“Quem somos” Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro AUTORES LUCIANA MARIA CAETANO DE FREITAS ROBERTA CRISTINA GUARINO SOLANGE MACHADO DA CUNHA ACAM Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose – Fibrose Cística ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br - Título da pesquisa – “Quem Somos”. - Esta pesquisa é de propriedade da ACAM – Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose – Fibrose Cística. - Todos os direitos reservados. - Permitida a reprodução, sem alterações, no todo ou em parte. Não é necessária a autorização prévia. - Citar fonte. - A ACAM é filiada a ABRAM – Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose – Fibrose Cística. - Possui as seguintes certificações: Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) – Registro nº. 25/2006 Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS) – Registro nº. 818/2007 Utilidade Pública Estadual – nº. 3023/2002 Nota – Esta pesquisa que foi consolidada a partir de dados coletados até 30/04/2007 será, a partir de 31/12/2007, anualmente atualizada com base nas informações do último dia do ano. Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose – ACAM Endereço: Rua da Glória 366/401 Glória – Rio de Janeiro – RJ CEP: 20.241-180 Brasil Tels.: 3970-6612 / 3970-6744 2 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br SUMÁRIO Resumo Executivo ........................................................................................................................... 4 Abertura ............................................................................................................................................ 6 Introdução ........................................................................................................................................ 7 A Pesquisa ....................................................................................................................................... 8 I – Perfil do paciente ....................................................................................................................... 10 II – Situação familiar e condições sócio-econômicas ..................................................................... 17 2.1 – Situação familiar .................................................................................................................... 17 2.2 – Condições sócio-econômicas ................................................................................................ 21 III – Descoberta da doença e tratamento ....................................................................................... 31 IV – Visão do paciente quanto à instituição/ACAM ........................................................................ 40 Conclusão ...................................................................................................................................... 45 Referências Bibliográficas .............................................................................................................. 48 Anexos ........................................................................................................................................... 50 3 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br RESUMO EXECUTIVO A ACAM (Associação Carioca de desenvolvimento físico, social e mental Assistência a Mucoviscidose) é uma instituição beneficente, criada por familiares e pacientes das pessoas que possuem esta doença. • 85% das mães e 74% dos pais de portadores de Fibrose Cística com o objetivo crianças e adolescentes com Fibrose de prestar apoio e assistência a este público Cística não possuem o ensino superior em todo Estado do Rio de Janeiro. completo. Tendo em vista a necessidade de • Mais de 50% das famílias pesquisadas conhecer a realidade destes pacientes de vive forma a estruturar programas e projetos que R$1.000,00. vão ao encontro das demandas dos mesmos, • com renda familiar de até 70% da população entrevistada não foi instituída uma pesquisa através da qual se possuem uma renda mensal compatível tornou possível traçar um olhar sobre o com a necessária para os tratamentos cotidiano destas pessoas e suas famílias. mínimos indicados em casos de Fibrose A seguir, serão apresentados alguns dados coletados nesta pesquisa que merecem Cística. • destaque: • • • • • A situação sócio-econômica dos pacientes está diretamente vinculada à 163 pacientes, distribuídos em 152 adesão ao tratamento, visto que tornará famílias, participaram da pesquisa. esta adesão mais favorável ou não. 60% dos pacientes com Fibrose Cística • A precariedade do sistema público de encontram-se na faixa etária entre 0 a saúde no Brasil pode ser identificada 12 anos. através de alguns aspectos como a Mais de 50% dos pacientes residem demora na marcação de consultas; a não fora do município do Rio de Janeiro, absorção da totalidade de pacientes onde estão localizados os hospitais de pelas referência que oferecem atendimento e tratamento da Fibrose Cística; a ausência tratamento aos fibrocísticos. de leitos suficientes para internação; a Cabe pericialmente às mães o “cuidado” não e a dedicação ao filho com Fibrose referência para tratamento dos pacientes Cística. adultos; a ausência de um serviço de Há um desconhecimento por parte da emergência sociedade do que venha ser a Fibrose demandas decorrentes desta doença; a Cística, dificuldade de acesso a medicamentos acarretando prejuízos ao instituições existência especializadas de um específico centro para no de as de alto custo. 4 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br • O acesso gratuito ao transporte público dos é dificultado em virtude de leis que Universitário limitam esse acesso. Esta situação apresenta, atualmente, capacidade para acarreta tal. prejuízo tratamento, Fibrose pois Cística • ao pacientes de Hospital Ernesto não Apenas 21% dos entrevistados realizam periódico em Ou seja, o IFF comporta quase 70% dos ambulatórios de pneumologia, nutrição, pacientes em seu ambulatório de Fibrose fisioterapia respiratória, entre outros. Cística, mas não absorve nem metade O diagnóstico da Fibrose Cística deve desta ser realizado o mais precocemente fisioterapia respiratória. possibilitando o início do • população no ambulatório de O nebulizador, equipamento primordial tratamento que retarda o avanço da para o tratamento, não vem sendo doença e aumenta a sobrevida e a mantido de forma adequada pela maioria qualidade de vida dos pacientes. dos pesquisados: 28% nunca realizaram 46% dos pacientes já tiveram de ser nenhum procedimento de higiene do internados mais de 5 vezes ao longo da referido aparelho; 76% nunca trocaram o vida. filtro 56% das internações duraram de 15 a acessórios deste aparelho. • e 58% nunca trocaram os 32% dos entrevistados afirmaram que para tratamento de antibioticoterapia. esperam O Instituto Fernandes Figueira – centro trabalhando e ajudando os portadores de de referência no tratamento da Fibrose Fibrose Cística. Cística • Pedro o acompanhamento fisioterapêutico no IFF. 30 dias, período considerado adequado • • que de possível, • os adesão já necessitam acompanhamento • na mesmos – vem que a ACAM continue absorvendo aproximadamente 70% dos pacientes Diante do exposto, pode-se afirmar que as de Fibrose Cística de até 18 anos de demandas dos pacientes de Fibrose Cística são idade. complexas e intensas, necessitando de maior Em função do crescente número de atenção por parte do Estado nas políticas sociais. pacientes Cística Porém, torna-se importante ressaltar também a chegando à idade adulta, há de se responsabilidade de todos os sujeitos sociais prever infra-estrutura para o tratamento envolvidos com a causa. com Fibrose 5 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br ABERTURA Quando passei a ser Diretor da ACAM, uma coisa me intrigou muitíssimo. Quem é essa Associação, quantos somos, onde estamos e como somos. Achei que seria muito importante fazer uma pesquisa que pudesse nos dar as respostas a todas essas indagações. E hoje chegamos ao ápice nos apresentando a nós mesmos. Foi fundamental nessa pesquisa nossa primeira Assistente Social Roberta Guarino que, abraçou o projeto e ao mesmo tempo criou o nosso departamento de Assistência Social. Temos que ser muito gratos a ela pelo empenho e dedicação. Junto com mais seis estagiárias (Ana Cláudia, Ellen, Suyane, Carla, Nilza e Adriana), 163 pacientes foram visitados em todos os cantos de nosso Estado. Um trabalho logístico não simples, pois ao mesmo tempo em que realizavam as visitas a equipe de Serviço Social ia tentando resolver problemas mais urgentes das famílias visitadas. Colher as informações foi só uma parte do trabalho. Consolidar e interpretar os dados foi outra imensa tarefa executada pelas nossas atuais Assistentes Sociais Luciana e Solange. Muitas e muitas horas de dedicação. Foi um trabalho de um ano e seis meses. Durante este período nenhum serviço parou na ACAM. Tudo continuou funcionando normalmente. Mas, e agora que temos tudo em mãos? Agora é que efetivamente o trabalho vai começar. Vamos trabalhar em cima dos dados encontrados e já sabemos que temos muito, mas muito mesmo o que fazer. Quero especialmente agradecer a Professora Sophia Pimenta, Ph.D., da Fundação Getúlio Vargas que, de forma voluntária, nos orientou na organização e interpretação da pesquisa. Agradeço muitíssimo a todas as famílias que nos acolheram de forma muito carinhosa. Hoje é um dia muito especial. Um abraço Boris Najman Diretor de Assistência Social 6 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br INTRODUÇÃO A ACAM (Associação Carioca de Assistência a Mucoviscidose) foi fundada em 16/09/1989 com o objetivo de prestar apoio e assistência aos pacientes portadores de mucoviscidose do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma instituição formada pelos mesmos e seus familiares, além de profissionais da área da saúde (assistentes sociais, fisioterapeutas e nutricionista). É constituída como uma associação beneficente, sem fins lucrativos, que visa lutar por melhores condições para o tratamento e divulgação da doença pela sociedade e instituições públicas. A Mucoviscidose, também conhecida como Fibrose Cística (FC), é uma enfermidade grave, hereditária, crônica e que ainda não dispõe de cura. Na doença ocorre o mau funcionamento das glândulas exócrinas, produzindo um muco pegajoso e espesso, que afeta alguns sistemas do corpo humano, comprometendo com maior incidência os sistemas respiratório e digestivo. No sistema respiratório este muco bloqueia os brônquios, que são os canais que levam o ar aos pulmões, ocasionando dificuldade de respirar, tosse crônica e conseqüentemente infecções por bactérias alojadas neste muco. No sistema digestivo o muco muito espesso obstrui os canais do pâncreas impedindo que as enzimas digestivas cheguem ao intestino delgado para auxiliar na digestão dos alimentos. É importante ressaltar que a Fibrose Cística não é contagiosa e que a adesão do paciente e de sua família ao tratamento proporciona melhora nas condições de vida destes. Dependendo do quadro clínico do paciente, este poderá ter uma vida ativa e produtiva na sociedade. Nos últimos anos, a qualidade de vida dos pacientes melhorou significativamente. Isso se deve ao avanço das pesquisas que tem aprimorado medicamentos e as formas de tratamento para a FC. Porém, o alto custo que envolve o tratamento apresenta-se como mais um complicador, uma vez que o mesmo pode gerar um gasto mensal de até R$ 10.000,00. 