II Seminário de Ciências Contábeis, Blumenau, SC, de 22 a 24 de Agosto de 2006 A DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO E SUA DISTRIBUIÇÃO: UM ESTUDO DE CASO NUMA COOPERATIVA DE PRODUÇÃO DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Cátia Raquel Felden Mestranda em Desenvolvimento Unijui – Ijui-RS. Professora do Curso de Economia e Engenharia da Produção da Faculdade de Horizontina-FAHOR e-mail: [email protected]. Neusa Maria Gonçalves Salla Mestre em Ciências Contábeis FEA/USP Professora do Curso de Ciências Contábeis e Administração da URI – Santo Ângelo e-mail: [email protected]. RESUMO O presente estudo de caso foi desenvolvido numa cooperativa de produção e teve como propósito elaborar a Demonstração do Valor Adicionado, demonstrar como a sua geração de riqueza é distribuída entre os seus colaboradores, governo, seus financiadores e para os seus associados. A elaboração da DVA teve como base as demonstrações financeiras do período de 2003, 2004 e 2005. Após a mensuração da riqueza gerada pela cooperativa e a sua distribuição, foram extraídos e analisados os seguintes dados: análise da riqueza criada entre os seus colaboradores, governo, financiadores e associados; quociente entre o valor adicionado e o seu faturamento total; quociente entre ativo total e valor adicionado e o quociente entre valor adicionado dos anos de 2005, 2004 e 2003. Na análise conclusiva percebeu-se que no período de 2003 e 2004 mais de 50% da riqueza gerada foi destinada aos seus colaboradores (salários e benefícios) e associados (sobras operacionais). Este índice á altamente favorável, pois evidencia que a entidade está colaborando para o desenvolvimento da sociedade onde esta inserida, contribuindo e incentivando o crescimento dos seus funcionários e fomentando as atividades dos seus associados. No período de 2005, devido a influencias econômicas negativas, a cooperativa em estudo, foi fortemente abalada, no entanto continua desempenhando o seu papel na sociedade, ao defender os interesses de seus associados, gerar empregos, e em conseqüência contribui para o desenvolvimento da sociedade onde esta localizada, através da distribuição do valor adicionado que gera. Palavras-chaves: associados, colaboradores, cooperativas, demonstração do valor adicionado, distribuição de riqueza. 1. INTRODUÇÃO Os meios e as formas de comunicação que a Contabilidade utiliza ao longo do tempo são as demonstrações contábeis exigidas pela Lei 6406/76, de fundamental importância para a entidade, e na tomada de decisões pelos dirigentes. Mas o que vem acontecendo atualmente, é o 2 surgimento de um novo usuário destas informações, trata-se da sociedade, esta vem exigindo que as empresas adotem uma postura eticamente correta com os seus grupos de stakeholders1. A contabilidade de uma empresa ou cooperativa, não pode apenas exercer a função de atender a legislação fiscal ou através das demonstrações contábeis mensurar se a empresa apresentou lucro ou prejuízo num determinado período. A contabilidade é o gargalo de todos os atos de compra, venda e produção de uma empresa/indústria, podendo extrair o quanto de despesas e receitas a empresa gerou, e fornecendo informações preciosas para a tomada de decisão dos gestores. Na atualidade as demonstrações contábeis exigidas por Lei não conseguem evidenciar o quanto de riqueza a empresa conseguiu gerar e nem como a mesma esta sendo distribuída. Com o intuito de sanar este problema surgiu a Demonstração do Valor Adicionado, que é um relatório contábil não exigido por lei, que visa demonstrar o valor da riqueza gerada pela empresa e a sua distribuição para os elementos que contribuíram para sua geração A proposta desse trabalho é de demonstrar como a riqueza foi gerada, bem como sua distribuição por uma cooperativa de produção situada no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, fazendo o relato da sua real contribuição, a seus colaboradores, associados e à sociedade na qual esta inserida. Para a obtenção desses resultados, foi utilizada a