18 IX Congresso Científico AEFFUP: Toxicomanias e Drogas de Abuso A Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto realizou, nos dias 20 e 21 de Novembro, o IX Congresso Científico AEFFUP, este ano subordinado ao tema “Toxicomanias e Drogas de Abuso”. Ao longo de dois dias, esta actividade creditada pela Ordem dos Farmacêuticos contou com diversas comunicações, dirigidas por oradores de renome no panorama da saúde em Portugal, enquadrando as toxicomanias no contexto do país. Foram discutidos variados temas, como o aparecimento de novas substâncias psicoactivas, as consequências nefastas das drogas de abuso, a eficácia dos tratamentos, a importância da integração social dos doentes, bem como a automedicação e o abuso de fármacos. Junto dos participantes pretendeu-se, não só esclarecer dúvidas e conceitos como também sensibilizar os mesmos para problemas actuais que afectam de forma significativa a sociedade e possíveis soluções para a atenuação dos mesmos. O Congresso Científico decorreu no Salão Nobre do Complexo ICBAS/FFUP e contou com a participação de Manuel Cardoso, representante do SICAD, de Félix Carvalho, do Laboratório de Toxicologia da FFUP, de Ricardo Dinis-Oliveira, do Departamento de Medicina Legal e Ciências Forenses da FMUP, de Ema Paulino, presidente da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Farmacêuticos, entre outros distintos profissionais da área. Dependências marcou presença no evento e entrevistou João Souto, presidente da AEFFUP. Que balanço faz deste congresso? João Souto (JS) – Este congresso foi subordinado ao tema Toxicomanias e Drogas de Abuso por ser de interesse particular na sociedade e porque já há algum tempo que não apostávamos na área da toxicologia. O facto é que uma mudança como esta fez com que comparecessem muitos mais estudantes, bem como profissionais interessados nesta área, ultrapassando a capacidade de 230 lugares da sala. Em suma, considero que o congresso correu bem em termos de adesão, em termos de organização e no que concerne ao programa. Os oradores cumpriram com os horários e fizeram apresentações muito interessantes e bem relacionadas com o tema e há que dar os parabéns ao Prof. Félix Carvalho pelo trabalho que desenvolveu connosco. Drogas de síntese JS – Creio que o problema estará na falta de rastreabilidade. Basicamente, passando de profissional em profissional, basta adicionar em termos químicos um grupo novo e a molécula passa a ser diferente, logo, passa a ter um efeito completamente diferente. Por isso, qualquer pessoa que pretenda entrar neste domínio e que consiga fazer uma síntese nova obterá uma nova droga. Como não estão registadas nas bases de dados legais, essas drogas acabam por criar um problema porque não se consegue provar em tempo útil ou desejável que as mesmas são ilegais. Numa das apresentações, o Dr. Manuel Cardoso falou sobre o novo plano, apelando ainda aos estudantes que ajudem neste combate aos consumos abusivos na juventude e, em particular, no meio académico… Aceita o desafio? JS – Sim, claro que aceitamos sempre esse desafio. Enquanto associação de estudantes, temos um plano cultural e recreativo, no seio do qual tentamos sempre promover alguma festa em que haverá álcool à mistura mas apelamos sempre ao consumo responsável. A Federação Académica do Porto também promoverá uma campanha designada Consumos Académicos que visa precisamente apelar a essa responsabilização por parte dos estudantes. Sabemos que, nesta altura, se podem desencadear problemas mais graves para o futuro e, por isso, é nossa intenção consciencializar as pessoas para as graves consequências decorrentes dos abusos. Enquanto representante do meio académico na área da saúde, o que lhe parece ter vindo a falhar ao nível da sensibilização para que a percepção do risco associado aos consumos exagerados continue a ser ínfima? JS – Tenho ideia que se deveria apostar mais em campanhas presenciais e específicas, direccionadas para os estudantes, sejam eles do ensino básico, secundário ou superior. E creio que a sensibilização deveria passar por uma tentativa de chocar as pessoas relativamente à realidade que possa advir em consequência da adopção de um mau comportamento. Toda a gente sabe que as festas académicas são alturas, ainda que pontuais, em que as pessoas exageram. Depois, existem pessoas que exageram pontualmente mas que não têm problemas decorrentes e que, depois, até seguem padrões normais, outras que têm graves problemas, chegando mesmo a precisar de assistência médica… Creio que se começarem a ser adoptadas campanhas de sensibilização em alturas mais precoces, como nos ciclos básicos e secundários, poderemos ter uma boa prevenção. Neste evento, fala-se sobre toxicomanias e drogas de abuso… Não faria mais sentido ao contrário, falando-se sobre o abuso das drogas? JS – Sim. Poderíamos falar nessa perspectiva. Efectivamente, o abuso das drogas é algo que tem vindo à baila mas a focagem aqui é precisamente falar nessas substâncias como potenciais drogas, como quando nos referimos por exemplo à ecstasy ou ao LSD, à heroína ou à cocaína. São efectivamente drogas de abuso e o tema pode, obviamente, colocar-se ao contrário porque tem essa propriedade comutativa. Destacaria algum momento em particular do programa científico? JS – Acho que todos os temas têm uma grande relevância na área em discussão. De qualquer modo, se há algum que nos toca, enquanto estudantes, será certamente o doping académico. Muitas vezes utilizamos substâncias, até vendidas nas farmácias, como vitaminas, cujos efeitos e consequências não percebemos muito bem, confiando em demasia no marketing. Por isso, particularmente aos estudantes, que vivem do alto rendimento porque vivemos hoje em mercados altamente competitivos é um tema que nos toca. 19