1 O tratamento é permanente, indispensável e acontece através da administração de medicamentos, alimentação hipercalórica (suplementação nutricional) e fisioterapia respiratória diária. A ACAM luta pelos interesses dos portadores de Fibrose Cística representando-os perante as instituições públicas e privadas, buscando sempre melhores condições de atendimento. Atualmente, no Rio de Janeiro, o Instituto Fernandes Figueira é o centro de referência para o diagnóstico e o tratamento da doença em crianças e adolescentes, e o Hospital Universitário 1 Orçamento estimado com base em pesquisa realizada por Associações de Fibrose Cística, que contempla valores de medicamentos, suplementos nutricionais, custo de internações, acesso a serviços laboratoriais e profissionais (ex.: sessões de fisioterapia). 7 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Pedro Ernesto acompanha as pessoas adultas. Além destas instituições, o Hospital dos Servidores do Estado também acompanha algumas crianças e adolescentes. A PESQUISA O trabalho realizado pela instituição na sua criação tinha um caráter meramente assistencialista, tendo como objetivo principal a união de forças entre os pais para que eles pudessem enfrentar as diversas demandas decorrentes da doença. Os líderes da ACAM perceberam que os atendimentos prestados neste período geravam um desgaste emocional aos mesmos, uma vez que estes não possuíam capacitação para responder as demandas apresentadas. Outro fator que começou a ser notado é que a adesão ao tratamento adequado da maioria dos pacientes passava por questões sócio-econômicas. Boa parte do grupo de pacientes relatava situações de vulnerabilidade social, o que implicava diretamente na qualidade de vida dos mesmos. Assim sendo, deu-se início ao setor de serviço social na instituição em julho de 2005, com o compromisso de profissionalizar o atendimento e atender as demandas deste público. Com o objetivo de traçar projetos que atendessem às reais demandas dos pacientes e suas famílias, foi instituída uma pesquisa para retratar as condições sócio-econômicas de vida e de tratamento dos pacientes de fibrose cística do Estado do Rio de Janeiro. 2 O objetivo desta pesquisa é apresentar um olhar sobre o cotidiano dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro, bem como suscitar novas indagações e questionamentos sobre a situação deste público. No período de outubro de 2005 a abril de 2007, foi instituído o trabalho de campo, que contou com a participação de 03 assistentes sociais e 06 estagiárias de serviço social. A pesquisa foi realizada através de visitas domiciliares, previamente agendada com os pacientes ou seus respectivos familiares. A característica deste trabalho se constituiu numa ação exploratória e interventiva. Para a ação exploratória foi utilizado como instrumento de coleta de dados a entrevista semi estruturada (com perguntas abertas e fechadas – Anexo I) na qual foi possível ter acesso às condições sócioeconômicas do público alvo. Em paralelo, foram realizadas intervenções – pela equipe de serviço social – de acordo com as demandas apresentadas, como por exemplo: encaminhamento do paciente e sua família a projetos e benefícios sociais. Até o final do trabalho de campo, haviam 172 pacientes cadastrados na associação. Deste universo foram realizadas 163 entrevistas. Cinco (05) famílias manifestaram a não intenção em 2 Ressaltamos que de forma excepcional, foi incluída nesta pesquisa a entrevista de uma família que reside na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e que realiza todo o tratamento no Estado do Rio de Janeiro, bem como possui cadastro na ACAM. 8 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br participar deste estudo e quatro (04) pacientes não foram encontrados (números de telefones e endereços registrados na ACAM não possibilitaram o contato com estas famílias), conforme demonstra o gráfico 1. Gráfico 1 Universo da pesquisa negaram a participação; 5 não encontrados; 4 pacientes entrevistados; 163 Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. É importante ressaltar que, no início da aplicação desta pesquisa, só haviam 131 pacientes cadastrados na associação. Com o desenvolvimento do trabalho do serviço social (plantão em hospitais) o número de pacientes cadastrados na ACAM foi expandido. Assim, de outubro a dezembro de 2005, foram cadastrados 10 novos pacientes e, ao longo do ano de 2006, foram realizados 31 novos cadastros. Por fim, de janeiro a abril de 2007, foram 03 novas adesões. Outra informação pertinente refere-se ao número de óbitos ocorridos durante o período da pesquisa: 3 óbitos (dois adultos e uma criança). Destes, foi possível somente coletar os dados da criança para inclusão na pesquisa. A pesquisa foi realizada com quase toda a população já que, de um universo de 172 pacientes, 163 participaram da pesquisa e constituíram o público da mesma – conforme dados apresentados a seguir. Estes pacientes estão distribuídos em 152 famílias, visto que 02 famílias possuem 3 (três) filhos e 07 famílias possuem 02 filhos fibrocísticos. A pesquisa foi organizada através dos seguintes eixos temáticos: - perfil do paciente; - situação familiar e condições sócio-econômicas; - descoberta da doença e tratamento; - visão do paciente quanto a Instituição / ACAM. As informações colhidas ao longo da pesquisa expressam diretamente a fala dos familiares ou pacientes sobre sua própria situação e história. Foi acordado com cada entrevistado que seria 9 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br preservado o sigilo das informações prestadas, bem como a liberdade dos mesmos em responder as questões apresentadas. I – PERFIL DO PACIENTE Ao observar os dados decorrentes desta pesquisa, percebeu-se que os pacientes de Fibrose Cística se encontram subdividos entre as seguintes faixas etárias: Gráfico 2 Idade Adulto 20% Adolescente 21% Criança 59% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. O gráfico 2 demonstra que quase 60% do grupo encontra-se na faixa etária de 0 a 12 anos3. É importante ressaltar que a “... expectativa de vida tem crescido nos últimos anos com os avanços tecnológicos que auxiliam no diagnóstico e terapêutica. Muitos autores estimam uma sobrevida em torno de 25 a 30 anos. Para alcançar essa sobrevida, o diagnóstico deve ser o mais precoce possível, devendo o tratamento, desde cedo, ser conduzido por profissionais adequadamente treinados.” (Furtado e Lima, 2003:67) De acordo com a informação acima apresentada, pode-se supor que a população infantil é maior em relação aos demais grupos, em função da baixa mortalidade e da evolução do tratamento para Fibrose Cística nos últimos anos. 3 De acordo com o artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8069/90, considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. 10 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Um dos fatores essenciais para minimizar o avanço da doença e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes consiste no diagnóstico precoce. Os exames utilizados para tal são: triagem neonatal4 (teste do pezinho), teste do suor5 e teste genético6. Ainda, conforme o gráfico 2 percebe-se que o grupo de adolescentes vem crescendo de forma significativa. Esta informação torna-se relevante ao considerarmos o atendimento prestado ao público adulto no Estado do Rio de Janeiro nos dias atuais. O Hospital Universitário Pedro Ernesto conta apenas com um ambulatório de pneumologia e somente um profissional desta área, além de residentes de nutrição, para realizar o atendimento dos pacientes adultos, que compreende 20% da população pesquisada. Não há uma equipe multidisciplinar, um espaço adequado e nem equipamentos necessários para atender a esta demanda que cresce a cada ano. Quanto à questão de gênero, foi constatado que há certa equivalência: 49% dos pacientes são do sexo masculino contra 51% do sexo feminino. Desta forma, pode-se supor que a doença não possui determinantes diretos que estejam relacionadas ao gênero, diferentemente da variável cor da pele e descendência, como apresentado nos gráficos 3 e 4: 4 “A triagem neonatal é uma ação preventiva que permite fazer o diagnóstico de diversas doenças congênitas ou infecciosas, assintomáticas no período neonatal, a tempo de interferir no curso da doença, permitindo, desta forma, a instituição do tratamento precoce específico e a diminuição ou eliminação das seqüelas associadas a cada doença...”