Demonstração do Valor Adicionado – DVA. A Demonstração do Valor adicionado surgiu para evidenciar o quanto de valor a empresa adiciona aos insumos que adquire de terceiros. Esta evidenciação representa uma ferramenta importante tanto para o usuário interno quanto para o externo (acionistas, administradores, fornecedores, clientes, governos). A Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração do Valor Adicionado possuem enfoques distintos, e objetivam fornecer informações sob pontos de vista diferentes. As demonstrações contábeis obrigatórias até o momento, atendem adequadamente o seu principal objetivo, que é o de evidenciar o resultado da empresa aos seus investidores e a legislação fiscal vigente. Entretanto, devido as transformações socioeconômicas advindas da sociedade pós-industrial, surgiram diferentes tipos de necessidades e novos usuários das informações geradas pela contabilidade. A Demonstração do Resultado do Exercício apura o lucro final, avalia a parte da riqueza criada pela empresa que se destina ao proprietário. A DVA é uma inovação em termos de demonstração contábil, pois em geral as demais demonstrações contábeis preocupam-se em evidenciar para os investidores qual o lucro da empresa e como ele foi formado. A DVA está implicitamente contida no Balanço Social, e indica claramente à parte de riqueza que pertence aos sócios, aos demais capitalistas que financiam a entidade (capital de terceiros), aos empregados, bem como a parte que fica com o governo. Esta demonstração surgiu com o intuito de fornecer uma visão abrangente sobre a real capacidade de uma empresa produzir riqueza, no sentido de agregar ou adicionar valor em seu patrimônio e sobre a forma de como distribui esta riqueza criada. Os objetivos desta pesquisa foi a identificação do valor da riqueza gerada pela cooperativa e apresentação de como é feita a sua distribuição. Num segundo momento, será demonstrada a 1 Os stakeholders são constituídos por grupos ou pessoas que influenciam ou são influenciados pela atividade da organização. A teoria dos stakeholders é recente. Foi citada pela primeira vez por Edward Freeman (1991), que em seu texto define o termo stakeholders como qualquer grupo ou indivíduo que é afetado ou que afeta o alcance dos objetivos das organizações. 3 análise dos dados obtidos na entidade para identificar como distribuiu a sua riqueza aos seus associados, colaboradores, governo e financiadores. 2 Conceituação da Cooperativa As cooperativas são uma sociedade de pessoas com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita a falência, constituída para prestar serviços a seus associados (número mínimo de 20 pessoas físicas). É uma empresa com dupla natureza, que contempla o lado econômico e o social de seus associados. O cooperado é ao mesmo tempo dono e usuário da cooperativa: enquanto dono ele vai administrar a empresa e enquanto usuário ele vai utilizar os serviços. O fato das cooperativas serem classificadas como entidades sem fins lucrativos, não significa que elas estão isentas de todos os impostos. A sustentação das cooperativas origina-se do seu quadro social, sob a forma de retenções e de contribuições sociais, cujos excedentes são sobras ao invés de lucros. Esta sustentação interna, é o que permite às cooperativas seu enquadramento como entidades sem fins lucrativos, por direito, uma vez que essas sobras não constituem fato gerador de impostos. Esta classificação é feita em termos, pois todas as operações que uma cooperativa realiza fora de seus objetivos sociais (ato não-cooperativo) têm que ser contabilizados em separado e, havendo resultados positivos, os mesmos são considerados lucros. Logo, a condição de entidade sem fins lucrativos das cooperativas ocorre tão somente nas sobras e está diretamente relacionada ao ato cooperativo. Nas situações restantes, as cooperativas não gozam de nenhuma isenção e são contribuintes obrigatórios, como ocorre nos impostos e taxas (IPTU, IPVA, IOF, entre outros), e em contribuições previdenciárias de seus funcionários diretos. A