RECALL É IMPORTANTE FERRAMENTA NA ÁREA DE FOOD SAFETY A quarta edição do Workshop “Atualidades em Food Safety”, que aconteceu em maio, em São Paulo, estimulou o debate de temas relevantes e que se alinham com discussões internacionais recentes sobre propostas e posturas mais adequadas a serem adotadas quando se trata da segurança dos alimentos. A primeira parte do evento se concentrou na questão do recall de alimentos, considerando toda a cadeia: produção, distribuição, consumo e comunicação. Entre as principais considerações, observou-se que o recall é uma experiência inesquecível para quem já viveu esta situação, pois alguns segundos de veiculação da notícia na internet podem gerar um grande e imediato impacto na reputação da companhia e nos negócios. Esta gravidade exige um enfrentamento e resolução, com rapidez, principalmente por vivermos hoje num mundo conectado e globalizado, que expõe mais as empresas, com repercussão mundial de qualquer acidente com seus produtos. Há cuidados que podem ser uma forma de precaução, mas não há garantia de 100% de se evitar um possível recall. Caso ocorra algum acidente e se, de alguma forma o alimento a ser comercializado possa apresentar risco à saúde do consumidor, a única saída, é retirar o produto do mercado. O recall também exige profunda reflexão do fabricante, sendo uma lição a ser aprendida. É essencial a comunicação imediata com as autoridades regulatórias e o consumidor, pois a rapidez é uma ferramenta importante de sobrevivência neste tipo de crise, que pode destruir o fabricante e afetar outras empresas ligadas de alguma forma ao produto. Apesar de uma situação crítica, a tendência é que as empresas saiam mais fortes desta experiência. Mas se deve ter em mente que, às vezes, não conformidades legais podem gerar um recall e não apenas problemas atrelados ao risco do consumo. “Não podemos esquecer que o consumidor também tem papel fundamental neste cenário ao se mostrar cada vez mais exigente em relação a uma alimentação saudável, de qualidade e segura. Por isso, pesquisas, medidas do governo e mobilização das indústrias devem se direcionar para atender esta demanda”, observou Maria Cecília Toledo, pesquisadora da UNICAMP e coordenadora científica do evento. Outro tema que sempre gera controvérsias é a comparação entre os conceitos natural versus artificial. Esta percepção nem sempre tem sido clara, no que se refere ao uso de ingredientes alimentícios como corantes e aromas, por exemplo. Especialistas apresentaram diferentes enfoques relativos aos benefícios, diferenças, aspectos mercadológicos, regulatórios e de segurança. É preciso analisar a questão de forma prática e não “emocional”. Corantes e aditivos têm uma função nos produtos e movimentam um importante setor no mercado alimentício. Deve-se considerar não uma disputa entre natural e artificial, mas os benefícios de cada um para determinado produto, quer no seu processamento, funcionalidade ou consumo, sempre avaliando a segurança. A tecnologia e pesquisas têm permitido avanços nesta área com aperfeiçoamentos e redução de custos para atender a demanda por corantes naturais. Uma tendência é agregar funcionalidade a alguns corantes, como é o caso da luteína e licopeno. Mas é preciso lembrar que, mesmo o corante sendo de origem natural, sua adição não é ilimitada, havendo limites na sua ingestão diária que devem ser respeitados. Ainda há questões básicas a serem resolvidas, pois não existe uma definição do que é natural na legislação brasileira, quando se trata de aditivos e corantes. Nos EUA, a partir do momento que a substância é inserida no alimento deixa de ser natural. É evidente uma tentativa mundial de se voltar para o natural, conceito hoje associado a um alimento “do bem”. Porém, existe um caminho a percorrer, avaliando e respeitando parâmetros científicos, que passam pela funcionalidade, disponibilidade e segurança.