. Para o diagnóstico da FC, a triagem neonatal (teste do pezinho) que se caracteriza pela dosagem quantitativa da tripsina imunoreativa (TIR) no sangue do recém nascido deve ser realizada entre o 3º e o 5º dia de vida e, em caso positivo, deve ser repetida até o 28º dia de vida. É importante ressaltar que este exame não é conclusivo, sendo necessária à realização do teste do suor. Fonte: www.saude.gov.br O Estado do Rio de Janeiro, recentemente (em janeiro de 2007), implementou a terceira fase do Programa Nacional de Triagem Neonatal (Portaria GM/MS nº. 822/GM, de 06.06.2001), que possibilita a triagem para Fibrose Cística pelo “teste do pezinho”. Este procedimento só era realizado por mais 03 estados brasileiros: Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais. 5 O teste do suor caracteriza-se como o “padrão áureo para o diagnóstico da FC, com elevada sensibilidade e especificidade (>95%), baixo custo e não invasivo. Atualmente, o único procedimento aceitável é o da dosagem quantitativa de cloretos no suor, obtidos pelo método da iontoforese por pilocarpina, padronizado por Gibson & Cooke. A quantidade de suor deve ter no mínimo 100mg”. (RIBEIRO et alii, 2002:175) 6 O teste genético possibilita a análise das mutações (teste de DNA). “A identificação de duas mutações conhecidas confirma o diagnóstico de Fibrose Cística, sendo decisivo naquele paciente que apresenta quadro clínico compatível e teste do suor não conclusivo”. (Ribeiro, 2002:176) 11 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 3 Cor Amarela/ Indigena 1% Parda 31% Branca 62% Negra 6% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Gráfico 4 Descendência Asiática 2% Africana 6% Não conhece 14% Latino americana 27% Européia 51% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Esta doença está diretamente relacionada à hereditariedade, e sua origem está vinculada principalmente a raça branca: “A Fibrose Cística atinge aproximadamente 1:2.500 crianças nascidas-vivas da raça branca, incidência que diminui para indivíduos da raça negra na proporção 1:17.000...” (Furtado e Lima, 2003:67). Estas características foram ao encontro do que se encontra na literatura e foi percebido que 63% dos pacientes autodefiniram sua cor de pele como branca e 51% dos entrevistados relataram possuir descendência européia. Porém, torna-se importante salientar que a miscigenação no Brasil é algo concreto e possibilita novos contornos para o perfil da população. Este fato é comprovado mediante a informação dada por 37% dos pacientes que se consideraram de cor de pele parda e negra. Além disto, foi percebido que alguns pacientes apresentaram 12 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br dificuldades em definir sua descendência familiar em virtude da “mistura racial” ou despreocupação sobre a mesma. Quanto à questão da naturalidade, verificou-se (gráfico 5) que os pacientes alocados no Estado do Rio de Janeiro, em sua maior parte (151 pacientes) são naturais deste mesmo estado. Além disso, obteve-se a informação de que cerca de 06 pacientes relataram que saíram de seu estado de origem em busca de melhores condições para a realização do tratamento (exemplo: deslocamento de cidades no interior ou norte/nordeste para a capital). Gráfico 5 Naturalidade São Paulo 1 Maranhão 1 Paraíba 1 Rio Grande do Norte 1 Minas Gerais 2 Israel 1 Espírito Santo 2 Uruguai 2 Rondonia 1 151 Rio de Janeiro 0 20 40 60 80 100 120 140 160 Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No gráfico 6, verifica-se que os pacientes estão distribuídos em diversas regiões do Estado do Rio de Janeiro7. 7 O Estado do Rio de Janeiro está dividido nas seguintes regiões geográficas: Metropolitana I (Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba, Marica, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá); Noroeste Fluminense (Aperibé, Bom Jesus de Itabapoana, Cambuci, Italva, Itaocara, Itaperuna, Laje de Muriaé, Miracema, Natividade, Porciúncula, Santo Antonio de Pádua, São José de Ubá e Varre Sai); Norte Fluminense (Campos dos Goytacazes, Carapebus, Cardoso Moreira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra); Serrana (Bom Jardim, Carmo, Cantagalo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Nova Friburgo, Petrópolis, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Morais); Baixada Litorânea (Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim); Médio Paraíba (Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença e Volta Redonda); Centro Sul Fluminense (Areal, Com. Levy 13 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 6 I – Metropolitana II – Noroeste Fluminense III – Norte Fluminense IV – Serrana V – Baixadas Litorâneas VI – Médio Paraíba VII – Centro Sul Fluminense VIII – Baía da Ilha Grande 1% 4% 1% 8% 3% 3% 1% 81% 1% 1% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Os pacientes que residem no Município do Rio de Janeiro foram categorizados através dos subgrupos elencados na tabela 1: 8 Gasparian, Eng. Paulo de Frontim, Mendes, Miguel Pereira, Paraíba do Sul, Paty do Alferes, Sapucaia, Três Rios e Vassouras); Baía da Ilha Grande (Angra dos Reis e Parati). 8 Referência utilizada com base na formatação definida pela Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro que congrega diversos bairros por CAS (Coordenadorias de Assistência Social). Fonte: www.smas.rj.gov.br 14 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 1 Regiões Nº. pacientes 4 Bairros Região 01 Bairro de Fátima, Rio Comprido, São Cristóvão Região 02 Andaraí, Tijuca, Vila Isabel, Botafogo, Catete, Copacabana, Flamengo, Ipanema, Laranjeiras, Rocinha, Urca, Vidigal 16 Região 03 Inhaúma, Engenho Vasconcelos 4 Região 04 Ilha do Governador, Bonsucesso, IAPI da Penha, Olaria, Parada de Lucas, Penha Circular, Ramos 11 Região 05 Bento Ribeiro, Cavalcanti, Honório Gurgel, Marechal Hermes, Quintino, Vicente de Carvalho 11 Novo, Higienópolis, Jacaré, Lins de Região 06 Anchieta Região 07 1 Cidade de Deus, Freguesia, Jacarepaguá, Recreio, Taquara, Vargem Pequena, Barra da Tijuca 16 Região 08 Bangu, Senador Camará 2 Região 09 Campo Grande, Santíssimo Região 10 Paciência, Santa Cruz Total 7 4 76 Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. A tabela 2 apresenta a relação dos pacientes que residem na Baixada Fluminense, totalizando 39 portadores de Fibrose Cística. Tabela 2 Municípios Duque de Caxias Belford Roxo Nova Iguaçu Queimados São João de Meriti Nilópolis Magé Seropédica Itaguaí Total nº. pacientes 11 3 11 3 6 1 1 2 1 39 Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Esta informação evidencia um dos fatores que dificulta a adesão ao tratamento por parte da população, uma vez que os hospitais que atendem os fibrocísticos estão localizados em bairros da Zona Sul e no Centro do Município do Rio de Janeiro. 15 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br O nível de escolaridade do público em questão também foi pesquisado, conforme apresentado no gráfico 7. Gráfico 7 Escolaridade Não está em idade escolar 12% Educação Infantil 13% Educação Superior 10% Ensino Médio 18% Ensino Fundamental 47% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Constatou-se, a partir do gráfico 7, que a maior parte dos pacientes encontra-se cursando o ensino fundamental, fato este relacionado à faixa etária do grupo pesquisado (maioria crianças). Com o avanço da medicina, a possibilidade do paciente alcançar uma vida produtiva em sociedade tem-se acentuado e apresentado como importante característica deste grupo. Sendo assim, percebe-se a importância em promover os estudos dos pacientes, de forma que estes possam estar preparados para o mercado de trabalho futuro. Cabe ressaltar que a doença não acarreta qualquer tipo de dificuldade de aprendizado, e os pacientes possuem plenas condições para um desenvolvimento escolar de forma igualitária a de uma criança saudável. Um dado curioso revelado pela pesquisa diz respeito ao convívio do grupo pesquisado. Embora o fator “internações freqüentes” ter sido apontado como um dos itens mais problemáticos para a vida dos pesquisados, foi possível perceber que estas famílias encontram outras dificuldades. De acordo com os relatos de alguns entrevistados, a postura por parte de determinadas escolas, alunos e profissionais, ao não ter clareza sobre a doença, apresenta posição discriminatória e excludente aos pacientes, interferindo diretamente na adesão ao tratamento dos mesmos, uma vez que tais situações comprometem a saúde mental e social dos pacientes. 16 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br II – SITUAÇÃO FAMILIAR E CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS 2.1 – Situação familiar Antes de dar início a um olhar sobre a questão da família de pacientes de Fibrose Cística é importante destacar o significado dado pela instituição ao termo “família”: “... núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas ou não por laços consangüíneos.” (Mioto, 1997:120) Em relação à situação familiar dos pacientes, conforme apresentado no gráfico 8, foi constatado que 65% destes vivem com pais não separados. Gráfico 8 Situação dos pais Órfãos 7% Filhos de pai ignorado 1% Pais adotivos 2% Pais separados 25% Pais não separados 65% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Analisando a situação dos pacientes órfãos, apresentada no gráfico 8, constatou-se que 40% dos mesmos são órfãos de mãe e 60% são órfãos de pai. Apesar da situação apresentada no referido gráfico, foi possível perceber que os cuidados dos pacientes são “delegados” à figura materna, sendo esta considerada a “responsável” por toda a adesão ao tratamento – é ela quem oferece o medicamento ao paciente, quem o acompanha nas consultas, quem permanece de acompanhante em boa parte do tempo em internações hospitalares. Nesta condição, a mulher encontra-se limitada a contribuir com a renda familiar, uma vez que todo seu tempo está dividido entre afazeres domésticos e cuidados com o paciente. Tais cuidados incisivos são percebidos até no grupo de pacientes já adultos, uma vez que os mesmos apresentaram vínculos de “dependência” no que diz respeito ao tratamento. 17 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Outra questão a ser destacada, diz respeito à figura paterna, que por vezes culpa a mãe de todas as ocorrências vivenciadas no lar ou com o paciente, não apresentando postura de parceria sobre esta questão. Neste sentido, torna-se importante salientar que mães de pacientes crônicos são um público vulnerável em diversos aspectos – sociais, econômicos e emocionais, necessitando de uma atenção específica e integral que ofereça suporte a estas demandas. Ao relacionar a situação familiar com a questão financeira (tópico que será abordado no item 2.2 deste trabalho), observou-se que um percentual significativo das famílias mais pobres (tabela 3) apresentam separações conjugais, podendo indicar que a situação sócio-econômica, acrescida do desgaste gerado pela doença, pode interferir nas relações afetivas dos responsáveis pelos pacientes. Para fazer um contraponto, destacou-se que, dos 49 pacientes que se encontram na faixa de renda acima de R$ 1500,00 (tabelas 8 e 9), apenas 7 apresentam situações de divórcio na dinâmica familiar. O grupo entrevistado apresenta na sua constituição familiar, conforme demonstra o gráfico 9, um percentual de quase 50% de dois filhos, o que vai ao encontro da informação revelada pelo gráfico 10, que relaciona o número de pessoas que residem em uma mesma residência – 4 componentes, que corresponde a 47%. 