Lei 5.764/71 é clara, a não incidência de impostos das cooperativas, diz respeito unicamente aos resultados de atos cooperativos2, sendo elas contribuintes dos demais tributos que incidem sobre os empreendimentos lucrativos. A COTRISA Ltda, foi fundada aos 21 dias do mês de dezembro de 1956, por iniciativa de 28 agricultores, que sucedeu à Associação dos Triticultores de Santo Ângelo, fundada em 1955. O objetivo primeiro do surgimento da COTRISA foi a defesa da triticultura na região das Missões (RS-Brasil), tendo sido a primeira cooperativa de produção de trigo do país. O surgimento da Cooperativa deu-se basicamente em função das dificuldades que os produtores de trigo enfrentavam para armazenar e comercializar os seus produtos. Na atualidade, as principais atividades da COTRISA são: recebimento, beneficiamento, armazenagem, industrialização e comercialização de soja, trigo, milho e outros produtos. Na área de insumos para a lavoura, comercializa sementes de soja, trigo, milho, aveia e azevém, além de fertilizantes, corretivos e defensivos. Atualmente possui 21 unidades de recebimento de produtos. A área de abrangência soma 330.000 hectares, englobando os municípios de Santo Ângelo, Catuípe, Entre Ijuís, Eugênio de Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si, quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria Lei 5.764/71, artigo 79, parágrafo único. 4 Castro, Vitória das Missões, São Miguel das Missões, Caibaté, Mato Queimado, Guarani das Missões, Cerro Largo, São Pedro do Butiá, Roque Gonzales e São Paulo das Missões. O seu quadro de associados hoje é composto por 9.352 cooperados, e seu quadro funcional possui 521 colaboradores. Na linha da agroindústria produz: farinhas de trigo marcas Biondina, COTRISA e Dois Pinheiros; rações e concentrados para suínos, bovinos e aves; farinha e canjica de milho; empacotamento de feijão, arroz e milho pipoca; pizzas e lasanhas. Em parceria com empresas do estado, produz o óleo de soja marca COTRISA, pêssego em calda, pepino e massa da marca Dois Pinheiros. No varejo opera com 13 supermercados: Santo Ângelo (2 supermercados), Catuípe, Guarani das Missões, Cerro Largo, São Pedro do Butiá, Roque Gonzales, São Paulo das Missões, Entre Ijuís, Eugênio de Castro, Coimbra, São Miguel das Missões e Mato Queimado. 3 Metodologia Todo ser humano é possuidor de conhecimento. Este é adquirido de duas maneiras: de modo empírico ou por meio de métodos científicos. O conhecimento empírico é também conhecido como popular, ordinário ou proveniente do senso comum. O conhecimento científico provém da submissão de um conhecimento a um método científico. A metodologia descreve os aspectos epistemológicos do estudo, ou seja, o modo como se espera construir um novo conhecimento. Para Lakatos e Marconi (1986), ao submetermos o conhecimento empírico a algum método científico, o transformamos em conhecimento cientifico. O conhecimento cientifico é transmitido pôr intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por procedimentos científicos. A pesquisa quanto a abordagem do problema classificou-se de forma quantitativa e qualitativa. Para Beuren (2003) a pesquisa quantitativa possui uma abordagem quantitativa caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados Beuren (2003), acrescenta seu parecer sobre a pesquisa qualitativa, ao afirmar que na mesma são concebidas análises mais profundas em relação ao fenômeno que está sendo estudado. Os objetivos da pesquisas foram atingidos através da pesquisa exploratória, descritiva e explicativa. Portanto o que determinou o enquadramento em um ou outro tipo de pesquisa, foram os objetivos estabelecidos. A pesquisa assumiu as características de exploratória e descritiva, porque tratou de um estudo de caso no qual foram exploradas as informações dos relatórios fornecidos pela cooperativa, e com posterior levantamento bibliográfico dos assuntos pertinentes ao tema. Posteriormente a pesquisa também tornou-se explicativa, pois foram realizadas análises e interpretação dos resultados