Delineamento de estudos observacionais I e II Flávio E. Hirai Médico Assistente Departamento de Oftalmologia – Universidade Federal de São Paulo Mestre em Saúde Pública e PhD em Epidemiologia Johns Hopkins University, Baltimore, EUA Agenda de hoje • Rever 2 conceitos • Definição estudos observacionais • Quais são estudos observacionais – Desenho de cada estudo – Vantagens – Desvantagens • Exemplos E D E D Exposição Doença Fator de risco Doença Exposição Cura Fator protetor Não doença Tratamento Cura Teoria da causalidade E D causa Fator de risco Cigarro Doença Câncer de pulmão Fumantes % Câncer de pulmão Não fumantes % Câncer de pulmão Fumantes % Câncer de pulmão Não fumantes % Câncer de pulmão Fumantes: 20% Câncer de pulmão Não fumantes: 10% Câncer de pulmão 0.20/0.10 = 2.0 Teoria Contrafactual (counterfactual) E D Exposição Doença Fator de risco Doença Exposição Cura Fator protetor Não doença Tratamento Cura Maleato Timolol PIO Placebo PIO Timolol: 30% Diminuição PIO Placebo: 10% Diminuição PIO 0.30/0.10 = 3.0 Teoria Contrafactual (counterfactual) COMPARAÇÃO!!! Teoria Contrafactual (counterfactual) Isso é uma teoria! Na prática é impossível termos os 2 grupos!! Portanto, nós temos que montar o grupo contrafactual! GRUPO CONTROLE E D Amostragem Medida “REAL” Medida “REAL” Se examinarmos todos os indivíduos! Medida REAL Exceção Amostragem Amostragem Impossível medirmos todos os indivíduos! Amostra da população Medida próxima da “real” (parâmetros) Amostragem • Selecionar uma população que represente a população de origem • Seleção aleatória – Estudos populacionais • Seleção por conveniência – Ensaios clínicos (voluntários) Tipos de estudo 1. 2. 3. 4. 5. Série de casos (case series) Estudos transversais (cross-sectional) Estudos caso-controle (case-control) Estudos de coorte (cohort studies) Ensaios clínicos (clinical trials) Tipos de estudo 1. 2. 3. 4. 5. Série de casos (case series) Estudos transversais (cross-sectional) Estudos caso-controle (case-control) Estudos de coorte (cohort studies) Ensaios clínicos (clinical trials)Estudoosnais i c a v r e obs Estudos observacionais • • • • Observação Associação entre fatores e desfecho Sem intervenção Não experimental Estudo transversal • Estudo de prevalência • “Snapshot” da situação • Avaliação da situação atual - descrição Estudo transversal - Vantagens • Avaliação de prevalência – Importante medida em Saúde Pública – Planejamento – Geração de hipóteses • Avaliação vários fatores de risco/desfechos • Não há perda de seguimento (“follow-up”) • Não tão caros quanto os de coorte Estudo transversal - Devantagens • Sem relação temporal “Vende mais porque é fresquinho…ou é fresquinho porque vende mais? • Não é possível determinar relações causais Estudo caso-controle • Classicamente descrito como retrospectivo • Seleção de casos e controles e avaliamos fatores de risco Doença vs. Não Doença Estudo caso-controle Vantagens • Doenças raras • Custo baixo (custo-tempo efetivo) • Tamanho de amostra reduzido • Múltiplos fatores de risco Estudo caso-controle Desvantagens • Somente 1 doença • Viés de seleção • Pode depender de informações já coletadas (prontuários) • Não calculamos incidência de doença Estudo de coorte • Classicamente descrito como prospectivo • Coorte = grupo de pessoas • Baseline + follow-ups Expostos vs. Não Expostos Estudo de coorte - Vantagens • Estudar novos fatores de risco • Estudar vários desfechos • Medir incidência de doença – medida de risco • Estudar história natural doenças • Fator temporal – sequência E D Estudo de coorte - Desvantagens • Estudos grandes e caros • Não é bom para doenças raras • Perda de seguimento (follow-up) • Considerar mudanças de tecnologia, tratamentos, comportamento, etc Fatores de Risco Incidência de doenças 2001 2011 2021 Fatores de Risco Doença e Não Doença COORTE CASO-CONTROLE Fatores de Risco Incidência de doenças 2001 2011 2021 Fatores de Risco Doença e Não Doença COORTE COORTE RETROSPECTIVO Tópicos abordados • Teoria causalidade (contrafactual) • Amostragem • Tipos de estudos Os passos da pesquisa Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Definições Coleta de dados Variáveis do estudo Análise estatística Resultados Conclusões Os passos da pesquisa Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Definições Coleta de dados Variáveis do estudo Análise estatística Resultados