Monografia de Especialização: Aproximações numéricas para funções e raı́zes de funções. Cristiane Santos Barreto e Thiago Leonardo Bastos da Silva Orientador: Flaulles Boone Bergamaschi Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Departamento de Ciências Exatas Curso de Matemática Aproximações numéricas para funções e raı́zes de funções Cristiane Santos Barreto e Thiago Leonardo Bastos da Silva Orientador: Flaulles Boone Bergamaschi Vitória da Conquista, 26 de Maio de 2008 Agradecimentos Às nossas famı́lias pelo apoio durante o tempo de realização deste trabalho. Ao nosso professor e orientador Flaulles Boone Bergamaschi e aos demais professores e colegas que colaboraram com as diversas discussões sobre matemática, contribuindo para o aprofundamento de nossos conhecimentos nessa área e no desenvolvimento deste trabalho. Índice 1 Raı́zes Reais e Raı́zes Complexas 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Método de Newton-Raphson para Raı́zes Reais Múltiplas . . . 1.3 Método de Newton-Raphson para Raı́zes Complexas . . . . . . 2 Aproximação Linear 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Sistemas de Equações não-Lineares . . . . . . . . . 2.2.1 Método das aproximações sucessivas (MAS) 2.3 Aproximação de função a uma variável real . . . . . 2.3.1 Aproximação pelos Mı́nimos Quadrados . . . 2.3.2 Sistemas Ortogonais . . . . . . . . . . . . . 2.3.3 Solução do Problema de Aproximações . . . 2.3.4 Redução ao Ajuste Linear . . . . . . . . . . Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 1 4 7 7 7 8 10 11 12 13 18 21 i Capı́tulo 1 Raı́zes Reais e Raı́zes Complexas 1.1 Introdução Neste capı́tulo vamos desenvolver o método de Newton-Raphson para achar solução de equações cujas raı́zes podem ser reais (simples e múltiplas) ou complexas. Os métodos numéricos para o cálculo de raı́zes simples podem ser encontrados em [1], [2], [6] ou [7]. 1.2 Método de Newton-Raphson para Raı́zes Reais Múltiplas Definição 1.1. Uma raiz α de f(x)= 0 é dita múltipla de multiplicidade q se 0 6= | g(α) | < ∞, g(x) = (x − α)−q f (x). Pela definição acima, se α é de multiplicidade q, então f (α) = f 0 (α) = f 00 (α) = ... = f q−1 (α) = 0 e f q (α) 6= 0. Se a raı́z é simples, ou seja, q=1, então f 0 (α) 6= 0. Para o cálculo de raı́zes simples temos alguns métodos numéricos como: Método do Meio Intervalo (MMI), Método das Aproximações Sucessivas (MAS), Método de Newton-Raphson (MNR), Método da Secante (MSC) entre outros. Pelo método de Newton-Raphson (MNR) temos a equação de iteração Xn+1 = Xn − 1 f (Xn ) , f 0 (Xn ) CAPÍTULO 1. RAÍZES REAIS E RAÍZES COMPLEXAS 2 que converge quadradicamente para raı́zes simples. Mas no caso de raı́zes múltiplas essa convergência não é mais válida. Para resgatar a convergência quadrática para a raiz α de multiplicidade q deve-se fazer a seguinte modificação no MNR Xn+1 = Xn − q f (Xn ) . f 0 (Xn ) (A) No exemplo 1.1, teremos um quadro em que os resultados na segunda coluna são obtidos pela fórmula acima (A). Quando não se conhece a multiplicidade da raiz tem-se que desenvolver f em série de Taylor em torno de x = α. Assim o algoritmo do MNR para a equação fica sendo: f (x) = 1 (x − α)q f (q) (ε), ε entre x e α, q! f 0 (x) = 1 (x − α)q−1 f (q) (ε), ε entre x e α. (q − 1)! f (x) , obtém-se f 0 (x) u(x) (x − α)q f (q) (ε) lim = lim 1 x→α x − α x→α q! (x − α)q−1 f (q) (ε)(x − α) (q − 1)! Fazendo u(x) = = lim (q − 1)! q! = lim 1 q x→α x→α = = 1 q lim (q − 1)! q(q − 1)! 6= 0. Observe que: f (xn ) e f 0 (xn ) f 0 (xn )f 0 (xn ) − f (xn )f 00 (xn ) f (xn )f 00 (xn ) 0 u (xn ) = =1− 0 . [f 0 (xn )]2 f (xn )f 0 (xn ) u(xn ) = Daı́, u0 (xn ) = 1 − f 00 (xn ) u(xn ), f 0 (xn ) n = 0, 1, 2, ... CAPÍTULO 1. RAÍZES REAIS E RAÍZES COMPLEXAS 3 Logo, xn+1 = xn − u(xn ) u0 (xn ) (B) resulta no algoritmo do MNR para u(xn ) = 0 No exemplo a seguir teremos um quadro em que os resultados na terceira coluna são obtidos pela fórmula acima (B). Exemplo 1.1. A raiz positiva da equação x4 − 1 = 0 é de multiplicidade dois. Tomando x0 = 0, 5, determine essa raiz por meio dos métodos MNR e MNR modificados conforme A e B. Temos que: f (x) = x4 − 1 f 0 (x) = 4x3 f 00 (x) = 12x2 Pelo MNR xn+1 = xn − f (xn ) 4(xn )3 − 1 =⇒ x = x − . n+1 n f 0 (xn ) 4(xn )3 Pelo MNR modificado A xn+1 · ¸ 4(xn )3 − 1 f (xn ) = xn − q 0 =⇒ xn+1 = xn − 2 . f (xn ) 4(xn )3 E pelo MNR modificado B f (xn ) 4(xn )3 − 1 =⇒ u(x ) = n f 0 (xn ) 4(xn )3 µ ¶µ ¶ f 00 (xn ) 12(xn )2 4(xn )3 − 1 0 0 u (xn ) = 1 − 0 u(xn ) =⇒ u (xn ) = 1 − . f (xn ) 4(xn )3 4(xn )3 4(xn )3 − 1 4(xn )3 µ ¶µ ¶. xn+1 = xn − 12(xn )2 4(xn )3 − 1 1− 4(xn )3 4(xn )3 u(xn ) = CAPÍTULO 1. RAÍZES REAIS E RAÍZES COMPLEXAS 4 No quadro abaixo, temos o resumo dos cálculos para determinação da raı́z múltipla com n variando de 0 a 10. x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7 x8 x9 x10 1.3 MNR 0, 5000 2, 3750 1, 7999 1, 3928 1, 1371 1, 0229 1, 0008 1, 0000 1, 0000 1 MNR A 0, 5000 4, 2500 2, 1315 1, 1174 0, 91709 1, 1068 0, 92218 1, 0987 0, 92637 1, 0921 0, 9299 MNR B 0, 5000 0, 65306 0, 82097 0, 95068 0, 9963 0, 99998 1 Método de Newton-Raphson para Raı́zes Complexas Considere como problema resolver a equação f (z) = 0. Sendo z = x + iy um número complexo, a equação pode ser escrita como f (z) = U (x, y) + iV (x, y). Assim o MNR fica sendo zn+1 = zn − f (zn ) , com n = 0, 1, 2, ... f 0 (zn ) tal que f 0 (zn ) = Ux (x, y)+iVx (x, y) = Vy (x, y)−iUx (x, y), devido às equações de Cauchy-Riemann para derivação de funções de variáveis complexas. Temos que zn+1 = zn − f (zn ) , f 0 (zn ) zn+1 = zn − U (xn , yn ) + iV (xn , yn ) . Ux (xn , yn ) + iVx (xn , yn ) Multiplicando o segundo Ux (xn , yn ) + iVx (xn , yn ) teremos: Ux (xn , yn ) + iVx (xn , yn ) membro da igualdade por CAPÍTULO 1. RAÍZES REAIS E RAÍZES COMPLEXAS zn+1 = zn − U (xn , yn )Ux (xn , yn ) − iU (xn , yn )Vx (xn , yn ) + iV (xn , yn )Ux (xn , yn ) − i2 V (xn , yn )Vx (xn , yn ) [Ux (xn , yn )]2 + iVx (xn , yn )Ux (xn , yn ) − iUx (xn , yn ) + iVx (xn , yn ) − [iVx (xn , yn )]2 zn+1 = xn + iyn − zn+1 = xn − 5 U (xn , yn )Ux (xn , yn ) + V (xn , yn )Vx (xn , yn ) + i[V (xn , yn )Ux (xn , yn ) − U (xn , yn )Vx (xn , yn )] 2 (x , y ) + V 2 (x , y ) Ux n n n n x U (xn , yn )Ux (xn , yn ) + V (xn , yn )Vx (xn , yn ) 2 (x , y ) Ux n n + Vx2 (xn , yn ) " + i yn − V (xn , yn )Ux (xn , yn ) − U (xn , yn )Vx (xn , yn ) 2 (x , y ) Ux n n + Vx2 (xn , yn ) Como zn+1 = xn+1 + i yn+1 , então: xn+1 = xn − U (xn , yn )Ux (xn , yn ) + V (xn , yn )Vx (xn , yn ) Ux2 (xn , yn ) + Vx2 (xn , yn ) yn+1 = yn − V (xn , yn )Ux (xn , yn ) − U (xn , yn )Vx (xn , yn ) Ux2 (xn , yn ) + Vx2 (xn , yn ) A f (zn ) e f 0 (zn ) são obtidas pelo método acima quando a equação não é polinomial, se for polinomial podem ser obtidas por métodos de menor esforço computacional, como por exemplo: Álgebra Computacional, pacote do Maple ou Matemática ou qualquer Software de Computação Algébrica. Exemplo 1.2. Determine a raiz complexa da equação z 2 + 1 = 0: Temos que z 2 + 1 = 0 =⇒ (x + iy)2 + 1 = 0 =⇒ x2 + 2ixy − y 2 + 1 = 0 U (xn , yn ) = x2n − yn2 + 1 U (xn , yn ) = 2xn yn Ux (xn , yn ) = 2xn Vx (xn , yn ) = 2yn Tomando z0 = 1 + 2i, ou seja, x0 = 1 e y0 = 2 e usando o método acima, obtém-se os valores abaixo: # CAPÍTULO 1. RAÍZES REAIS E RAÍZES COMPLEXAS n xn 0 1,00000 1 0,40000 2 0,07500 3 -0,00159 4 0,00000 yn 2,00000 1,20000 0,97500 0,99731 1,00000 Un -2,00000 -0,28000 0,05500 0,00538 Vn 4,00000 0,96000 0,14625 -0,00317 Uxn 2,00000 0,80000 0,15000 -0,00318 6 Vxn 4,00000 2,40000 1,95000 1,99462 Logo, a raiz da equação acima é 0 ± 1i, ou simplesmente, ± i, com cinco casas decimais. Capı́tulo 2 Aproximação Linear 2.1 Introdução Alguns métodos para solução de equações a uma variável podem ser generalizados para sistemas de equações não-lineares. Neste capı́tulo apresentaremos um método usado com freqüencia para resolução desse tipo de sistema e também aspectos matemáticos da teoria de aproximação de funções em espaços vetoriais. Será abordado o Método dos Mı́nimos Quadrados numa perspectiva diferente da interpolação, ou seja, não será exigido que a função de aproximação interpole a função em determinados pontos, a idéia é que a função de aproximação assuma valores de forma a minimizar a distância entre seus valores e os pontos dados. 2.2 Sistemas de Equações não-Lineares Um sistema de equação não-linear com n na forma f1 (x1 , x2 , · · · , xn ) f2 (x1 , x2 , · · · , xn ) .. . f (x , x , · · · , x ) n 1 2 n equações e n incógnitas é dada = 0 = 0 .. . = 0 ou vetorialmente por F (X) = 0, onde X = [x1 , x2 , · · · , xn ]T é o vetor de incógnitas F (X) = [f1 (X), f2 (X), f3 (X), · · · , fn (X)]T e 0 é o vetor nulo de Rn . 7 CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 8 Vejamos um método que é usado com frequencia para resolução desse tipo de sistema. 