obtidos. O estudo de caso é uma pesquisa realizada de maneira mais intensiva, na qual o pesquisador tem a oportunidade de verificar in loco os fenômenos a serem pesquisados. O estudo de caso é caracterizado por Gil (1996), como um estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetivos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo (GIL, 1996). A Pesquisa realizou-se na Cooperativa Tritícola Regional de Santo Ângelo, localizada na cidade de Santo Ângelo (RS). Os resultados foram obtidos através do seus demonstrativos contábeis dos anos de 2003, 2004 e 2005, de seus relatórios e documentos de controles internos. 5 4 Demonstração do Valor Adicionado Do ponto de vista das Ciências Econômicas, mais especificadamente restringindo-se aos aspectos da macroeconomia, o valor adicionado está intimamente ligado à apuração do produto nacional. Do ponto de vista microeconômico, poder-se-ia dizer que o valor adicionado de uma empresa é o quanto de riqueza ela pode agregar aos insumos de sua produção que foram pagos a terceiros, inclusive os valores relativos às despesas de depreciação. Do ponto de vista da Ciência Contábil , poder-se-ia afirmar que a medição ou apuração da riqueza criada pode ser calculada através da diferença aritmética entre o valor das vendas e os insumos pagos a terceiros mas as depreciações. De Luca (1998), define a Demonstração do Valor Adicionado como o quanto de valor ela agrega aos insumos que adquiri num determinado período e é obtido, de forma geral, pela diferença entre as vendas ou produção e o total dos insumos adquiridos de terceiros. Este valor será, ainda, igual à soma de toda a remuneração dos esforços consumidos na atividade da empresa. 4.1 Valor Adicionado na Empresa O conceito de valor adicionado na economia é utilizado para mensurar as atividades econômicas de uma nação através da definição do seu Produto Nacional. Um dos elementos mais importantes e diretamente responsável pela produção econômica nacional é a empresa. As empresas compõem o sistema de produção da economia nacional, produzindo os bens e serviços que atendem às necessidades de consumo e de acumulação da sociedade. Para De Luca (1998), estreitamente relacionada com o conceito de responsabilidade social, a Demonstração do Valor Adicionado surgiu para atender às necessidades de informação dos usuários sobre o valor da riqueza criada pela empresa e sua utilização. Ainda, segundo De Luca (1998), o valor adicionado da atividade produtiva é obtido pela diferença entre a Receita de Vendas (ou produção) e os Materiais e Serviços Adquiridos de Terceiros (consumo intermediário). O Valor adicionado total dos negócios representa a soma do valor adicionado da atividade produtiva e dos ganhos obtidos pelas aplicações de recursos que geraram riqueza em outra empresa ou atividade. Deste modo, a distribuição do valor adicionado apresenta separadamente a parcela que se destina à remuneração de cada elemento que contribui para sua formação: • empregados: remuneração pela força de trabalho; • financiadores: remuneração pelos recursos emprestados; • governo: remuneração pela estrutura social, política e econômica que gera condições de operações no meio ambiente; • acionistas: remuneração pelo capital investido na empresa. 4.2 Elaboração da Demonstração do Valor Adicionado A Demonstração do Valor Adicionado é elaborada em duas partes: na primeira parte é apresentada a geração do valor adicionado, na segunda distribuição do Valor Adicionado. Para Santos (2003), a Demonstração do Valor Adicionado–DVA, é um importante componente do Balanço Social e tem como principal objetivo a apresentação do valor da riqueza gerada pela entidade e a forma de distribuí-la. Essa demonstração não pode e não deve ser 6 confundida com a Demonstração do Resultado do Exercício e nem tampouco o EVA – Economic Value Added”. 