Retro-análise da curva recalque vs tempo utilizando as teorias de Terzaghi e de Taylor e Merchant Raphael Felipe Carneiro Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Denise Maria Soares Gerscovich Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Bernadete Ragoni Danziger Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] Rogério Luiz Feijó Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, [email protected] RESUMO. A teoria clássica de adensamento de Terzaghi pressupõe que os recalques de compressão primária ocorrem durante o processo de fluxo transiente, cujo término, teoricamente, se dá num tempo infinito. Do ponto de vista prático, considera-se que porcentagens de adensamento superiores a 90% já podem ser consideradas como limites do processo, visto que os recalques remanescentes são desprezíveis. Em alguns solos, particularmente àqueles com elevado teor de matéria orgânica, a existência de um processo de fluência sob tensão constante é, então, considerada como tendo seu início ao final do recalque primário. Este recalque, denominado secundário, ocorre por uma instabilidade estrutural do arcabouço sólido, fazendo com que as partículas de argila continuem se movimentando. Desta forma as deformações ocorrem sob tensão efetiva constante, contrariando o princípio que deformações só ocorrem quando há variações nas tensões transmitidas ao arcabouço sólido. Taylor e Merchant apresentaram uma teoria de adensamento unidimensional, que incorpora o efeito da compressão secundária e que tem como base os efeitos da viscosidade da água adsorvida. Com isso, as variações volumétricas ao longo do tempo dependem não só das características de compressibilidade, mas também da viscosidade. Este trabalho apresenta a aplicação das teorias de Terzaghi e de Taylor e Merchant na reprodução da curva recalque vs tempo de um aterro instrumentado, executado sobre camada de argila mole, localizado próximo ao rio Sarapuí, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. PALAVRAS-CHAVE: Argila mole, Adensamento, Aterro, Solo compressível. 1 INTRODUÇÃO A teoria clássica de adensamento de Terzaghi e Frolich (1936) pressupõe que, após os recalques de compressão primária, devidos à dissipação dos excessos de poro-pressão gerados na construção, inicia-se um novo processo de recalque, denominado secundário. Segundo Terzaghi, uma vez que o recalque secundário está associado a uma condição de tensão efetiva vertical constante, as deformações são atribuídas ao mecanismo de fluência. Seu valor é estimado exclusivamente em função do tempo e geralmente considera-se, para fins de projeto, o período correspondente à vida útil da obra. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma forma alternativa de analisar o fenômeno do recalque secundário, de prever sua magnitude e evolução no tempo. Esta metodologia será aplicada ao aterro experimental executado na argila na região do rio de Sarapuí, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. 