XI ENCONTRO NACIONAL DA ECOECO Araraquara-SP - Brasil PROCESSOS DE INSTITUCIONAIS EM RESERVAS EXTRATIVISTAS: QUAL A DISTÂNCIA DA CONCEPÇÃO ORIGINAL? Neima Quele Almeida da Silva (Universidade Federal de Rondônia) - [email protected] http://lattes.cnpq.br/8970488179045644 Carlos André da Silva Müller (Universidade Federal de Rondônia) - [email protected] http://lattes.cnpq.br/3505161019297964 PROCESSOS DE INSTITUCIONAIS EM RESERVAS EXTRATIVISTAS: QUAL A DISTÂNCIA DA CONCEPÇÃO ORIGINAL? RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar os processos institucionais em Reservas Extrativistas tomando como base o modelo em camadas desenvolvido por Scott. Estas áreas passaram por processo de institucionalização, por meio de mobilização social e ambiental, criando um modelo que permite a permanência das populações tradicionais, em áreas protegidas. A pesquisa foi realizada por meio da análise de conteúdo, tendo como foco a legislação, documentação pertinentes, posição dos experts na área e relatórios de pesquisas realizadas já realizadas. Como resultado, identificou-se a existência de três modelos produtivos, que demonstraram desalinhamento com a concepção original: a produção de tecido da floresta, com problemas de interesses que geraram insustentabilidade, extração da castanha da Amazônia que na qual a transação irregular com a Bolívia, e, por fim, a caça da carne de jacaré, que parece ser a mais bem alinhada a conservação da biodiversidade com benefícios socioeconômicos e ambientais. Palavras Chaves: Institucionalismo, Resex, Amazônia, Economia Ecológica RESUMO EXPANDIDO A teoria institucional tem sido apontada por diversos autores dentro da escola da Economia Ecológica (NOBRE; AMAZONAS, 2002) como aparato adequado para compreensão da realidade econômica, bem como a interrelação entre a economia e o meio ambiente. Todavia, conforme Powell e Dimmagio (1991), a vertente institucional tem diversas escolas, as quais muitas vezes são sobrepostas, apesar de as construções epistemológicas serem relativamente distintas. Entre as discussões recorrentes, a definição de instituição parece ser questão central. Em alusão à metáfora institucional de North (1991), Felipe (2008) considera que muitos autores concordam com a definição de instituições como as “regras do jogo” e as organizações como “jogadores” suficiente para a teoria institucional; todavia, outros consideram insuficiente e incompleta, como por exemplo Scott (1995). Em seu modelo de análise, organizado em camadas, o autor (SCOTT, 1994) demonstra a inter-relação existente entre as instituições, que podem ser apreciadas a partir de três componentes: 1) sistemas de significados e padrões de comportamentos, que contém 2) elementos simbólicos, incluindo elementos representativos, constitutivos e normativos, que são 3) impostos por processos regulatórios. Esses efeitos são transmitidos via infusão ou imposição sobre os campos organizacionais, tal como a definição de Dimmagio e Powell (1983), ou seja, um grupo de organizações que no conjunto representam a vida institucional destas organizações interferindo nas estruturas de governança, que por sua vez afetam os atores (indivíduos). Neste modelo em camadas são apenas os atores que seriam capazes de interferir nas instituições mais arraigadas na sociedade. Logo, esta interação entre as camadas de sistemas de significado, campos organizacionais e relação com atores representam a forma dinâmica pela qual as instituições interagem. Sob este aspecto, destaca-se o processo institucional de criação das Reservas Extrativistas (RESEX), instituídas a partir de um longo processo resultante da ação dos movimentos sociais existentes no interior da região Amazônica. Diferencia-se das demais unidades de conservação (UC) pela presença humana em consonância com o ambiente natural, sendo permitida a exploração econômica para a sobrevivência das populações tradicionais que vivem nestas reservas. Sua forma diferenciada de gestão gera a necessidade de políticas públicas específicas unindo a defesa e conservação da floresta, bem como, de seus povos. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), criado através da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, tem como um de seus objetivos a potencialização do papel das unidades de conservação (UC) a partir da integração ecologicamente viável das diferentes populações, habitats e ecossistemas. Dentro desse paradigma as RESEX encontram-se contempladas, uma vez que o SNUC as define como áreas utilizadas por populações extrativistas tradicionais, nas quais o extrativismo deve prevalecer e outras atividades econômicas apenas complementarmente. Depreende-se, portanto, que os anseios dos movimentos que geraram a institucionalização das RESEX encontram-se atendidos, uma vez que, foi permitida a presença das populações que já sobreviviam da floresta. No entanto, há a necessidade de compreender de forma mais aprofundada como se deu esse processo e qual seu status quo. Diante do exposto, procurou-se responder a seguinte pergunta de pesquisa: qual o resultado da institucionalização das Reservas Extrativistas em Unidades de Conservação de Rondônia? A literatura institucionalista acena para a existência de uma dificuldade metodológica, uma vez que não há consenso sobre conceitos-chaves, métodos e formas de medidas padronizadas Tolbert e Zucker (2010). Do ponto de vista construtivista social há o entendimento de que as relações sociais são importantes para a construção do conhecimento (CASTAÑON, 2004), o que permite uma análise subjetiva do comportamento dos atores sociais e suas implicações para a institucionalização das RESEX. Além disso, tornou-se necessária a análise da legislação e documentação pertinentes, bem como, a posição dos experts na área e relatórios de pesquisas realizadas nas RESEX. Com esse intuito, optou-se por utilizar a técnica de análise de conteúdo, seguindo as etapas de leitura, codificação e categorização do conteúdo dos documentos definidos (BARDIN, 2004). Esta técnica se justifica uma vez que ela permite a construção de indicadores independentemente de serem quantitativos ou não. A partir desta análise, foram identificados três casos. Em Machadinho Doeste, tentou-se estabelecer um produto inovador denominado tecido da floresta, que teria utilidade semelhante a do couro, mas com apelo ambiental. Em análise, é possível identificar que o tecido da floresta poderia ser utilizado no mercado alternativo, no formato de economia solidária ou comércio justo não se sedimentou porque atores sociais contrários tinham poder de barganha junto à Cooperativa e a Associação ligada à RESEX, fazendo os extrativistas optarem pela atividade madeireira em detrimento de inovações que trariam benefícios sociais e ambientais. Outra atividade evidente é a extração da Castanha da Amazônia na fronteira com a Bolívia. É um produto que está cada vez mais valioso, entretanto percebeu-se que este produto é exportado quase em sua totalidade para o país vizinho que tem uma melhor estrutura de produção que o Brasil. Ausência de políticas adequadas está entre os motivos de não institucionalização do produto. Por fim, a demanda por abate de jacaré em Porto Velho foi autorizado pelo IBAMA devido o elevado número deste réptil (30 mil), valorizando economicamente e socialmente os extrativistas que, como consequência, reduz a pressão sobre a floresta dada a menor necessidade de outras atividades de subsistência. A boa relação da rede social estabelecida foi entendida como ponto positivo neste processo. De forma geral, conclui-se que atividades realizadas por extrativistas são problemas adicionais para implementação de uma política de conservação com a presença humana, posto que nem sempre a economia e o meio ambiente são complementares. Mesmo onde são, como o tecido da floresta, ainda há a necessidade de avaliar os interesses de grupos. Outros casos a preservação pode até ser alcançada, mas há perdas sociais, como a exportação irregular da Castanha para a Bolívia. Por fim, uma boa interação entre instituições na forma de rede pode ser responsável pelo alinhamento de benefícios socioeconômicos e ambientais, ainda que seja uma atividade aparentemente insustentável, como a caça. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMAZONAS, M. C. Desenvolvimento sustentável e teoria econômica: o debate conceitual nas perspectivas neoclássica, institucionalista e da economia ecológica. In: NOBRE, M.; AMAZONAS, M. C. Desenvolvimento sustentável: institucionalização de um conceito. São Paulo: Ed. Ibama, 2002. 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