4.3 Cálculo da riqueza gerada pela Cotrisa e a sua distribuição O valor adicionado da Cooperativa Agrícola Tritícola Regional de Santo Ângelo Ltda – Cotrisa, foi calculado com base nos períodos de 2003, 2004 e 2005, por meio de dados extraídos da Demonstração do Resultado do Exercício e com informações extraídas dos relatórios internos fornecidos pela contabilidade da cooperativa. A DVA foi calculada utilizando-se o modelo contábil, ou seja, por meio da diferença das receitas geradas menos os serviços adquiridos de terceiros. As receitas operacionais da Cotrisa Ltda são formadas por meio da comercialização de produtos agropecuários, mercadorias e insumos, vendas de bens de fabricação própria e pela prestação de serviços. Nos períodos de período de 2004 e 2005 a Cotrisa Ltda agregou aos seu faturamento resultados positivos obtidos de receitas financeiras. As retenções do valor adicionado são representados pelos insumos adquiridos de terceiros, como: custo de mercadorias vendidas, materiais, serviços de terceiros e a perda ou ganhos de valores ativos. O modelo de distribuição da riqueza gerada pela Cotrisa Ltda, foi elaborado de acordo com Santos ( 2003) : • Pessoal e encargos – nesse item estão incluído os salários dos funcionários, 13º salário, benefícios, encargos sociais ( FGTS, INSS,), despesas com transportes, e no período de 2004 os funcionários receberem um incremento na sua renda, trata-se do Programa de Participação dos Resultados; • Impostos taxas e contribuições (governo) – nesse item estão incluído a parcela da riqueza gerada que a Cotrisa destina ao governo em forma de impostos como: Imposto de renda, contribuição social, os demais impostos e taxas e contribuições a nível federal, estadual e municipal. Os valores referentes ao ICMS-IPI devem ser considerados como os valores devidos ou já recolhidos aos cofres públicos representando a diferença entre impostos incidentes sobre as vendas e os valores considerados, como Insumos Adquiridos de Terceiros. • Juros e alugueis – nesse item foram considerados as despesas financeiras e as de juros relativas a quaisquer tipos de empréstimos e financiamentos junto a instituições financeiras, empresas do grupo ou outras e os alugueis (inclui-se as despesas com leasing ) pagos ou creditados a terceiros; • Lucros retidos/ prejuízos do exercício – esse termo foi adaptado no cálculo da distribuição, por tratar-se de uma cooperativa, o termo designado foi “sobras operacionais”. Nesse item estão contidas as sobras ou perdas do período em análise. Quadro 01: Demonstração do Valor Adicionado e sua distribuição Empresa: Cotrisa Ltda 1- RECEITAS 1.1 Vendas de produtos agropecuários 1.2 Vendas de Mercadorias e insumos 1.3 Vendade Bens de fabricação própria 1.4 Prestação de Serviços 1.5 Demais ingressos e receitas operacionais 1.5 Não Operacionais 1.6 Devoluções 2- INSUMOS ADQUERIDOS DE TERCEIROS 2.1 Materias-primas,energia, serviços de terceiros e outros 2.2 Custos de mercadorias e serviços vendidos 2.3 Perda/ Recuperação de Valores ativos 2005 R$ 127970101 62464376 43264872 17912853 596529 8129397 41966 -4439891 110746957 9646851 101100106 2004 R$ 187233531 109730264 57160861 17090470 1109653 5113397 47125 -3018239 170769938 16606180 154163757 2003 R$ 198004048 127218044 51274009 15887621 474575 5197358 -110908 -1936651 181981237 8069299 173911938 7 3- VALOR ADICIONADO BRUTO 4- RETENÇÕES 4.1 Depreciação, amortização e exaustão 5- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PROD PELA ENTIDADE (3 - 4) 6- VALOR ADICIONADO LÍQUIDO RECEBIDO EM TRANSF 6.1 Resultado de Equivalência Patrimonial 6.2 Receitas Financeiras 7- VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIB (5 + 6) 8- DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 8.1 Pessoal e Encargos Sociais 8.2 Impostos, taxas e Contrib 8.3 Juros financeiros 8.5 Sobras operacionais 17223144 1689843 1689843 15533301 1410072 0 1410072 16943374 16943374 9483764 6107465 3061536 -1709391 16463594 1441772 1441772 15021822 5526899 683384 4843515 20548720 20548720 8802499 5778063 3766656 2201503 16022811 1265157 1265157 14757654 -136110 688564 -824675 14621543 14621543 7539413 3852821 3028497 200813 Fonte: Cotrisa Ltda, 2003, 2004 e 2005. Para Santos (2003), a DVA é uma