9 Torna-se importante ressaltar que em famílias com mais de um filho (sendo um deles portador de doença crônica) os conflitos familiares são acentuados, uma vez que os outros elementos disputam a atenção dos pais, em especial da mãe, em virtude do excesso de cuidados que exige uma doença dessa natureza. Estas famílias apresentaram ainda relatos de conflitos conjugais, que poderiam ou não ser acentuados pelas questões acima citadas. 9 Uma informação pertinente consiste no fato de que 4 famílias adotaram pacientes fibrocísticos, quando estes ainda eram bebês, mesmo tendo conhecimento dos problemas de saúde destes, demonstrando no cotidiano da ACAM um cuidado criterioso com estes pacientes. 18 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 9 Número de filhos das famílias Quatro 9% Acima de cinco Cinco 2% 2% Três 18% Um 23% Dois 46% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Gráfico 10 Número de membros na residência Seis 4% Sete 2% oito 1% Cinco 16% Dois 5% Três 25% Quatro 47% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Conforme mencionado anteriormente, do público pesquisado, 09 famílias possuem mais de um filho com Fibrose Cística. Neste sentido, torna-se importante destacar que o cotidiano dessas famílias, apresenta uma maior complexidade em virtude dos cuidados demandados pelos pacientes. Por se tratar de uma doença genética e todos os irmãos tendo as mesmas mutações, cada paciente manifestará diferentes variações dos sintomas, requisitando medicações e cuidados distintos. 19 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br No que diz respeito à perda de familiares com FC, do público entrevistado, 9% relataram que já perderam familiares com esta doença, em geral filhos, e 6% apresentaram suspeitas sobre este mesmo tópico, em virtude dos sintomas apresentados pelo parente falecido. Nesta pesquisa, foi possível identificar ainda a escolaridade dos pais dos pacientes, porém optou-se por destacar os pais de pacientes com idade até 18 anos, uma vez que os mesmos estão legalmente sob a responsabilidade dos pais. Conforme demonstra os gráficos 11 e 12, constatou-se que a mulher apresenta um nível de escolaridade inferior ao de seus companheiros. Este fato pode estar relacionado com a múltipla jornada a qual as mulheres estão submetidas na atual sociedade. Gráfico 11 Escolaridade das mães (de pacientes até 18 anos) Ensino Superior completo 15% Analfabeto 1% Ensino Superior incompleto 6% Ensino Fundamental Incompleto 38% Ensino médio completo 29% Ensino médio incompleto 6% Ensino Fundamental Completo 5% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 20 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 12 Escolaridade dos pais (de pacientes até 18 anos) Ensino Superior completo 26% Analfabeto 2% Ensino Fundamental Incompleto 31% Ensino Fundamental Completo 3% Ensino Superior incompleto 3% Ensino médio incompleto 5% Ensino médio completo 30% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 2.2 – Condições sócio-econômicas Com relação à moradia, conforme apontado no gráfico 13, a maior parte do grupo pesquisado (56%) possui residência própria. Constatou-se, entretanto, que há um número significativo de residências cedidas: 15%, em virtude do apoio de familiares próximos como, por exemplo, avós. Gráfico 13 Residência Cedida 15% Posse 2% Outros 2% Financiada 4% Própria 56% Alugada 21% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 21 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Verificou-se, ainda, que 44% das residências possuem mais de cinco cômodos, como exemplo: cozinha, sala, 02 quartos, banheiro, conforme gráfico 14. Gráfico 14 Número de cômodos na residência Um 1% Dois 3% Três 4% Quatro 17% Mais de cinco 44% Cinco 31% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Para além dos dados quantitativos, foi possível perceber que, mesmo vivendo em condições de pobreza, algumas famílias demonstraram preocupação com o ambiente de suas casas em favor das necessidades do paciente, procurando manter os cômodos em condições que favoreçam a limpeza. A exemplo observou-se residências que possuíam piso cimentado, mas no quarto delegado ao paciente havia a preocupação em dispor de piso de cerâmica. “... Onde se observou que os aspectos ambientais da casa não são favoráveis ao tratamento da doença. O local apresenta muita poeira, as ruas não são asfaltadas e a rede de esgoto do bairro ainda não fora legalizada pela prefeitura. Porém, percebe-se que dentro desta realidade a mãe procura manter o interior da casa (...) privilegiando a questão da limpeza dos locais e acessórios de nebulizador que o paciente utiliza”. (A15 – Equipe de Serviço Social) “... Inclusive a paciente só possui um bichinho de estimação (01 peixe) preconizando a preocupação perante o tratamento”. (A7 – Equipe de Serviço Social) 22 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Verificou-se ainda que algumas famílias adquiriram aparelhos de ar condicionados, por orientação médica (segundo informações colhidas) ou simplesmente por entenderem que tal equipamento possibilitaria melhores condições de vida para o paciente. Isto se deve ao fato dos pacientes possuírem uma facilidade em desidratar em função da doença, associado às altas temperaturas de alguns pontos do Estado do Rio de Janeiro. “Num quarto tem apenas um colchão no chão onde dormem os três filhos da Sra. X. No outro quarto, tem uma cama de casal, um guarda-roupas, uma cômoda, uma televisão, e um ar condicionado que, segundo a Sra. X, ela comprou pois foi orientada que seria bom para o paciente. A mãe ainda está pagando pelo aparelho”. (M11 – Equipe de Serviço Social) Com relação às condições de saneamento básico, verificou-se (gráfico 15) que 85% das famílias vivem em condições mínimas estando incluídas numa rede de serviços urbanos com água encanada, luz elétrica e esgoto. Entretanto, os outros 15% dos entrevistados vivem em uma situação de precariedade em termos de infra-estrutura que favoreça as condições de vida dos pacientes e suas famílias. Gráfico 15 Saneamento básico Infra-estrutra precária 15% Infra-estrutra básica 85% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Com relação à renda familiar, constatou-se (gráfico 16) que mais de 50% do total de famílias com pacientes de fibrose cística possuem uma renda aproximada de até R$ 1.000,00. 23 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 16 Renda Familiar Não informou 2% Mais de R$ 2000,00 21% Até R$ 300,00 10% De R$ 301,00 à 750,00 31% De R$ 1501,00 a 2000,00 9% De R$ 1001,00 a 1500,00 12% De R$ 751,00 à 1000,00 15% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Esta situação torna-se um agravante para o tratamento uma vez que o mesmo, conforme já mencionado, gera um alto custo na sua efetivação. A renda familiar compromete a qualidade de vida, não só pela questão do tratamento, mas como pelo desenvolvimento da família como um todo. O artigo 7º da Constituição Federal de 1988, que aborda os direitos dos trabalhadores pela melhoria de sua condição social, prevê: “IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e as de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social (...)” Portanto, a renda familiar deve suprir as diversas necessidades decorrentes do desenvolvimento humano. Em casos de famílias com pacientes portadores de doenças crônicas, as demandas crescem de forma exponencial, uma vez que os mesmos necessitam de serviços extras, como idas freqüentes aos hospitais, serviços de fisioterapia, alimentação adequada, realização de diversos exames, enfim um conjunto de fatores que tornam a adesão ao tratamento mais complexa. Como forma de ilustrar melhor estes fatores acima mencionados, são apresentadas tabelas que relacionam o número de componentes na residência, associado às categorias propostas pela pesquisa, realocando as mesmas em faixas salariais, conforme disposto no gráfico 16. Vale ressaltar que, para ações futuras, os dados desta pesquisa deverão ser aprofundados 24 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br para melhor caracterização desta população, possibilitando assim um olhar mais criterioso sobre a realidade destes. Esta análise futura se torna necessária, tendo em vista que o cotidiano de uma família composta por determinado número de componentes, apresenta qualidade de vida diferenciada em comparação com uma outra família de renda similar, porém com número superior de pessoas. Assim sendo, as tabelas10 apresentadas são seguidas de reflexões pontuais decorrentes da interpretação dos dados coletados nesta pesquisa, associadas aos relatórios produzidos pela equipe de serviço social. Tabela 3 Renda até R$ 300,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 4 3 pessoas 7 4 pessoas 3 5 pessoas 1 6 pessoas 1 7 pessoas Total = 16 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. O grupo de famílias que apresentaram renda mensal de até R$ 300,00 (tabela 3) demonstram um significativo índice de desemprego ou atividade laborativa informal, o que implica na dificuldade de manutenção econômica destas famílias. Percebe-se, portanto, que este grupo representa um público de maior vulnerabilidade social uma vez que não dispõe das condições mínimas para garantir o atendimento às necessidades básicas. Vale destacar que a maior parte destas famílias é considerada elegível economicamente para acesso à Política de Assistência Social que prevê, dentre seus objetivos, a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice, sejam através de benefícios, serviços, programas e projetos. 10 Destacamos que 3 pacientes (que estão alocados em duas famílias) optaram por não informar sua renda familiar. 25 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 4 Renda de R$ 300,00 a 750,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 4 2 pessoas 15 3 pessoas 21 4 pessoas 6 5 pessoas 1 6 pessoas 2 7 pessoas Total = 49 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No grupo referente à renda de R$ 300,00 a R$ 750,00 (tabela 4), identificou-se que, em geral, um dos familiares exerce alguma atividade produtiva, sendo atribuída a este a responsabilidade pela manutenção da família. Percebeu-se, porém, que estas atividades nem sempre se caracterizam como vínculo formal no mercado de trabalho, gerando uma renda volátil (dependendo da oferta de trabalho a renda se torna variável). Isto implica na qualidade de vida dos pacientes e suas famílias uma vez que este mesmo grupo também apresenta características de vulnerabilidade social. Tabela 5 Renda de R$ 750,00 a 1000,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 7 3 pessoas 9 4 pessoas 3 5 pessoas 2 6 pessoas 3 8 pessoas Total = 24 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. As famílias que estão alocadas na faixa de renda de R$ 750,00 a R$ 1000,00 (tabela 5), apesar de apresentarem uma renda maior, ainda não conseguem efetivar o tratamento de forma mínima, solicitando apoio a instituições para o desenvolvimento de seu cotidiano – como a ACAM. Os vínculos de trabalho neste grupo começam a apresentar uma maior incidência de formalidade, porém os baixos salários associados ao alto custo do tratamento, influenciam na qualidade de vida destas famílias. 