Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil
Mestre:
Eminentíssimo Reverendíssimo Arcebispo, Arya Dharmananda Mahacarya
(André Otávio Assis Muniz)
Discípulo:
Sramanera Dharmabandhu
Data:
12/09/2015
RESUMO DO SUTRA DA PERFEIÇÃO DA SABEDORIA QUE CORTA COMO VAJRA
O Sutra inicia-se com um questionamento do Venerável Subhuti ao Tathagata, acerca sobre
qual deveria ser a morada e como deveria ser procedido o controle de uma mente iluminada. Buda o
instrui, afirmando que se deve proteger e ter em mente todos os bodhisattvas e contemplá-los com a
transmissão do Dharma. Diz que seus discípulos devem controlar as suas mentes, com o objetivo de
encaminhar todos os seres sencientes ao Nirvana. Para concluir este raciocínio disse que se fosse
possível apontar uma infinidade de seres que conseguissem transpor o Samsara, este fato seria uma
inverdade, assim como qualquer tentativa de contextualização de um “eu” ou mesmo de um “ser
vivente” e até a definição do “tempo de vida”, pois estas tentativas de descrições não são
consonantes ao verdadeiro Dharma e não extraem o sentido profundo do vazio.
Se houvesse estas tentativas de algum bodhisattva, estas ações destituiriam o mesmo
proponente por apresentar uma superficialidade no intento de equiparar o incondicionado ao
condicionado. Exemplifica por via de um diálogo que os espaços que enxergamos em alguns pontos
cardiais são imensuráveis, tal como o mérito deve ser imensurável também, e não deve haver apego
à virtude, pois a virtude não é um fim em si mesma, mas um meio para cessar o sofrimento.
Adiante no Sutra, Subhuti pergunta ao Insuperável se no futuro as pessoas que o ouvirem
deverão ser recíprocos ao ensinamento, despertando à iluminação. O Perfeito o renega
moderadamente abordando que depois de cinco séculos haverá uma fração diminuta que será
sensível às suas palavras douradas, e as concebendo como verdadeiras. Diz que para esta
possibilidade ser consumada, o plantio dos méritos não se dará por apenas poucos budas, mas sim
1
com infinitos milhões. Todos que conseguem reconhecer seu ensino são vistos e reconhecidos pelo
Perfeito, e obterão infinitos méritos pôr terem-no enxergado.
Buda continua a tecer seus comentários com seu discípulo, arguindo sobre o motivo
daqueles que o enxergam serem desprendidos à conceitualização. Diz que as pessoas não devem se
apegar à individualidade, e devem agir conforme o pregado na parábola da jangada, em que a
virtude é descrita como objeto incumbido pela travessia entre as margens, e que logo em seguida de
sua utilização deverá ser deixado em desuso, pois a partir do momento em que há uma insistência
em usar o veículo como se fosse perene, em toda ocasião, deixaria de ser um objeto e passaria a se
tornar um peso, que o faria mudar da condição de um meio para um fim.
Na sequência dos questionamentos propostos pelo Tathagata, perguntou ao Subhuti se tinha
alcançado a suprema iluminação. O Venerável discípulo respondeu que em essência não existe tal
fenômeno ipsis litteris descrito e também não há um fenômeno que se possa explicar como se fosse
uma fórmula ou equação, pela razão da completude de um sábio se encontrar no que seja metafísico
e não em fenômenos do mundo manifesto passíveis de descrição e condicionamento.
A próxima questão que o Perfeito remeteu a seu interlocutor da obra, foi: se uma pessoa
doasse os Sete Tesouros e cobrisse uma extensão indescritível de tamanha quantidade da oferta
realizada, obteria muitos méritos por conta da doação? A resposta foi afirmativa, pelo fato do mérito
em si não poder ser tomado como uma distinção ou algum elemento que possa inflar o ego. O
mérito, portanto, transbordaria a personalidade e se estenderia a um raio incalculável. Na
continuidade do parágrafo cita que se apenas quatro ou mais versos deste sutra fossem transmitidos
aos outros, os méritos seriam superiores aos que tivessem doado os referidos tesouros, pelo fato da
suprema iluminação ter como ponto de partida este Sutra. Finaliza comentando que a descrição
“Buddha Dharma” não pode ser considerada “Buddha Dharma”, abordando sutilmente que o
alcance da iluminação é indescritível e incondicionado, então o fenômeno em si não pode ser
descrito com as mesmas palavras.
Na sequência dos paralelos simbólicos instituídos pelo Perfeito, apresenta para o discípulo a
indagação de que se houvesse uma pessoa com o corpo do tamanho do Sumeru tal pessoa seria
grande. Subhuti respondeu de forma afirmativa dirimindo que a questão do corpo não é restrita ao
orgânico, mas ao acúmulo de méritos que faz com que os bodhisattvas preencham o vazio dos
fenômenos com a vastidão de méritos.