ferramenta de análise na qual pode-se perceber como a riqueza produzida pela organização esta sendo distribuída. Após a elaboração da DVA, devidamente conciliada com o DRE, foi extraído os quocientes que permitirão uma análise mais consistente da riqueza criada pela empresa. Para este cálculo utilizou-se os quocientes propostos por Santos ( 2003), que são: • Distribuição do valor adicionado entre: colaboradores, governo, financiadores e associados; • Quociente entre valor adicionado e faturamento; • Quociente entre ativo total e valor adicionado; • Quociente entre valor adicionado do ano em relação ao ano anterior; 4.3.1 Análise da riqueza criada pela Cotrisa Ltda, entre: seus colaboradores, governo, financiadores e associados. O resultado desse quociente indica qual o montante (percentual) da riqueza gerada que a Cotrisa Ltda destinou aos seus colaboradores, governo, financiadores e associados. A informação extraída por esse índice é de grande valia, e pode auxiliar na solução de enormes discussões travadas entre sindicalistas ou representantes de empregados ou sindicatos patronais. Este instrumento, não deve encerrar discussões, mas tem muito a contribuir para a indicação das soluções entre empregadores e empregados (SANTOS,2003). No ano de 2003 foi destinados aos colaboradores da Cotrisa Ltda 51,56% da riqueza criada, em 2004 este valor foi reduzido para 42,84%, e no ano seguite, 2005, 56%. A redução no percentual de riqueza distribuída no ano de 2004, em relação a 2005, não pode ser considerada negativa, pois o valor de gastos com salários e benefícios em 2004 aumentou, e com o aumento das sobras operacionais, uma parte dela foi destinada para os colaboradores, através do programa de participação nos resultados. No ano de 2005, não houve distribuição de resultados para os funcionários, pois o exercício fechou com prejuízo. No período de 2004, 28,12% da riqueza produzida pela Cotrisa Ltda foi destinada ao governo, sobre a forma de impostos, taxas e contribuições, em 2003 este percentual foi de 26,35%. Em 2005 mesmo com uma redução no seu faturamento, este índice aumentou, fechou em 36%, devido a influências das políticas tributárias no governo. Já, à parte da riqueza distribuída, as instituições financiadoras, sofreu redução no ano de 2004, em relação a 2003, e no ano de 2005 permaneceu estável. Em 2003 foi distribuído sobre a forma de juros financeiros 20,71 % da riqueza gerada e em 2004 18,33%, e no ano seguite 2005, 18,07. Estes resultados demonstram que a COTRISA Ltda, diante da grave crise na agricultura, iniciada em 2004 e prolongada até 2005, esta conseguindo obter uma redução em seus passivos financeiros. 8 Do período em análise, percebe-se que houve uma melhora na forma de distribuição da riqueza gerada do ano de 2003 para 2004. Os valores de riqueza destinada aos seus colaboradores e associados aumentaram. A distribuição da riqueza ao governo (impostos, taxas , contribuições) aumentou, e o valor destinado as instituições financiadoras ( juros), teve uma queda. O ano de 2003 fechou com resultado positivo, as sobras operacionais representaram 1,37% do valor da riqueza criada pela COTRISA LTDA, em 2004 este índice obteve excelente desempenho e fechou em 10,71%. No ano de 2005 a cooperativa fechou o período com prejuízo, acumulando um prejuízo de R$ 1.709.390,65. O principal fator que contribuí para a formação do resultado negativo no período de 2005, foi a baixa cotação da saca de soja, principal produto comercializado pela cooperativa em estudo. 4.3.2 Quociente entre valor adicionado e faturamento total Este quociente também chamado de produtividade das vendas, indica o quanto cada unidade monetária vendida pela Cotrisa Ltda transformou-se em riqueza criada. Através desse índice percebe-se que em 2003 o valor adicionado representava 7% do seu faturamento total, e em 2004 este índice aumentou para 11 %, embora a Cotrisa Ltda tenha obtido um faturamento maior no período de 2003 em relação a 2004. Atribuir-se este aumento do valor adicionado em relação ao faturamento, por uma redução de custos no período de 2004, pois em 2003 o CMV representava 88 % do faturamento total, e em 2004 este índice reduziu para 82%. No período de 2004, 3 % da sua receita total foi constituída por ganhos financeiros, e em 2003 a Cotrisa Ltda obteve resultado negativo em suas operações financeiras. No ano de 2005, este quociente elevou-se para 13%, no entanto, este aumento não foi considerado negativo, visto que foi decorrente de uma redução no faturamento, e não de um aumento efetivo da riqueza gerada. 