0 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: ALEXANDRE LUIZ SILVA ROSA Orientador Profª. EDLA LUCIA TROCOLI XAVIER DA SILVA Rio de Janeiro 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em educação infantil e do desenvolvimento. Por: ALEXANDRE LUIZ SILVA ROSA 3 AGRADECIMENTOS Aos meus amigos e colegas que me inspiram e à minha família que sempre ofereceu amor e apoio incondicionais: Mãe, Pai, Rita, José. 4 DEDICATÓRIA Como sempre, aos raios de sol de minha vida: minha esposa Cristina e minha filha Beatriz. RESUMO 5 O objetivo deste trabalho será reconhecer a importância da atividade física no pleno desenvolvimento da criança no segmento da Educação Infantil, além de apontar fatores que comprovem que atividade física é importantíssima na construção do conhecimento e no desenvolvimento global da criança, permitindo que a mesma adquira qualidades fundamentais para o seu desenvolvimento mental e físico. O movimento é o meio fundamental da Educação das crianças na Educação Infantil. Uma questão ainda estudada é a relação entre a prática regular de atividades físicas durante a infância e a provável influência positiva, a longo prazo, na saúde e na qualidade de vida deste indivíduo quando adulto. Buscou-se, ainda como objetivos específicos: compreender que a atividade física visa à inclusão da criança nas diversas esferas de significação e comunicação socioculturais acessíveis da linguagem humana e sua prática de exercícios favorece seu aprendizado, e identificando os fatores que afetam o desenvolvimento infantil. Neste trabalho, também é abordado a qualidade de vida, além de levar a uma reflexão em torno da ideia de que são múltiplos os fatores que determinam a qualidade de vida de pessoas ou comunidades. METODOLOGIA 6 A metodologia usada para realização deste trabalho foi a revisão bibliográfica, consultas a livros, artigos e trabalhos publicados que abordam a atividade física, qualidade de vida e a relação entre ambos. Os principais autores que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa foram: Dantas, Gallahue, Darido, Gadotti, Nahas. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 7 CAPÍTULO I - A atividade Física e Educação Física 10 CAPÍTULO II - Atividade Física e a Melhoria da Aptidão Física 23 CAPÍTULO III – Aprendizagem Cognitiva 31 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41 INTRODUÇÃO Há indícios de que as crianças apresentam, atualmente, menores níveis de atividade física como conseqüência da generalização dos meios de transporte e da forte atração que revelam por atividades mais sedentárias na 8 ocupação dos tempos livres tais como televisão, vídeo, jogos de computador, entre outros. A busca de evidência científica para estes pressupostos tem motivado uma crescente preocupação em estudar os padrões de atividade física apresentados pelas crianças que, por sua vez, tem levantado questões metodológicas especificas quanto a sua avaliação, provavelmente, estando na origem de alguma ambiguidade nos resultados. A incidência cada vez maior de crianças e jovens obesos, com dificuldades oriundas da falta de movimento, com possibilidades de acidentes cardiovasculares e com oportunidades de movimento reduzidas, leva a pensar na retomada da vertente voltada a Atividade Física e Saúde. Segundo McArddle (1994), o consumo de energia quando se assiste TV é de 15% a menos do que quando em repouso. O risco de obesidade é 2 vezes maior para crianças que assistem mais de 3 horas por dia de TV do que aquelas que assistem até 1 hora por dia. A crença popular que de que as crianças têm uma quantidade enorme de atividade física regular e vigorosa como parte normal de sua rotina diária não é nada mais que mito para milhões de pessoas. Embora muitos adultos tenham aumentado sua percepção dos benefícios de uma atividade física vigorosa, somente uma limitada percepção disso chegou até as crianças. Segundo Dantas (2005), como atividade física proporcionaria uma desejável qualidade de vida? Tal pergunta torna imprescindível clarificar a noção de qualidade de vida. Ao arguirem-se diversos indivíduos diferentes sobre o tema, provavelmente se receberão tantas respostas quantas forem às aquisições. De acordo com este posicionamento, Beresford (1997 apud DANTAS 2005), especifica que: Assim sendo, a atividade física para ser considerada necessária e colaborar de alguma forma com a qualidade de vida de seus praticantes, terá que ter uma conotação axiológica. Fato este que obrigará necessariamente, a 9 identificar as carências, privações ou vacuidades das mais diversas naturezas. O ideal é encontrar atividades prazerosas que não sejam prejudiciais à saúde física. Afinal, além de permitir melhora no condicionamento físico (mais resistência, força, flexibilidade e menor porcentagem de gordura), a prática de atividade física pode ser um meio de fazer novos amigos, de descobrir suas potencialidades e desenvolvê-las e até de preencher o tempo livre com atividade saudável. Por isso é que se diz que atividade física é saúde, lazer e educação. Independentemente da atividade escolhida, deve-se praticá-la sempre de maneira recreativa e suave, sobretudo na promoção da qualidade de vida, respeitando e levando em consideração que cada criança tem uma constituição física que lhe é própria, possui características emocionais e afetivas que são também pessoais, e vivencia fora da escola um meio social diverso das demais crianças. CAPÍTULO I A ATIVIDADE FÍSICA E EDUCAÇÃO FÍSICA ...Deus é maior que todos os obstáculos. 10 Segundo Gadotti (2003), um dos grandes desafios dos educadores brasileiros nos dias atuais é a busca de uma educação para todos que respeite a diversidade, as minorias, os direitos humanos, eliminando esteriótipos e substituindo o conceito de igualdade pelo de iquidade, ou seja, a igualdade de direitos respeitando as diferenças. De acordo com essa concepção de inclusão social e com uma abordagem mais ampla da atividade física, coloca-se em primeiro plano a variedade e a história dos movimentos humanos. Procura-se adequar as atividades físicas aos gostos, as necessidades aos interesses individuais. O foco não é somente o corpo: os cuidados com a saúde, com higiene são tão importantes quanto o prazer pelo movimento corporal em geral. Pelo entendimento de que a Educação Física deve estar contextualizada com a instituição, principalmente na Educação Infantil, a Educação Física também pode ser entendida como área que contribui para o conhecimento das possibilidades corporais, cultura corporal, para a vivência de lazer, cultura e qualidade de vida. Não se deixa de lado, no entanto, a percepção de que muitos professores, no plano prático, mesclam tendências educacionais por conta de situações que se apresentam e, para as quais os professores utilizam-se dos conhecimentos construídos na experiência. Segundo o conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2002), o profissional de Educação Física é um especialista em atividades, nas suas mais diversas manifestações, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem - estar, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda para a consecução da autonomia, autoestima, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações pessoais, da preservação do meio ambiente, visando enfim a consecução da qualidade de vida. 11 A Educação Física tem sido nas últimas décadas, uma das áreas que mais se preocupou com o desenvolvimento infantil. Entretanto, ao se voltar excessivamente para as características de ordem física, acabou perdendo outras dimensões importantes. A valorização do rendimento motor, especialmente visando resultados em competições, algumas delas entre crianças de pouca idade, abaixo mesmo dos 10 anos de idade, distorceu os objetivos de uma Educação Física integrada ao âmbito maior da Educação e da Saúde, cuja preocupação principal deveria ser em última instância, sendo primordial a atenção às condições fundamentais necessárias a uma vida saudável. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998 apud FERREIRA 2005), a educação física é um processo de educação e saúde, seja por vias formais e não formais, pois ao promover uma educação efetiva para a saúde e uma ocupação saudável do tempo livre de lazer, constitui-se em um meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo e em consequência favorece a obtenção de qualidade de vida. A atividade física é um dos principais elementos utilizados pelas pessoas em busca de melhor qualidade de vida. Sua prática leva desde a melhora das capacidades físicas de seu praticante até a melhor interação social, independente da faixa etária. A importância da atividade física na Educação infantil visa à inclusão da criança nas diversas esferas de significação e comunicação socioculturais acessíveis da linguagem humana e sua prática de exercícios de elevação e manutenção da frequência cardíaca em limites submáximos, alongamentos e flexibilidade, relaxamento e compensação com objetivo profilático, consequentemente, a uma melhor qualidade de vida, bem como permitir sua compreensão e decodificação. A diferença de Atividade Física e Educação Física é que atividade física é qualquer movimento do corpo, produzido pelo músculo esquelético que resulta em um aumento do gasto energético. Atividade Física refere-se ao gasto calórico promovido por uma ação superior do físico, como um deslocamento, um movimento físico qualquer. É 12 um conceito cartesiano e linear que aparta e fragmenta a motricidade humana em mero movimento. Já a Educação Física é uma ação planejada e estruturada, que pode utilizar-se de vários elementos como o esporte, a dança, a luta, o jogo, a brincadeira e atividade física. 1.1 – Considerações sobre a Educação Física O trabalho na área da Educação Física fundamenta-se nas concepções de corpo e movimento, por isso faz-se necessário apresentar os conceitos destas concepções como forma de facilitar o entendimento da evolução corporal e da história do corpo desde o surgimento da humanidade. Assim: ü Corpo: é a substância física de cada ser vivo. (AURÉLIO. Mini Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Fronteira, 1993). ü Corpo Percebido: ”corresponde à organização do esquema corporal”. (Le Boulch, 1987, p.16). ü Corpo Representado: “controle da dimensão temporal sob seu aspecto perceptivo”. (Le Boulch, 1987, p.16). ü Corpo Operatório: “as ações são efetuadas a partir da representação mental do ambiente ou do seu próprio corpo. Possibilidade de estabelecer uma coerência entre os objetos e de poder efetuar operações com eles” (Le Boulch, 1987, p.17). 13 ü Corpo Vivido: “experiência emocional do corpo e do espaço. Desempenho da função de ajustamento. Conteúdo afetivo”. . (Le Boulch, 1987, p.23). ü Corpo Discursivo: elabora e organiza todas as suas experiências vitais. É uma totalidade fundamental para o desenvolvimento metal, afetivo, motor e social. “(...) é fator gerador de respostas adquiridas, onde se escrevem todas as tensões e emoções que caracterizam a evolução psicoafetiva do ser humano”. (Fonseca apud COSTA, 2001, p.26). ü Corpo Máquina: “é o homem dividido, fragmentado, separado corpo – mente, o que impede a criatividade e a espontaneidade, esmera-se na repetição e no treinamento” (COSTA, 2001, p.22). Esta dicotomia está calcada na concepção regida pela lei da mecânica. ü Corpo em movimento: “é um corpo integrado, organizado, que relaciona o desenvolvimento motor – cognitivo ao processo de aprendizagem” (Le Boulch, 1987, p.47). Os seres humanos e os animais estão sempre em movimento (andando, correndo, saltando, equilibrando etc.). Esses movimentos são necessários ao desenvolvimento da pessoa e cessam com sua morte. É por meio do movimento que o ser humano se relaciona com o outro e com a realidade; por intermédio das repetidas tentativas e treinamento que iremos 14 realizar maiores e mais complexos movimentos de mãos, braços, pernas, cabeça e corpo. Por meio das atividades físicas, propostas pela Educação Física, podem-se educar, aprimorar e melhorar os movimentos, além de desenvolver o bem – estar físico, psíquico e social. De acordo com Teixeira, (1997, p.11), ”estas atividades preparam também para uma melhor convivência social, política, biológica e ecológica”. Houve uma mudança muito grande no que diz respeito ao pensamento sobre a prática da atividade física nas escolas. Antes, nas décadas de 1960 e 1970, a Educação Física era totalmente voltada para o desempenho técnico e físico do aluno, e tinha seus objetivos calcados no desenvolvimento e aprimoramento das forças físicas, morais e cívicas, buscando a descoberta de novos talentos que pudessem participar de competições internacionais. Com a mudança das políticas educacionais, o enfoque passou a ser o desenvolvimento psicomotor e social, possibilitando uma cultura corporal que contemple conhecimentos produzidos pela sociedade a respeito do corpo e movimento, na busca do prazer e da saúde. A Educação Física passou a ter, então, fins humanistas, voltados para a formação integral do aluno; esta formação integral corresponde à relação existente entre a formação psíquica (mental) e motriz (movimento) da criança. Tem como objeto o homem, seu corpo em movimento em relação ao mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com outro, com os objetos e consigo mesmo. O corpo é a origem das aquisições cognitivas, portanto, o mecanismo operatório do pensamento surge, primeiramente, na tomada de consciência de representação do meio exterior; segundo, na tomada de consciência do esquema corporal e terceiro, na representação do espaço. Sendo assim, ao promover uma Educação Física voltada para os objetivos aqui traçados, estar-se-á contribuindo, também, para o desenvolvimento cognitivo e afetivo do aluno, permitindo uma união harmoniosa de movimento e pensamento (raciocínio). 