A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A ESTRUTURA DA
GLOBAL REPORTING INITIATIVE NAS EMPRESAS COTADAS NO PSI20
E NO IBEX35 NOS PERÍODOS 2010 E 2011
Pedro Miguel Batista Pinheiro
Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
E-mail: [email protected]
Fernando Paulo Marques de Carvalho
Professor no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
E-mail: [email protected]
Ana Isabel Dias
Professora no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa
E-mail: [email protected]
Marta Sofia Marcelo Canilho
E-mail: [email protected]
Área Temática: A10) Responsabilidade Social Corporativa
Palavras-chave: divulgação, informação ambiental, estruturas de relato, GRI
Metodologia de investigação: M1) Analytical/Modelling
A DIVULGAÇÃO AMBIENTAL DE ACORDO COM A ESTRUTURA DA
GLOBAL REPORTING INITIATIVE NAS EMPRESAS COTADAS NO PSI20
E NO IBEX35 NOS PERÍODOS 2010 E 2011
Resumo
Este estudo pretende dar continuidade à investigação sobre a divulgação ambiental voluntária
efectuada por empresas cotadas e relacionar este tipo de divulgação com os factores
explicativos: dimensão, rendibilidade e certificação ambiental. A população do estudo é
constituída pelas entidades cotadas no PSI 20 e IBEX 35 que efectuam divulgação de
informação ambiental de acordo com a estrutura da Global Reporting Initiative.
Para recolha dos dados necessários ao estudo utilizou-se a análise de conteúdo. Analisou-se
então os Relatórios de Sustentabilidade divulgados pelas entidades e os Relatórios & Contas.
Com a análise destes documentos, recolheram-se as variáveis ambientais divulgadas, as quais
foram definidas tendo em conta o preconizado pela GRI. As variáveis explicativas foram
também recolhidas, tendo sido estabelecido que a dimensão seria medida pelo volume de
negócios da empresa, sendo este calculado pela soma das vendas e das prestações de serviços;
a rendibilidade pelo quociente entre o resultado líquido e o total capital próprio (rendibilidade
do capital próprio) e a certificação ambiental seria validada através da existência de
certificação ambiental segundo a ISO 14001 - Environmental management.
Foi efectuada uma análise univariada para caracterização da divulgação de informação
ambiental efectuada e uma análise bivariada para testar as hipóteses de investigação definidas
que relacionam o índice de divulgação de informação com as variáveis explicativas.
.
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1 - Introdução
A divulgação da informação no que respeita a matérias ambientais, tem vindo a ganhar
crescente importância no mundo empresarial devido à crescente necessidade e
obrigatoriedade que este tem na participação e intervenção nos acontecimentos ecológicos.
Pode dizer-se que em prol do desenvolvimento sustentável, a legislação ambiental é cada vez
mais rigorosa, impondo a indivíduos e a pessoas colectivas a responsabilização por acções
incompatíveis com a preservação do meio-ambiente.
Com estas alterações culturais, o relato empresarial não foi excepção, uma vez que passou a
ser exigido às empresas, por parte dos stakeholders, uma atitude ambientalmente responsável.
A concretização do Protocolo de Quioto, em 1997, representou uma alteração significativa
por parte da comunidade internacional em geral, perante a problemática de gerir um bem
colectivo, o meio-ambiente.
De acordo com Kolk (2005), a divulgação da informação ambiental teve o seu “boom” na
década de 70, quando um determinado número de empresas dos E.U.A. e da Europa Ocidental
decide adoptar práticas da então chamada Contabilidade e Relato social.
De acordo com Albuquerque et al (2011c), as culturas são realmente importantes no que toca
à implementação de regras contabilísticas e no tipo de divulgação de informação que é
efectuada, o que inclui a divulgação das questões ambientais.
A divulgação da informação ambiental, surge então pelo facto das empresas identificarem a
necessidade de implementar preceitos de sustentabilidade na sua própria gestão, de forma a
identificarem e darem a conhecer às partes interessadas, uma potencial vantagem
concorrencial. Contudo, no que concerne à divulgação de informação (e de qualquer tipo de
informação), hoje em dia o problema não é tanto a falta de informação, mas sim o tipo de
informação que é publicada e dada a conhecer aos stakeholders de uma entidade. É necessário
atribuir valor às várias fontes e seleccionar a informação que será útil ao utente em questão. A
divulgação da informação ambiental pode ser efectuada de várias formas: através do Relatório
e Contas, num relatório separado do Relatório e Contas (relatórios ambientais, relatórios de
sustentabilidade), através de sites da Internet, de Newsletters, etc.
De acordo com a GRI (2006), elaborar relatórios de sustentabilidade é a prática de medir,
divulgar e prestar contas às partes interessadas, tendo este de descrever os impactes
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económicos, ambientais e sociais, também conhecida como a Triple Bottom Line de uma
organização.
Assim, este artigo irá em primeiro lugar expor o enquadramento teórico que levou à
concretização do estudo. Neste ponto, irá expor uma breve introdução à responsabilidade
empresarial no que respeita à divulgação de informação ambiental, a evolução que se tem
verificado na divulgação de informação, nomeadamente na atitude de divulgação obrigatória
versus divulgação voluntária e ainda, no seguimento da adesão das entidades à divulgação
voluntária de informação, as estruturas que têm surgido de forma a tornar este tipo de
informação útil para os utentes, comparável, fiável e compreensiva. Pretende-se então
demonstrar que a divulgação de informação ambiental, na óptica da divulgação de informação
voluntária, tem sido a estratégia das entidades para satisfazerem as necessidades dos seus
utentes.