A próxima questão proposta foi em relação a possibilidade de haver tantos rios Ganges
quanto os grãos de areia existentes no rio Ganges. Dentre esta causalidade, foi perguntado se os
2
grãos de todos estes rios Ganges seriam muitos. A resposta foi afirmativa, pois haveria uma
infinidade de rios, que se multiplicariam em números imensuráveis de grãos. Na sequência o
Tathagata afirma, e ao mesmo tempo questiona, que se um bom homem ou uma boa mulher
doassem os sete tesouros na proporção da quantidade dos grãos expressa, e cobrissem os três mil
grandes milhares de mundo, obteria méritos. Shubuti responde de forma afirmativa. Para concluir
esta parte do diálogo Buda diz que se alguém recebesse quatro ou mais versos deste Sutra, obteria
méritos superiores ao anterior. Diz também que que os devas, humanos e asuras deverão fazer
oferendas aos que recitam este Sutra, como se fizessem oferenda a um stupa de Buda. Diz também
que quanto mais o discípulo se imbuir do conteúdo deste, mais próximo estará da suprema
iluminação, e que onde este ensinamento puder ser encontrado, haverá um buda ou um respeitável
discípulo, ou seja, quem estiver realizando a leitura deste, destrinchando seu significado, estará
orbitando no profundo significado das palavras sublimes do Perfeito.
Após a exposição da dimensão infinita acerca da importância deste ensinamento, Subhuti
questiona sobre a maneira de chamá-lo, assim como a maneira de guardar os seus profundos
significados. Buda diz que deve ser chamado de Sutra da Perfeição da Sabedoria que Corta como
Vajra, e desta maneira ser guardado. De forma muito sutil descreve que a “Perfeição da Sabedoria”
não pode ser descrita como “Perfeição da Sabedoria”. Buda expressa que o ensinamento não é
inteligível aos que abrirem esta página e realizar a leitura, se forem desprovidos da profundidade da
exposição contida. Demonstra isto, quando comenta com o discípulo se falou sobre o fenômeno
neste Sutra, e obteve uma resposta negativa. É como se quem não soubesse do significado do
Dharma, lesse os versos do Sutra e não pudesse compreender absolutamente nada.
Buda realiza comentários a respeito da paramita da paciência, que é desprovido de conteúdo
real. Disse que quando o seu corpo foi desmembrado pelo rei de Kalinga, não tinha a
conceitualização de um eu, pois, se tivesse a percepção de perenidade, surgiria em si sentimentos de
ira e ódio. Expressa que a ordem mental deve ser mantida, e que o fato de não contextualizar os
fenômenos auxilia no desprendimento e na manutenção do equilíbrio. Cita que em suas vidas
anteriores, já era um praticante da paciência, que o livrava dos enganos da conceitualização. Diz a
Subhuti que a mente plenamente iluminada deve abandonar às denominações, e não deve fazer
surgir os fenômenos na mente. Ratifica que a mente deverá ser sem abrigo algum, e por ventura se
tiver alguma morada, será incorreta. Finaliza o parágrafo comentando que a dedicação aos méritos
deverá ser incomensurável, porém a preocupação em definição do que quer que seja o conceito
deverá ser abandonada, pois este é o mecanismo de cultivo de méritos e aproximação ao Supremo
Caminho.
3
Tathagata fala ao discípulo que sempre expõe a verdade e que de forma alguma fala o que é
falso ou errôneo. Diz que o fenômeno alcançado não é real e nem ilusório, pois a conquista obtida,
quanto a perceber a Verdadeira Realidade não há como se evidenciar ou comprovar. Só poderá ser
consumada pela própria pessoa orientada pelas virtudes do ensinamento, e jamais descrito com as
palavras a um terceiro. Faz uma bela analogia que o bodhisattva preso às descrições dos fenômenos
é equiparado a quem entra em um lugar escuro e nada pode ver, enquanto aquele que acumula
mérito de forma desmedida e sem apego é como quem pode enxergar todos os tipos de coisas com
uma mente iluminada.
O Tathagata acrescenta, suas exposições de ideias, que os ensinamentos compreendidos
neste Sutra são para aqueles pertencentes ao Grande Veículo. Também cita que aqueles que são
capazes de recebê-la, devem ter o compromisso de serem responsáveis por ela. E afirma que
aqueles que se contentarem com o Pequeno Veículo, estarão no mesmo nível daqueles que se
limitam a questões mundanas, com observações condicionadas, e pessoas que assim se portarem,
estarão impossibilitadas da transmissão do Dharma.
Disse a Subhuti que onde houver este sutra, deverá ser reverenciado como uma stupa, pois o
mesmo é digno de reverências. Disse que se algum bom homem ou boa mulher recebe-lo, este
Sutra, mesmo que tenha percorrido transgressões em suas vidas passadas, percorrerão o caminho da
Suprema Iluminação, pelo fato de ser fiel ao ensinamento. O Perfeito disse que antes de alcançar o
mais profundo estágio da Verdadeira Realidade, ele serviu a uma quantidade infinita de Budas, mas
que se uma pessoa no Período Final do Dharma, puder receber, manter, ler e recitar de memória este
Sutra, obterá ainda mais virtudes do que ele teve.