15 1.2 – Crescimento e Desenvolvimento Infantil Crescimento é um processo complexo, biologicamente organizado, regulado por fatores que influenciam a estatura da criança como sua composição durante a fase de crescimento. Maturação química. Tais fatores: • Genéticos • Nutricionais • Idade • Sexo • Atividade Física • Equilíbrio hormonal • Saneamento básico • Stress • Vacinação • Psicológico Segundo Gallahue (2008), o Crescimento pode ser definido como o aumento na estrutura corporal realizado pela multiplicação ou aumento das células; o Desenvolvimento como um processo continuo de mudanças no organismo humano que inicia na concepção e se estende até a morte. A formação das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral no lactante e no bebê forma-se através do fortalecimento dos músculos e ligamentos da nuca, primeiro a lordose cervical, depois que aprendeu a sentar origina-se a inclinação da pelve para frente, a lordose lombar com a cifose torácica compensatória. 1.2.1– Estatura (Picos de crescimento) 16 ü Entre o nascimento até o terceiro ano de vida ü 2 anos de idade (metade da estatura final adulta) Fase do Estirão (aceleração rápida que ocorre na adolescência) ü Meninas (10 a 13 anos) ü Meninos (13 a 16 anos) Um pré – adolescente na fase de estirão pode crescer cerca de15 cm em 1 ano, o que acarretará, pela velocidade com que aconteceu, uma perda da cinestesia e imagem corporal “arranhada”. 1.2.2 – Peso corporal total Ø Aceleração rápida até os 3 anos de idade Ø Desaceleração dos 3 anos 7 anos de idade Ø Aceleração – Fase do estirão Ø Quando adulto o peso, o peso é em média, 20 vezes aquele ao nascer. 1.2.3 – Cabeça Ø Ao nascer: ¼ do comprimento total do corpo Ø Aos 2 anos de idade: 1/5 do comprimento total do corpo Ø Adulto: 1/10 do comprimento total do corpo Ø As fontanelas “Moleira” – espaço membranoso entre os ossos do crânio se fecham aos 2 anos de idade. 17 1.2.4 – O Tronco Ø O tronco é a parte do corpo cujo crescimento é mais lento. Ø Menina > Menino (até os 13 anos) Ø Menino > Menina (perto dos 14 anos) 1.2.5 – Músculo O tipo de fibra muscular no feto é de contração rápida primitiva, quando o sistema nervoso e muscular amadurecem, começam a emergir os tipos de fibras identificáveis histoquimicamente. Desde o nascimento até a adolescência, o tecido muscular está em contínuo aumento. O aumento de massa muscular também aumenta o peso da criança, representando 25% do peso corporal ao nascer e chega a 50% ou mais do peso na fase adulta. ü 14 – 15 anos: Hipertrofia e diminuição do percentual de gordura ü 13 – 17: Força de preensão duplicada ü Nascimento – Fibras e Músculos formados ü Crescimento – maior comprimento e espessura das fibras musculares No final da adolescência 40% do peso corporal total é composto pela musculatura esquelética. A Atividade Física pode gerar aumento na largura e na mineralização óssea, mas não deve ser citada como razão do crescimento além do potencial genético individual. 18 1.3 – Ventilação Pulmonar ü É maior nas crianças sendo mais alta naquelas com menor estatura. ü Ventilação pulmonar apresenta uma relação direta com o volume corrente e a frequência respiratória, a criança compensa suas menores dimensões pulmonares com o aumento da frequência respiratória. ü Capacidade vital, volume residual e a Capacidade Pulmonar Total são proporcionais às dimensões corporais. ü Nas meninas, estes fatores são 10% menores do que nos meninos de mesma idade e estatura. ü Nas crianças, o treinamento aeróbico pode gerar aumentos na Capacidade Pulmonar Total. 1.4 – Débito Cardíaco ü Volume sistólico é menor em crianças do que em adultos ü Meninas têm frequência cardíaca mais elevada As crianças possuem uma maior quantidade de sangue nos músculos ativos do que adultos. Durante a atividade máxima, a frequência cardíaca de crianças é mais elevada do que adultos. ü A criança precisa de mais oxigênio no músculo, pois seu metabolismo é mais alto e requer mais energia. A massa muscular total do corpo aumenta aproximadamente 8 kg na idade dos 6 anos para 16 a 18 na idade de 12 anos. 19 1.5 – Fatores que afetam o Crescimento Infantil Segundo Gallahue (2008), o crescimento não é um processo independente. Embora a hereditariedade ajuste os limites do crescimento, fatores ambientais ajudam a determinar se alguém vai atingir esses limites. O grau pelo qual esses fatores afetam o desenvolvimento motor não é totalmente claro e necessita de estudos aprofundados. No entanto, alguns fatores tais como nutrição, exercício e estilo de vida têm papéis significativos no processo de crescimento. 1.5.1 – Nutrição A nutrição desempenha papel de suma importância no primeiro ano de vida onde 40% da alimentação destina-se ao metabolismo de crescimento. A subnutrição, stress emocional e excesso de infecções na infância tendem a afetar mais meninos do que meninas (embora ambos estejam passiveis) no seu crescimento. Numerosas investigações têm fornecido claras evidencias de que as deficiências dietéticas podem retardar o crescimento durante a infância. A extensão de retardamento de crescimento depende da intensidade, duração e do tempo de inicio de desnutrição. Má nutrição pode interromper o processo de crescimento físico em qualquer período entre a infância e adolescência. Má nutrição também pode contribuir para o desenvolvimento de certas doenças que afetam o crescimento físico. 20 Excesso na dieta também pode afetar o crescimento das crianças. Em países ricos, a obesidade é o maior problema. A crescente tendência em direção à obesidade em nossa sociedade está diretamente relacionada à diminuição da atividade física combinada com uma alimentação de altas calorias e baixo custo. Por definição, a obesidade é uma falha nos processos de regulação do peso corporal que resulta em excesso do acúmulo de gordura no corpo. A obesidade é agora reconhecida pelas autoridades médicas como uma doença – uma que tem um componente familiar forte, influenciada tanto pela genética como pelo meio. As causas de obesidade infantil e suas influências no desenvolvimento motor são preocupantes. A interferência dos comercias de televisão glorificando uma ou outra junk food, o vício de milhões em fast food podem afetar a saúde nutricional das crianças. Pelo fato de cada criança ter sua própria composição bioquímica, é difícil apontar onde a nutrição adequada acaba e onde a má nutrição ou obesidade começa. 1.5.2 – Atividade Física Um dos princípios da atividade física relaciona o uso ao desuso. Resumidamente, o músculo que é usado será hipertrofiado (aumentado em tamanho) e um músculo que não é usado irá atrofiar (diminuir em tamanho). Em crianças, a atividade definitivamente promove desenvolvimento muscular. Embora o número de fibras musculares não aumente, o tamanho das fibras aumenta e os músculos respondem e adaptam-se às quantidades crescentes de esforço. A maturação, por si só, não contribui para aumentos de massa muscular. Um ambiente que promova atividade física vigorosa da criança contribuirá muito para promover o desenvolvimento muscular. Além disso, crianças ativas tendem a ter proporcionalmente menos gordura corporal em relação à massa corporal magra do que crianças que não são ativas. 