Em segundo lugar, expõe-se a metodologia utilizada no estudo empírico realizado, o qual será
apresentado numa quarta parte do presente artigo. Finalmente, apresentam-se as conclusões
retiradas.
2 - Enquadramento teórico
2.1 – A responsabilidade empresarial e o meio-ambiente
A Conferência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente, realizada em 1972, em Estocolmo,
foi a primeira grande iniciativa mundial para tentar organizar as relações entre o Homem e o
meio ambiente. Segundo Moreira (2009), foi a partir das décadas de 80 e 90 do século XX
que as comunidades passaram a exigir mais atitudes sustentáveis por parte das empresas, pelo
que as questões ambientais ganharam importância na agenda internacional. Segundo Gray e
Bebbington (2001), a gestão ambiental nas empresas, até aos anos 90, assumia um carácter
«adhoc», variando a sua regulamentação de país para país, mas «não sendo considerada uma
área estratégica da empresa, nem fazendo parte das questões chave da gestão.
Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, apresenta o
Relatório Brundtland, intitulado de Nosso Futuro Comum, onde o termo desenvolvimento
sustentável é pela primeira vez citado, como sendo «aquele que satisfaz as necessidades do
presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias
necessidades». Já em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), chamada também de ECO-92, com o intuito de
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encontrar meios que permitissem conciliar o desenvolvimento sócio-económico com a
preservação e protecção dos ecossistemas da Terra, exigindo um equilíbrio entre três pilares,
sendo eles: os pilares económico, social e ambiental.
Com esta perspectiva, embora se entenda que o objectivo das empresas é a obtenção de lucro,
estas devem ao mesmo tempo contribuir para o cumprimento de objectivos ambientais, sejam
eles uma meta da própria entidade ou impostos por uma autoridade governamental, incluindoos na sua estratégia empresarial, nos seus instrumentos de gestão e nas suas operações (Dias e
Quirós, 2010). Duarte (2007) refere que a preocupação ambiental deve ser encarada pelas
empresas como uma oportunidade e não como uma ameaça, uma vez que aumenta a
competitividade entre as mesmas.
Porter e Van der Linde (1995) e Veber et al (2000) afirmam que a melhoria do desempenho
ambiental é uma potencial fonte de vantagens competitivas, sem prejuízo da criação de valor.
Segundo o Livro Verde (2001), emitido no seio da União Europeia, embora o objectivo
principal das empresas seja a obtenção de lucro, as empresas podem integrar a
responsabilidade social como um investimento táctico da empresa, quer seja na sua estratégia
empresarial ou como um instrumento de gestão dentro das suas operações. A melhoria do
desempenho ambiental é importante na medida em que os impactes ambientais negativos
estão relacionados com a actividade operacional da entidade, nomeadamente no que concerne
ao elevado consumo de recursos naturais como aos resíduos da produção que são “lançados”
para o meio ambiente. Assim, pode verificar-se uma melhoria do desempenho ambiental
contribui para o desenvolvimento da actividade operacional da entidade.
O comportamento empresarial face ao meio envolvente é analisado pelos vários stakeholders
da entidade, nas vertentes social (relação com a comunidade e respeito pela cultura
envolvente) e ambiental (preservação e prevenção). O Livro Verde (2001) refere que, embora
a responsabilidade social das empresas só possa ser assumida pelas próprias, as partes
interessadas podem desempenhar «um papel decisivo ao incentivarem as empresas a adoptar
práticas socialmente responsáveis em domínios como as condições de trabalho, o meio
ambiente ou os direitos humanos».
Alguns factores são enumerados por Duarte et al (2012) que contribuíram para a evolução
positiva das empresas no que diz respeito à sua responsabilidade social: as preocupações e
expectativas dos consumidores, dos investidores e dos cidadãos em geral, os fortes critérios
sociais influentes nas decisões empresariais, a crescente preocupação das empresas pelos
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danos que provocam no meio ambiente e a transparência gerada nas atividades empresariais
(devido às tecnologias de informação e de comunicação).
Caseirão (2012) refere ainda que, tal como a qualidade, também a responsabilidade social
deve ser integrada na gestão estratégica da organização, sendo importante considerar que
aquela deve ser abordada de uma forma multifacetada. Face ao exposto poder-se-á verificar
que diversos autores (Duarte et al, 2012; Caseirão, 2012; Domingos, 2010; Dias e Quirós,
2010) consideram que a responsabilidade social das empresas não depende somente destas
mas também dos indivíduos que as integram e que com elas interagem.
2.2 – A divulgação de informação ambiental
2.2.1 – A necessidade da divulgação de informação ambiental
A responsabilidade social das empresas passa por contribuir para uma sociedade mais justa e
para um ambiente mais limpo (Livro Verde, 2001). De acordo com esta mesma publicação, a
responsabilidade social das empresas é descrita pela maioria das definições como sendo «uma
integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas
operações e na sua interacção com outras partes interessadas».