2 TEORIAS DE ADENSAMENTO 2.1 Analogia mecânica de Terzaghi Segundo Terzaghi e Frolich (1936), a compressão ocorre exclusivamente pela variação das tensões efetivas. No clássico modelo, mostrado na Figura 1, o solo saturado é representado por uma mola, envolta por água, sendo o fluxo controlado por uma válvula. No instante em que o carregamento é aplicado, inicia-se a expulsão da água através dos vazios do solo. Se as deformações laterais estiverem impedidas (carregamentos considerados infinitos), o acréscimo de poro-pressão no instante inicial corresponde a todo o acréscimo de tensão vertical. No caso das deformações laterais permitidas (carregamentos finitos), parte do carregamento é suportada pela água e parte pelos grãos, causando variação da tensão vertical efetiva instantaneamente e, como conseqüência, recalque imediato. Figura 1. Analogia hidromecânica. (a) Modelo real; (b) Modelo físico; (c) Carga aplicada com a válvula fechada (t=0); (d) Após abertura da válvula (t ≥0+); (e) Situação final de equilíbrio. De uma forma ou de outra, ao longo do processo de fluxo, o excesso de poro-pressão é dissipado, resultando em aumento da tensão efetiva vertical. Conforme a água é expulsa do solo, o índice de vazios diminui e o recalque, dito primário, ocorre. Teoricamente, este fenômeno, conhecido como adensamento, apresenta duração infinita, ou seja, a transferência do acréscimo de pressão na água para o solo não possui um instante final. Por isso, em projetos de engenharia admite-se que o recalque primário está praticamente findado ao atingir 90% de sua magnitude. Neste momento, considera-se que o recalque secundário começa a se manifestar. Como as tensões efetivas verticais já foram dissipadas, Terzaghi atribui o recalque secundário ao rearranjo gradual dos grãos, de forma que o solo encontre uma configuração mais estável. Esta explicação contradiz o próprio princípio de Terzaghi, que diz só haver recalques em presença de variação de tensões efetivas. 2.2 Proposta de Lacerda e Martins (1985) Lacerda e Martins (1985) propuseram uma teoria na qual a compressão secundária também acontece por variações na tensão efetiva. Neste caso, a tensão efetiva vertical permanece constante enquanto a horizontal cresce, tendendo a se igualar com a vertical; isto é, fazendo com que k0 tenda a 1. A partir desta premissa, os efeitos da compressão secundária teriam uma duração limitada, a qual estaria associada a uma trajetória iniciada na curva de adensamento primário e finalizada na curva paralela à linha de compressão virgem, como mostra a Figura 2. Nesta figura, caso as tensões efetivas verticais sejam superiores à observada no ponto C (por exemplo, pontos A e B), a trajetória de compressao secundária será descendente até encontrar a linha k0 = 1; ou seja, haverá redução de índice de vazios para um valor de σ’v constante. Por outro lado, caso o solo seja muito pré-adensado (pontos D e E), a trajetóra de compressao secundária será de expansão e haverá redução da tensão efetiva horizontal. A partir da Figura 3, segundo Lacerda e Martins (1985), é possível estimar os recalques primário (trecho AC) e secundário (trecho CD) em função dos parâmetros cc e cr (Figura 3); ou melhor: ρs = H0 ∆e 1 + e0 (1) onde H0 é a espessura da camada, e0 o índice de vazios inicial e ∆e a variaçao do índice de vazios. No caso de recalque primário, ∆e pode decorrer de três situações: se o carregamento inicia no trecho de recompressão e ultrapassa a tensão de pré-adensamento σ’vm; se o carregamento inicia no trecho de recompressão e não ultrapassa da tensão de pré-adensamento σ’vm; e se o carregamento inicia no trecho de compressão virgem. A variação do índice de vazios correspondente ao recalque secundário é calculada subtraindo as variações nos trechos CE e ED (∆eCE – ∆eED). Com isso, tem-se: ρs = Trajetórias de compressão secundária H0 (c c − c r ) log (OCR sec ) 1 + e0 (3) Caso a tensão final se encontre no trecho de recompressão; isto é, sob condição pré adensada, a equação (3) passa a ser: ρs = H0 (c c − c r ) log OCR sec 1 + e0 OCR f (4) onde OCRf é a razão de adensamento final, dada por: OCR f = Figura 2. Relações e x σ′v considerando compressão e expansão secundárias. 