1.5.3 – Estilo de vida 21 Tendências seculares são trazidas à tona pelas complexas mudanças geracionais em estilo de vida que resultam na tendência das crianças de hoje serem mais altas e mais pesadas, em todas as idades, e amadurecerem sexualmente mais cedo do que as crianças de diversas gerações anteriores. No entanto, a tendência para os aumentos seculares não é universal. Estudos recentes têm revelado claramente que crianças de hoje são significantemente mais gordos do que os mesmos de suas idades há 10 anos. Adicionalmente, uma acentuada tendência à puberdade precoce entre as meninas e os meninos têm se tornado uma preocupação crescente entre muitos especialistas no desenvolvimento infantil. De acordo com artigo publicado na revista Phorte (São Paulo: 2006 p. 15), dados da IHRA (The Internacional Health Racquet and Sports Club Association) revelam que: • O sedentarismo é o principal inimigo da saúde. • O estilo de vida sedentário é responsável por 54% do risco de morte por infarto e 50% de risco de morte por derrame cerebral. • Trezentas mil pessoas morem no Brasil, anualmente, por doenças decorrentes do sedentarismo. • No Brasil, apenas 1,2% da população adota hábito de praticar atividade física. • Vinte e cinco porcento das crianças que fazem atividade física tornam-se adultos ativos. 22 • Crianças sedentárias sedentários e com serão maiores adultos potencialmente possibilidades de se envolverem com álcool, drogas e violência. Baseado nestes dados pode-se afirmar que o estilo de vida na idade adulta é determinado em parte, já no período infantil e que a Atividade Física surge como importante instrumento no combate ao sedentarismo, às doenças e aos vícios. CAPÍTULO II ATIVIDADE FÍSICA E A MELHORIA DA APTIDÃO FÍSICA Este capítulo examina o desafio de ajudar as crianças a se tornarem motoramente hábeis e em forma, motoramente hábeis e instruídas, e motoramente hábeis e ávidas. Muitas das notícias sobre a aptidão física das crianças não são encorajadoras, mas como os pais tornaram-se mais preocupados com uma vida mais saudável e começaram a melhorar seu nível pessoal de aptidão, eles tendem a tornar-se mais preocupados em relação aos níveis de aptidão de seus filhos. Embora as crianças pequenas estejam sempre correndo para lá e para cá, logo desenvolvem o habito de se esparramar em frente da televisão assim que voltam da escola. Além disso, muitas escolas estão dedicando menos 23 tempo a atividades esportivas devido à falta de pessoal com preparo adequado, principalmente nas escolas primárias. Em algumas escolas existe a tendência de dar atenção à minoria que sai bem nos esportes, negligenciando o restante dos alunos. Outras organizam movimentos para reduzir o numero de esportes competitivos, pois alguns educadores acreditam que a criança que perde sempre pode desenvolver problemas psicológicos difíceis de ser superados. Os níveis cada vez maiores de violência na sociedade contribuem para que muitas crianças não tenham a permissão de brincar em áreas urbanas sem supervisão. A combinação desses fatores leva as crianças de hoje a se dedicarem cada vez menos a atividades físicas. Quando ajudamos as crianças a se tornarem motoramente hábeis, sábias e ávidas, bem como ficarem em forma, nós as ajudamos a estabelecer a base para escolher estilos de vida saudáveis e se tornarem hábeis e ativas quando adolescentes e adultos. A aptidão física é promovida por atividades físicas moderadas a vigorosas. De acordo com os Modelos de Estágios de Mudança apud Gallahue (2008), um indivíduo progride através de cinco estágios identificáveis durante o caminho para se tornar fisicamente ativo. No estágio de pré - contemplação, a pessoa não considera os benefícios de se tornar ativa. Em relação às crianças nesse estágio, é importante que ofereça a eles informações relevantes e significativas sobre os benefícios da atividade física e os riscos da inatividade. No estágio da contemplação, o indivíduo pensa na possibilidade de tornar-se ativo em um futuro próximo. Quando as crianças estão nesse estágio, além de oferecer a eles informações relevantes e significativas, é preciso ajudá-las a encontrar maneiras de aumentar a atividade física que elas considerem divertidas, desafiantes e prazerosas. No estágio de preparação, o indivíduo decidiu tornar-se ativo em um futuro próximo e pode até ter feito pequenos avanços nesta direção. O estágio de ação, o indivíduo consistentemente engajados em um estilo de vida fisicamente ativo. O estágio de ação ocorre mais tipicamente durante os primeiros seis meses de um programa de atividade. Podem ocorrer nas 24 crianças os lapsos em atividade e são esperados e perdoados. O quinto e último estágio, o estágio de manutenção, ocorre quanto o indivíduo mantém crescentes níveis de atividade física após o período inicial de seis meses. Nesse estágio as crianças devem ser estimuladas a explorar atividades alternativas e assegurarem que as atividades nas quais elas se engajam sejam divertidas e prazerosas. Segundo Gallahue (2008), aptidão física é definida como um conjunto de atributos relacionados à capacidade de executar atividade física em associação à composição genética do indivíduo, bem como à manutenção de nutrição adequada. O nível pessoal de uma criança em atividade física somado ao status de saúde determina limites máximos e mínimos que podem ser esperados da Aptidão Física. O padrão nutricional também pode inibir ou melhorar muito o nível de funcionamento físico do indivíduo, e a composição genética da pessoa influencia no nível de aptidão que ela pode alcançar. Todos os três fatores exercem função no desenvolvimento e na manutenção da aptidão da criança. Nesta linha, Matsudo (2000) afirma que os principais benefícios à saúde advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Os efeitos metabólicos apontados pelos autores são o aumento do volume sistólico; o aumento da potência aeróbica; o aumento da ventilação pulmonar; a melhora do perfil lipídico; a diminuição da pressão arterial; a melhora da sensibilidade à insulina e a diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo. Com relação aos efeitos antropométricos e neuromusculares ocorre, segundo os autores, a diminuição da gordura corporal, o incremento da força e da massa muscular, da densidade óssea e da flexibilidade. E, na dimensão psicológica, afirmam que atividade física atua na melhoria da autoestima, do autoconceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de medicamentos. Guedes (1995), por sua vez, afirma que a prática de exercícios físicos habituais, além de promover a saúde, 25 influencia na reabilitação de determinadas patologias associadas ao aumento dos índices de morbidade e da mortalidade. É provável que o estilo de vida sedentário de muitas crianças de hoje faça com que, na idade adulta, adquiram uma forma física inadequada, com prejuízo da saúde. Todas as crianças devem praticar exercícios regularmente, pois eles reduzem o risco de doenças cardíacas na vida adulta. As atividades físicas trazem muitos outros benefícios para a criança: proporcionam músculos fortes, importantes para a boa postura e estabilidade das articulações, melhoram o equilíbrio, coordenação e flexibilidade; e diminuem a probabilidade de fraturas, pois os exercícios aumentam a densidade óssea. Além desses evidentes benefícios físicos, a atividade física regular favorecem habilidades menos aparentes. A criança que participam de atividades físicas aprende a interagir e a colaborar com outras crianças. Além disso, desenvolve a autoestima, pois adquire grande segurança e senso de autorrealização. 