A tendência para as empresas divulgarem a informação apenas aos seus detentores do capital
e financiadores está ultrapassada assim como a divulgação da informação cujo único
objectivo é o incremento de benefícios seguindo todos os princípios legais e éticos. Inclusivé,
em termos de organismos emissores de normas de relato financeiro como o IASB, a alteração
à Estrutura Conceptual introduziu conceitos e teminologias que alteram essa ideia
ultrapassada da informação ser apenas para os accionistas e financiadores.
Na divulgação da informação ambiental, a entidade pode deparar-se com duas realidades: a
obrigação de divulgar essa informação ou a escolha de divulgar a informação (divulgação
voluntária quando efectuada.
A avaliação às empresas efectuada pelos utentes da informação é cada vez mais um conjunto
de componentes que vai além dos indicadores económicos, englobando também os padrões
sociais (relação com a comunidade e respeito pela cultura envolvente) e ambientais
(preservação e prevenção). Nesta óptica é fácil de verificar que, a divulgação obrigatória da
informação pode não estar a dar respostas que são exigidos pelos stakeholders.
As várias teorias que têm surgido (entre outras, teoria institucional, teoria da agência, teoria
da legitimidade, teoria dos stakeholders, teoria dos custos políticos, teoria dos custos de
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propriedade, teoria da sinalização) apontam para que a satisfação exclusiva dos interesses dos
detentores do capital é uma decisão de curto prazo, necessitando o meio empresarial de se
actualizar e definir estratégias que procurem a sustentabilidade nas suas operações, tentando
assim satisfazer os vários utentes da informação. Entre as teorias mencionadas, são a teoria da
legitimidade e a teoria dos stakeholders as que mais se destacam no contexto da investigação
sobre divulgação de informação social e ambiental.
O ISAR define divulgação ambiental, na sua publicação “Guidance on Accounting and
Financial Reporting for Environmental Costs and Liabilities” como um termo comummente
utilizado para descrever a divulgação efectuada por uma entidade relativamente a determinada
informação ambiental, seja ela auditada ou não.
O relato de informação ambiental pode então ser efectuado através de alguns diferentes
canais, nomeadamente através: do Relatório e Contas, de um relatório ambiental separado do
Relatório e Contas, de Relatórios de Sustentabilidade, de um site na internet, contendo uma
informação ambiental, ou outros, tais como, newsletters ou publicidade.
De acordo com o estudo elaborado em 2006, pela KPMG Portugal, os meios mais
recorrentemente utilizados para a divulgação «são os relatórios independentes do Relatório e
Contas (61%), a inclusão de um capítulo específico no Relatório e Contas (31%) e o website
da organização (8%)». (KPMG, 2006)
A divulgação da informação ambiental, surge então pelo facto das empresas identificarem a
necessidade de implementar preceitos de sustentabilidade na sua própria gestão, de forma a
identificarem e darem a conhecer às partes interessadas, uma potencial vantagem
concorrencial.
2.2.2 – A divulgação voluntária de informação ambiental
Como já foi exposto, a divulgação da informação ambiental pode ser efectuada por meio de
legislação, ou seja, através da imposição às entidades da sua divulgação (divulgação de
informação ambiental obtigatória) ou pode ser efectuada por iniciativa da própria entidade
que reconhece a sua responsabilidade social e encara-a como uma possível vantagem
competitiva. Meek, Roberts e Gray (1995), definem informação voluntária como uma
informação excessiva, divulgada por vontade da administração, em prol de satisfazer melhor
as necessidades dos utilizadores do relatório anual. Depoers (2000) efectua a sua definição de
informação voluntária em função do utilizador, referindo que as demonstrações financeiras
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das entidades centram-se exclusivamente em divulgar informação aos detentores do capital,
pois considera-os como os destinatários por excelência de tal informação. Deste modo, referese à informação voluntária como toda aquela que ultrapassa a informação obrigatória
divulgada aos accionistas, independentemente da sua natureza e meio de transmissão.
Como já foi referido, são vários os meios de divulgação da informação à disposição da
entidade, por exemplo, o Relatório e Contas, um relatório separado do Relatório e Contas, um
website. Eugénio (2007) aponta para década de 90 o momento em que os relatórios sociais e
ambientais suscitaram maior interesse e que o número de «empresas que começaram a
divulgar informação desta natureza cresceu significativamente».
Dos vários canais utilizados pelas organizações para procederem à divulgação de informação
não financeira, os relatórios de sustentabilidade são os mais utilizados no que diz respeito ao
relato da informação económica, ambiental e social. A finalidade destes relatórios deve
centrar-se em incrementar a transparência, a democracia da divulgação da informação para os
grupos interessados e o comportamento sustentável empresarial (Hess, 2008 citado por
Lizcano, 2009). Contudo, deve ser tido em conta que estes relatórios de divulgação da
informação sustentável podem ser utilizados pelas organizações com a finalidade de
manipular a percepção que a sociedade envolvente àquela tem sobre a legitimidade da
organização, ou ser dirigido a gerir as relações com um grupo concreto de stakeholders (Cho
e Patten, 2007; Carqués, 2007; Neu et al, 1998; Prado et al, 2009 citados por Lizcano et al,
2009). No entanto, a qualidade do relatório de sustentabilidade é significativamente influente
na reacção do mercado. Silva et al (2012) referem que empresas com relatórios de
sustentabilidade com maior qualidade obtêm reacções mais favoráveis no mercado, face a
empresas que apresentam relatórios de sustentabilidade de qualidade inferior. Note-se, no
entanto, que a qualidade da informação não está determinada. Carvalho e Quirós (2008)
referem que o conceito de qualidade da divulgação pode ser definido de uma forma muito
variada, o que sugere o seu carácter complexo e multifacetado. Não obstante, através de
publicações de Relatórios de Sustentabilidade, na elaboração de um relatório com informação
ambiental (e social), torna-se mais fácil para a empresa identificar problemas e oportunidades,
conseguindo assim reduzir gastos e desperdícios e, ao mesmo tempo, rever os processos
adoptados pela empresa (Gasparino e Ribeiro, 2007).