26 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 6 Renda de R$ 1000,00 a 1500,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 3 3 pessoas 8 4 pessoas 5 5 pessoas 1 6 pessoas 1 7 pessoas Total = 18 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Em relação às famílias que possuem renda entre R$ 1000,00 a R$ 1500,00 (tabela 6), identificou-se que este público apresenta, apesar de algumas limitações financeiras, um comprometimento mais incisivo com o tratamento dos pacientes (cuidados mais rigorosos com administração de medicamentos, idas freqüentes ao hospital para acompanhamento, etc.). Nos dois grupos abaixo (tabelas 7 e 8 – que possuem renda superior a R$1500) totalizam cerca de 30% da população de fibrocísticos do Estado do Rio de Janeiro. Diante desta informação, percebeu-se que a renda mensal tende a favorecer o tratamento dos pacientes, pois a estes é acessível à rede de serviços (a exemplo, constatou-se que somente 05 pacientes deste grupo não dispõem de plano de saúde privado). Porém, vale ressaltar que, apesar da condição sócio-econômica deste grupo ser favorável, não há garantias de que, por si só, estas famílias conseguirão prover todos os recursos necessários ao tratamento. O acesso aos medicamentos, por exemplo, se torna inviável para a maioria dessas famílias em função do alto custo. Assim sendo, todo este grupo também possui um vínculo de dependência com o sistema público de saúde. Ainda neste grupo, foi possível perceber que mais de um familiar da residência está vinculado a uma atividade produtiva, auxiliando na situação econômica do lar. E, retomando o gráfico 2, referente à faixa etária dos pacientes, percebeu-se que a maior parte dos pacientes adultos de Fibrose Cística também colabora (ou já colaboraram) com a renda familiar. Tabela 7 Renda de R$ 1500,00 a 2000,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 4 3 pessoas 6 4 pessoas 3 5 pessoas Total = 13 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 27 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 8 Renda acima de R$ 2000,00 Nº. famílias Nº. de componentes na correspondentes residência 3 2 pessoas 6 3 pessoas 17 4 pessoas 2 5 pessoas 2 6 pessoas Total = 30 famílias Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Em virtude do exposto acima, torna-se fundamental destacar que a situação sócioeconômica dos pacientes está diretamente vinculada à adesão ao tratamento dos mesmos, visto que tornará esta adesão mais favorável ou não, conforme afirma Alvarez et alii: “Trabalhos recentes demonstram pior evolução nos pacientes fibrocísticos com nível socioeconômico inferior. Schechter et al. verificaram risco de morrer 3,65 vezes maior nos fibrocísticos mais pobres, os quais também apresentavam valores de função pulmonar e estado nutricional mais deteriorados. Esses achados foram confirmados por uma amostra muito grande de pacientes da Cystic Fibrosis Foundation. Um estudo recente demonstrou que pacientes com melhor nível socioeconômico apresentam risco 40% menor em relação à mortalidade quando comparados com pacientes de nível socioeconômico inferior. Desta forma, a maior morbidade e mortalidade de nossos pacientes pode ter relação com um baixo nível socioeconômico”. (2004:377) No que diz respeito aos direitos sociais, verificou-se que o acesso destes pacientes a serviços públicos de saúde, educação, habitação, assistência social, dentre outros, não atende às reais necessidades deste grupo, em especial para 70% da população de fibrocísticos do Estado do Rio de Janeiro. A Constituição Federal de 1988, em seu Capítulo II que trata dos Direitos Sociais, prevê no art. 196 que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” 28 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Já a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, prevê em seu artigo 3º: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Parágrafo único – ”Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.” Sabe-se, porém, que o sistema público de saúde no Brasil encontra-se extremamente precário, apresentando dificuldades de acesso e não atendimento universal e de qualidade. A exemplo disso destaca-se a demora na marcação de consultas, a não absorção da totalidade de pacientes pelas instituições especializadas no tratamento da Fibrose Cística, a ausência de leitos suficientes para internação, a não existência de um centro de referência para tratamento dos pacientes adultos, a ausência de um serviço de emergência específico para as demandas decorrentes da Fibrose Cística, a dificuldade de acesso a medicamentos de alto custo, entre diversos outros fatores. Como resposta a situação apresentada acima na saúde pública e mesmo vivendo em condições precárias, contatou-se que 52% dos pacientes buscaram alternativas de tratamento através de planos privados de saúde, seja custeado por pessoa física ou fornecido por empresa. Inclusive, em alguns casos, somente o paciente (dentre os integrantes da família) possui plano que, em geral, é pago por algum outro membro da família. Gráfico 17 Plano de saúde Sim 52% Não 48% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 29 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 18 Tipo de Plano Bradesco 20% Outros 41% Unimed 25% Amil 7% Sulamérica 4% Golden 3% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No processo de coleta de dados, ao questionar as famílias sobre acesso a cidadania através de ações judiciais, verificou-se que 22% dos pacientes entrevistados relataram ter recorrido à justiça para obtenção de medicamentos. Porém, não foi possível identificar nesta pesquisa, a eficácia destas ações. Num momento posterior, este assunto será retomado. Este percentual demonstra o desconhecimento, por parte deste público, quanto aos direitos sociais. Além disso, daqueles que afirmaram conhecer tais direitos, identificou-se que este conhecimento encontra-se limitado e restrito a obtenção de medicamentos, conforme demonstra o trecho a seguir : “... onde relatou que sempre entra na justiça para conseguir os medicamentos para o seu filho, pois é dever do Estado assegurar os medicamentos para quem necessita.” (Paciente A18 – equipe do serviço social). É importante destacar ainda os casos de pacientes que são dependentes de oxigênio (07 pacientes) e necessitam de equipamentos específicos. Percebeu-se que estes pacientes encontram limitações em virtude da morosidade da justiça e o não cumprimento por parte do poder público dos seus direitos. A Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº. 8.742, de 07/12/1993) que regulamenta a Política de Assistência Social, prevê, em seu art. 20, o Benefício de Prestação Continuada – BPC, que é a “garantia de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família”. Verificou-se, na presente pesquisa, que 80% dos pacientes afirmaram que não recebem nenhum tipo de “ajuda do governo” (SIC). Dentre os pacientes que relataram receber algum benefício (20%), somente 16 pacientes foram contemplados por tal. Com relação ao acesso ao transporte público, torna-se importante destacar que os portadores de Fibrose Cística só possuem direito a este beneficio no âmbito estadual (Vale Social 30 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br que permite o acesso a trens, barcas, metrôs e ônibus intermunicipais) 11. Porém, a prefeitura do município do Rio de Janeiro (onde estão localizados os centros de tratamento da Fibrose Cística) inviabiliza o acesso destes pacientes, uma vez que a Lei municipal delimitou as doenças que seriam contempladas por este beneficio (Rio Card – Passe Livre) 12. III – DESCOBERTA DA DOENÇA E TRATAMENTO Conforme demonstrado no gráfico 19, verificou-se que 33% dos pacientes descobriram a doença até os 6 meses de idade. Gráfico 19 Com que idade foi descoberta a FC De 16 a 20 anos 5% Já adulto 2% De 11 a 15 anos 7% Até 6 meses 33% De 6 a 10 anos 13% De 2 a 5 anos 20% De 7 meses a 1 ano 20% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Com a implementação da triagem neonatal para a Fibrose Cística no teste do pezinho no Estado do Rio de Janeiro, este gráfico deverá se modificar futuramente em virtude do aumento do número de possíveis diagnósticos através do referido teste. Ribeiro et alii, afirma que o diagnóstico “... deve ser iniciado o mais precocemente possível e ser individualizado, levando-se em conta a gravidade e os órgãos acometidos. O tratamento precoce retarda a progressão das lesões pulmonares, melhora o prognóstico e aumenta a sobrevida... nos países desenvolvidos, a maioria 11 12 Lei Estadual nº 4510/2005 Decreto Municipal 19936/2001 – artigo 3º 31 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br dos pacientes tem diagnóstico firmado antes dos dois anos de idade. No Brasil, 40 a 50% dos casos são diagnosticados após três anos de idade...” (2002:175) Apesar de a maior parte ter descoberto a doença ainda na infância, é perceptível, através do gráfico 19, o percentual de pacientes que descobriram tardiamente, comprometendo a qualidade de vida, uma vez que com o avanço da doença não há como retroceder. Com relação ao instrumento utilizado para definição do diagnóstico, percebeu-se que o teste do suor prevaleceu em 82% dos casos. Gráfico 20 Como foi detectada Teste do pezinho 6% Não confirmado/em Associação de 2 estudo métodos 5% 5% Teste genético 2% Teste do suor 82% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Um dado importante a ser destacado diz respeito ao número de pacientes que não possuem um diagnóstico fechado (5%). Porém, em função de alguns sintomas que apresentam, estes pacientes estão alocados em ambulatórios para Fibrose Cística e realizam todo ou parte do tratamento para tal. Com relação às internações, que são muito freqüentes nos pacientes de Fibrose Cística, verificou-se (gráfico 21) que 46% dos entrevistados já passaram por mais de cinco internações ao longo da vida. Além disso, 26% dos pacientes nunca passaram por nenhum procedimento de internação ou internaram apenas uma vez, o que talvez pudesse ter relação com o tipo de mutação genética do paciente. 