2.1 – Aptidão Relacionada à Saúde Aptidão Relacionado à Saúde é um estado relativo do ser, não uma aptidão, habilidade ou capacidade. Aptidão relacionada à saúde é transitória e não está diretamente relacionada à habilidade atlética. Um alto nível de aptidão relacionada à saúde é associado à melhoria da qualidade de vida e o baixo risco de doenças. O desenvolvimento e manutenção dos componentes de aptidão relacionada à saúde são uma função da adaptação fisiológica para um aumento gradual da intensidade das atividades. Por isso, esses componentes podem ser imediatamente alterados com o uso ou desuso. Crianças que são motoramente hábeis e estão em forma esforçam-se para obter e manter padrões pessoais de aptidão relacionada à saúde que sejam ótimos para seu nível de desenvolvimento. 26 2.2 – Componentes de Aptidão Física Relacionadas à Saúde Força muscular, resistência muscular resistência cardiovascular, flexibilidade dos ligamentos e composição corporal são componentes de saúde relacionados à aptidão física. 2.2.1 – Força Muscular Força muscular é a capacidade de o corpo exercer uma força máxima contra um objeto externo ao corpo. No seu sentido mais puro, é a capacidade de exercer um Maximo esforço. Crianças engajadas em atividades diárias fazem muito esforço com os membros inferiores para correr e pedalar. Sua força nos braços é desenvolvida através de atividades como levantar e carregar objetos grandes, segurar utensílios e balançar-se em barras. 2.2.2 – Resistência Muscular Resistência Muscular é a capacidade de exercer força contra um objeto externo ao corpo por repetidas vezes e sem fadiga. A resistência muscular é semelhante à força muscular em termos de atividades executadas, mas difere na ênfase. Atividades para o desenvolvimento de resistência requerem uma sobrecarga nos músculo ou do grupo de músculos maior do que as atividades de resistência. Atividades para o desenvolvimento de resistência requerem menos sobrecarga nos músculos mais exigem um maior número de repetições. Meninos e meninas executando várias flexões/extensões de braço ou exercícios abdominais estão executando atividades de resistência muscular. 2.2.3 – Resistência Cardiovascular Resistência Cardiovascular é a capacidade do coração, pulmões e sistema vascular para fornecer oxigênio durante atividade física sustentada. É geralmente o mais importante aspecto de aptidão física. Resistência 27 cardiovascular refere-se à capacidade de executar numerosas repetições de uma atividade exigindo o uso considerável dos sistemas circulatório e respiratório. É difícil medir com exatidão o volume de oxigênio usado pelas crianças em atividades aeróbicas sem utilizar sofisticados equipamentos científicos e causar considerável estress nas crianças. As crianças geralmente não são tão ativas quanto precisam ser para desenvolverem boa resistência cardiovascular, pois depende, em grande parte, do estilo de vida individual da criança. As chaves para o desenvolvimento de resistência cardiovascular são frequência, duração e intensidade. Quanto maior a frequência, mais longa a duração e, quanto mais intenso o exercício, maior será o impacto na melhoria da resistência cardiovascular. As atividades como correr, pedalar uma bicicleta e nadar são aeróbias e devem fazer parte da vida diária da criança. Exercício aeróbio envolve participação em atividades físicas vigorosas nas quais a frequência cardíaca se eleva acima do limiar de treinamento (aproximadamente 140 a 180 batimentos por minuto) e mantém-se neste nível por um período estendido de tempo (aproximadamente 15 minutos ou mais). Exercício anaeróbio, por outro lado, é um exercício de alta intensidade e de curta duração que não depende da capacidade de utilização do oxigênio. Atividades como corrida de velocidade em trilha e provas curtas de natação são típicas atividades anaeróbias. Ambas contribuem mensuravelmente para coração, pulmões e sistema vascular saudáveis. 2.2.4 – Flexibilidade dos ligamentos A flexibilidade dos ligamentos, outro aspecto de aptidão relacionada à saúde, é a habilidade de vários ligamentos do corpo para se moverem através de sua extensão completa de movimento. A flexibilidade é específica aos ligamentos e pode ser melhorada com a prática. A maioria das crianças está envolvida em numerosas atividades de desenvolvimento de flexibilidade. Suas constantes flexões, torções, giros e alongamentos, que recorrem à elasticidade natural de seus corpos, contam muitos para sua flexibilidade. Basta olhar para 28 as posições contorcidas que as crianças fazem quando se sentam para assistirem à televisão ou ouvir uma historia, para perceber que elas têm uma grande quantidade de flexibilidade nos ligamentos do quadril e joelho. Muito frequentemente, no entanto, a quantidade de movimento diminui durante a segunda infância e adolescência por causa da falta de atividade física. 2.2.5 – Composição Corporal Composição corporal é a proporção entre massa corporal magra e massa corporal lipídica. É a relação entre tecido gorduroso e tecido magro. Embora não seja universalmente aceita como um componente de aptidão relacionado à saúde por ser o único medido e não executado entre os componentes da aptidão, composição corporal é um importante aspecto da aptidão relacionada à saúde. Basicamente, aqueles que se opõem à inclusão da composição corporal como uma medida, defendem que aptidão física é para todos – tanto os que são magros e esbeltos quanto aqueles que estão com sobrepeso ou são obesos. Por outro lado, defensores da composição corporal como componente de aptidão relacionada à saúde apontam que este é um importante aspecto de toda saúde e aptidão. A gordura adicional é o problema, e não acima do peso, como determinado pelas tabelas altura/peso tradicionais. A obesidade atingiu níveis epidêmicos entre as crianças e jovens e é mensuravelmente maior hoje do que era há 20 ou até mesmo 10 anos. Além do mais, a obesidade contribui para as doenças degenerativas, problemas de saúde e redução do tempo de vida. 2.3 – Definindo os motoramente hábeis e ávidos Durante os seus primeiros anos de vida, as crianças são geralmente motoramente ávidas, desejosas para participar de situações de vigorosa atividade física. As pessoas assumem que por participarem com frequência em 29 atividades e brincadeiras durante o tempo livre, as crianças não precisam de um programa com instrução de habilidade e desenvolvimento de aptidão. Ao desenvolver suas habilidades motoras, as crianças adquirem as ferramentas para ganhar e manter níveis melhores de aptidão. Aptidão física é atingida por meio de participação regular, sistemática e intensa em atividades vigorosas. Atividades individualizadas contribuem mais para certos aspectos da aptidão do que outras. Além disso, é importante oferecer uma variedade de atividades que interessem às crianças e as motivem a se exercitarem regularmente. Conforme