Os Relatórios de Sustentabilidade podem então ser descritos como uma descrição
quantitativa/qualitativa de feitos, dados ou motivos do resultado obtido pela organização sob
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o ponto de vista da TBL (Triple Bottom Line), onde se reconhecem as perspectivas
económicas, ambiental e social (Lizcano et al, 2009).
No entanto, a complexidade inerente à definição de normas globais que possam ser aplicadas
a qualquer cultura e país gerou grande controvérsia (Livro Verde, 2001). Antecipando estas
necessidades, vários foram os organismos que desenvolveram estruturas para a divulgação de
informação voluntária. No início da década de 1990, a ISO observou a necessidade de
desenvolver normas que abordassem as questões ambientais, pelo que em 1993, foi
desenvolvida a ISO 14000, que estabelece diretrizes relacionadas com a gestão ambiental,
dando assim origem, em 1996, à publicação da norma mais conhecida da série, a ISO 14001,
que desenvolve um sistema de gestão ambiental.
O European Eco-Management and Audit Scheme (EMAS) é um instrumento de gestão
ambiental voluntário, que foi desenvolvido em 1993 pela Comissão Europeia, e permite que
às organizações uma avaliação, gestão e melhoria contínua do seu desempenho ambiental. O
EMAS é aplicável globalmente a todos os tipos de organizações públicas e privadas. Uma
análise aos efeitos da mostrou que as empresas que adoptam o EMAS são mais inovadoras e
competitivas se o departamento de I&D estiver envolvido no desenvolvimento do EMAS
(Rennings et al 2003).
A Global Reporting Initiative (GRI) tem vindo, desde a sua criação, a ganhar bastante
importância no que diz respeito à divulgação de informação voluntária. Criada através de um
acordo internacional, entre a associação CERES (Coalition for Environmentally Responsible
Economies) e a UNEP (United Nations Environment Programme), desde 2002 que esta
organização é líder no que diz respeito a programas de divulgação voluntária dentro da
responsabilidade empresarial (Trebucq et al, 2008), o que se demonstrou em 2006 na reunião
anual da GRI, onde se evidenciou o reconhecimento da marca, de prestígio e de influência.
Ao longo dos anos a GRI tem reestruturado as suas directrizes de forma a satisfazer as
necessidades dos que retiram proveito do seu trabalho. Apenas o tempo irá dizer se o relato da
responsabilidade empresarial será integrado no relatório e contas anual (como no Brasil,
Suiça, África do Sul, França, Noruega, Austrália e outros) ou se será prática a elaboração de
um relatório separado (como o Relatório de Sustentabilidade). KPMG (2008) refere que a
regulamentação potencial aliada à tendência dos stakeholders em exigir uma melhor
divulgação da informação social e ambiental, pode estimular a integração desta informação no
relato obrigatório.
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2.3 – A divulgação de informação ambiental de acordo com a GRI
Nas directrizes da GRI (2006) é referido que o conceito de sustentabilidade é articulado, de
forma mais clara, na área ambiental em termos dos limites globais para a utilização de
recursos e para os níveis de poluição. Surge em Março de 2011, a atualização finalizada da
terceira geração de Diretrizes para elaboração do Relatório de Sustentabilidade, o G3.1, sendo
este considerado como a orientação de relatórios de sustentabilidade mais abrangente
disponível hoje em dia. Esta atualização inclui orientações para informações sobre os direitos
humanos, os impactos sobre a comunidade local e de género. Atualmente já se encontram
publicadas as novas directrizes, o G4. Estas novas directrizes, para a elaboração de relatórios
dividem-se em três categorias: económico, ambiental e social. No que respeita à categoria
ambiental, esta representa em 12 aspectos, os quais se subdividem em 34 indicadores.
Conforme referido pela GRI (2011) os indicadores de desempenho são «informações
qualitativas ou quantitativas sobre consequências ou resultados associados à organização que
sejam comparáveis e demonstrem mudança ao longo do tempo». Podemos distingui-los em
indicadores essenciais ou adicionais, sendo os essenciais aqueles que são geralmente
aplicáveis e relevantes para a maioria das organizações e que deverão ser apresentados no
relatório, exceto no caso de este não ser elaborado com base nos princípios da GRI. Os
indicadores adicionais são aqueles que podem ser aplicáveis por algumas organizações mas
não pela maioria.
No que respeita a estudos prévios relacionando a divulgação ambiental efectuada de acordo
com as Directrizes da GRI, são vários os que se podem enumerar, quase sempre incidindo
sobre empresas cotadas.