2.2.1 Método das aproximações sucessivas (MAS) Esse método consiste em resolver um sistema x1 = φ1 (x1 , x2 , · · · , xn ) x2 = φ2 (x1 , x2 , · · · , xn ) .. .. . . xn = φn (x1 , x2 , · · · , xn ) de equações na forma , (2.1) onde as aproximações para a solução são atualizadas (usando o Método de Jacobi) pelo seguinte sistema recorrente (k+1) (k) (k) (k) x1 = φ1 (x1 , x2 , · · · , xn ) (k+1) (k) (k) (k) x2 = φ2 (x1 , x2 , · · · , xn ) .. .. . . (k) (k) (k) (k+1) = φn (x1 , x2 , · · · , xn ) xn , (2.2) ou na forma vetorial X (k+1) = Φ(X (k) ), K = 0, 1, 2, 3, · · · , sendo (k+1) X (k+1) = [x1 (k+1) , x2 (k+1) T , · · · , xn ] Φ(X (k) ) = [φ1 (X (k) ), φ2 (X (k) ), φn (X (k) )]T . Vejamos agora uma condição suficiente para convergência desse método. Seja α = [α1 , α2 , ..., αn ] uma solução para (2.1), então α = Φ(α). Supondo ∂φi que as derivadas parciais dij (X) = (X), 1 ≤ i, j ≤ n existam para ∂φj X ∈ Bρn , onde Bρn = {X ∈ Rn : |X − α| < ρ}. A matriz formada com os elementos dij (X) é denominada por J(X). Então a condição suficiente para que (2.2) seja convergente para todo X (0) ∈ Bρn é que ||J(X)|| < m < 1, X ∈ Bρn e implica que ||Φ(X) − Φ(Y )|| ≤ m||X − Y ||, para todo X, Y ∈ Bρn e, nesse caso, chamamos a função Φ de contração. CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 9 Se ||J(X)|| < 1, logo Φ é uma contração1 . Daı́, pelo Teorema do Ponto Fixo para Contrações existe o ponto fixo, é único, e ainda, a sequência X (k+1) = Φ(X (k) ) K = 0, 1, 2, 3, · · · , converge para esse ponto fixo. Exemplo 2.1. Determine a solução real do sistema de equações abaixo utilizando o MAS. ½ 2 3x1 + x2 = 3, 5 . 3 x1 + x2 = 1, 625 Reescrevendo o sistema na forma X = Φ(X), temos ½ x1 = [(3, 5 − x2 )/3]1/2 . x2 = (1, 625 − x1 )1/3 Assim, φ1 (x1 , x2 ) = [(3, 5 − x2 )/3]1/2 , φ2 (x1 , x2 ) = (1, 625 − x1 )1/3 e a matriz J(X) fica sendo −1 0 6[(3, 5 − x2 )/3]1/2 . J(X) = −1 0 3(1, 625 − x1 )2/3 Estabelecer uma vizinhança para a solução onde se verifica que ||J(X)|| < 1 para qualquer X nessa vizinhança garantirá a convergência do método. Mas nem sempre é possı́vel estabelecer essa vizinhança, no R2 , por exepmlo, por vezes é possı́vel estabelecê-la baseando-se em considerações geométricas. (0) (0) Assim, tomando x1 = 0, 8 e x2 = 0, 8, obtêm-se os resultados mostrados na tabela abaixo: k 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 Veja em [5] (k) x1 0,800000 0,948683 0,924141 0,934920 0,933048 0,933865 0,933722 0,933784 0,933777 0,933778 0,933778 (k) x2 0,800000 0,937889 0,877775 0,888267 0,883690 0,884488 0,884140 0,884201 0,884177 0,884177 0,884177 CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 2.3 10 Aproximação de função a uma variável real Uma função f será aproximada por uma função f ∗ (x) = n X ci ϕi (x), i=0 0 ≤ i ≤ n , onde ϕi são n + 1 funções escolhidas apropriadamente e ci são n + 1 parâmetros a determinar. A função f pode ser conhecida de diferentes maneiras. Uma delas é utilizando tabelas de valores funcionais (xi , f (xi )), 0 ≤ i ≤ n, escritas em forma de vetor [f (x0 ), f (x1 ), f (x2 ), · · · , f (xm )]T . Para achar as constantes ci vamos adotar o critério f ∗ (xi ) = f (xi ), 0 ≤ i ≤ m. Temos o