Na sequência Buda pergunta novamente à Subhuti se tinha alcançado o a suprema
iluminação quando estava com o Buddha Dipamkara. O discípulo respondeu que pelo todo
entendimento da doutrina, que tinha recebido, o Bhagavant não tinha alcançado nenhum fenômeno.
A justificativa que Buda deu para não ter recebido nenhum fenômeno, foi pelo fato de Buddha
Dipamkara ter profetizado que no futuro, o Bhagavant se tornaria Shakyamuni. Nesta descrição, se
dá a impressão que a questão de uma denominação búdica, não deve ser interpretada como uma
questão física observável, mas como um fenômeno da mente que não pode haver identificação, e
que tem uma importância muito maior por sua potência do que a manifestação visível, pois, aquele
que tem a compreensão da Verdadeira Realidade não tem a posse de nenhum fenômeno, deve
manter o desejo intenso de oportunizar que outros seres viventes possam encontrar a via da
iluminação.
Buda pergunta ao discípulo, de forma sequencial se Ele possui os olhos físicos, o Olho
4
Divino, o Olho da Sabedoria, o Olho do Dharma e o Olho do Dharma. Todas as respostas de
Subhuti foram positivas às questões. Buda é o único que consegue enxergar as questões sagradas do
Grande Veículo e os fenômenos invisíveis, inerentes ao vazio, que as pessoas comuns não
conseguem enxergar.
Após a descrição do poder do Olho de Buda, descreve sobre a mente. Disse que tem o poder
de conhecer a mente, pois ensina que estas mentes são condicionadas, e todas possuem em si a não
mente, que seria a possibilidade da percepção do vazio. Para esta realização, diz que a mente não
pode ser restrita ao passado, presente e ao futuro, ou seja, a não mente é atemporal.
Buda fala para Subhuti que costumam associar que o Tathagata tem poder de libertar os
seres senciente. Continua a falar que esta possibilidade não existe, pois se ele fosse capaz de libertálos, seria remetido a um eu, um indivíduo com período de vida delimitado. O Tathagata não é um
ser vivente, e as pessoas comuns não são pessoas comuns, são chamadas de pessoas comuns. Este
trecho é muito interessante por expressar que a Suprema Iluminação é incondicionada e que não é
apenas o fenômeno do qual Shakyamuni foi acometido.
Buda continua seu discurso a Subhuti afirmando que um bodhisattva não aceita méritos pois
a sua determinação é gera-los e não se apegar a eles. Disse também que se alguém especular sobre a
origem do Tathagata assim como sobre o seu destino, não terá compreendido o profundo significado
de seu ensinamento.
Prestes a finalizar o Sutra, o Bhagavat reforça as suas comparações demonstrando que os
fenômenos não são substanciais como as pessoas afirmam ser, que os fenômenos manifestos são
denominados pelas pessoas com as respectivas descrições atribuídas, assim o é para as partículas
minúsculas, os três mil grandes milhares de mundo, entidade unificada, visão de um eu, de um
indivíduo, ser vivente ou período de vida. Todas estas descrições são vazias, porém rotuladas pela
mente das pessoas comuns.
Finalizando a pregação do Tathagata, volta a reforçar que aquele que conserva este Sutra ou
apenas quatro versos, recebendo-o, mantendo-o, lendo-o, recitando-o de memória e transmitindo-o
a outras pessoas terão méritos incalculáveis. E por fim, quando Subhuti o questiona sobre a maneira
de transmitir este Sutra, responde que deverá sê-lo feito sem o apego à conceitualização, de uma
forma imóvel como a Verdadeira Realidade. Justificou que esta procedência deve ocorrer por conta
de os fenômenos serem condicionados, como as sensações, as formas visíveis e os fenômenos da
natureza.
Este Sutra também é conhecido como o Sutra do Diamante. Como muitas vezes citado, este
5
ensinamento contém muito mais valor do que todas as joias do universo, mas só pode ser enxergado
por aqueles que obtiverem os Olhos de Buda. Enquanto não ser visto por quem tenha esta condição,
o livro impresso não terá valor algum, assim como o Dharma. E quem o obtiver nada vai possuir,
pois seu valor intrínseco é preparar aquele que o acessa a transmiti-lo para quem estiver na busca da
Suprema Iluminação.
Bibliografia:
•
Sutra da Perfeição da Sabedoria que Corta como Vajra (Sutra do Diamante). Tradução
Dharma Translation Organization e Templo Tzong Kwan, São Paulo: Templo Tzong Kwan,
2011. 13-63p.
6
Download

Eminentíssimo Reverendíssimo Arcebispo, Arya Dharmananda