2.3 Cálculo dos recalques Para o cálculo do recalque secundário, define-se o termo OCRsec, como a razão de préadensamento para fins de cálculo do adensamento secundário em relação à linha do adensamento primário (Equação 2). OCR sec = σ' vs σ' vf Figura 3. Modelo para estimativa do recalque total. (2) σ' vm σ' vf (5) 3 EVOLUÇÃO DOS RECALQUES NO TEMPO A porcentagem de adensamento (U) proposta na teoria do adensamento de Terzaghi e Frolich permite estimar a curva carga x recalque, considerando-se exclusivamente a magnitude do recalque primário. Para o recalque secundário, este se inicia ao final do primário e sua evolução no tempo é estimada assumindo-se uma relação constante entre o índice de vazios e o logaritmo do tempo (Figura 4). No entanto, é razoável supor que, na prática, ao contrário da teoria de Terzaghi, o recalque secundário ocorra simultaneamente ao adensamento primário. Figura 4. Gráfico recalque vs tempo. A teoria de Taylor e Merchant (1940) é capaz de descrever a evolução dos recalques, já considerando o recalque secundário, através de uma equação diferencial mais complexa que a de Terzaghi (Equação 6). ∞ 1 [(ψ1 − ψ 2 )(ψ 3 − 1)e (ψ1 +ψ 2 )T − m =0 FM² (ψ1 + ψ 2 )(ψ 3 + 1)e (ψ1 −ψ2 )T ] (6) U TM = 1 − ∑ onde os parâmetros da equação são definidos como π M = (2m + 1) ; m = 0,1,2,3,4... 2 tc T = v2 Hd µH d2 rc v ρp ρ r= = p ≤1 ρ p + ρs ρ t F= ψ1 = − 1 (F + M² ) 2 1 (F + M² )² − 4rFM² 2 ψ + M² ψ3 = 1 ψ2 ψ2 = Revisada por Christie (1965), a equação conta com mais parâmetros a serem calculados, embora com formato similar à tradicional. Há a µ, denominado introdução do termo “coeficiente de compressão secundária”, que representa a consideração do efeito de viscosidade do solo, causado pela água adsorvida que envolve as partículas de argila (Andrade, 2009). O termo r é a razão entre o recalque primário e o recalque total, necessariamente menor ou igual a 1 (compressão secundária). Se for o caso de expansão secundária, a equação não pode ser aplicada. Quando r é igual a 1, o recalque primário é igual ao recalque total, ou seja, o recalque secundário é nulo. Neste caso, a expressão se reduz e se torna idêntica à porcentagem de adensamento da teoria de Terzaghi. O fator F seria proporcional à razão entre as velocidades das compressões secundária e primária. Taylor & Merchant (1940) descrevem que, enquanto a velocidade do adensamento primário é inversamente proporcional ao quadrado da altura de drenagem, a velocidade do adensamento secundário é diretamente proporcional ao termo µ e independe da altura de drenagem. Assim, para ensaios de laboratório convencionais, pelo fato da altura de drenagem ser muito pequena (1 cm), o valor de F seria bastante reduzido. Martins (2008) descreve que esse valor é da ordem de 10-4, o que implicaria em um valor de µ da ordem de 10-8 a 10-7. 