sistema c0 ϕ0 (x0 ) + c1 ϕ1 (x0 ) + · · · + cn ϕn (x0 ) = f (x0 ) .. .. .. .. . . . . c ϕ (x ) + c ϕ (x ) + · · · + c ϕ (x ) = f (x ) 0 0 m 1 1 m n n m m Se m = n e ϕi forem linearmente independentes então o sistema será determinado com uma única solução. Essa maneira de determinar a f ∗ é conhecida como interpolação. Se m > n o sistema tem mais equações que incógnitas, sendo chamado sobredeterminado e as equações serão satisfeitas apenas aproximadamente. A sobredeterminação é usada para dois diferentes tipos de regularização: reduzir o efeito de erros aleatórios nos valores das funções e dar à curva uma forma regular. Trataremos agora de aproximação de funções pelo Método dos Mı́nimos Quadrados, para isso representaremos funções como vetores. Seja Pn (x) = c0 + c1 x + · · · + cn xn um elemento do conjunto de vetores de ordem n, determinado por c0 , c1 , · · · , cn , seus n + 1 coeficientes, que podem ser vistos como coordenadas de um vetor no espaço de funções de dimensão n + 1. Assim, ao olhar um vetor, é possı́vel tratar de um elemento num espaço de funções e não mais de um elemento do espaço Rn . Para ralizar as medidas nesse espaço, definiremos NORMA no espaço das funções contı́nuas num intervalo [a, b] como: µZ b kf kp = p ¶ p1 |f (x)| dx a Norma máxima: kf k∞ = maxa≤x≤b |f (x)| ;p ≥ 1 CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR ·Z b Norma euclidiana: kf k2 = |f (x)|2 dx 11 ¸ 12 a ·Z b Norma euclidiana ponderada: kf k2,w = 2 ¸ 21 |f (x)| w(x)dx , onde w é a a função peso. Muitos métodos de aproximações são fundamentados na minimização de alguma norma da função erro: y = f∗ − f onde f ∗ é construı́da para aproximar a f . Pergunta-se: Qual a melhor norma? Isso depende da f. Quando a norma euclidiana for a escolhida, a solução do problema será a generalização do que acontece em R2 e R3 , isto é, a menor distância de um ponto a um subespaço linear é o comprimento do vetor que é perpendicular ao subespaço gerado por {ϕi }ni=o . Figura 2.1: A reta que melhor se aproxima dos valores dados na perspectiva do método dos mı́nimos quadrados. 2.3.1 Aproximação pelos Mı́nimos Quadrados Considere uma fuñção contı́nua f em [a, b] para ser aproximada por uma combinação linear f ∗ (x) = c0 ϕ0 + c1 ϕ1 (x) + · · · + cn ϕn (x), CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 12 de n + 1 funções ϕi , 0 ≤ i ≤ n. A norma euclidiana ponderada do vetor erro f ∗ − f é Z b ∗ 2 kf − f k = |f ∗ (x) − f (x)|2 w(x)dx, (contı́nuo) a kf ∗ − f k2 = n X |f ∗ (xi ) − f (xi )|2 wi , (discreto) i=0 ou seja, os coeficientes ci , 0 ≤ i ≤ n são determinados para que o vetor erro f ∗ − f seja perpendicular ao subespaço gerado por {ϕi }ni=o . 