REDAÇÃO
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SEMANA 37
PROF. MARCO ANTÔNIO
04/12/2015
Servidão voluntária: o olhar de Bauman e Hxley sobre a sociedade de consumo (Erick Morais - 22 out, 2015)
Saramago já nos advertia que estamos cegos da razão. Talvez seja o nosso ego, sempre inflado e se achando o dono do pedaço. Talvez seja
pela nossa incessante incapacidade para amar. Podemos dizer que essa cegueira
se alastra em função da facilidade. É sempre mais fácil andar sem olhar para o
lado. Sem olhar para nós mesmos. Sem olhar para o que somos ou nós
tornamos.
Cegos que somos, seguimos a doutrina da sociedade de consumo.
Condicionados como bons soldados, não recusamos a missão de esvaziar um
Shopping Center. Aprendemos desde cedo, que como partes do todo, devemos
manter a ordem e, assim, não devemos transgredir as leis de ouro que tornam
a sociedade contemporânea um reino de “felicidade”.
O sistema hegemônico, através da mídia, não nos deixa esquecer a
importância de manter o sistema funcionando harmonicamente, e de como
bom senhor, lhes devemos obediência e servidão. Servidão esta, construída
por meio de chicotes ou força física? Não. Ora, se somos seres desejantes, então, nada melhor do que usar a mídia para nos seduzir.
Somos seduzidos pela promessa de felicidade escondida atrás do consumismo. Somos tentados por todos os sorrisos espalhados nas
propagandas. Somos condicionados a acreditar que a felicidade só é possível se e, se somente se, tenho condições de participar da orgia do
consumo.
Sendo assim, somos ludibriados por um sistema que nos entorpece e nos torna míopes que só enxergam a realidade pelos óculos que
lhes são oferecidos. Tornamos-nos, dessa forma, servos voluntários do sistema, pois embora livres, nos permitimos condicionar e obedecêlo. Sem espaço para a crítica ou auto-reflexão, somos apenas reprodutores de uma cultura aprisionadora que qualifica como tolice qualquer
prazer fora do consumo.
“Imaginem que tolice, permitir que as pessoas se dedicassem a jogos complicados que não contribuíam em nada para o consumo.
Atualmente, os Administradores não aprovam nenhum jogo novo, salvo se, se demonstrar que ele necessita, pelo menos, de tantos
acessórios quanto o mais complicado dos jogos existentes.”
A felicidade, portanto, deve ser comprada, aliás, somente existe se for comprada. Não há espaço para as coisas simples, para o que é
“gratuito”, para que possamos ser felizes e ter prazer, precisamos inexoravelmente consumir.
Essa é a servidão voluntária através do consumo, não pela violência ou coerção, mas pela sedução e erotismo produzido nas relações de
consumo. Devidamente seduzidos pelo mercado, não conseguimos sair das suas entranhas. Não precisamos. Tudo é mercadoria. Ouvimos o
tempo inteiro a voz do mercado, com seus alto-falantes que
denunciam qualquer ato de “tolice” e nos lembram
incessantemente a necessidade vital de consumir, pois como
bem atenta Huxley: “Sessenta e duas mil repetições fazem
uma verdade.”
Todos esses mecanismos de controle social escondem um
autoritarismo com o qual nos acostumamos e aceitamos, pela
indisposição em ser mais que um pacote de biscoitos e um par
de sapatos. Preferimos estar cegos e condicionados que se
opor ao sistema. Estamos, assim, mais que cegos da razão,
estamos, como diz Bauman, em uma cegueira moral.
Somos subvernientes a um sistema que racionaliza as
emoções e que transforma a vida em uma longa linha de
produção, de modo que não existe outro caminho a uma vida
prazerosa sem passar por ela. Somos cegos admirando os
caminhos líquidos de um mundo novo.
O admiramos, pois fomos seduzidos pelo encanto e enlace erótico de um mundo que me permite ser um novo a cada dia, em que não se
precisa de laços e que, portanto, cada um é um fim em si mesmo. Somos servos voluntários, pois nós mesmos nos fazemos dominar.
Entretanto, esquecemos que esse sistema hegemônico através da sedução que nos domina, mantém o status quo de opressão e escravidão.
Como diz Bauman: “A vida desejada tende a ser a vida vista na TV”. Mas, a vida vai além de padrões de comportamento, de cartilhas,
senhas e números. Vai além de escravidão e dominação. Vai além de reproduzir as verdades da mídia. Vai além de um cartão sem limites.
Vai além de algumas polegadas. Ainda que para enxergar esse além, seja preciso coragem para sair do cinema e visitar a própria vida.
(Superinteressante, 22 de outubro de 2015)
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redação - semana 37 prof. marco antônio 04/12/2015