32 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 21 Número de internações ao longo da vida Nenhuma 13% Mais de cinco 46% Uma 13% Duas 8% Cinco 5% Quatro 9% Três 6% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Ainda se tratando de internações, constatou-se (gráfico 22) que 56% dos pacientes passaram por períodos de internação considerados adequados para tratamento de antibioticoterapia, ou seja, de 15 a 30 dias, uma vez que estes tratamentos em média se dão em ciclos de 14, 21 ou 28 dias. Gráfico 22 Tempo máximo de internação Acima de 90 dias 7% Não internou 13% Até 15 dias 19% De 61 a 90 dias 5% De 31 a 60 dias 19% De 16 a 30 dias 37% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No que diz respeito ao local de tratamento dos pacientes, é visível a concentração destes no hospital de referência para tratamento da Fibrose Cística. O Instituto Fernandes Figueira – IFF 33 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br absorve, até o momento, 69% do total dos pacientes com idade até os 18 anos. Já o Hospital Universitário Pedro Ernesto – HUPE, que atende o público adulto concentra 13% dos pacientes. Ribeiro et alii afirma que “apesar dos avanços no conhecimento da doença, ainda não existe tratamento específico para a Fibrose Cística. Devido ao seu caráter multissistêmico e crônico, o tratamento deve ser realizado em centros de referência, com equipe multidisciplinar...” (2002:177) Novamente, vale ressaltar que o público adulto está crescendo. Retomando o gráfico 2, referente à faixa etária, é importante lembrar que, atualmente, 21% dos pacientes são adolescentes que estão em vias de chegar à fase adulta e, portanto, seu tratamento deverá passar para o Hospital Universitário Pedro Ernesto e este não terá condições de absorver todo esse público, em virtude da ausência de uma estrutura adequada para atendimento. Gráfico 23 Local de tratamento Médico Particular 7% Outros locais 2% HSE 9% HUPE 13% IFF 69% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Com relação ao tratamento da Fibrose Cística, constatou-se que os medicamentos mais utilizados pelos pacientes são: Dornase Alfa (124); enzimas pancreáticas (149); ADEKs (98); Tobramicina (37); Salbutamol (90); Azitromicina (52); Ciprofloxacina (46); outros medicamentos (80) e suplementos nutricionais – Nutridrink/Fortini (31). É importante ressaltar que a Fibrose Cística, por ser uma doença genética e ter várias mutações, seus sintomas e tratamento variam de acordo com cada paciente. Assim temos, por exemplo, pacientes que não apresentam problemas gástricos e outros que não apresentam problemas pulmonares. Outra questão a ser destacada consiste no fato de que os suplementos alimentares só foram disponibilizados gratuitamente pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir de 34 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br outubro de 2006. Por isso, o número de pacientes que relataram utilizar suplementos nutricionais apresenta-se reduzido, pois nesse período grande parte dos pacientes já havia respondido à pesquisa. Até então, só acessavam estes produtos aquelas famílias que podiam arcar com os custos ou aqueles que recebiam doações de alguma forma. Gráfico 24 Medicamentos 140 124 120 98 100 90 80 80 71 60 52 46 41 40 37 33 31 22 20 10 4 10 1 0 4 11 15 10 3 0 15 4 8 9 11 3 Pa nc re as e 4 Ul tra 000 se U 45 ltr 00 as e 12 U ltr 00 as 0 e 18 0 0 M 0 ód AD ul o E Le d K i te e s o Le co m li go TC ite ss ca M ac de s ar va eín íd a ca eo hi s dr ise ol nt is o de ada la ct os Pe e di as Pu ure lm N ut rid oca re ri n k/ Ac M Fo et er r at tin it e o i ne de m M is ag t o es U rs tro ac lol M ag es Ce ta t fa le Cl xi ar na itr om Su ic lfa in m a -T r im To e br D am t or na ici se na Sa Al lb C fa ut ol am ist (P im ul ol m et oz at im o Az So e itr di om ) Fl u ut ic ica m ( in C a so Am ol om na ox -S yc ac in il in al ) m a - C ete O ro la ut l vu ro Ci la s (m pr na of t ed o lo i xa Nã cam ci o na en us to C a s/ R ne su EO p nh N um l em en m to ed s ) ic am en to 0 Série2 Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No que diz respeito ao tratamento fisioterapêutico, verifico-se (gráfico 25) que 63% dos entrevistados afirmaram realizar a fisioterapia respiratória de 1 a 3 vezes por semana, seja com profissional ou em casa. 35 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 25 Número de sessões de fisioterapia por semana Cinco 3% Nenhum a 15% Mais de cinco 17% Quatro 2% Um a 26% Três 18% Duas 19% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Porém, conforme demonstra o gráfico 26, percebe-se que 31% dos pacientes realizam o acompanhamento fisioterapêutico com profissional particular e apenas 21% realizam fisioterapia no IFF – o hospital de referência no tratamento da Fibrose Cística. Ou seja, o IFF comporta quase 70% dos pacientes em seu ambulatório de Fibrose Cística, mas não absorve nem metade desta população no ambulatório de fisioterapia. Gráfico 26 Com quem realiza as fisioterapias Em casa 13% Não realiza 15% Fisioterapeuta de outra instituição pública 20% IFF 21% Fisioterapeuta particular 31% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Com relação às nebulizações realizadas pelos pacientes, os mesmos relataram quantas nebulizações seus médicos solicitaram e quantas eles efetivamente realizam, conforme tabelas 09 e 10: 36 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 9 Número de nebulizações solicitadas pelo médico Nenhuma 20 Uma 22 Duas 37 Três 51 Quatro 25 Cinco 4 Mais de cinco 4 Total = 163 pacientes Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Tabela 10 Número de nebulizações que o paciente faz por dia Nenhuma 23 Uma 34 Duas 43 Três 35 Quatro 15 Cinco 10 Mais de cinco 3 Total = 163 pacientes Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No que diz respeito aos equipamentos destinados ao tratamento pulmonar, em especial o aparelho de nebulização, seguem os gráficos referentes a: limpeza do nebulizador, troca de filtro e acessórios do equipamento, limpeza destes acessórios e tempo de uso dos mesmos. No gráfico 27, referente à limpeza do nebulizador, verificou-se que 28% dos pacientes nunca realizaram nenhum procedimento de higiene do referido aparelho. 37 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 27 Limpeza do compressor (motor) 15 em 15 dias 2% Não tem 6% 01 vez por mês 37% Todos os dias 14% Nunca fez 28% 01 vez por semana 11% 01 vez por ano 2% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. Com relação à troca de filtro e acessórios (gráficos 28 e 29), foi constatado um percentual alto de pacientes que nunca realizaram a troca destes materiais: 76% nunca trocaram o filtro e 58% nunca trocaram os acessórios. Gráfico 28 Troca de filtro do compressor Não sabe onde fica De 01 em 01 ano 1% 8% Não tem 6% Troca de 06 em 06 meses 9% Nunca trocou 76% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 38 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Gráfico 29 Troca do copinho e os acessórios (máscara e bucal) Não sabia que tinha que trocar 7% Não tem 6% Troca de 06 em 06 meses 19% De 01 em 01 ano 10% Nunca trocou 58% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. No que se refere à limpeza dos acessórios (gráfico 30), embora a maior parte (54%) terem afirmado que realizam a limpeza de forma adequada13, um percentual significativo (37%) realiza tal procedimento de forma inadequada ou nunca a realizou. Gráfico 30 Limpeza dos acessórios do nebulizador Não realiza limpeza 2% Não usa o nebulizador 1% Não possui nebulizador 6% Inadequada 37% Adequada 54% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 13 Segundo orientação da fisioterapia da ACAM, entende-se por “limpeza adequada” a esterilização dos acessórios através de produtos específicos como hipoclorito de sódio (água sanitária) – Anexo II. 39 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br No que diz respeito ao tempo de uso dos acessórios (máscara e bucal), a maioria dos entrevistados (43%) relatou que os mesmos estão em uso há menos de um ano, conforme demonstra o gráfico 31. Gráfico 31 Tempo de uso dos acessórios do nebulizador Acima de 5 anos 9% De 4 a 5 anos 2% Não tem 6% De 3 a 4 anos 5% De 2 a 3 anos 12% Menos de 1 ano 43% De 1 a 2 anos 23% Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. IV – VISÃO DO PACIENTE QUANTO A INSTITUIÇÃO/ACAM Foi pesquisada ainda a visão dos pacientes quanto a ACAM. Após análise das falas dos pacientes e familiares, as mesmas foram alocadas nas categorias abaixo discriminadas: Tabela 11 O QUE É A ACAM Trechos da entrevista Categoria Quantidade Percentual correspondente Considera a ACAM como ajuda, apoio, suporte, segurança, referência, assistência, base, informação, conforto. 120 74% “... ajuda a descobrir melhor a forma de tratar os pacientes” (A18). “Serviço de apoio fundamental para quem tem filhos fibrocísticos” (B1). “... uma instituição que dá amparo e assistência aos fibrocísticos” (J19). 40 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br “Acho que ela existe para agilizar e garantir a entrega dos medicamentos” (S3). “É uma instituição muito solícita, onde se sente segura para conseguir os medicamentos.” (C1). “... ela luta para não faltar os medicamentos” (C9). “São pessoas que estão lá para trabalhar pelos direitos dos nossos filhos” (M8); “É um grupo de pais que se organizou para conquistar alguma coisa que o governo não solucionou” (G7). “Considero importante, mas não participo” (G1) “Para mim é muito bom e não falta nada” (J9). “É tudo de bom para a família e para o paciente” (K6) Instituição que visa garantir medicamentos 9 6% Instituição que luta pelos direitos dos portadores de FC 4 2% Consideram importante 4 2% Consideram muito bom, ótimo. 5 3% Não emitiu opinião alegando não conhecer muito bem 6 4% Não respondeu 4 2% Outros: Grupos de pessoas que está se fortalecendo (1); apoio político (2); imprescindível (1); adora a ACAM (1); vitória (1); união (2); associação da FC (1); não tiveram apoio (2). 