2.3.2 Sistemas Ortogonais As definições apresentadas a seguir serão utilizadas para encontrar a solução do problema de aproximações. Considere U um espaço vetorial linear. Sobre U define-se um funcional linear entre dois elementos do espaço chamado produto interno, denotado e definido abaixo. Definição 2.1. (Produto Interno) (u, u) = |u||u|cosθ = |u||u|cos0◦ = |u||u| = |u|2 . Seja f uma função escrita como combinação linear. Pela definição acima temos que 2 kf k = Rb a 2 2 |f (x)| dx ou kf k = n X |f (xi )|2 . i=0 Logo, kf k2 = (f, f ). Ou seja, a norma provém do produto interno. Definição 2.2. (Ortogonalidade) Duas funções f e g são ditas ortogonais se (f, g) = 0. Uma sequencia finita ou infinita de funções ϕ0 , ϕ1 , . . . , ϕn forma um sistema ortogonal se (ϕi , ϕj ) = 0, ∀i 6= j e kϕi k 6= 0, ∀i. Se, além disso, kϕi k = 1, ∀i, então a sequencia é chamada de base ortonormal. CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 2.3.3 13 Solução do Problema de Aproximações ∗ Seja f (x) = m X c∗j ϕj (x) a função de aproximação por mı́nimos quadra- j=0 dos. Deseja-se determinar os coeficientes c∗j , 0 ≤ j ≤ m, para que o erro f ∗ − f tenha o menor comprimento em uma dada norma. Temos também que f ∗ − f deve ser ortogonal ao subespaço gerado por {ϕi }ni=o , ou seja, o produto interno é igual a zero. à m ! X Tomemos o vetor cj ϕj (x) − f com cj 6= c∗j para pelo menos um j, j=0 daı́, m X m X cj ϕj (x) − f (x) = j=0 cj ϕj (x) − j=0 c∗j ϕj (x) − f ∗ (x) − f (x) j=0 m X = m X (cj − c∗j )ϕj (x) + [f ∗ (x) − f (x)]. j=0 Pelas propriedades do produto interno temos que (f ∗ − f ) ⊥ ϕi e m X ∗ (f − f ) ⊥ (cj − c∗j )ϕj . Assim, j=0 ° °2 m °X ° ° ° cj ϕj (x) − f (x)° = ° ° ° j=0 = à m X cj ϕj (x) − f (x), j=0 = à m X m X = (cj − c∗j )ϕj (x) + [f ∗ (x) − f (x)], m X ! (cj − c∗j )ϕj (x) + [f ∗ (x) − f (x)] j=0 (cj − c∗j )ϕj (x), j=0 + cj ϕj (x) − f (x) j=0 j=0 à m X ! m X ! (cj − c∗j )ϕj (x) j=0 à m ! X 2 (cj − c∗j )ϕj (x), [f ∗ (x) − f (x)] + ([f ∗ (x) − f (x)], [f ∗ (x) − f (x)]) j=0 CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 14 Portanto, °2 ° m °2 ° m ° ° °X °X ° ° ° ° cj ϕj (x) − f (x)° + kf ∗ (x) − f (x)k2 cj ϕj (x) − f (x)° = ° ° ° ° ° ° j=0 j=0 ≥ kf ∗ (x) − f (x)k2 . Logo, f ∗ − f é o menor vetor que é ortogonal a todas as funções {ϕi }ni=o . Exemplo 2.2. : Considere a função f especificada pelos valores funcionais: x f 0 0 1 1 2 4 1) Vamos aproximar f por f ∗ (x) = c∗0 + c∗1 x. Temos: ϕ0 (x) = 1 e ϕ1 (x) = x ½ (ϕ0 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ0 , ϕ1 )c∗1 = (ϕ0 , f ) (ϕ1 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ1 , ϕ1 )c∗1 = (ϕ1 , f ) Substituindo os valores numéricos: µ ¶µ ∗ ¶ µ ¶ 3 3 c0 5 = ∗ 3 5 c1 9 ½ ∗ 3c0 + 3c∗1 = 5 3c∗0 + 5c∗1 = 9 Resolvendo o sistema acima, temos 1 daı́, f ∗ (x) = − + 2x (ver figura 2.2) e 3 1 1 f ∗ (0) = − + 2.0 = − = −0, 33333 3 3 5 1 f ∗ (1) = − + 2.1 = ' 1, 66667 3 3 1 11 f ∗ (2) = − + 2.2 = ' 3, 66667. 3 3 c∗0 = − 1 3 e c∗1 = 2, CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 15 Verifiquemos f ∗ (x) − f (x) em cada ponto da função: 1 1 f ∗ (0) − f (0) = − − 0 = − ' −0, 33333 3 3 5 2 f ∗ (1) − f (1) = − 1 = ' 0, 66667 3 3 11 1 f ∗ (2) − f (2) = − 4 = − ' −0, 33333. 3 3 Logo, o erro kf ∗ (x) − f (x)k ' k − 0, 33333 + 0, 66667 − 0, 33333k ' 0, 00001. 