Conclusões Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Hipótese científica • Qual a “pergunta” do seu estudo? – Clara e objetiva – Normalmente uma pergunta e não várias E D Análise estatística Maleato de timolol diminui a PIO? O uso do maleato de timolol comparado com placebo diminui a PIO? “Rationale” • • • • Motivo para realizar a pesquisa Ético (lembrar dos animais!) Plausível Mecanismos biológicos, epidemiológicos, genéticos que justifiquem o estudo • Nunca “fazer por fazer” • Conhecimento novo • Estímulo ao senso crítico Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística Tipo de estudo Ensaios clínicos (clinical trials) Estudos de coorte (cohort studies) Estudos caso-controle (case-control) Estudos transversais (cross-sectional) Série de casos (case series) Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística População do estudo • Importante saber escolher a população • Cuidado com viés de seleção • Validade externa – Generalização dos resultados – Amostragem – Estudos populacionais População Evitar viés de seleção!!! Amostra Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística População do estudo Hipótese científica Tipo de estudo Tamanho da amostra Cálculo deve ser realizado ANTES de iniciar o estudo População do estudo Coleta de dados Parâmetros: Alfa: erro tipo I (0.05) Beta: erro tipo II (0.20) Delta: diferença a se detectar 1- beta = poder estatístico Definições Análise estatística Responsabilidade do pesquisador Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Coleta de dados • Muito rigor na coleta dos dados – Controle de qualidade – Validade dos resultados • Montar protocolos Definições Análise estatística Evitar viés de informação!!! – Questionários – Questões fechadas, simples e objetivas – Validade dos questionários – Coletar dados importantes Controlar • Sexo, idade – Codificação fatores de confusão!!! Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Coleta de dados • Instrumentos calibrados e válidos – Tonômetros, paquímetros, etc – Medida acuidade visual ETDRS • LogMar Definições Análise estatística Evitar viés de informação!!! Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística Coleta de dados • Como determinar o que colocar nos questionários? Quais instrumentos utilizar? – Experiência clínica – Literatura científica – Disponibilidade PLANEJAMENTO Um pequeno detalhe… • Quem mandou estudar Oftalmo??? • 2 olhos…e isso requer alguns cuidados… • Isso não é regra! – (mas aplica-se a maioria dos casos) • Para mostrar a importância de visitar o estatístico ANTES! • Eles sempre tem um truque na manga… Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística Definições • Muito importante • Definir TODAS as variáveis O uso do maleato de timolol comparado com placebo diminui a PIO? • O que é diminuir a PIO? – Abaixo de 21mmHg? – Abaixo de 18mmHg? – PIO = 12mmHg? Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Definições Análise estatística Definições Hipótese científica Tipo de estudo População do estudo Coleta de dados Análise estatística • Análise descritiva – Descrever população do estudo – Frequências, proporções • Análise “crua” Definições Análise estatística – Análise univariada • Análise multivariada – Controlar fatores de confusão – Modelos de regressão (logística, linear, etc) Exemplo – análise descritiva Hirai FE, Adán CBD, Sato EH. Fatores associados à qualidade da córnea doada pelo Banco de Olhos do Hospital São Paulo. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(1):57-61. Exemplo – análise multivariada Hirai FE, Adán CBD, Sato EH. Fatores associados à qualidade da córnea doada pelo Banco de Olhos do Hospital São Paulo. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(1):57-61. Métodos • População do estudo – Critérios inclusão e exclusão – Critérios de seleção – Tamanho da amostra • Procedimentos – Coleta de dados • Definições • Análise estatística • Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Estudo de caso-controle • Pergunta do estudo: uso de telefone celular aumenta o risco de tumor cerebral? E D Celular vs. Tumor Cerebral • População estudo – Casos: tumores cerabrais primários diagnosticados no último ano (CID9 191.0-191.9) confirmados com diagnóstico histológico – Controles: pacientes do mesmo hospital admitidos por condições benignas • Pareamento (matching): idade, sexo, raça e mês de admissão Celular vs. Tumor Cerebral • Procedimentos – Questionário: • Uso regular (regular = ter uma conta pós-paga com operadora) • Número de anos de uso • Minutos ou horas de uso/mês • Marca • Operadora • Valor pago mensal • Que lado usa o telefone Celular vs. Tumor Cerebral • Definições – Tumor cerebral: tumor cerebral primário diagnosticado no último ano (CID9 191.0-191.9) confirmado com diagnóstico histológico – Uso regular de celular – Tabagismo: fumar mais de 100 cigarros durante a vida. – Exposição à campos magnéticos: horas/dia ou horas/mês, localização, tipo, etc Celular vs. Tumor Cerebral • Análise estatística – Índice de correlação de Pearson • horas/mês vs. valor da conta – Modelos de regressão logística condicional • Cálculo de odds ratio e intervalo de confiança de 95% • Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Muscat JE, Malkin MG, Thompson S, et al. Handheld cellular telephone use and risk of brain cancer. JAMA 2000; 284(23): 3001-7. Estudo transversal • Pergunta do estudo: qual a prevalência de cegueira e deficiência visual e fatores associados em uma população de adultos em São Paulo? E D Prevalência de cegueira e deficiência visual em São Paulo • População estudo – Adultos da cidade de São Paulo – Acima de 50 anos de idade – Posso examinar todos? – Amostragem • Região geográfica determinada (extremo zona leste) • Ermelino Matarazzo • Amostragem por conglomerados (cluster sampling) • População de 10 mil, preciso de 4 mil • Unidade primária de amostragem – Casa – Bairro – Área • Listagem – Dados do Censo – Recenseamento Prevalência de cegueira e deficiência visual em São Paulo • Procedimentos – Questionário • Dados demográficos • Fatores de risco (antecedentes, doenças, etc) – Exame oftalmológico • Acuidade visual (tipo de tabela) • Exame ocular (refração, biomicroscopia, fundo de olho) Prevalência de cegueira e deficiência visual em São Paulo • Definições – Pela Organização Mundial de Saúde • Cegueira: Acuidade visual < 20/400 • Deficiência visual: Acuidade visual < 20/60 – Nos Estados Unidos • Cegueira: Acuidade visual < 20/200 • Deficiência visual: Acuidade visual < 20/60 Prevalência de cegueira e deficiência visual em São Paulo • Análise estatística – Tabelas de contingência – Comparação de médias • Teste t Student • Mann-Whitney – Comparação de proporções • Teste qui-quadrado – Modelos de regressão multivariados • Aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Estudo de coorte • Pergunta do estudo: quais fatores associados à incidência de retinopatia diabética? E D WESDR Wisconsin Epidemiologic Study of Diabetic Retinopathy Beaver Dam Eye Study Ronald and Barbara Klein População de Estudo • WESDR • Estudo coorte (1979-80) • Divisões de Saúde • 11 counties no Sul de Wisconsin • População: 839,324 • Médicos convidados • 452 participaram (95%) • 10,135 com diabetes 10,135 individuals with diabetes identified 9,841 charts reviewed 9,283 charts with complete review Sample of 2,990 1,210 with diabetes diagnosed before 30 1,780 with diabetes diagnosed at or after 30 996 participated at baseline 1370 participated at baseline WESDR – Diabetes tipo 1 996 WESDR 1 (1980-82) 149 refused, 52 not located, 13 dead 891 WESDR 2 (1984-86) 43 refused, 4 not located, 69 dead 765 WESDR 3 (1990-92) 37 refused, 4 not located, 93 dead 654 WESDR 4 (1995-96) 111 refused, 15 not located, 64 dead 567 WESCID* 5 (2000-01) 127 refused, 14 not located, 85 dead 520 WESDR 6 (2005-07) 107 refused, 12 not located, 69 dead *WESCID: Wisconsin Epidemiologic Study of Cardiovascular Disease WESDR – Retinopatia Diabética WESDR – Retinopatia Diabética Mild Retinopathy Severe Retinopathy Estudo de coorte Avaliação Longitudinal Source: Klein, R. WESDR – Retinopatia Diabética WESDR – Retinopatia Diabética Incidência cumulativa e progressão em 25 anos* • Incidência cumulativa em 25 anos: 97% • Incidência cumulativa para RDProliferativa: 42% (39-46%) WESDR – Retinopatia Diabética Fatores associados com a progressão da RD • • • • Sexo, masculino: 1.33 (1.11-1.58) HbA1c, por 1%: 1.32 (1.26-1.38) Índice massa corpórea, por 4kg/m2: 1.16 (1.07-1.26) Gravidade RD, por 2 categorias: 0.92 (0.86-0.99) *Valores são Hazard Ratios e intervalos de confiança de 95% Delineamento estudos observacionais • Raciocinar baseando-se na pergunta do estudo • Lembrar da relação “causal” • Lembrar da amostragem • Ler criticamente os trabalhos científicos Dúvidas? [email protected]