Moneva e Llena (2000) analisaram as práticas de divulgação ambiental nos relatórios anuais,
baseando-se na teoria dos stakeholders e a sua evolução, no período de 1992 a 1994, em
empresas cotadas no IBEX35, e inseridas num setor de atividade considerado sensível ao
meio ambiente. O resultado obtido no estudo sugere que em Espanha há uma aplicação
limitada destas recomendações por parte de empresas a nível voluntário e narrativa, bem
como um aumento, ainda que leve, de incorporação, de dados financeiros.
Rodrigues, Oliveira e Menezes (2002) avaliaram o nível de relato financeiro do desempenho
ambiental de todas as empresas cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa, em 2000. Para tal,
analisaram todos os relatórios e contas, chegando à conclusão de que as empresas revelam
inconsistências no reconhecimento e divulgação das matérias ambientais, consequência da
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falta de normas contabilísticas suficientes. Apesar de em Portugal, o relato ambiental ser um
tema ainda em desenvolvimento, puderam concluir que existem empresas que já apresentam
relatórios dedicados exclusivamente à temática ambiental.
Gallego (2006) tenta verificar empiricamente como determinadas empresas espanholas
apresentam a sua informação económica, social e ambiental, isto é, como elas usam os
indicadores propostos pela GRI, que são aceites em todos os países e como esta informação
pode afectar o desenvolvimento sustentável. Foram escolhidas determinadas empresas
pertencentes a diferentes sectores de actividade, nomeadamente: financeiro e segurador,
indústria transformadora, transportes e comunicação, energia e água, deixando para futura
análise outras empresas pertencentes ao IBEX-35. Como resultado final reconhece-se que
existe respeito pela protecção do ambiente e pelo uso prudente dos recursos naturais por parte
das empresas espanholas que divulgam informação relevante que afecta o desenvolvimento
sustentável, como é mostrado pelos indicadores ambientais que elas divulgam.
Em 2007, Carvalho e Siqueira desenvolveram um estudo onde verificaram o grau de
aderência plena dos indicadores essenciais da GRI, bem como o grau de evidenciação efetiva
destes. Para o seu estudo, foram selecionadas empresas situadas em países da América Latina,
excluindo-se as situadas no Brasil, uma vez que já existiam estudos sobre o assunto, limitando
ainda o seu estudo a empresas que possuem um relatório de sustentabilidade e que contenha
no seu índice a GRI, em 2005. Chegaram à conclusão que os índices mais baixos estão
concentrados no grupo de indicadores sociais, sendo o grupo de indicadores económicos o
que apresenta maior média. Comprovaram também que são as empresas que afirmam possuir
um relatório “de acordo com” a GRI as que obtiveram os piores resultados. As empresas
analisadas encontram-se em diferentes estágios de aderência às Diretrizes da GRI.
Dias (2009) pretendeu obter evidência empírica, de uma amostra de 49 empresas cotadas no
Mercado de Cotações Oficiais da Euronext Lisboa em 2005, sobre as práticas e grau de
divulgação referentes à sustentabilidade empresarial, e identificar os indicadores económicos,
ambientais e sociais mais relevantes para cada setor de atividade. Os resultados apurados no
seu estudo sugerem que o relato empresarial da sustentabilidade não é uma prioridade para os
decisores das empresas que constituem a amostra, mas se considerarmos que em Portugal o
processo de comunicação empresarial de informações éticas, económicas, ambientais e sociais
é essencialmente voluntário, estes resultados podem considerar-se positivos.
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Domingos, Carvalho e Duarte (2010) analisaram a evolução do grau de divulgação segundo a
estrutura da GRI, de empresas do Euronext de Lisboa, nos anos de 2006 e 2007. Estes
concluíram que há uma importância do desempenho social na divulgação voluntária da
informação e um baixo valor do desempenho económico ao facto daqueles poderem já ser
divulgados na informação financeira obrigatória.
2.4 – Os factores explicativos da divulgação de informação
A identificação de necessidades da empresa como forma de transmitir uma imagem
ambientalmente responsável aos vários stakeholders, e utilizando a divulgação de informação
voluntária como vantagem competitiva, são já vários os estudos que tentam identificar as
principais motivações e influências da empresa para que estas procedam a uma melhor e/ou
maior divulgação de informação ambiental. Monteiro (2007), Carvalho e Quirós (2008), Dias
(2009) e Domingos (2010) identificam como potenciais determinantes da divulgação
ambiental as variáveis mais comummente testadas em estudos empíricos realizados a nível
internacional – sector, tamanho e rentabilidade, bem como outras adicionais, designadamente,
capitalização bolsista, controlo do capital social e certificação ambiental.
De seguida serão apenas expostos os factores explicativos relacionados com o nível de
divulgação ambiental utilizados neste estudo.
 Dimensão
A grande maioria dos autores é da opinião que existe uma relação entre a dimensão e o nível
de divulgação da empresa, na qual uma empresa com uma maior dimensão tende a ter um
nível de divulgação maior (Deegan e Gordon, 1996; 1998; Moneva e Llena 2000; Archel,
2003; Monteiro, 2007; Archel, Fernández e Larrinaga, 2008)
A dimensão da empresa pode ser medida por vários indicadores, nomeadamente: pelo número
de empregados, pelo volume de negócios ou pelo activo total (logaritmizado ou não). A
generalidade dos autores opta pelo total de activos para medir a dimensão da empresa (Archel,
2003; Hassan, 2004; Monteiro, 2007; Lopes e Rodrigues, 2007; Branco e Rodrigues, 2008)
Alguns outros autores como Deegan e Gordon (1996) adoptaram o volume de negócios como
variável para medir a dimensão da empresa.