12 10 F(x) = -1/3 + 2x 8 6 4 2 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Figura 2.2: Função de Aproximação com ϕ0 e ϕ1 escolhidas. 2) Vamos aproximar f por f ∗ (x) = c∗0 + c∗1 x + c∗2 x2 . Temos: ϕ0 (x) = 1, ϕ1 (x) = x e ϕ2 (x) = x2 (ϕ0 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ0 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ0 , ϕ2 )c∗2 = (ϕ0 , f ) (ϕ1 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ1 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ1 , ϕ2 )c∗1 = (ϕ1 , f ) (ϕ2 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ2 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ2 , ϕ2 )c∗1 = (ϕ2 , f ) Substituindo os valores numéricos: ∗ 5 3 3 5 c0 3 5 9 c∗1 = 9 c∗2 17 5 9 17 CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 16 ∗ 3c0 + 3c∗1 + 5c∗2 = 5 3c∗ + 5c∗1 + 9c∗2 = 9 ∗0 5c0 + 9c∗1 + 17c∗2 = 17 Resolvendo o sistema acima, temos c∗0 = 0, c∗1 = 0 e c∗2 = 1, daı́, f ∗ (x) = x2 (ver figura 2.3) e f ∗ (0) = 0 f ∗ (1) = 1 f ∗ (2) = 4. Verifiquemos f ∗ (x) − f (x) em cada ponto da função: f ∗ (0) − f (0) = 0 f ∗ (1) − f (1) = 0 f ∗ (2) − f (2) = 0. Logo, o erro kf ∗ (x) − f (x)k = 0. Nesse caso temos a interpolação. 12 F(x) = x² 10 8 6 4 2 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Figura 2.3: Função de Aproximação com ϕ0 , ϕ1 e ϕ2 escolhidas. CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 17 3) Vamos aproximar f por f ∗ (x) = c∗0 + c∗1 x + c∗2 x2 + c∗3 x3 . Temos: ϕ0 (x) = 1, ϕ1 (x) = x, ϕ2 (x) = x2 e ϕ3 (x) = x3 (ϕ0 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ0 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ0 , ϕ2 )c∗2 + (ϕ0 , ϕ3 )c∗3 (ϕ1 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ1 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ1 , ϕ2 )c∗1 + (ϕ1 , ϕ3 )c∗3 (ϕ2 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ2 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ2 , ϕ2 )c∗1 + (ϕ2 , ϕ3 )c∗3 (ϕ23 , ϕ0 )c∗0 + (ϕ3 , ϕ1 )c∗1 + (ϕ3 , ϕ2 )c∗1 + (ϕ3 , ϕ3 )c∗3 Substituindo os valores numéricos: ∗ 3 3 5 9 c0 3 5 9 17 c∗1 5 9 17 33 c∗2 = c∗3 9 17 33 65 ∗ 3c + 3c∗1 + 5c∗2 + 9c∗3 = 0∗ ∗ ∗ ∗ 3c0 + 5c1 + 9c2 + 17c3 = ∗ ∗ ∗ ∗ 5c + 9c1 + 17c2 + 33c3 = 0∗ 9c0 + 17c∗1 + 33c∗2 + 65c∗3 = = = = = (ϕ0 , f ) (ϕ1 , f ) (ϕ2 , f ) (ϕ3 , f ) 5 9 17 33 5 9 17 33 Resolvendo o sistema acima, temos c∗0 = 0, c∗1 = 0, c∗2 = 1 e c∗3 = 0, daı́, f ∗ (x) = x2 (ver figura 2.4) e o erro kf ∗ (x) − f (x)k = 0, como no caso anterior. 12 F(x) = x² 10 8 6 4 2 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Figura 2.4: Função de Aproximação com ϕ0 , ϕ1 , ϕ2 e ϕ3 escolhidas. CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 2.3.4 18 Redução ao Ajuste Linear ∗ Tendo em vista a forma linear expressa por f (x) = n X ci ϕi (x), podemos i=0 perceber a não-linearidade, por exemplo, através de um gráfico de valores (xi , f (xi )), onde sua dispersão apresenta um comportamento não-linear. Vejamos as transformações que ocorrem com maior frequência nos problemas de ajuste de curvas que levam à forma linear. Dispersão