R ELAÇÕES PÚBLICAS É preciso aparar as arestas Superando barreiras, aprimora-se o relacionamento e proporciona-se às organizações buscarem seus espaços para canalizar o fluxo crescente de informações que uma sociedade democrática exige. Boanerges Lopes* A 42 rádio. Reconhecidamente, a literatura na área está incorporada aos projetos das principais editoras. Ganhou espaço também FOTO: DIVULGAÇÃO consolidação das atividades de assessoria de imprensa e de comunicação no Brasil é inquestionável. Nos últimos cinco anos, 23 dos maiores grupos empresariais aumentaram em até 70% seus investimentos na área. Dados consolidados dão conta de que o faturamento das dez maiores empresas de assessoria atingiu recentemente o patamar de R$ 500 milhões. Em recente pesquisa da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) junto às empresas nacionais, constatou-se que a maioria investe entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por mês em projetos e ferramentas de comunicação cada vez mais diversificados. A Casa Branca – sede oficial do governo americano – destina por ano U$ 3,5 bilhões com estratégias de comunicação, sendo U$ 1,5 bilhão destinado ao relacionamento com os meios. O segmento, em expansão, apresenta-se hoje como um dos principais blocos de referência para o exercício das práticas jornalísticas, ao lado dos meios impressos, da TV e à frente do situação específica, na qual é praticamente realidade uma habilitação em assessoria de comunicação, somando-se às tradicionais relações públicas, jornalismo e publicidade, radialismo, cinema e produção editorial. Divergências e preconceitos nas melhores livrarias do País. Pelos mais de 500 cursos de comunicação Brasil afora, os estudos científicos se multiplicam. Em algumas instituições, linhas de pesquisa em cursos de pós-graduação estão definidas e ganham a cada dia novos pesquisadores. Em outras, em que os projetos pedagógicos estão sendo estruturados ou modificados, o estímulo é pela incorporação de disciplinas na graduação. E a ousadia, com seus riscos, também está presente em Apesar de perspectivas bem interessantes, ainda existem divergências por parte de alguns estudiosos do segmento de assessoria envolvendo suas origens e desenvolvimento. Também se sucedem problemas na utilização equivocada de determinadas ferramentas, que acabam superpostas por falta de conhecimento ou por procedimentos incorretos de alguns profissionais. E aqueles que atuam como assessores ainda enfrentam preconceitos tanto por parte de alguns profissionais de redação quanto de determinados dirigentes das empresas nas quais atuam. Muitas arestas ainda precisam ser aparadas no difícil exercício de conciliar as necessidades das fontes e dos veículos de comunicação. Existem também problemas relacionados à legislação brasileira, que ainda não regulamentou a função de assessor de comunicação e permite que as mais variadas interpretações sejam estabelecidas, acirrando os ânimos entre os profissionais e estudantes, em diversas ocasiões ao longo da história da comunicação no País. Situações frequentes É comum na realidade observarmos as seguintes situações, registradas por autores e profissionais atuantes. Aí vão algumas: “Jornalistas? Um bando de abutres. Só querem informações quando enfrentamos dificuldades. Nunca acreditam nos dados que fornecemos e distorcem o que ouvem. Despista esse aí, diz que estou em reunião ou viajando”; “Tem o filho daquele amigo meu lá do clube. O pai dele e o meu eram sócios. Dá um emprego para o garoto, põe o título no cartão dele. Formado para quê? Lei, que lei? Ora, invente um cargo semelhante e vamos passar a coisas mais importantes”; “Tô mandando convites para toda a redação. Podem ir que é ‘boca livre’, mas vê se dá para publicar pelo menos algumas linhas sobre essa nova campanha promocional de roupas super modernas. Se divulgar alguma coisa, tem uma surpresa para você”; ou “Oi, é para divulgar um cantor super legal que está fazendo um showzinho bacana na Zona Sul. Dá pra fazer uma tremenda cobertura. A que horas sai o fotógrafo? Será que rende uma capa com COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL foto colorida e um miolo no alto de uma página ímpar?”. Trechos de uma obra de ficção?, perguntarão alguns. Muito pelo contrário: exemplos reais, que insistem em permanecer em pleno acender das luzes do século 21. E que se somam a algumas convicções: O assessor trabalha pouco e ganha muito, deve ser um veterano de redação, é um profissional que não deu certo nas redações, não é fonte, quer somente publicar ou veicular notícias boas, boicota o profissional de redação e utiliza ferramentas ultrapassadas como o release. Estereótipos, preconceitos, tabus e mitos. Combatidos, nos últimos anos. Mas, infelizmente, ainda presentes em determinados cenários. Preparo e técnica Cotidiano atribulado, certamente. Reflexo também de setores que se modificam e exigem cada vez mais profissionalização e em que deve se destacar o bom relacionamento: cordial, sincero e transparente. Um assessor deve ser atuante em todas as fases do processo: preparado para sugerir pautas e conseguir ganchos e personagens, ágil nas respostas, atento à qualidade do material enviado, com pleno conhecimento do funcionamento da imprensa e do assunto divulgado e consciente do uso adequado das novas tecnologias, deixando de lado o mero encaminhamento de informações e preocupado para que os sites não fiquem desatualizados. E um profissional de redação que se insurja contra a ditadura do relógio e não tenha medo de ser furado. Saia do comodismo, não tenha uma visão pré-estabelecida e conteste as pautas parciais e incompletas. Deixe de lado a arrogância, a intransigência e tenha o entendimento que órgãos públicos podem proporcionar bons assuntos. Rompendo com situações arcaicas e superando barreiras, aprimora-se o relacionamento e proporciona-se às organizações buscarem seus espaços para canalizar o fluxo crescente de informações que uma sociedade democrática exige e utiliza para se orientar em qualquer ramo de negócios. As estruturas são cada vez mais complexas e apontam para uma perspectiva multidisciplinar, com convergência de olhares e competências. Ao mesmo tempo, reconhecem a preservação de identidades distintas onde cada uma das áreas que compõem a estrutura de comunicação das empresas, bem como as redações, reúnem suas respectivas atribuições e responsabilidades. E podem contribuir para que o empresariado de médio e pequeno porte – base econômica do País –, as autoridades governamentais e os futuros formadores nas universidades se conscientizem e valorizem permanentemente a comunicação em seus empreendimentos. (*) Boanerges Lopes é jornalista e professor, doutor em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de livros e coordenador da cátedra de jornalismo da Universidade 43