 Rendibilidade
Meek et al (1995) apontam a divulgação de informação voluntária como um meio das
empresas com maior rendibilidade se diferenciarem das empresas menos rentáveis, com o fim
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de angariarem capital sobre o melhor disponível. Hassan (2004) refere que esta conclusão
pode ser suportada pelo facto daquelas entidades estarem mais expostas a elevados custos
políticos, logo empresas com maior rentabilidade estarão também mais susceptíveis de
fornecer informação de qualidade superior.
Pelo contrário, Domingos (2010), Monteiro (2007) e Moneva e Llena (1996) concluem que a
rendibilidade é um factor de pouca influência face ao grau de divulgação voluntária de
informação, pois não conseguem provar existir empiricamente uma relação directa entre a
rendibilidade de uma empresa e o nível de divulgação voluntária desta, o que pode sugerir que
existe uma falta de interesse por parte da gerência, independentemente da sua situação
económico-financeira. Lang e Lundholm (1993) apesar de não concluírem que não existe uma
relação significativa entre o nível de divulgação e o desempenho de uma entidade,
mencionam que poderá haver excepções. Archel (2003) e Branco e Rodrigues (2008) referem
que a rentabilidade não é um factor significativo da divulgação voluntária.
 Certificação ambiental
A certificação ambiental a uma entidade permite evidenciar que essa dispõe de um sistema de
gestão ambiental em conformidade com uma norma, sendo assim demonstrado que a entidade
desenvolve os seus processos de gestão ambiental de acordo com determinados critérios préestabelecidos. Em Portugal, são aplicáveis duas normas de sistemas de gestão do ambiente 1:
- As normas de série ISO 14000, constituída por um conjunto de documentos relacionados
com sistemas de gestão ambiental e outros documentos relacionados com ferramentas de
apoio à gestão ambiental. Estas normas requerem apenas que a organização se comprometa
a procurar melhorar continuamente o seu desempenho e inclua um compromisso de
cumprimento de legislação e outros regulamentos aplicáveis na sua política ambiental.
- O Regulamento Comunitário de Auditoria e Ecogestão (EMAS), que é um sistema em
que podem participar de forma voluntária organizações que desenvolvem actividades
industriais, para avaliar e melhorar de modo continuado os impactes dessas actividades e
informar o público sobre o comportamento e progressos das instalações em termos de
ambiente. O EMAS requer que as empresas estabeleçam e implementem sistemas de
gestão ambiental eficazes incluindo, entre outras coisas, uma política ambiental,
objectivos, e programas ambientais e que forneçam informação acerca do seu desempenho
ambiental ao público (a declaração ambiental).
1
Disponível em http://www.iapmei.pt/iapmei-art-03.php?id=330, consultado em 3 de Julho de 2013.
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De acordo com o site consultado do IPMEI, o número de pequenas e médias empresas com
sistemas de gestão ambiental certificados pela ISO 14001 ou registados no EMAS, tem vindo
a crescer nos últimos anos na União Europeia, em reconhecimento dos benefícios alcançados.
Archel e Lizarraga (2001), mencionam a adopção de sistemas de gestão como factor
explicativo da evolução positiva do índice de divulgação ambiental. O interesse em divulgar
os melhores rendimentos, alcançados pela adopção desses certificados, é realçado na
divulgação dessa informação nos relatórios. Os testes efectuados por Monteiro (2007)
revelam que empresas certificadas apresentam um maior Índice de Divulgação Ambiental.
3 – Metodologia
O objetivo da investigação consiste na análise do grau de divulgação voluntária do
desempenho ambiental das empresas cotadas no PSI20 e no IBEX35, nos anos de 2010 e
2011, tendo por base os indicadores de desempenho ambiental da GRI.
A amostra compreende todas as entidades do PSI20 e do IBEX35 com excepção das empresas
que não divulgaram informação ambiental baseada na GRI, perfazendo assim um total de 41
empresas em 2010 (11 pertencentes ao PSI20 e 30 pertencentes ao IBEX35) e um total de 42
empresas em 2011 (11 pertencentes ao PSI20 e 31 pertencentes ao IBEX35).
A pesquisa iniciou-se com um estudo exploratório da literatura existente, com a finalidade de
se obterem informações relevantes sobre o objeto do estudo.
Posteriormente, dos relatórios e contas e relatórios de sustentabilidade, quando disponíveis,
foi recolhida toda a informação necessária para corporizar os objetivos do estudo.
As variáveis ambientais foram recolhidas de acordo com uma classificação dicotómica, pelo
que o valor “0” (zero) é utilizado quando a informação não é divulgada e o valor “1” (um)
quando é divulgada. Nos casos em que as entidades referem um indicador como sendo “Não
Aplicável”, foi utilizado o valor “1” dado que se considerou que este facto se consubstanciava
na divulgação de informação. Com esta técnica, pretende-se medir o desempenho ambiental
da população em estudo, pelo que se optou pelo cálculo de um índice de divulgação, o qual
transforma a informação qualitativa (recolhida dos relatórios de sustentabilidade) em
informação quantitativa, permitindo assim a análise da informação divulgada através de um
indicador quantitativo:
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Relativamente aos fatores a analisar que possam ser mediadores do nível de divulgação de
informação ambiental serão utilizados: a rendibilidade, a dimensão e a certificação ambiental.