você planeja atividades de construção de aptidão que podem ser realizadas pelas crianças em casa, pense sobre atividades que requerem somente alguns minutos e que podem ser cumpridas pelas crianças com outros, sozinhas e principalmente em parceria com os pais. Os pais e educadores precisam respeitar o tempo que cada criança necessita para assimilar a nova realidade com confiança, compreensão e alegria. Elas precisam exercitar os seus sentidos, estimular a criatividade, brincar, expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se e responsabilizar-se. Seu crescimento é rápido. Seus movimentos têm mais controle e as crianças passam a ter a necessidade de estimulação ativa, seu nível de energia parece não ter fim! Habilidades motoras amplas e motoras finas se desenvolvem juntas já que muitas atividades dependem da coordenação de ambas. O resultado de diversas pesquisas nacionais recentes sobre a aptidão física das crianças revela claramente que muito mais precisa ser feito. Recentes sinais encorajadores apontam para o surgimento de interesse em aptidão por parte das crianças e há uma esperança para o futuro. 30 CAPÍTULO III Aprendizagem Cognitiva O ponto de vista extraído deste capítulo é que a aprendizagem perceptivo – motora e o conceito de desenvolvimento são ambos aspectos de aprendizagem cognitiva especialmente importantes durante a infância. Dessa maneira, discutimos aprendizagem multisensorial e as partes que compõe, justamente com a importância do conceito de aprendizagem e aprendizagem perceptivo – motora por meio do movimento. Desde o momento do nascimento, as crianças começam a aprender como interagir com seu meio. Esta interação envolve um processo cognitivo e motor e é inseparável do movimento. Voluntariamente, o pensamento consciente e a ação são enraizados em significados derivados do ambiente. Segundo Gallahue (2008), o conceito de aprendizagem cognitiva é definido como o processo pelo qual a informação é organizada, colocada na memória e posta à disposição para ser relembrada e aplicada a uma variedade de situações. O conceito de aprendizagem cognitiva oferece às crianças as ferramentas para um pensamento crítico. Ele utiliza atividades de movimento para auxiliar na retenção, recordação, tomada de decisão e aplicação. A aprendizagem de habilidade motora refere à aprendizagem de habilidades motoras fundamentais ou especializadas. É um processo ativo de aprendizagem intrinsecamente relacionado à cognição. A aprendizagem de uma habilidade motora não pode ocorrer sem a contribuição de processos mais elevados de pensamento. Todos os movimentos voluntários requerem um 31 elemento de cognição, quanto mais complexa a tarefa motora, mais complicado o processo cognitivo envolvido. O famoso desenvolvimentista, Jean Piaget (1986 apud Gallahue, 2008), foi um dos primeiros a demonstrar uma relação entre os processos motores e aprendizagem cognitiva. O trabalho de Piaget destacou o importante papel que o movimento exerce no desenvolvimento motor dos bebês e crianças pequenas. No sistema de Piaget, a fase sensório–motora do desenvolvimento envolve coordenação das atividades motoras e percepções dos bebês e crianças pequenas em uma totalidade sutil. Esta fase do desenvolvimento e os estágios correspondentes dentro dela ilustram claramente a conexão entre movimento e cognição. A fase pré-operatória envolve os primeiros anos da infância e é caracterizada por comportamentos egocêntricos. A fase das operações concretas é típica do ensino fundamental e caracterizada por crescente curiosidade. O alcance de competência dentro das fases pré-operatórias e das operações concretas é consideravelmente auxiliado, de acordo com Piaget, pelo processo do movimento. 3.1 - Conceitos de Habilidade A aprendizagem de conceito de habilidade lida especificamente com a maneira com que o corpo deveria se mover. Por exemplo, crianças no estágio maduro são incapazes de chutar, arremessar ou driblar com uma bola. Além disso, é essencial que as crianças aprendam como seu corpo é levado a mover-se nas habilidades motoras fundamentais e especializadas. 3.2 – Conceitos de Movimento A aprendizagem do conceito de movimento trata de como pode se mover. No mundo real, o movimento raramente ocorre sob as mesmas condições repetidamente. A maioria das tarefas que envolvem movimento em jogos, no esporte e na dança é de natureza dinâmica, e requerem fluidez e 32 flexibilidade nos padrões de movimento do indivíduo. Além disso, a ecologia do meio em si é dinâmica. 3.3 – Conceitos de Atividade A aprendizagem do conceito de atividade consiste em onde o corpo deve se mover. Conceitos de atividade centram-se no aprendizado de padrões, formações, regras e estratégias para a participação eficaz em atividades de jogo, esporte e dança. 3.4 – Definindo Aprendizes multi-sensoriais Aprender é um processo que culmina em uma mudança relativamente permanente no comportamento, resultado da experiência ou da prática. Por sua natureza genuína, aprender é um processo que se baseia tanto na informação sensorial como na informação motora. Aprender é multi-sensorial porque depende do que vemos, ouvimos, sentimos, percebemos com o paladar, tocamos e percebemos com o olfato. A aprendizagem multi-sensorial é um processo de mudança provocado pela internalização e integração de estímulos sensoriais que resultam em uma percepção ou em uma resposta perceptivo- motora. A palavra percepção, que significa consciência ou interpretação de informação, refere-se ao processo de organizar e sintetizar a informação que reunimos por meio dos vários órgãos dos sentidos com a informação armazenada ou os dados do passado, um processo que leva a um padrão modificado de resposta. Quando consideramos o termo perceptivo-motor, sabemos que a primeira parte do termo denota a dependência da atividade voluntária de movimento em relação a alguma forma de informação sensorial. Todo 33 movimento voluntário envolve um elemento de consciência perceptual resultante de estimulação sensorial. A segunda parte do termo perceptivo-motor indica que o desenvolvimento das habilidades perceptuais de um indivíduo depende, em parte, do movimento. O relacionamento recíproco entre o input sensorial e o output motor permite que as habilidades perceptuais e motoras se desenvolvam em harmonia. Como aprendizes multi-sensoriais, crianças usam seus sentidos visual, auditivo, tátil e cinestésico para aprender sobre aspectos espaciais e temporais do seu mundo em expansão. ü Input Sensorial: recebe várias formas de estimulação por meio de receptores sensoriais especializados (visual, auditivo, tátil e cinestésico) e transmitir esta estimulação para o cérebro na forma de energia neural. ü Integração Sensorial: organiza os estímulos sensoriais que chegam e integrar esta nova informação com informação passada ou armazenada (memória). Uma criança fisicamente educada demonstra comportamento social e pessoal responsável em ambientes de atividade física. Uma criança fisicamente educada entende que atividade física proporciona oportunidade para divertimento, desafio, expressão própria e interação social. 