4.3.3 Quociente entre ativo total e valor adicionado Este índice representa o volume de capitais que foram aplicados para a obtenção da riqueza gerada pela Cotrisa Ltda. Santos (2003), considera o capital intelectual (humano) um fator importante na geração da riqueza da empresa, e lamenta que este ainda não seja reconhecido em seus ativos. As cooperativas formam um setor que detêm um alto grau de ativos imobilizados, esse fato muitas vezes faz com que elas venham a ter problemas no seu capital de giro. No ano de 2003 , 37% do ativo total da Cotrisa Ltda era composto por ativos imobilizados, esta situação não sofreu grandes alteração em 2004, pois esse índice teve uma pequena queda, 36%. O ativo total da Cotrisa Ltda, que é composto pelo Ativo Circulante, Exigível a Longo Prazo e Ativo Permanente. No período de 2003 o valor adicionado correspondia a 18 % do ativo total, em 2004 este índice obteve um crescimento, e representou 23%, em 2005 manteve-se praticamente estabilizado, em 22%. Através do resultado do quociente entre ativo total e valor adicionado, é possível demonstrar que a riqueza gerada pela Cotrisa Ltda, teve um aumento superior ao crescimento do seu ativo, nos períodos de 2003 e 2004 a riqueza aumentou 41% de um período ao outro, e o ativo total 11%. No período de 2005, o ativo total sofreu uma redução em relação há 2004, devido há uma retração de –38,71% de seu ativo circulante, devido a crise no setor agrícola vivenciada neste período, como já mencionada anteriormente. 4.3.4 Quociente entre valor adicionado dos anos de 2005, 2004 e 2003 Nas empresas é normal que se façam comparações entre vendas/custos de um período em relação a outro, para a construção de análises que irão auxiliar os gestores na toma de decisão. No 9 momento em que se compara o valor adicionado de um período com o outro, deve-se observar que o aumento do valor adicionado, não significa um aumento da riqueza criada, pois a empresa pode estar pagando mais impostos ou encargos financeiros SANTOS, 2003). Através da análise desse quociente é possível observar que a Cotrisa Ltda conseguiu obter um aumento significativo do valor que adiciona aos insumos adquiridos de terceiros, 41 %, de 2003 para 2004. Evidencia-se que esse aumento foi condicionado principalmente pela parte da distribuição da riqueza criada que destinada-se aos associados, pois em 2003 coube aos cooperados, 1,37% da riqueza gerada, ou seja, de sobras operacionais, e em 2004 10,71%. A parte da riqueza, que coube ao governo, também elevou-se, no ano de 2003 representava 26,35% da riqueza total criada, e em 2004 28,12% do valor que a Cotrisa Ltda adicionou aos produtos que adquiriu de terceiros foi destinada ao governo, sobre a forma de impostos, taxas e contribuições. No ano de 2005, é visível o quanto a queda no seu faturamento em relação a 2004 (32,88%), influenciou no distribuição do seu valor adicionado. Esta redução na sua receita operacional provocou prejuízo, não havendo sobras operacionais a distribuir para os seus associados, e fez com que não houvesse distribuição da participação do resultados para o seus colaboradores, prejudicando duplamente a distribuição do valor adicionado da cooperativa. 