O factor “rendibilidade” será medido através do quociente entre o resultado líquido e o total
capital próprio, o que se denomina por rendibilidade do capital próprio. O factor “dimensão”
será medido através do volume de negócios da empresa, sendo este calculado pela soma das
vendas e das prestações de serviços. O fator “certificação ambiental” será validado através da
existência de certificação ambiental segundo a ISO 14001 - Environmental management
Procurando ir ao encontro dos objetivos propostos, foram enunciadas seis hipóteses de
investigação, cada uma com duas sub-hipóteses:
H1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010.
H1.1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010, em
Portugal.
H1.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2010, em
Espanha.
H2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011.
H2.1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011, em
Portugal.
H2.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de divulgação no ano de 2011, em
Espanha.
H3: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010.
H3.1: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010, em Portugal.
H3.2: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2010, em Espanha.
H4: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011.
H4.1: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011, em Portugal.
H4.2: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de divulgação no ano de 2011, em Espanha.
H5: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no ano de
2010.
H5.1: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no
ano de 2010, em Portugal.
H5.2: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no
ano de 2010, em Espanha.
H6: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no ano de
2011.
H6.1: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no
ano de 2011, em Portugal.
H6.2: Existe uma relação positiva entre a existência de certificação ambiental e o nível de divulgação no
ano de 2011, em Espanha.
15
Ao nível da evidência empírica, ao analisar os relatórios anuais e os relatórios de
sustentabilidade, quando disponíveis, das empresas pertencentes ao PSI20 e ao IBEX35, nos
anos de 2010 e 2011, foi efetuada uma análise univariada e bivariada aos dados recolhidos.
4 – Estudo Empírico
4.1 – Análise univariada das variáveis ambientais
Em primeiro, e com intuito de dar a conhecer o peso relativo das empresas que adotam o
modelo GRI no relato da sua sustentabilidade, o Gráfico 1.1 demonstra a existência um
número bastante superior de empresas (em termos relativos aproximadamente 90%)
pertencentes ao IBEX35 que utilizam o modelo GRI, quando comparado com as empresas
pertencentes ao PSI20 (55%). Esta realidade verifica-se em qualquer dos anos em análise.
Gráfico 1.1 Percentagem de empresas que utilizam o GRI
Das entidades que aplicam as directrizes do GRI, e portanto divulgam informação ambiental
de forma voluntária, de forma a verificar o nível de adopção daquelas, será agora abordada a
tipologia de divulgação ambiental efetuada pelas empresas que adoptam o referencial
mencionado.
Efectuando uma análise por aspecto para o ano de 2010 (Gráficos 2.1 e 2.2), em Portugal, os
dois aspectos mais divulgados são o aspecto “Energia” (95%) e o aspecto “Materiais” (95%),
sendo o aspecto “Transportes” (82%) o menos divulgado. Para o mesmo ano em Espanha, os
aspectos“Materiais” (97%) e “Conformidade” (97%) são os mais divulgados, enquanto que os
aspectos “Biodiversidade” (71%), “Transportes” (72%) e “Geral” (72%) são os menos
divulgados. Note-se a semelhança na percentagem de divulgação do aspecto “Materiais”.
Gráfico 2.1 – Divulgação por aspecto em Portugal
Gráfico 2.2 – Divulgação por aspecto em Espanha
16
Na mesma análise por aspecto, para o ano 2011 (Gráficos 2.3 e 2.4), em Portugal os dois
aspetos mais divulgados pelas empresas em estudo são “Conformidade” (91%) e “Geral”
(91%), sendo o aspeto “Transportes” (64%) o menos divulgado por parte das mesmas, tal
como em 2010. Em Espanha, em 2011, verifica-se um maior nível de divulgação no aspeto
“Conformidade” (100%), enquanto que o aspeto “Transportes” (66%) foi novamente o menos
divulgado pelas empresas em análise.
Gráfico 2.3 – Divulgação por aspecto em Portugal
Gráfico 2.4 – Divulgação por aspecto em Espanha
Para efeitos do cálculo do Índice de divulgação ambiental foram tidos em conta, os trinta
indicadores ambientais. Assim, os valores dos índices de divulgação ambiental para cada ano
e país são conforme abaixo se apresentam.
Quadro 1.1 Índice de Divulgação Ambiental
Portugal
Espanha
2010
27
25
2011
25
25
Conforme seria expetável, após a análise descritiva efetuada anteriormente, os valores dos
índices de divulgação em cada um dos anos em análise não sofre uma variação significativa
nem difere entre ambos os países em estudo. Assim, as entidades que integram o PSI20 e o
IBEX 35 divulgam em média 25 em 30 indicadores ambientais passíveis de ser divulgados.
4.2 – Análise bivariada – Correlação de Spearman
Com o objetivo de responder às hipóteses de investigação já mencionadas anteriormente,
procedeu-se à análise bivariada dos dados com o fim de melhor compreender a relação entre o
nível de divulgação e os fatores tido como relevantes para explicar a variação do índice de
divulgação de informação de natureza ambiental. Para todas as hipóteses foi utilizado o teste
de Spearman.
17
No que se refere ao teste de H1: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de
divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer
resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.1).
