ESPECIAL 6
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PENAS PAR
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TRABALHO
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MARCELO, 45 ANOS: PRESO PELA ACUSAÇÃO DE MOLESTAR AS DUAS FILHAS
Fui preso no dia 11 de janeiro de 2002. Um mês depois, numa segunda-feira, fui solto porque não tinham provas contra mim. Na
quarta-feira, a minha esposa ligou para a polícia dizendo que eu tinha
aparecido lá em casa para pegar as crianças. Fui preso de novo. Condenado a 26 anos. Tenho quatro filhos. Duas meninas e dois meninos.
Hoje até pensei em mandar uma carta para o mais novo dizendo:
‘Sabe que o pai tá preso porque a mãe, as tias e os tios disseram que
andei mexendo na suas irmãs. Tu sabes que o pai jamais fez isso. Se
qualquer pessoa falar alguma coisa, diga que é mentira.’ Ela (a mulher) queria que eu saísse de casa. Não gostava mais de mim. Falava
que ia me preparar uma coisa para eu jamais esquecer. Sou um
homem honesto, bem criado. Estudei até a 4ªsérie. Tenho seis irmãos
mais novos. Jamais fiquei bêbado ou usei drogas. Trabalhava com
lavoura. Minha família sempre foi ótima. Para falar a verdade, meu pai
me batia quando ficava bêbado. Mas eu jamais bati nos meus filhos.
Nunca quis ser assim. Sempre falei: vocês são meus alunos aqui em
casa. Se eu fizer alguma coisa errada, não vou poder cobrar depois. Eu
trabalhava à noite e os guris ficavam em casa. Minha esposa estava
com a mãe doente e deixava os guris sozinhos. Quando eu chegava
em casa, às 6h30, estavam os dois guris dormindo no quarto, as duas
meninas e o sobrinho dela. Se houve alguma coisa, parece que os exames mostram isso, foi o meu filho. Quando fui preso, a minha cunhada, casada com meu irmão, ligou pra mim e disse que passou um
filme na televisão com pessoas se beijando. E a minha filha disse: ‘tia,
eu sei de tudo. O meu irmão me ensinou tudo isso aí.’ Tenho certeza
que ele mexia com a menina. As meninas confirmaram a história no
processo porque foram mandadas. As minhocas que ela (a cunhada)
dizia que eu colocava nas meninas eram as que eu criava no quintal.
As meninas brincavam com aquilo ali, sentadas. Só fui perceber que
tinha alguma coisa errada quando a minha esposa levou as meninas
no médico e eu perguntei o que estava acontecendo. Tinha ficado
com elas no feriado de fim de ano porque minha esposa viajou pra
praia. Só voltou no dia primeiro. Daquele dia em diante ela levou as
meninas no médico todos os dias. No terceiro dia eu estava achando
demais. Aí fui atrás. Quando vi, ela estava entrando no IML. Eles bateram a porta na minha cara. Tudo foi tramado. Sempre tive uma relação normal com a minha mulher. Começou a ficar ruim de fevereiro
de 2001 pra frente. A minha idéia é que ela já estava me traindo. Sou
6
Brasília,sábado,17 de maio de 2003
CMYK
ESPECIAL 6
‘‘Se houve alguma coisa,
parece que os exames
mostram isso,foi o meu filho’’
inocente. Eu e minha esposa de vez em quando tínhamos uma discussão, mas nada de bater. Às vezes ela avançava em mim, mas eu
nunca dei um tapa nela. O relacionamento com os meus filhos era
bom. Onde eu ia levava eles. A pessoa, para fazer o que me acusam,
não é normal. Meu pai nunca fez isso comigo. Estou preso há mais de
um ano. Mas não aconteceu nada. Não fico com medo porque confio
em Deus. No começo eles olhavam diferente, mas...Falam as coisas,
mas eu não esquento. Não tenho medo de morrer aqui. Homem que é
homem não tem medo. Penso muito nas minhas crianças. Tomei 26
anos de cadeia sem fazer nada. Se eu sair, vou embora para a roça.
Não tenho raiva das minhas filhas. Tenho raiva é dela (a mulher). Não
tenho vontade de matar. A pessoa tem que sofrer viva. Morto não
sofre. Tenho vontade de sair daqui e ver ela presa para passar tudo que
passo. Eu acordo umas 5 horas da manhã. Fico batendo pregador de
roupa. Cada um ano de trabalho diminui três meses. Não vou ficar
preso de graça. Sem brincar, jogar bola, abraçar a minha filha.
MARCELO, 45 ANOS, CUMPRE PENA HÁ UM ANO E QUATRO MESES NA
PENITENCIÁRIA DE CRICIÚMA (SC). FOI CONDENADO HÁ 26 ANOS DE PRISÃO POR
MOLESTAR SEXUALMENTE (COM AS MÃOS) AS DUAS FILHAS, QUE HOJE ESTÃO COM 4
E 9 ANOS. A DECISÃO DO JUIZ FOI BASEADA EM LAUDOS DO INSTITUTO MÉDICO
LEGAL CONFIRMANDO O RELAÇÃO CARNAL
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``Se houve alguma coisa, parece que os exames mostram