4 CASO ANALISADO 4.1 Descrição do local Localizado às margens do rio Sarapuí, no Rio de Janeiro, o depósito argiloso é provavelmente o mais estudado do país. O DNER/IPR realizou, com o auxílio de instituições de pesquisa, vários estudos na região, que incluíram a construção de aterros experimentais. Foram executados dois aterros, tendo o primeiro sido levado à ruptura em 1977 (Ortigão, 1980). O segundo aterro teve sua execução iniciada em 1978 (DNER/IPR, 1980) e foi designado para futura avaliação de recalques. A espessura da camada de argila varia em torno de 11 metros e está assente sobre camada de areia fina (Ortigão, 1980). Dividido em sete seções, nomeadas de A a G, o Aterro Experimental II foi construído parte sobre drenos verticais de areia e parte sem drenos. A seção A, cujos dados foram utilizados para este trabalho, foi construída sem drenos. A Figura 5 apresenta as características geométricas desta seção. 4.2 Parâmetros geotécnicos Almeida et. al. (2005) reuniram diversos dados resultantes dos estudos na região. A compilação dos principais parâmetros geotécnicos foi resumida na Tabela 1 e os valores de tensões iniciais, tensões de pré-adensamento, bem como as respectivas razões de sobreadensamento, estão apresentadas na Tabela 2. Os valores são referentes ao centro de cada subcamada, de tal modo que é possível perceber o quão baixo é o peso específico da argila encontrada no local, em torno de 13 kPa. O nível d’água se situa na superfície do terreno (Ortigão, 1980). diferentes valores de OCR nas amostras ao fim do adensamento primário, e observaram a variação do índice de vazios. Os valores de OCR estao mostrados na Tabela 3, em conjunto com a estimativa do valor de ko, feita com base na Equação 7, proposta por Mayne e Kulhawy (1982). Admitindo um ângulo de atrito φ igual a 25º, os autores chegaram a valores de ko para cada amostra analisada variando entre 0,7 a 1,7. k 0 = (1 − senφ ) OCR senφ Argila mole (7) Tabela 2. Tensões efetivas iniciais e de pré-adensamento. Profundidade (m) OCR σ’v0 σ’vm Figura 5. Seção A do Aterro Experimental II (adaptado de DNER/IPR, 1980). Tabela 1. Principais parâmetros geotécnicos. Profundidade (m) e0 cr 4.3 cc 0,0 a 1,0 4,10 0,25 2,09 1,0 a 2,0 4,10 0,25 2,09 2,0 a 3,0 4,10 0,25 2,09 3,0 a 4,0 3,97 0,24 2,04 4,0 a 5,0 3,76 0,23 1,95 5,0 a 6,0 3,55 0,22 1,86 6,0 a 7,0 3,34 0,21 1,78 7,0 a 8,0 3,13 0,20 8,0 a 9,0 2,92 9,0 a 10,0 10,0 a 10,5 (kPa) (kPa) 0,0 a 1,0 1,35 8,02 5,94 1,0 a 2,0 4,05 13,89 3,43 2,0 a 3,0 6,75 17,93 2,66 3,0 a 4,0 9,52 21,37 2,24 4,0 a 5,0 12,55 24,85 1,98 5,0 a 6,0 15,87 28,42 1,79 6,0 a 7,0 19,46 32,06 1,65 7,0 a 8,0 23,34 37,34 1,60 8,0 a 9,0 27,49 43,99 1,60 9,0 a 10,0 31,93 51,08 1,60 10,0 a 10,5 35,44 56,70 1,60 Tabela 3. Estimativa do valor de ko (Martins et al.,1997). Amostra OCR Ko σ'vm σ'v (kPa) (kPa) 2CP1 150 100 1,5 0,69 2CP2 200 100 2 0,77 2CP3 400 100 4 1,04 2CP4 600 100 6 1,23 1,69 2CP5 800 100 8 1,39 0,19 1,61 2CP6 1200 100 12 1,65 2,71 0,18 1,52 2,55 0,17 1,45 Estudos sobre a compressão secundária Feijó e Martins (1993) realizaram ensaios oedométricos de longa duração, impondo Os resultados de 200 dias de monitoramento mostraram que as amostras com ko menor do que 1 apresentaram compressão secundária e as amostras com ko maior do que 1 expandiram; a amostra com ko igual a 1 manteve seu volume inalterado (Figura 6). Qualitativamente, para valores de k0 entre 0,80 e 1,20, a variação de volume foi irrelevante. Com isso, Feijó e Martins (1993) concluíram que existe uma faixa para a Argila de Sarapuí, entre os OCRs 2 a 6, de compressão secundária desprezível (figura 7). também compreende parte da compressão secundária. Com isso, Martins (2008) recomenda considerar 1,6 como o OCRsec para o fim da compressão secundária, pois uma parcela deste recalque já aconteceu durante esse período de recalque primário. 