3.5 – Desenvolvimento na primeira infância Brincar é o que as crianças fazem quando não estão comendo, dormindo ou consentindo com os desejos dos adultos. Ocupando o Máximo das horas de uma criança, o brincar pode ser visto literalmente como o 34 equivalente da criança para o trabalho dos adultos. Brincar é o meio prioritário pelo qual as crianças aprendem sobre seus corpos e habilidades motoras. Brincar também facilita o crescimento afetivo e cognitivo em crianças pequenas e fornece um importante meio de desenvolver as habilidades motoras grossas e finas. Os anos da Educação Infantil são um período de importante desenvolvimento cognitivo. Crianças nesta fase são ativamente envolvidas em melhorar suas habilidades cognitivas em uma variedade de maneiras. Durante esse período elas desenvolvem funções cognitivas que eventualmente resultam em pensamento lógico e formulação de conceitos. Crianças pequenas são incapazes de pensar de qualquer ponto de vista que não seja o próprio. Suas percepções dominam seus pensamentos e o que elas experimentam em um dado momento as influencia fortemente. Durante essa fase pré- conceitual de desenvolvimento cognitivo, ver é literalmente acreditar. O desenvolvimento afetivo é também drástico durante os anos da Educação Infantil, durante esse período as crianças estão envolvidas em duas tarefas sócio-emocionais cruciais para o desenvolvimento de um senso de autonomia e um senso de iniciativa. A autonomia é expressa através de um crescente senso de independência que pode ser observado na alegria da criança ao responder “não” para uma pergunta como “você quer brincar lá fora?” mesmo quando a criança claramente gostaria de brincar. Por meio das atividades físicas como da brincadeira, as crianças desenvolvem uma ampla variedade de habilidades de equilíbrio, de locomoção e manipulação. Se elas têm um autoconceito estável e positivo, o ganho em controle sobre sua musculatura é suave e tranquilo. Os movimentos tímidos, cautelosos e comedidos dos dois aos três anos de idade gradualmente dão lugar para a entrega confiante, ávida e frequentemente imprudência dos quatros aos cinco anos de idade. Sua vívida imaginação lhes possibilita pular de “grandes alturas”, escalar “altas montanhas”, saltar sobre “rios bravos” e correr “mais rápido” do que uma variedade de “animais selvagens”. 35 Crianças na faixa etária da Educação Infantil estão rapidamente expandindo seus horizontes, declarando sua individualidade, desenvolvendo suas habilidades e testando seus limites (bem como testando os limites dos seus familiares e outros que os cercam). Em resumo, as crianças pequenas estão se deslocando no mundo de várias maneiras complexas e maravilhosas. É indispensável, no entanto, entender suas características desenvolvimentistas e suas limitações, assim como seus potenciais. 3.6 – Qualidade de vida Vários são os questionamentos relativos ao conceito de qualidade de vida e muitos são os ângulos pelos quais se pode estudá-la. A qualidade de vida pode ser diferenciada segundo objetivos, forma de abordagem, resultados observados e interpretações apropriadas ao contexto no qual é estudada ou aplicada. Uma discussão que começa a ser desenvolvida relaciona-se às formas de interação entre as pessoas, o ambiente e a sociedade e sua influência sobre a qualidade de vida. O estudo desse processo exige julgamento adequado, segundo diferentes épocas, culturas e classes sociais. Essas poucas questões indicam a importância de aprofundar o conhecimento, tanto das bases conceituais quanto das técnicas de estudo a aplicação pratica sobre a qualidade de vida em diversas formas de expressão (GONÇALVES; VILARTA, 2004). Segundo Ferreira (2005), a qualidade de vida pode ser conceituada como o grau maior ou menor de satisfação das carências pessoais, observando que a busca pela boa qualidade de vida consiste mais claramente em visar situações prazerosas, e menos em evitar aborrecimentos ou vivencias problemáticas. O contexto socioeconômico, o grau de instrução escolar, a participação dos pais, sua importância dentro do grupo de amigos, suas potencialidades física e mental são fatores que interferem claramente na definição de qualidade de vida pelas próprias crianças. 36 Não são poucos os significados atribuídos à qualidade de vida. Dificilmente se consegue unanimidade de opiniões entre pessoas da mesma comunidade, quem dirá de toda uma sociedade. Os pesquisadores elaboram métodos para estudar o termo “Qualidade de vida”, e encontram elementos relacionados os quais incluem: Aspectos culturais; Históricos; Classes sociais e entre outros. Os aspectos relacionados em estudos mostram que a relatividade dos significados de qualidade de vida pode estar sujeita, realmente, às referências históricas, culturais e estratificação ou classe sociais e de uma sociedade. Do ponto de vista histórico, a mesma sociedade pode apresentar diferentes parâmetros, acerca dos valores e padrões de qualidade de vida, em variadas etapas de sua evolução econômica, social e tecnológica. Quanto ao aspecto cultural, este pode influenciar e diferenciar os indivíduos em busca por qualidade de vida, tendo em conta a construção e a hierarquia dos valores e necessidades específicas das pessoas que compõem essa sociedade. Em relação às diferenças de estratificação social, os padrões de qualidade de vida almejados são os relacionados às condições de bem estar das classes superiores. Qualidade de vida é um conceito ligado ao desenvolvimento humano, desde seu nascimento ao envelhecimento. Não significa apenas que o indivíduo ou grupo social tenham saúde física e mental, mas que estejam bem com eles mesmos, com a vida, com as pessoas que os cercam. Enfim, ter qualidade de vida é estar em equilíbrio e harmonia. E esse equilíbrio diz respeito ao controle sobre aquilo que acontece s sua volta, como por exemplo, sobre os relacionamentos sociais. Mas se o indivíduo não tem ou não consegue ter esse controle, poderá controlar a maneira com que reage a esses acontecimentos, essas ações, gerando um estado harmonioso. Para conquistar e garantir uma boa qualidade de vida deve-se ter hábitos saudáveis, cuidar bem do corpo, ter tempo para lazer e vários outros hábitos que façam o indivíduo se sentir bem, que tragam boas consequências, como usar o humor pra lidar com situações de estresse, definir objetivos de vida, e o principal, sentir que tem controle sobre a própria vida. 37 Os conceitos bem - estar e de saúde incluem a maximização da qualidade de vida de qualquer indivíduo através do desenvolvimento total do potencial humano, bem como suas características. Entende-se por qualidade de vida, a percepção do indivíduo tanto de sua posição na vida, no contexto da cultura e nos sistemas de valores nos quais se insere, como em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um amplo conceito de classificação, afetado de modo complexo pela saúde física do indivíduo, pelo seu estado psicológico, por suas relações sociais, por seu nível de independência e pelas suas relações com as características mais relevantes do seu meio ambiente. É, portanto, um