11 7% 163 100% “Acho ótimo, sempre fui bem atendida, sempre que precisei” (M4). “Tive pouco contato” (G3) “Desconheço o trabalho realizado” (W7) “No início não tive apoio da ACAM” (D6); “até os dias de hoje a ACAM não nos ajudou, tudo que conseguimos foi através do nosso esforço” (K4); “Uma união de forças para que a qualidade de vida do fibrocístico melhore cada vez mais.” (M16) Total de pacientes Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 41 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 12 O que espera da ACAM Trechos da entrevista “Que as pessoas continuem trabalhando – que ela cresça e apareça” (M7). “Que continue defendendo os interesses dos associados” (R4). “ Que ela se fortaleça cada vez mais para atender todas as necessidades dos pacientes” (R1). “Que ela se fortaleça mais enquanto associação, para que assim possa conseguir todos os direitos dos fibrocísticos” (A18). “O que puder fazer já é o suficiente, já faz muito” (D5) “Espero que possam trabalhar para a divulgação cada vez maior da doença” (J17) “Espero que ajude cada vez mais os fibrocísticos em relação aos medicamentos” (N2) “não me sinto a vontade em responder pois sei que há pessoas que necessitam da ACAM mais que eu” (L4). “Conheci recentemente a ACAM, por isso não possuo uma opinião formada” (J8) Categoria Percentual Quantidade correspondente Que a ACAM continue trabalhando e ajudando os portadores de FC e suas famílias 54 32% Que a ACAM consiga se solidificar, melhorar, fortalecer e tenha maior reconhecimento. 23 14% Estão satisfeitos com a ACAM 24 15% Maior divulgação da FC 9 6% Que continuem ajudando com relação a medicamentos 13 8% Não respondeu 17 10% Não sabe 9 6% 14 9% 163 100% Outros: Melhorar atendimento para adultos (2); mais apoio aos municípios (2); serviço de “Espero que a ACAM consiga psicologia (1); serviço de descobrir melhoras para os fisioterapia e natação (2); fibrocísticos adultos” (B1). maior integração com IFF (1); maior pressão junto ao “Espero que ela coloque um governo (1); melhorar atendimento de fisioterapia” (S3). espaço físico acam (1); apoio aos moradores da “Que ajude os pacientes da Baixada no transporte baixada, para conseguir o riocard (1); tratamento mais riocard” (K4). próximo de casa (1); maior conhecimento da acam (1); medicamentos nos locais de tratamento (1). Total de pacientes Fonte: ACAM -Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 42 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Tabela 13 O que gostaria que ela oferecesse Trechos da entrevista “Deveria investir em um apoio psicológico para os pacientes e para as famílias” (J7). “Que tivesse um convênio para oferecer fisioterapia” (A13). Categoria Quantidade Percentual correspondente Serviços de fisioterapia (9); apoio psicológico (13); psicólogo, fisioterapia e jurídico (1); nutricionista (2); dentista e cesta (1); fisioterapia, nutricionista e vacinas (1); apoio jurídico (1). 28 17% 27 17% 10 6% 38 24% 5 3% 4 2% 12 10 7% 6% “Tenho muita necessidade de leite em pó, pois uso muito leite com minha filha” (M1) Pólo de dispensação de medicamentos (9); pólo de dispensação e participação dos pacientes nas reuniões (1); medicamentos e/ou suplementos (12); suplementos e padrinho (1); “Todos os medicamentos e que a leite (4). ACAM seja um pólo de dispensação dos remédios” (M16). “Apenas a ajuda do meu filho e de todas as outras crianças” (W1). Que continue ajudando os “Que ela ajude cada vez mais as pacientes e suas famílias pessoas que necessitam dela e que continue dando cada vez mais assistência” (M3) “Acho que a ACAM já oferece o suficiente para o tratamento da Fibrose Cística” (F2). Estão satisfeitos (30); Nada (8). “Nada. O que precisava já foi orientada” (D5). “Acha que está bom, seria melhor Cesta básica (3); cesta se minha filha ganhasse um básica e suplemento (1); padrinho” (B6) cesta básica e padrinho (1). “Tem que ter maiores manifestações com relação à mídia” (C4) Mais divulgação/informação da FC “Divulgação da doença, principalmente entre os médicos” (M4). Não respondeu “Não sei. Não freqüento, por isso Não sabe não tenho como criticar ou “Espero que os medicamentos e os complementos sejam fornecidos pela associação. Gostaria que todos os pais tivessem o mesmo direito” (A8). 43 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br sugerir algo” (M11). “Que dessa mais atenção aos adultos, pois quando passam mal o Pedro Ernesto não tem emergência e o adulto não tem para onde ir, pois a médica só atende às sextas-feiras” (K4). “Que a ACAM conseguisse mais recursos em outros lugares do Rio de Janeiro” (B5). “Mais educação, ver se consegue algum trabalho para mim (mãe) e Outros: reuniões mais ver se consegue a escola para as próximas de casa (4); duas filhas, porque uma depende melhorar atendimento para da outra” (L9). adultos (2); paternidade (1); emprego e escola (1); “Cursos de geração de renda, necessidades materiais (4); que seria também terapêutico maior mobilização (3); para os pais dos pacientes” (J5). padrinho (3); projeto de geração de renda (1); “Que continuasse visitando os geração de renda e trat dos hospitais, principalmente o setor adultos (1); bom local para de enfermagem porque esse internação (1); mais setor não nos trata com atenção” recursos em outros lugares (R10). do RJ (2); tratamento médico para as mães (1); “Um projeto que inclua as mães plano de saúde (1); cura (...), pois elas não têm (2); melhor atendimento da possibilidade de acordar cedo enfermagem (1); para pegar um número para ser trabalhasse no estilo da consultada nos serviços públicos ABBR (1). e acaba deixando de fazer os acompanhamentos médicos necessários” (S5). 29 18% 163 100% “Ajuda para atender as necessidades materiais de meus filhos” (J15). “Que as reuniões fossem mais perto, trocar de lugar, fazer em municípios diferentes onde tem crianças morando” (Y1). Total de pacientes Fonte: ACAM - Pesquisa “Quem Somos – Um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro”, Freitas, Guarino e Cunha, 2007. 44 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br CONCLUSÃO De acordo com os dados apresentados, torna-se possível perceber que as necessidades dos pacientes de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro são complexas e intensas. Entendese que tais demandas necessitam de respostas de cunho social, para que essas famílias consigam administrar o dia a dia da doença com dignidade. O poder público deve assegurar o acesso a programas e projetos que potencializem a cidadania destes pacientes e assim, garantir o direito à vida com qualidade. Retomando a proposta do presente trabalho, ou seja, de apresentar um olhar sobre o cotidiano dos portadores de Fibrose Cística no Estado do Rio de Janeiro, pode-se concluir que tal objetivo foi alcançado. Torna-se necessário, porém, a atualização periódica dos dados apresentados. Isto requer monitoramento em virtude das possíveis mudanças que venham a ocorrer, uma vez que este público vem apresentando uma sobrevida maior nos últimos anos. Tendo alcançado o objetivo proposto, torna-se possível apreender a situação de vida destes pacientes e, com isso, traçar propostas e projetos de trabalho eficientes e eficazes para ir ao encontro das reais demandas desta população. Hospitais, governo, escolas, terceiro setor, associações, devem trabalhar em conjunto para responder a complexidade desta doença. Neste sentido, a ACAM, enquanto órgão de mobilização social e luta pelos direitos dos pacientes de Fibrose Cística, desde o início da aplicação da pesquisa, vem desenvolvendo atividades e ações que visam proporcionar uma melhor qualidade de vida dos pacientes e suas famílias. Assim sendo, algumas das ações desenvolvidas geraram alguns frutos, que serão apresentados abaixo. • Aumento do número de famílias presentes nas Assembléias mensais e no cotidiano da ACAM. A maior parte dos associados, antes da inserção de técnicos na ACAM, não percebia a Associação como um espaço ativo perante as questões decorrentes da Fibrose Cística, não interagindo com seus pares. • Encaminhamento de pacientes e familiares a programas de assistência social. Dentre eles, destaca-se a isenção de tarifa nos transportes intermunicipais através do benefício “Vale Social”, uma vez que boa parte do público em questão relatou não ter conhecimento sobre tal direito. Porém, torna-se necessário salientar que a demora na concessão deste benefício constitui como mais um dos fatores de interferência no tratamento, de acordo com as falas das próprias famílias no cotidiano da ACAM. • Maior mobilização das famílias de pacientes de Fibrose Cística que culminou com a realização de dois atos públicos, nos meses de abril e setembro do ano de 2006, em frente ao Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Esta mobilização 45 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br social caracterizou-se como um movimento de “pressão” junto ao governo para que o mesmo garantisse a regularidade na distribuição dos medicamentos necessários ao tratamento da Fibrose Cística, que se apresentava, no período, de forma irregular e precária. • Oferta de suplementos nutricionais. O movimento acima mencionado, além da promessa de regularizar a situação exposta no parágrafo anterior, possibilitou, pela primeira vez, a oferta de suplementos nutricionais aos pacientes. • Implementação da terceira fase do Programa Nacional de Triagem Neonatal. Os atos públicos proporcionaram uma maior agilidade para a concretização da terceira fase do Programa Nacional de Triagem Neonatal - “teste do pezinho” no Estado do Rio de Janeiro, para início de 2007. Quanto a esta informação, é importante relembrarmos que a possibilidade de aumento no número de diagnósticos demandará um aumento nas estruturas de atendimento a este público. Exames específicos, como o teste do suor e o exame de escarro, que hoje são realizados por apenas uma instituição deverão ser reorganizados no que diz respeito a material necessário, recursos humanos e equipamentos afins, de forma que respondam à demanda. • Contratação de profissionais para a realização de atividades educativas. Um fator que merece destaque diz respeito à falta de conhecimento, por parte dos pacientes e familiares, sobre os diversos aspectos da doença, o que dificulta na adesão ao tratamento. Este aspecto, detectado no decorrer da aplicação da presente pesquisa, levou à ACAM a contratar duas profissionais de fisioterapia e uma profissional de nutrição que estão realizando atividades de cunho educativo junto a essas famílias, através de visitas domiciliares. Uma questão que merece destaque diz respeito ao acesso das famílias consideradas mais carentes a determinados benefícios previstos em lei, como o Beneficio de Prestação Continuada – BPC. Ao longo da pesquisa, foi possível perceber a necessidade em realizar um amplo debate junto à sociedade, governantes, conselhos de assistência social, etc. sobre a possibilidade de inserção de doentes crônicos na referida lei, como elegíveis para o BPC, ou a implementação de um outro tipo de benefício que atenda o público infanto-juvenil. Isso se torna pertinente, uma vez que os estes pacientes necessitam realizar um acompanhamento sistemático (consultas, fisioterapia, medicamentos, alimentação adequada) o que gera uma deficiência no orçamento das famílias, em especial daquelas consideradas mais carentes. Esta situação é reforçada pelo fato de que na maioria dos casos as mães se vêem limitadas no exercício de alguma atividade laborativa, em virtude dos cuidados intensivos com os seus filhos. 