As Cotas que sempre existiram Apresentei na Assembleia Legislativa um Projeto de Lei, junto com o deputado Bira Corôa (PT), que pretende reservar 20% das vagas em concursos públicos para negros e índios egressos de escolas públicas. Essa política não se apresenta de maneira isolada e está em consonância com um conjunto de ações implementadas pelo governo federal e estadual. As cotas raciais sempre existiram no Brasil. Não fosse assim, o espaço nas universidades, nos altos cargos do mercado de trabalho e no serviço público, não seria ocupado majoritariamente por brancos. Um argumento muito comum contra a política de cotas é dizer que a melhor saída seria melhorar a qualidade do ensino público. Concordo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), os negros representam 45% da população brasileira e apenas 2% da população universitária, por exemplo. Na Bahia, segundo dados do censo IBGE 2010, a população negra representa 17%, sendo que 59,2% são declaradamente pardos. Ainda de acordo com o Ipea, mesmo com os avanços, se estes brasileiros e baianos esperarem pela melhoria do ensino básico público terão que aguardar de 20 a 30 anos para alcançar a igualdade escolar ou as mesmas oportunidades no mercado de trabalho. Aos legalistas, podemos responder que a política afirmativa ainda é a mais avançada tentativa de concretizar o princípio jurídico da igualdade. Aos meritocratas, podemos dizer que quem sempre teve privilégios por causa da cor da pele não tem razão de questionar os méritos de jovens negros e negras que ingressam na universidade. Levantamentos confirmam que o aproveitamento destes estudantes supera a média dos alunos não cotistas. Apesar do partido Democratas acreditar no contrário, já que impetrou recurso no STF contra este tipo de política, as cotas não devem ser encaradas como um favor que o Estado está oferecendo. As cotas são uma restituição de direitos. A Bahia, estado que reúne a maior população negra do país, tem o dever de resgatar a sua história, reunindo as diferenças e promovendo a igualdade com justiça social. Joseildo Ramos é deputado estadual e vice-líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Assembleia Legislativa da Bahia Artigo publicado na edição de quinta-feira (25) do Jornal A Tarde.