laços de amizade e de ajuda mútua. Só que, agora, vêem-se obrigados a mudar de lar e a enfrentar a separação. É compreensível que não queiram mudar de casa! Pelo que devemos prestar grande atenção às habitações para realojamento destes idosos. 1 Sendo assim, interpelo a Administração sobre o seguinte: 1. Com vista à ampliação de espaços para escritórios, o Governo da RAEM acabou por alterar a finalidade dos centros de habitação temporária, expulsando todos os seus moradores. Quererá isto significar que as habitações temporárias não são necessárias em Macau? Ou será que os dirigentes governamentais dão mais valor ao seu conforto e à ampliação de escritórios? Se o Governo entende que é necessário recuperar, repentinamente, essas habitações, de que medidas dispõe para o realojamento dos moradores dessas habitações? Não seria mais adequado começar as obras de remodelação dos centros depois da saída dos idosos, para evitar que sofressem com o barulho das obras? 2. Quanto aos idosos sós que sempre viveram nos centros de habitação temporária, habituaram-se de tal maneira a viver em colectividade que acabaram por estabelecer fortes laços de amizade e de ajuda mútua. Só que, agora, vêm-se obrigados a mudar de lar e a enfrentar a separação. É compreensível que não queiram mudar de casa! Existem condições de realojamento que permitam que os idosos vivam em colectividade, descansados e desfrutando de ajuda mútua para o resto das suas vidas? Os idosos mais habituados a viver em colectividade, num mesmo edifício, podem ajudar-se mutuamente, mas agora vêem-se separados dos seus amigos. Por forma a acompanhar e ajudar a resolver os problemas com que os idosos sozinhos se vão deparar, pensa o Governo da RAEM aumentar o número de assistentes sociais, de voluntários ou de assistentes domiciliários? 3. Actualmente, são aos milhares os cidadãos de Macau em lista de espera por uma habitação social, muito embora o Governo tenha prometido que num prazo de três a cinco anos iriam ser construídas entre quatro a seis mil fracções autónomas. Tratando-se de um objectivo de longo prazo, em nada contribui para satisfazer as necessidades actuais dos muitos cidadãos que, com mágoa, continuam à espera de 2 ver melhoradas as suas condições habitacionais. Com vista a aumentar o espaço para a ampliação de escritórios, o Instituto da Habitação solicitou aos moradores dos centros de habitação temporária que mudassem de casa. As habitações que a Administração vai disponibilizar a esses moradores são também habitações sociais? Devido ao plano da ampliação dos escritórios do Governo, diminui o número de habitações sociais disponíveis. As oportunidades dos cidadãos em lista de espera por uma habitação social não vão também ser afectadas? 24 de Fevereiro de 2006. O Deputado à Assembleia Legislativa Au Kam San 3