4.4 Monitoramento dos recalques no campo A Tabela 4 reproduz as leituras de requalque, realizadas a partir de três placas de recalque (R) e de um extensômetro magnético vertical (EM), dispostos no eixo do aterro (DNER/IPR, 1980). Figura 6. Comportamento da Argila do Sarapuí após descarregamento ao fim do adensamento primário (Feijó e Martins, 1993). Figura 7. Zona de equilíbrio indiferente para a argila de Sarapuí (Feijó e Martins, 1993). Nos ensaios de laboratório, a compressão primária ocorre em um tempo muito reduzido. Como a curva tensão efetiva x índice de vazios é traçada após 24h, o recalque verificado não é apenas relativo à compressão primária, mas Tabela 4. Resultado das medições de recalque. Leitura Recalques medidos (cm) R-3 R-13 R-12 0 0,0 0,0 0,0 1 4,6 3,5 1,5 2 7,7 5,9 6,9 3 10,8 8,4 8,4 4 13,1 10,5 10,5 5 14,7 12,0 12,1 6 16,6 13,7 13,1 7 17,4 14,5 13,9 8 20,0 16,0 15,5 9 20,9 18,8 16,9 10 23,3 21,2 18,2 11 25,9 24,8 21,0 12 31,5 30,3 25,6 13 36,0 33,0 29,0 14 38,0 36,5 31,9 15 40,1 38,3 34,1 16 42,6 40,7 37,1 17 44,6 42,7 39,5 18 46,4 45,0 41,5 19 48,2 46,3 43,7 20 50,5 48,4 46,3 21 52,0 49,9 48,1 22 53,0 50,9 49,4 23 54,0 52,5 51,0 24 55,7 53,5 52,5 25 56,5 55,0 53,5 26 58,0 57,0 55,5 27 59,0 58,0 56,5 28 60,0 59,0 57,5 29 61,0 60,0 58,5 30 62,0 61,0 59,5 31 63,0 61,5 60,5 32 64,0 62,5 61,5 33 65,0 63,5 62,0 34 66,0 64,0 63,0 35 67,0 65,0 64,0 36 68,0 66,0 64,5 37 69,0 67,0 65,2 38 69,9 68,0 66,0 39 70,6 68,5 66,9 40 71,8 69,2 67,7 41 72,2 70,0 68,5 EM-1 0,0 7,3 8,3 13,4 14,5 16,4 18,0 19,2 21,0 22,5 25,0 28,2 33,0 36,4 39,3 41,6 43,8 45,8 49,0 50,2 52,8 54,4 56,0 57,0 57,5 59,6 60,5 61,5 62,0 63,0 64,6 65,2 66,1 67,0 68,0 69,0 70,0 71,0 72,0 73,2 74,5 75,1 As medições dos recalques iniciaram dois meses após o início da construção do aterro, quando a altura de cada seção era cerca de 1 metro, e se estenderam por 41 meses. 5 RESULTADOS OBTIDOS Para o cálculo do recalque primário adotou-se que o aterro seria associado a um modelo de carregamento finito; isto é, o excesso de poropressão a ser dissipado foi calculado utilizandose a equação de Skempton (equação 10). Adotou-se para o parâmetro B o valor 1 (saturado) e os valores do parâmetro A foram obtidos de Ortigão (1980). ∆u = B[∆σ 3 + A( ∆σ 1 − ∆σ 3 )] (10) Através das equações da Teoria da Elasticidade (Poulos e Davis, 1974) para a condição de carregamento semi-infinito, foram calculados os acréscimos de tensão ∆σ1 e ∆σ3, causados pelo aterro, dividindo-se a espessura da argila em subcamadas. O aterro foi aproximado para uma seção de largura 31,42m, com peso específico de 18,4 kN/m³, que, para uma altura de 1,79 m, resulta numa sobrecarga de 32,94 kPa. Os resultados estao mostrados na Tabela 5. Tabela 5. Cálculo do acréscimo de poro-pressão. Z A σz σx ∆u α δ (m) (rad) (rad) (kPa) (kPa) (kPa) 0,5 3,1 1,5 32,9 31,6 0,2 31,9 1,5 3,0 1,5 32,9 29,0 0,28 30,1 2,5 2,8 1,4 32,9 26,4 0,3 28,3 3,5 2,7 1,4 32,8 23,9 0,33 26,8 4,5 2,6 1,3 32,6 21,5 0,4 26,0 5,5 2,5 1,2 32,4 19, 0,5 25,9 6,5 2,4 1,2 32,1 17,3 0,5 24,7 7,5 2,3 1,1 31,7 15,4 0,6 25,2 8,5 2,1 1,1 31,3 13,8 