1. LÍNGUA E COMUNIDADE LINGUÍSTICA COMUNIDADE LINGUÍSTICA Entende-se por comunidade linguística o conjunto de falantes que usam uma mesma língua (sem necessariamente ser a língua materna de todos) ou um mesmo dialecto para comunicarem entre si. Identifica toda a sociedade humana que desenvolveu uma língua comum como meio de comunicação natural e de coesão cultural. No caso da comunidade linguística lusófona, a língua portuguesa é partilhada por 200 milhões de pessoas (podendo aproximar-se dos 230 milhões), espalhadas pelos cinco continentes. Terceira entre as línguas ocidentais, após o inglês e o castelhano, e sexta língua mais falada no mundo, permite a identidade dessa vasta comunidade linguística, que partilha, também, aspectos culturais comuns. Com o propósito de aumentar a cooperação e o intercâmbio cultural entre os países falantes do português, foi criada, em 1996, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa — CPLP, formada por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A esta comunidade juntam-se, com frequência, os falantes da antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e ainda Dadra e Nagar Haveli) e a Galiza, apesar de continuar a criar alguma polémica o estatuto linguístico desta região autónoma vizinha. Na comunidade linguística lusófona, há, igualmente, a considerar os núcleos de emigrantes que utilizam o português, nos diversos continentes, inclusive daqueles que, mais ou menos integrados nesta comunidade, o falam como língua segunda ou estrangeira. FALANTE Considera-se falante de uma língua o sujeito que realiza o acto individual da fala para comunicar. O falante, no sistema comunicativo, tem de possuir conhecimento linguístico para se expressar e para compreender. Na intercomunicação humana, é através do falante que a língua se concretiza. A ele cabe a construção de enunciados, a troca de palavras, de informações e de mensagens, a construção de perguntas e de respostas, as ordens e a sua recepção, a partilha de ideias, de opiniões e de sentimentos... Para que o falante possua e domine efectivamente uma língua, não basta a articulação de sons nem a sua representação gráfica. É necessário penetrar no seu íntimo, conhecer as estruturas linguísticas, saber interpretar o que é comunicado, estar apto a transmitir a mensagem de acordo com o interlocutor, conhecer o lugar e os objectivos da interacção. Daí a necessidade de possuir competências linguística, comunicativa e metalinguística. Competência linguística É o conhecimento que cada falante, de modo consciente e evidente, tem de usar a língua. A competência linguística, que decorre do processo natural de aquisição da linguagem, leva ao conhecimento dos princípios reguladores do funcionamento da língua. Implica a posse de vocabulário e o domínio das regras fundamentais do funcionamento da língua de acordo com o contexto comunicativo. Competência comunicativa É a capacidade que o falante tem de adequar o acto linguístico às situações sociais em que se encontra e ao meio de comunicação. Isto implica um conjunto de saberes e habilidades necessárias para poder comunicar através da língua, ou seja, a competência linguística e o domínio de conhecimentos do uso da linguagem. Competência metalinguística É a capacidade que cada falante tem de trazer para o nível do consciente os traços inconscientes da língua, através da reflexão e de estratégias diversas, incluindo o jogo de palavras. Graças a ela é possível explicitar o conhecimento implícito e aumentá-lo e, por conseguinte, através de um superior domínio, usar melhor a língua. Nota Enquanto a capacidade de saber e de usar a língua é a competência linguística, a capacidade de reflectir sobre a língua usada é a competência metalinguística. Falar e escutar são competências linguísticas, enquanto a leitura exige a consciência dessas actividades primárias.