Vozes da Cidade inclui crianças e jovens na construção de uma Salvador menos desigual Atualmente, cerca de 80% das crianças e adolescentes brasileiras vivem em áreas urbanas, caracterizadas pela iniquidade. Consequentemente, a maioria desses adolescentes é afetada pela falta de estrutura, pela baixa qualidade de serviços essenciais, como segurança, educação e saúde. Essa situação acaba restringindo o potencial desses adolescentes em produzir transformações em suas vidas e, menos ainda, na cidade em que vivem. Para modificar essa situação o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF desenvolveu a Plataforma dos Centros Urbanos (PCU) que, implementada esse ano (2015) em Salvador, em parceria com a Avante – Educação e Mobilização Social, ganhou o nome de Vozes da Cidade: Crianças e adolescentes participando da construção de Salvador. O nome do projeto, que tem apoio também do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente (CMDCA) e da Prefeitura Municipal, foi escolhido pela Avante e Unicef para dar uma identidade local ao projeto da PCU, que acontece em oito capitais do país. Outro detalhe que diferencia o Vozes da Cidade é a participação de crianças, além dos adolescentes, como atores principais. O projeto tem o objetivo central ouvir e mobilizar crianças e adolescentes, nas dez subprefeituras da cidade, sobre suas demandas. Bem como sensibilizar e articular técnicos do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e conselheiros sobre a importância da participação desse público nas políticas públicas. O resultado dessa participação será apresentado à gestão municipal, ao UNICEF, ao CMDCA, aos adolescentes e comunidades em geral, com vistas à construção de planos de diretrizes para a cidade. A primeira edição da PCU, realizada de 2008 a 2012, abrangeu os municípios do Rio de Janeiro, São Paulo e Itaquaquecetuba, alcançando importantes conquistas. Levando em consideração os avanços e as lições aprendidas, a PCU foi expandida para outros centros urbanos brasileiros. A segunda edição abrange o período de 2013 a 2016 e contempla oito capitais: Belém, Fortaleza, Maceió, Manaus, Rio de Janeiro São Luís e São Paulo. Salvador é a ultimas delas, adotando o nome Vozes da Cidade. Início em Salvador A primeira reunião do Vozes da Cidade em Salvador aconteceu no dia 12 de janeiro (2015) e contou com a presença de parceiros e dos jovens selecionados para o projeto. De acordo com José Humberto, consultor associado da Avante e coordenador do Vozes da Cidade, o primeiro encontro teve como objetivo a realização de uma discussão teórico-metodológica para estabelecer a base instrumental para as primeiras etapas. Segundo Humberto, o próprio debate realizado no encontro se configurou como uma ação que se coaduna com o objetivo do projeto, que é dar oportunidade de escuta a esse público. “A participação até mesmo na etapa de preparação das estratégias de ação permite a eles exporem suas vivências nas comunidades em que vivem e contribuir com ideias para que o projeto alcance todos os seus objetivos”, explicou. Estabelecidas as metodologias e estratégias de chegada aos adolescentes e à comunidade, a equipe de trabalho partirá para cada uma das dez regiões de Salvador com vistas a mapear e mobilizar coletivos de adolescentes para as etapas seguintes do projeto. Em seguida será escutado um total de 600 representantes desse público (60 por territórios). E concomitantemente, será realizado um trabalho de sensibilização e articulação desses representantes dos coletivos mapeados, de técnicos, conselheiros e comunidades sobre a importância da participação do adolescente e da criança na construção de politicas públicas. Na etapa seguinte, a equipe técnica do projeto Vozes da Cidade participará do processo de sistematização e qualificação das demandas levantadas nas escutas das crianças e adolescentes, lideranças e agentes do Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Os resultados serão apresentados à gestão municipal, aos subprefeitos, ao UNICEF e principais lideranças dos territórios. Além disso, está previsto a realização de ao menos um fórum de debate em uma das dez regiões em parceria com a Prefeitura, as subprefeituras e o UNICEF, para apresentação e aprofundamento dos resultados encontrados e, sobretudo, para a construção de um plano de diretrizes para os bairros. Na gestão municipal, os resultados colhidos servirão como base para a construção de políticas públicas, como foi estabelecido no Termo de Responsabilidade assinado entre o prefeito ACM Neto e o UNICEF. Nele, a Prefeitura se compromete a implementar ações que combatam a iniquidade e ofereçam mais possibilidades às crianças e adolescentes soteropolitanos de terem suas vozes escutada na cidade em que vivem. Todos os dados levantamentos e as informações complementares sobre as comunidades serão disponibilizadas na Plataforma Virtual da PCU. Além disso, os participantes do Vozes da Cidade farão o acompanhamento da elaboração do Plano de Ação Municipal. Fotografia de uma cidade amiga A coordenadora do escritório do UNICEF na Bahia/Sergipe, Helena Oliveira, explica que antes mesmo do projeto iniciar oficialmente em Salvador foram levantados dados estatísticos com base em doze indicadores que serão utilizados para fornecer uma “fotografia” das condições sociais em que as crianças e adolescentes da capital baiana estão inseridas. “Outra fotografia será composta em 2016 usando os mesmos indicadores, depois das respostas da gestão municipal às demandas dos jovens. E aí poderemos revelar se Salvador é ou não uma cidade amiga das crianças e adolescentes”, complementa.