termo amplo que concentra as condições que são fornecidas ao indivíduo para viver como ele pretende. Qualidade envolve fatores relacionados com saúde, tais como, o bem estar – estar físico, psicológico, emocional e mental, mas também elementos não relacionados, como a família, amigos, emprego ou outras circunstâncias da vida. A organização Mundial da saúde (OMS) desenvolveu um instrumento (questionário) para aferir a Qualidade de Vida, trata-se do WHOQOL (World Health Organization Quality of Life) que possui duas versões validadas para o português, o WHOQOL – 100 (composto por 100 questões) e o WHOQOL – Breve, composto por 26 questões. O WHOQOL – 100 é composto por seis domínios: o físico, o psicológico, o do nível de independência, o das relações sócias, o do meio ambiente e o dos aspectos religiosos. O WHOQOL Breve é composto por quatro domínios: o físico, o psicológico, o das relações sociais e o do meio ambiente. No Brasil, existe a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV) que tem como missão promover a integração e desenvolvimento de profissionais multidisciplinares voltados para atuação em Qualidade de Vida, divulgando tendências, provocando discussões, reflexões e formando opiniões balizadoras de estilo de vida, padrões e ambiente saudáveis. 38 CONCLUSÃO O estilo de vida gerado pelas novas condições socioeconômicas (urbanização descontrolada, consumismo, deterioração dos espaços públicos de lazer) e avanços tecnológicos, leva um grande número de crianças ao sedentarismo, à alimentação inadequada, ao estresse, que torna a criança sujeita a doenças psicossomáticas como ansiedade, frustração e depressão e até um sentimento de insatisfação, prejudicando as relações interpessoais etc. O crescente número de horas diante da televisão, por parte das crianças diminui a atividade motora, leva o abandono da cultura corporal e de atividades físicas e favorece a substituição da experiência de praticar atividades pela de assistir a atividade. Como não podemos excluí-los totalmente das suas vidas, é importante a participação do adulto com a adoção de algumas medidas que podem contribuir para equilibrar a situação. Se esperarmos por uma população mais ativa e, por conseguinte, mais saudável, o investimento na Educação Infantil deve ser prioridade em todos os segmentos e projetos que, de alguma forma, estão na órbita escolar. A Educação Física Escolar, principalmente no segmento da Educação Infantil, quando desenvolvida por profissionais capacitados e comprometidos com uma proposta educacional organizada, com metodologias adequadas e com visão global do aluno, irradiará o gosto pela atividade física não só dentro da escola, mas também para a comunidade onde o aluno estiver inserido e assim, cada vez mais, haverá um número maior de indivíduos simpatizantes do exercício físico e praticantes de atividades físicas, diminuindo o sedentarismo e em consequência, obesidade, hipertensão, estresse, colesterol alto e outros, que hoje também já fazem parte da lista de doenças infantis e são responsáveis pelos altos índices de morte no Brasil na fase adulta, além de auxiliar no processo de aprendizagem e na inclusão social e escolar. O hábito de se praticarem exercícios físicos só se mantém quando se está em contato permanente e constante com atividades físicas e quando 39 ocorre a adesão por determinantes pessoais (nível social, pessoal, educacional e afetivo) e por conscientização da importância dessas práticas na melhoria da qualidade de vida, ou seja, é preciso conhecer os benefícios, ter facilidade de acesso, disponibilidade, apoio e reforço social. Sendo assim, a Atividade Física se torna um excelente aliado na Educação Infantil para que seja alcançado este hábito, pois oportuniza, promove a qualidade de vida no seu dia –a- dia. Educar é um ato consciente e planejado do educador a fim de tornar o educando consciente, engajado e construtor de uma nova realidade, capaz de reconstruir para construir. O grande educador faz da atividade física uma arte, um admirável instrumento para o desenvolvimento da criança e na melhoria da sua qualidade de vida, promovendo educação e conscientização. Uma Educação de corpo Inteiro. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40 ANTUNES, F. e COL. Um retrato da pesquisa brasileira em educação física escolar: 1999-2003. BERGMANN, G. e COL. Alteração anual no crescimento e na aptidão física relacionada à saúde de escolares, Ver. Bras. Cineantropom. Desempenho. Hum. V.7 n.2, p.55-61, 2005. DANTAS, Estélio H. M. Atividade física, prazer e qualidade de vida; Revista Mineira de Educação Física; Rio de janeiro, RJ, v.2;p.05-13;1999. DARIDO, Soraya Cristina. Os conteúdos da Educação Física Escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. IN: Perspectivas e Educação Física Escolar, v. 2, n.1, 2001. FRANCISCO B. ASSUMPÇÃO JR. E COL. Escala de avaliação de qualidade de vida: Mar.2000, vol.58, p.119-127. GADOTTI, Moacyr. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. GALLAHUE, David L. Educação física desenvolvimentista para todas as crianças. 4 ed.- São Paulo: Phorte, 2008. GONÇALVES A. e VILARTA, R. Qualidade de vida e atividades físicas. Editora Midiograf, Londrina, 1995. GUISELINI, M. Qualidade de vida. Editora Gente, São Paulo; 1996. LE BOULCH, Jean. Educação psicomotora. A psicogenética na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. 41 MATSUDO, Sandra Mahecha, MATSUDO, Victor K.R, NETO, Turíbio Leite Barros. Efeitos Benéficos da Atividade Física na Aptidão Física e Saúde Mental Durante o Processo de Envelhecimento. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. v.5, n.2, p.60-76, 2000. NAHAS, MARKUS VINICIOS. Atividade física, saúde e qualidade de vida. Editora Midiograf; Londrina; 2006. PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), Orientação Didática, Competição & Competência. HTTP:// WWW.drashirleydecampos.com.br/ noticias/21620 ÍNDICE 42 FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I Atividade Física e Educação Física 10 1.1 – Considerações sobre a Educação Física 12 1.2 – Crescimento e Desenvolvimento Infantil 15 1.2.1– Estatura (Picos de crescimento) 16 1.2.2 – Peso Corporal Total 1.2.3 – Cabeça 17 1.2.4 – Tronco 1.2.5 – Músculo 1.3 – Ventilação Pulmonar 18 1.4 – Débito Cardíaco 19 1.5 – Fatores que afetam o Desenvolvimento Infantil 1.5.1 – Nutrição 20 1.5.2 – Atividade Física 21 1.5.3 – Estilo de Vida CAPÍTULO II Atividade Física e a melhoria da Aptidão Física 23 2.1 – Aptidão Relacionada à saúde 26 2.2 – Componentes de Aptidão Física Relacionadas à Saúde 2.2.1 – Força Muscular 2.2.2 – Resistência Muscular 27 2.2.3 – Resistência Cardiovascular 2.2.4 – Flexibilidade dos ligamentos 28 43 2.2.5 – Composição Corporal 29 2.3 – Definindo os motoramente hábeis e ávidos CAPÍTULO III Aprendizagem cognitiva 3.1 - Conceitos de Habilidade 31 32 3.2 – Conceitos de Movimento 3.3 – Conceitos de Atividade 33 3.4 – Definindo Aprendizes multi-sensoriais 3.5 – Desenvolvimento na primeira infância 34 3.6 – Qualidade de vida 36 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41 ÍNDICE 43