Quadro 2.1. - Correlação entre o nível de divulgação e a RCP no ano de 2010
H 1.1
H 1.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
IDiv
Sig. (2-tailed)
N
RCP
-,277
,410
11
RCP
,260
,174
29
No que se refere ao teste de H2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível de
divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que existe, para um nível de
significância de 5%, uma correlação de 0,413 com a rendibilidade no caso das empresas
integrantes do índice bolsista espanhol (Quadro 2.2).
Quadro 2.2. - Correlação entre o nível de divulgação e a RCP no ano de 2011
H 2.1
H 2.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
IDiv
Sig. (2-tailed)
N
RCP
-,353
,287
11
RCP
,413*
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
No que se refere ao teste de H3: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de
divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer
resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.3).
Quadro 2.3. - Correlação entre o nível de divulgação e a dimensão no ano de 2010
H 3.1
H 3.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
IDiv
Sig. (2-tailed)
N
VN
-,437
,207
10
VN
,139
,472
29
18
No que se refere ao teste de H4: Existe uma relação positiva entre a dimensão e o nível de
divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe qualquer
resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.4).
Quadro 2.4. - Correlação entre o nível de divulgação e a dimensão no ano de 2011
H 4.1
H 4.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
IDiv
Sig. (2-tailed)
N
VN
,055
,879
10
VN
,235
,219
29
No que se refere ao teste de H5: Existe uma relação positiva entre a certificação ambiental e
o nível de divulgação no ano de 2010 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe
qualquer resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.5).
Quadro 2.5. - Correlação entre o nível de divulgação e a certificação ambiental no ano de 2010
H 5.1
H 5.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
ISO14001
-,345
,298
11
ISO14001
,235
,219
29
No que se refere ao teste de H6: Existe uma relação positiva entre a certificação ambiental e
o nível de divulgação no ano de 2011 (em Portugal e Espanha), verifica-se que não existe
qualquer resultado estatisticamente significativo (Quadro 2.6).
Quadro 2.6. - Correlação entre o nível de divulgação e a certificação ambiental no ano de 2011
H 6.1
H 6.2
Spearman's rho
Spearman's rho
Correlations
Portugal
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
Espanha
Correlation Coefficient
Idiv
Sig. (2-tailed)
N
ISO14001
-,535
,090
11
ISO14001
-,330
,081
29
Conforme se pode verificar apenas uma hipótese foi verificada, ainda que parcialmente, dado
que somente a sub-hipótese H 2.2: Existe uma relação positiva entre a rendibilidade e o nível
de divulgação no ano de 2011, em Espanha foi validada. As restantes hipóteses, dado não
19
existir evidência estatística acerca da relação entre as variáveis, não permitem concluir uma
relação causa-efeito entre as mesmas.
Estes resultadoss permitem-nos concluir que, para os anos 2010 e 2011, não se verificou uma
relação entre a divulgação de informação ambiental e variáveis inerentes à entidade que
poderiam explicar o nível dessa divulgaçao, como sejam, a rendibilidade, a dimensão e a
certificação ambiental (obtida ou não).
5 – Conclusão
A já assumida crescente preocupação com as matérias ambientais e a responsabilidade social
por parte das empresas, tem vindo a aumentar o nível de divulgação de informação voluntária,
tendo como objetivo informar todos os stakeholders da imagem verdadeira e apropriada da
empresa, e com isso ganhar competitividade no universo empresarial.
São factores como a reputação e questões relacionadas com a ética que motivam as empresas
a procederem à divulgação de informação das empresas, obtendo com isso alguns benefícios
como uma maior gestão ou minimização do risco, ou até conseguir uma maior confiança por
parte de investidores ou instituições financeiras.
Assim, da análise univariada, e tendo por objetivo encontrar o peso relativo das empresas que
adotam o modelo GRI no relato da sustentabilidade, concluiu-se que, em ambos os anos em
análise, existe um número bastante superior de empresas (em termos relativos) pertencentes
ao IBEX35 que utilizam o modelo GRI, quando comparado com as empresas pertencentes ao
PSI20.
Em suma, e em termos evolutivos, em relação ao PSI20 concluiu-se que existe um maior
nível de divulgação em 2010 do que em 2011, tendo havido, portanto, uma evolução negativa,
no entanto nas empresas pertencentes ao IBEX35 não houve diferenças significativas em
2011 face a 2010. Para efeitos do referido índice de divulgação ambiental, os resultados
obtidos em cada um dos anos em análise não sofre uma variação significativa e não difere
entre os países em estudo. Assim, as entidades que integram o PSI20 e o IBEX 35 divulgam
em média 25 dos 30 indicadores ambientais passíveis de ser divulgados, mantendo este
comportamento estável ao longo do período analisado.
Em termos de explicação do nível de divulgação ambiental efectuado, não se verificou
qualquer relação significativa com os factores explicativos definidos: rendibilidade dos
capitais próprios, dimensão e existência (inexistência) de certificação ambiental, apesar de no
20
ano 2011, para as entidades pertencentes ao IBEX35, se ter verificado uma correlação de
41,3%, para um nível de significância de 5%, entre o índice de divulgação ambiental e a
rendibilidade.
Note-se que apesar dos fatores explicativos utilizados neste trabalho serem considerados por
diversos autores, outros poderiam ser analisados com intuito de os validar ou rejeitar no
contexto da divulgação voluntária de informação.
6 - Bibliografia
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a divulgação ambiental de acordo com a estrutura da global