do tipo: f (x) ≈ α1 e−α2 x , α1 , α2 > 0 ³ α ´ 1 z = ln f ≈ ln α2 x ≈ ln α1 − ln eα2 x ≈ ln α1 − α2 x. e Fazendo c1 = ln α1 , c2 = −α2 e y = c1 + c2 x, teremos: ln f ≈ c1 + c2 x = y Podemos observar que: • y é linear nos parâmetros c1 e c2 , podendo ser determinados pelo método dos mı́nimos quadrados, identificando-se o conjunto {ϕi }ni=o = {1, x}. • o ajuste é em ln f e não em f . • c1 e c2 ajustam por mı́nimos quadrados ln f . Dispersão do tipo: f (x) ≈ z= Logo, α1 e α2 ajustam 1 α1 + α2 x 1 ≈ α1 + α2 x. f 1 por mı́nimos quadrados. f Dispersão do tipo exponencial: f (x) ≈ α1 α2x Supondo f > 0, tem-se z = ln f ≈ ln α1 α2x ≈ ln α1 + x ln α2 . Fazendo c1 = ln α1 , c2 = ln α2 e y = c1 + c2 x, teremos: CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 19 ln f ≈ c1 + c2 x = y As observações são semelhantes às do primeiro tipo de dispersão apresentada acima. Dispersão do tipo geométrica: f (x) ≈ α1 xα2 Supondo f > 0 e x > 0, tem-se z = ln f ≈ ln α1 xα2 ≈ ln α1 + ln xα2 ≈ ln α1 + α2 ln x. Fazendo c1 = ln α1 , c2 = α2 e y = c1 + c2 ln x, teremos: ln f ≈ c1 + c2 ln x = y Percebemos que y é linear em c1 e c2 . A determinação desse parâmetros pode ser feita por mı́nimos quadrados, identificando-se para isso o conjunto {ϕi }ni=o = {1, ln x}. Vamos resolver o exemplo (2.2) usando a dispersão do tipo f (x) ≈ α1 e−α2 x , α1 , α2 > 0 . Temos f ∗ (x) = c1 + c2 x 1 3 1 ln α1 = c1 = 2 =⇒ α1 = e2 =⇒ α1 ' 7, 39 e c2 = −α2 = 3 ϕ0 (x) = 1 e ϕ1 (x) = x, c1 = 2 e c2 = − 1 f ∗ (x) ' 7, 39 + e− 3 x (ver figura 2.5). f ∗ (0) ' 7, 39 1 f ∗ (1) ' 7, 39 + e(− 3 ) ' 5, 31 2 f ∗ (2) ' 7, 39 + e(− 3 ) ' 3, 82. kf ∗ − f k ' k(7, 39 − 0) + (5, 31 − 1) + (3, 82 − 4) ' k7, 39 + 4, 31 − 0, 18k ' 11, 52. CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO LINEAR 20 2 (-1/3)x F(x) = e e 12 10 8 6 4 2 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 -2 -4 -6 -8 -10 -12 Figura 2.5: Função de Aproximação por redução ao ajuste linear - dispersão tipo f (x) ≈ α1 e−α2 x . Gráfico comparativo das quatro funções de aproximações apresentadas neste capı́tulo. 12 10 8 6 4 2 -20 -18 -16 -14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 2 -2 -4 -6 -8 -10 -12 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Referências Bibliográficas [1] Peter Albrecht. Análise Numérica: um curso moderno. Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1973. [2] Flaulles Boone Bergamaschi. Apostila: Cálculo Numérico com Matlab. (2005). [3] Flaulles Boone Bergamaschi. Comparando os teoremas que tratam sobre o limite dos zeros de um polinômio. VI Ermac-R3, (2005). [4] Flaulles Boone Bergamaschi. Limite dos Zeros de um Polinômio. V Ermac-R3,(2005). [5] Elon Lajes Lima. Curso de Análise, vol.2. Ed. SBM, 1999. [6] Márcia A. Gomes e Vera Lúcia da Rocha Lopes Ruggiero. Cálculo Numérico: aspectos teóricos e computacionais. Ed. McGraw-Hill, 1988. [7] Dercio Sperandio. Cálculo Numérico: caracteristicas matematicas e computacionais dos métodos numéricos. Ed. Prentice Hall, 2003. 21