CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO OBESIDADE Giuliana Inocente Guilherme Takashi Yano Mariana Strauss A obesidade pode ser definida como excesso de gordura corporal. Entretanto, há uma dificuldade nessa definição, pois os métodos para mensurar essa gordura corporal ainda são complicados e pouco práticos (BRAY, 1976 apud GUERRERO, 2008). Um método muito utilizado comumente é o cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), que consiste na divisão do peso em quilograma pela altura em metros ao quadrado (peso/altura²). Para ser considerado obeso é necessário que esse índice esteja acima de 30 kg/m². (GUERRERO, 2008) Quanto à incidência da obesidade calculada como excesso de peso, as estatísticas mostram que é muito alta e que a tendência é aumentar cada vez mais. Essa tendência ocorre pelo estilo de vida atual, onde o trabalho industrializado corrobora com tipo sedentário e também com a mudança dos hábitos alimentares, passando a buscar refeições mais rápidas e ricas em gordura. O contraponto com essa mudança de hábitos é a valorização do corpo esbelto, em que há uma “exigência” cultural para ser aceito como belo para a sociedade, pois ao mesmo tempo em que não possuem uma rotina saudável, querem ter e impor que todos tenham aparência magra. Assim os transtornos alimentares ganharam mais visibilidade, pelo seu aumento de freqüência. Os transtornos alimentares podem ser: a anorexia, a bulimia, o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) e a obesidade. A anorexia e a bulimia são mais recorrentes em mulheres que estão com o peso normal (de acordo com o IMC) ou um pouco acima ou abaixo dele. A diferença entre estes transtornos está que, na anorexia, o indivíduo não está satisfeito com o corpo e em decorrência disso evita comer, estabelece uma dieta muito rígida, com pouquíssima ingestão de alimentos ou até mesmo usa métodos adicionais para a perda de peso (como a indução de vômito, o uso de laxantes ou diuréticos e a prática excessiva de exercícios físicos). Enquanto na bulimia o indivíduo passa por um comportamento compulsivo de comer e em seguida recorre a comportamentos compensatórios, como a indução de vômito. (LALONI, 2004). A TCAP refere-se à ingestão exagerada de alimento em um período de tempo limitado. De acordo com LALONI (2004) e DUCHESNE et al. (2007) este transtorno afeta 30% dos indivíduos obesos que procuram tratamento para a obesidade. A obesidade é identificada no CID-10 (Código Internacional de Doenças) como excesso de massa gorda, é considerado obesidade leve o IMC acima de 30, obesidade moderada acima de 35, obesidade severa IMC maior que 40 e super obesidade mais que 50. É indicada a cirurgia bariátrica para pacientes com obesidade mórbida (IMC igual ou superior a 40) e que não conseguiram reduzir o peso através de dieta. Os obesos com TCAP, segundo DUCHESNE et al.(2007), são mais perfeccionistas, impulsivos, depressivos além de apresentar alto grau de ansiedade e isolamento social. Eles relatam ter uma pior qualidade de vida e uma baixa auto-estima quando comparados aos indivíduos apenas obesos. LALONI (2004) afere sobre o fato de que a obesidade, com ou sem TCAP, apresenta maior risco para doenças como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Para diagnosticar o grau de risco é preciso especificar o grau da obesidade e localizar onde está o excesso de gordura no corpo. Segundo SJOSTROM (1992, APUD GUERRERO, 2008) fator de risco é maior na parte superior, região abdominal, típica do homem, enquanto que na mulher é mais incidente a parte inferior, nos quadris e coxas. A obesidade é um transtorno que possui diversas variáveis genéticas, biológicas, psicológicas, comportamentais e sociais. Para realizar um tratamento é necessário que haja planejamento para avaliar quais variáveis estão mais evidentes. Esse processo abarca três objetivos básicos: estabelecer um diagnóstico funcional do problema, para diferenciá-lo e classificá-lo em subgrupos diversos; realizar uma avaliação funcional para identificar as variáveis principais, delimitando isso em termos operacionais fazendo com que seja possível comprovar se o problema foi resolvido; e, por último, realizar avaliações contínuas para demonstrar se o tratamento foi realmente eficaz e estabelecer se a análise funcional foi adequada. (GUERRERO, 2008) Para um diagnóstico diferencial é imprescindível que a obesidade seja o principal problema que o paciente apresenta e também descartar a possibilidade da presença de outros problemas alimentares como anorexia e bulimia. O primeiro objetivo na terapia é a auto-aceitação, independentemente de outros problemas, pois, caso contrário, poder-se-ia reforçar a obsessão pelo emagrecimento. Outro fator cogente é calcular o grau de obesidade através do IMC ou de tabelas padronizadas de peso/altura (essas tabelas demandam cautela em seu uso). Com isso é possível selecionar a melhor alternativa terapêutica para cada indivíduo, pois os níveis de obesidade incidem ativamente sobre qual técnica seria mais adequada. Em um diagnóstico funcional determinam-se quais fatores são mais relevantes em cada caso e, em função disso, a escolha da melhor intervenção é efetuada. Há diversos fatores etiológicos da obesidade: biológicos e genéticos, de aprendizagem, de estilo de vida relacionado à prática de atividade física, psicológicos e cognitivos e, por último, sociais. Para os fatores genéticos e biológicos existem duas teorias: do ponto fixo, que acredita que o