0,6 24,3 9,5 2,1 1,0 30,8 12,2 0,65 24,3 10,25 2,0 1,0 30,4 11,2 0,65 23,7 A Tabela 6 resume os recalques primário e secundário, estimados em cada subcamada, sendo considerado OCRsec igual a 1,6. A parcela de recalque primário foi de 1,10m e de secundário de 0,78m. Cabe ressaltar que os efeitos do recalque imediato foram desconsiderados neste trabalho. A previsão da curva recalque x tempo foi feita considerando-se o recalque total de 1,88m e a equação 6, proposta por Taylor e Merchant (1940). Para tal, foi criada uma planilha Excel com uma curva equivalente à encontrada, utilizando os parâmetros da subcamada central e um carregamento próximo ao real de modo a obter os mesmos recalques encontrados. Para o valor de µ, adotou-se 10-7. Considerando as leituras de recalque apresentadas na Tabela 4 para os últimos meses verificados, foi aqui encontrado um valor de cv, por retro-análise, de aproximadamente 5,0 x 10-8 m/s². A Tabela 7 apresenta os dados utilizados. Tabela 6. Cálculo dos recalques para cada subcamada. Z ρ primário ρ secundário ρ total (m) (m) (m) (m) 0,5 0,291 0,074 0,365 1,5 0,186 0,074 0,260 2,5 0,140 0,074 0,214 3,5 0,114 0,076 0,190 4,5 0,092 0,074 0,166 5,5 0,080 0,074 0,154 6,5 0,068 0,074 0,141 7,5 0,057 0,074 0,130 8,5 0,039 0,074 0,113 9,5 0,027 0,074 0,101 10,25 0,009 0,037 0,045 TOTAL 1,10 0,78 1,88 Tabela 7. Dados utilizados na elaboração da curva de Taylor e Merchant. Dados de entrada Dados de saída H0 (m) e0 10,50 ρ primário (m) 3,55 ρ secundário (m) nº de camadas 2 drenantes Cc 1,86 Cr 0,22 σ'v0 (kPA) 15,87 σ'vm (kPA) 28,42 ∆σ'v (kPA) cv (x 10-8 m²/s) 32,1 5,0 1 µ (x 10-7) OCRsec (24 h) 1,6 ρ total (m) r= T= ρp ρ p + ρs 1,104 0,773 1,88 = ρp ρt cv t H d2 59% 93,7 95% do ρp (meses) 240 95% do ρt (meses) 408 O gráfico comparativo entre os recalques medidos e o calculado pode ser observado na Figura 8. É possível perceber que as curvas praticamente se coincidem após certo período de tempo (no caso em questão, este período é de aproximadamente 400 dias). Para tempos inferiores, a curva calculada apresenta resultados de magnitude maior. Isto provavelmente está relacionado ao fato de o aterro ter sido construído em camadas, em vez de instantaneamente. As leituras dos recalques se iniciaram quando o aterro atingiu a altura de cerca de 1 metro, sendo sua altura total de 1,79m. A correção gráfica de Terzaghi-Gilboy, para casos como este, pode ser uma boa alternativa. Figura 8. Comparativo entre os recalques. 6 CONCLUSÕES É possível perceber que, para a argila de Sarapuí, é fundamental o cálculo dos recalques secundários. No caso analisado, a parcela de adensamento secundário equivale a 70% do recalque primário, o que corresponde a 41% do total. Desprezá-la implica em um erro, neste caso, de quase 80 centrímetros. A proposta de Martins e Lacerda para cáculo dos recalques primário e secundário, associada à teoria de Taylor e Merchant, mostrou-se adequada para previsao da curva carga x recalque. Apesar da aparente complexibilidade, a expressão de Taylor e Merchant torna-se bastante simples, visto que alguns parâmetros podem ser reduzidos e que se pode efetuar os cálculos através de planilhas eletrônicas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FAPERJ e ao CNPq pelo apoio financeiro ao projeto. REFERÊNCIAS Almeida, M. S. S., Marques, M. E. S., Lacerda, W. 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