5. ANÁLISES CONCLUSIVAS O crescente dinamismo existente no mercado faz com que as cooperativas tenham que estar preparadas para superar os desafios que lhes são apresentados. O ramo agrícola possui variáveis que influenciam na sua produção, e que não podem sofrer interferência da ação do homem para controlar e diminuir os riscos e as incertezas, estas variáveis são representadas pelo clima e pelo valor dos produtos agrícola. O clima influencia no plantio e na colheita, longas estiagens comprometem a planta, e o excesso de chuvas no período da colheita provocam quebra na produção e queda na qualidade. O valor dos produtos agrícolas sofrem influencia da cotação do dólar, que por sua vez é influenciado por diversos fatores econômicos; e o valor das comodities também estão condicionados a análise do estoque mundiais. No período de 2004 a Cotrisa Ltda teve um crescimento considerável nas suas sobras operacionais. Esse resultado favorável foi conseqüência de um cenário econômico/financeiro favorável. O clima favoreceu o plantio e a colheita, e o valor dos produtos agrícolas estava fixado acima da média. Destaca-se na análise conclusiva o valor da riqueza criada e como ela foi distribuída entre: os colaboradores, o governo, os financiadores e associados. O aumento das sobras operacionais ocasionou o aumento da riqueza gerada, conforme análise dos períodos de 2003 e 2004 . Através da análise dos dois períodos (2003/2004), tornou-se possível mensurar o quanto a Cooperativa Tritícola Regional de Santo Ângelo–Cotrisa Ltda, trouxe de beneficio a sociedade que esta inserida. Nesse respectivo período, mais de 50% da soma da sua riqueza gerada foi destinada aos seus colaboradores e associados, isto representa 52,92 em 2003 e 53,55 em 2004. Ao governo, através de tributos, a Cotrisa Ltda destinou no ano de 2003 26,35% do seu valor adicionado, e em 2004 28,12%. No ano de 2005, a COTRISA Ltda, passou por uma situação oposta ao de 2004, a estiagem que iniciou ao final do ano de 2004, prolongou-se em 2005, ocasionando enormes prejuízos na colheita. Aliada a este quadro desfavorável, o valor da saca de soja teve que ser comercializado abaixo do custo de produção agrícola. Estas duas variáveis acarretaram enormes prejuízos para a COTRISA Ltda, e seus associados. 10 Este cenários econômico/ financeiro desfavorável para o setor agrícola, além de acumular prejuízos aos associados, estendeu-se aos colaboradores da cooperativa. Como a cooperativa fechou o ano de 2005 com prejuízos, não foi possível a distribuição da participação dos resultados operacionais aos seus colaboradores. Observa-se que nem sempre é positivo para uma empresa, o fato do valor adicionado aumentar de um ano para o outro, deve-se analisar o porquê, pois em alguns casos esse crescimento pode estar condicionado ao aumento de juros pagos a instituições financeiras, fato que não é favorável para a empresa em questão. Nos períodos de 2003 e 2004, o fator que teve maior influencia no aumento do valor adicionado foi o crescimento das sobras operacionais, ou seja, valor que destina-se aos associados ou é reinvestido no negócio. Este estudo demonstrou que apesar das dificuldades que as cooperativas enfrentam, principalmente financeiras, decorrentes de fatores determinados na maioria das vezes pelo ambiente externo, as cooperativas continuam a desempenhar o seu papel na sociedade. Uma cooperativa defende os interesses e promove o crescimento de seus associados, gera empregos, e em conseqüência contribui para o desenvolvimento da sociedade onde esta localizada, através da distribuição do valor adicionado que gera. BIBLIOGRAFIA BEUREN, Ilse Maria. Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2003. CRC, Conselho Regional de Contabilidade do RS. Estrutura das demonstrações contábeis. Porto Alegre, CRC. DE LUCA, Márcia Martins Mendes. Demonstração do valor adicionado: do cálculo da riqueza criada pela empresa ao valor do PIB. São Paulo: Atlas, 1998. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996. IRION, J. E. Cooperativismo e economia social. São Paulo. STS, 1997. IUDICIBUS, Sergio. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas,1993. _______. Análise de balanços. São Paulo: Atlas, 1992. _______. Análise financeira das empresas. São Paulo: Atlas, 1992. 11 KROETZ, César Eduardo Stevens. 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