organismo possui uma tendência a manter seu peso, assim retardando o metabolismo quando há restrição calórica ou acelerando-o se houver excesso de ingestão; e a da celularidade adiposa, onde há distinção entre obesos com células adiposas alongadas (hipertróficos) e obesos com maior número de células adiposas (hiperplásicos). A primeira teoria diz respeito ao efeito “sanfona”, um ciclo de ganho e perda de peso, e é mais prejudicial para a saúde que o excesso de peso contínuo. Já a segunda teoria traz a reflexão sobre os objetivos terapêuticos, pois tentar fazer com que um obeso hiperplásico alcance o peso ideal estabelecido pelas tabelas, na melhor das hipóteses, cairia em frustração e fracasso e, na pior, acarretaria um perigo para a saúde ao diminuir de forma anormal o tamanho das células adiposas. Obter o peso biológico ideal, com precisão, envolve a utilização de equipamentos sofisticados, entretanto, há alguns indicadores que podem direcionar o objetivo terapêutico de cada pessoa, como: o excesso de peso, o peso máximo perdido em tentativas anteriores, o modo que o perdeu, o tempo que manteve, entre outros (VERA E FERNÁNDEZ, 1989, apud GUERRERO, 2008) Nos fatores de aprendizagem sustenta-se que há diferenças individuais quanto a pautas alimentares existentes em obesos e não obesos, mas que não há um estilo próprio de comer de cada grupo. Por isso, realizar uma avaliação individualizada, através de entrevista, questionário de excesso de peso e autoregistro de comida e bebida, é de suma importância. Outro fator etiológico é o estilo de vida relacionado com o exercício físico. Pode-se dizer que o peso corporal é a função da energia consumida versus a energia gasta. Dos três componentes do gasto energético (metabolismo basal, efeito térmico dos alimentos e atividade física) a atividade física é a mais fácil de lidar. A falta de atividade física, além de ser prejudicial à saúde, leva a um ganho gradual de peso. Nessa, a avaliação com auto-registro (FERNÁNDEZ E VERA, 1996, apud GUERRERO, 2008) também é importante para aumentar essa atividade. Em alguns estudos sobre os fatores psicológicos e cognitivos, foi contemplado que obesos comem mais que os não obesos quando estão entediados, deprimidos ou ansiosos (GANLEY, 1989; RAND E STUNKARD, 1978 apud GUERRERO, 2008). Com isso, passa-se a considerar um subgrupo de obesos antecedentes compulsivos, dos onde excessos fatores alimentares emocionais (FELCH são et al., os principais 1990 apud GUERRERO, 2008). Nessa estreita relação com os estados afetivos, existe a avaliação de pensamentos ou frases que o paciente diz a si mesmo e que o levam a comer em excesso. Novamente a avaliação individualizada com auto- registro se faz presente para determinar até que ponto cada indivíduo gera essas frases. Por último, os fatores sociais determinam que a obesidade não é um problema individual, mas sim social. Social pelo estilo da sociedade atual, que favorece o ganho de peso através do sedentarismo, almoços e jantares sociais, consome de produtos com alto teor calórico, mas que por outro lado exalta o valor da magreza. (GUERRERO, 2008) Os tratamentos para a obesidade visam mudanças de hábitos alimentares, manutenção das conquistas de perda de peso, aquisição de habilidades de solução de problemas e aprendizagem de prevenção de recaídas, prática de exercício físico, informação dietética e suporte social (GUERRERO, 2008). Para BROWNELL e WADDEN (1992 apud GUERRERO, 2008) os tratamentos cognitivo-comportamentais são indicados para casos de excesso de peso ou obesidade leve e moderada, já para casos de obesidade severa ou grande faz-se necessário que haja uma combinação desses tratamentos com uma dieta severa prescrita por um médico. No Estudo realizado por DUCHESNE et al.(2007) é claro observar de como a Terapia, no caso a Clínica Comportamental (TCC) tem impacto sobre casos de obesidade e compulsão alimentar. Em alguns estudos citados, observa-se o sucesso da Terapia, 94% de redução do comportamento obsessivo e o aumento da eficácia em pacientes que eram somente medicados, diminuição comportamentos prejudiciais para o sucesso na redução de peso como a restrição alimentar, diminuição do grau de psicopatologias associadas (ex. depressão), redução do peso e auxílio na manutenção em longo prazo dos resultados obtidos. Apesar do visível sucesso no tratamento do TCAP a TCC, mesmo sendo a minoria, não funcionou com todos os pacientes e em alguns até piorou o caso. Em contrapartida houveram sugestões para a melhora no procedimento, como o aumento do tempo da terapia, tendo em vista os pacientes que continuaram a terapia e obtiveram sucesso. Tendo em vista o resultado do estudo vemos que pelo impacto significativo nos casos de TCAP podemos destacar o TCC como uma das principais formas de tratamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUCHESNE, M. et al. Evidências sobre a terapia cognitivo-comportamental no tratamento de obesos com transtorno da compulsão alimentar periódica. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, vol. 29, nº1, jan./abr. 2007 GUERRERO, M. N. V. Evolução e tratamento da obesidade. In: CABALLO, V. E. (dir.) Manual para o tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos. Espanha: Siglo XXI, vol. 2, 2008. LALONI, D. T. Transtorno alimentar: obesidade, análise das contingências do comportamento de comer. In: BRANDÃO, M. Z. da S. et al. (Orgs.) Sobre comportamento e cognição. Santo André: ESETec Editores Associados, vol. 13, 2004.