Periodicidade: Diario
Temática:
Internacional
Diário Notícias
Classe:
Informação Geral
Dimensão:
832
13­05­2015
Âmbito:
Nacional
Imagem:
S/Cor
Tiragem:
56361
Página (s):
33
ENTREVISTA JOHN DALHUISEN
Diretor daAmnistia Internacional para a Europa eÁsia Central
Em Lisboa para participar naAssembleia Parlamentar do Mediterrâneo o responsável da
Amnistia Internacional diz que é uma crise os migrantes estarem a morrer no mar mas lem
bra que 600 mil pedidos de asilo numa população de 450 milhões não é algo ingovernável
A UE não enfrenta uma crise
de migração Essa é umaforma
errada de descrever o problema
dos direitos de quem pede asilo
A UE pediu autorização àONU
para intervir militarmente na
Líbia para destruir as embarca
ções dos traficantes e evitar que
eles partam Essa é uma formade
lidar com a situação
Entrar numa operação em que a
preocupação principal não é ga
rantir o bem estar das pessoas na
SUSANA SALVADOR
Depois da tragédia de 19 de abril
quando mais de 800 migrantes
morreram no Mediterrâneo os lí
deres europeus concordaram em
dar mais dinheiro e meios à opera
ção Tritão de busca e salvamento
E suficiente para evitar mortes
AUE não podia em consciência
Líbia mas reduzir o número dos mi
contribuir menos coletivamente
grantes que tentam chegar àEuropa
é algo que me parece muito estra
nho Será que essa é uma resposta
proporcional para esse desafio Na
do que a Itália gastava sozinha na
operação Mare Nostrum Penso
que o valor gasto pelos italianos no
passado deverá ser alcançado ou
até ultrapassado Será suficiente
Líbia há uma série de traficantes
para travar as mortes no mar Não
sem escrúpulos que estão dispos
tos a abusar de quem paga pelos
deram a vida no Mediterrâneo As
Infelizmente ao eliminar as possi
seus serviços É legítimo combater
Mesmo quando a Mare Nostrum
estava no pico 3500 pessoas per
pessoas vão continuar a morrer
Esperamos é que não nos números
chocantes que temos visto
AComissão Europeia apresenta
hoje aAgenda para as Migrações e
uma das propostas é a introdução
de um sistema de quotas para os
refugiados O Reino Unido já disse
que não aceitarátal proposta O
sistema estácondenado à partida
Um certo número de países in
cluindo o Reino Unido já conside
ram um desafio a migração de ci
dadãos europeus dentro da UE E
nenhum Estado abdica da sua so
berania sobre as entradas de cida
dãos de países de fora daUE O prin
cípio que está a ser mudado com
esta proposta é significativo Não
penso que a Comissão esteja muito
surpreendida com a resistência do
Reino Unido ou de outros países É
umamudançaradical apesar de ser
sensata No final faz sentido arran
jar um sistema mais equitativo que
permita à UE ficar com uma pe
quena proporção do que é o núme
ro global de refugiados e que den
tro da UE todos os países partilhem
essa responsabilidade
Com essa resistência de Londres o
sistema de quotas pode avançar
Não Éumaideiasensataque neste
momento não deverá ir a lado ne
nhum Mas todas as ideias come
çam de alguma forma Penso que o
importante é sublinhar que inde
pendentemente da proporção de
refugiados que cadapaís recebe em
termos absolutos ainda estamos a
falar de números relativamente bai
xos Existe no mundo uma crise de
refugiados existe no Mediterrâneo
este fenómeno e os abusadores
uma crise de afogamentos Mas a
UE não enfrenta uma crise de mi
gração Essa é uma forma errada de
descrever o problema
Não é uma crise para a UE
Há duas coisas que são uma crise
pessoasamorrernomareonúmero
recorde de refugiados e deslocados
no mundo O número total de pes
soas que entram ilegalmente na UE
ou pedem asilo aumentou muito
foi de 600 mil no ano passado Mas
numa população de 450 milhões
isso não constitui uma crise Um de
safio talvez Algo sobre o que refle
tir e desenvolver políticas sensatas
respeitando os direitos dos mi
grantes e refugiados sim Mas uma
crise ingovernável com a qual a
Europa é incapaz de lidar não
É uma questão de proporção
O Líbano é capaz de ter uma crise
Um país que tem 4 5 milhões de
habitantes e recebe 1 1 milhões de
refugiados sírios enfrenta algo que
pode ser chamado de crise de mi
gração
Há então falta de vontade política
na UE para lidar com o problema
Sim tornou se num problema po
litizado e político Há muitos senti
mentos anti imigração Os países
têm interesse legítimo em contro
lar quem entra e sai das suas fron
teiras Há questões de segurança e
económicas Mas não podem criar
uma série de políticas de migração
que se baseiam na redução de nú
meros absolutos quer se trate de
migrantes económicos ou refugia
dos A corrida para diminuir os nú
meros está a resultar numasérie de
mortes trágicas no mar E violações
bilidades de saída sem eliminar as
de entrada o que estamos afazeré
aprisionar as pessoas na Líbia E
aprisionar um migrante na Líbia é
sujeitá lo a abusos de todo o tipo
Éuma condenação àmorte
Para alguns possivelmente Os abu
sos são horríveis Ospaíses vizinhos
como o Egito e a Tunísia têm de
manter as fronteiras terrestres aber
tas para quem deseja sair o que não
fazem E a UE tem de encontrar o
equilíbrio correto entre deter os tra
ficantes mas não os migrantes nes
ses países O trabalho sério tem de
passar por desencorajar as pessoas
de começaraviagem Eisso só acon
teceráse pudermos oferecer outras
formas de essas pessoas chegarem
à Europa ou encontrarmos outras
soluções respeitadoras dos seus di
reitos nos seus países vizinhos
É isso que aAmnistia defende
Uma solução na origem
Não há uma só coisa que vá redu
zir significativamente o fluxo de re
fugiados mas há uma que certa
mentenãovai que éeliminarostra
ficantes Isso não vai impediras pes
soas de vir porque os traficantes
não estão a criar procura estão a
responder à procura Os países eu
ropeus precisam de perceber que
háuma crise global de refugiados e
que a resposta europeia tem sido
inferiores suas capacidades Há um
princípio de solidariedade que está
na base da UE mas a União parece
estar atornar se imune a sentir esse
impulso para ajudar quem precisa
E está a perder algo importante Os
políticos deviam alimentar e não
matar esse sentimento
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