46 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Espera-se, com este trabalho, possibilitar uma maior visibilidade sobre as questões que envolvem o cotidiano dos pacientes de Fibrose Cística, a fim de contribuir para uma melhor qualidade de vida para os mesmos. “A desigualdade na saúde é a pior desigualdade. Não existe pior desigualdade do que saber que vai se morrer antes porque se é pobre” (Frank Dobson) 47 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVAREZ AE, Ribeiro AF, Hessel G, Bertuzzo CS, Ribeiro JD. Fibrose cística em um centro de referência no Brasil: características clínicas e laboratoriais de 104 pacientes e sua associação com o genótipo e a gravidade da doença. Jornal da Pediatria, 2004, volume 80: 371-379pp. Disponível em www.jped.com.br BRASIL. Constituição Federal de 1988. BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei nº. 8.742, de 07 de dezembro de 1993. BRASIL. Lei Orgânica da Saúde. Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. BRASIL. Lei Estadual nº. 4.510/2005 BRASIL. Decreto Municipal 19936/2001 DORNELAS EC, Fernades MIM, Galvão LC, Silva GA. Estudo do quadro pulmonar de pacientes com fibrose cística. Jornal da Pediatria, 2000, volume 76, nº. 4, 295-299. Disponível em www.jped.com.br FURTADO, MCC e LIMA, RAG. O cotidiano da família com filhos portadores de fibrose cística: subsídios para enfermagem pediátrica. Ver. Latino-am Enfermagem, 2003. Disponível em www.eerp.usp.br/rlaenf. MIOTO, Regina Célia Tamaso. Família e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade nº. 55, São Paulo, Cortês, 1997. REIS, Francisco JC e Damaceno, Neiva. Fibrose cística. Jornal da Pediatria, 1998, volume 74, S76-S94. Disponível em www.jped.com.br 48 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br RIBEIRO JD, RIBEIRO MAG, RIBEIRO AF. Controvérsias na fibrose cística – do pediatra ao especialista. Jornal da Pediatria, 2002, volume 78: S171 – S186. Disponível em www.jped.com.br 49 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br ANEXO I ENTREVISTA I) Identificação Nome do paciente:_______________________________________________________________ Nome dos pais:__________________________________________________________________ Data de nascimento: ______________Sexo: F M Naturalidade: ____________________ Cor: Branca Negra Parda Amarela/Indígena Escolaridade: ____________________ Você conhece sua descendência? Qual?______________________________________________ Bairro: _______________________ Município: ________________________________________ II) Identificação Familiar: Estrutura Familiar Família com quantos filhos? _________ Quantos com Fibrose Cística?_____________ Já perdeu alguém com FC na família? Quem? _______________________________ Pais não separados Órfão de pai Em sua residência moram: Grau de Parentesco Sexo Pais separados Filho de pai ignorado Idade Profissão Órfão de mãe Pais Adotivo Escolaridade Razão de moradia III) Identificação Sócio – Econômica Você recebe alguma ajuda do governo? Qual? Quanto? ____________________________________________________________________ Sua residência é: Própria Alugada Outros_______________ Financiada 2 Cedida 3 Posse Quantos cômodos te a casa? 1 4 Renda Familiar: Até R$300,00 De R$ 1001,00 a 1500,00 De R$ 301,00 a 750,00 De R$ 1501,00 a 2000,00 5 +5 De R$ 751,00 à 1000,00 Mais de R$ 2000,000 50 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br Saneamento Básico: Água encanada Esgoto Luz Gás Encanado (IV)Plano de Saúde Tem plano de Saúde? Qual? Nenhum Bradesco Unimed Sulamerica Amil Outros V) Alimentação Quantas refeições a criança (você) faz ao dia? Nenhuma 1 2 3 4 5 +5 Qual a comida que a criança (você) come com maior freqüência? Arroz Feijão Leite Macarrão Carne Outros __________ (VI) Identificação da Fibrose Cística: Com que idade foi descoberta a Fibrose Cística? Até 6 meses De 7 meses a 1 ano De 2 a 5 anos De 11 a 15 anos De 16 a 20 anos Já adulto Como foi detectada a Patologia? Teste do Pezinho Teste sanguíneo Já ficou internada alguma vez? Quantas? Nenhuma 1 2 3 Teste do Suor 4 De 6 a 10 anos Teste Genético 5 +5 Qual foi maior tempo que o doente ficou internado?__________________________________ Onde realiza o tratamento? IFF Hospital dos Servidores Médico Particular VII) Tratamento Quais os medicamentos que a criança (você) utiliza? (Tabela em anexo) Quantas nebulizações foram solicitadas pelo médico ao dia? Nenhuma 1 2 3 4 5 +5 Quantas vezes você faz fisioterapia por semana? Nenhuma 1 2 3 4 5 +5 Com quem você realiza as fisioterapias Não realiza No IFF Fisioterapeuta de outra instituição Pública Quantas nebulizações o paciente faz por dia? Nenhuma 1 2 3 Fisioterapeuta particular 4 5 +5 51 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br (VIII) Com relação ao compressor, nebulizador e descartáveis: Quanto tempo tem seu nebulizador?(anos) Nenhum 1 2 3 4 Como é feita a limpeza do compressor (motor)? 01 vez por mês 01 vez por ano Já trocou o filtro do compressor (motor)? Nunca trocou Troca de 06 em 06 meses Não sabe onde fica Já trocou o copinho e os acessórios (máscara e ou bucal)? Troca de 06 em 06 meses De 01 em 01 ano Não sabia que tinha que trocar 5 +5 Nunca fez De 01 em 01 ano Nunca trocou Especificar como faz a limpeza dos descartáveis (copinho, máscara ou bucal): ____________________________________________________________________ Caso nunca tenha trocado, mencionar a quanto tempo está usando o mesmo copinho e acessórios descartáveis: _____________________________________________________________ IX) Outros questionamentos: Já entrou na Justiça alguma vez para receber os medicamentos? Sim Não X) Análise Geral Para você o que é ACAM? ____________________________________________________________________ O que você espera da ACAM? ____________________________________________________________________ O que você gostaria que ela oferecesse? ____________________________________________________________________ 52 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br ANEXO II NEBULIZAÇÃO / INALAÇÃO - CUIDADOS GERAIS. ATENÇÃO! Lembrar de lavar bem as mãos com água e sabão SEMPRE, principalmente antes de: 1- Manipular os medicamentos para a nebulização; 2- Fazer a assepsia e desinfecção dos materiais; 3- Fazer as nebulizações / inalações. Limpeza do compressor (motor): 1- Passar uma escovinha limpa e seca em todos os orifícios e aberturas; 2- Limpar todas as partes do compressor, inclusive o fio com um pano limpo, embebido em álcool comum ou a 70%; 3- Verificar sempre se o filtro está limpo. O filtro deve ser sempre trocado assim que apresentar sinais de mudança da coloração. É recomendado (pela PARI) que se troque o filtro a cada 500 h de uso, o que equivale a aproximadamente a dois meses de uso. OBS 1> Cuidados com o compressor: Não liga-lo em local fechado, sem circulação de ar (ex: dentro da caixa), nem em superfícies macias (ex: em cima da cama). Deve ser ligado em cima de uma superfície lisa, firme e limpa, como uma mesa, por exemplo. Desinfecção e cuidados com a “mangueirinha” (chicote ou tubbing): 1- Lavar 01 vez por semana com água e detergente, por dentro e por fora. Enxaguar e deixar submerso por 30 minutos na solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, diluído em água filtrada na proporção de: 3 a 5 ml da solução para cada 1litro de água filtrada. Secar bem. Guardar em uma sacola de plástico limpa e seca. 2- Após o fim de cada nebulização, retirar o copinho e sempre deixar o compressor ligado com a “mangueira” atada a ele por 2 a 3 minutos aproximadamente, para que ela se seque completamente, evitando assim com que se mofe por dentro. Após secar, guardar em um saco plástico limpo e seco. Não deixar a mangueira em cima de móveis e exposta à poeira. OBS 2> Outras soluções que podem ser usadas: Virex, Germkill, Clorex, Clorolabor, etc. Diluir conforme recomendação do fabricante. OBS 3> Sempre marcar com um durex, fita adesiva ou esparadrapo ou até mesmo uma marca de esmalte, o lado da mangueira que deve ficar sempre conectado ao compressor. Motivo: dilatação das duas extremidades, fazendo com que nenhuma delas se fixe ao copinho nebulizador. Desinfecção do nebulizador (copinho) e acessórios, cuidados gerais: 1- Lavar bem as mãos. 2- Após cada nebulização, lavar bem em água corrente, se possível quente, com uma bucha e detergente. Enxaguar bem e deixar submerso na solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, diluído em água filtrada por 30 minutos. (Proporção de 3 a 5 ml de solução para cada 01 litro de água filtrada). 53 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br OBS 3> Bucha para lavar o material: Deve ser separada só devendo ser usada para a limpeza dos materiais da nebulização. Deve ser sempre bem enxaguada e guardada em um recipiente aberto e limpo. Não deve ser misturada com a bucha de cozinha. 3- Lavar as mãos, retirar os materiais da solução com pegador de plástico ou acrílico. Deixar escorrer até secar. Guardar em um recipiente fechado e limpo (pote plástico ou saco plástico). Nunca usar o copinho e acessórios molhados. Se for preciso, seque com guardanapo ou toalha de papel antes de usar. 4- Sempre repetir este procedimento a cada nebulização. Se forem feitas 05 nebulizações durante o dia, terão que ser feitas 05 desinfecções durante o dia. 5- Trocar a solução a cada 02 dias, 03 dias no máximo. 6- O recipiente da solução deve ser de cor (não transparente) e com tampa para que não fique em contato com a luz. Isso evita que a solução perca seu valor e se torne inativa. 7- O vinagre não deve ser utilizado para fazer a desinfecção visto que, o ácido acético não possui ação desinfetante e seu odor pode impregnar nos nebulizadores (copinhos), irritando a mucosa. OBS 4> Durante a nebulização, a válvula exalatória (expiratória) deverá ficar voltada (virada) para baixo, evitando assim, que o ar / névoa exalados (medicamentos), não entrem em contato com os olhos do paciente, causando irritação. OBS 5> O compressor e o nebulizador (copinho), máscara, bocal e outros materiais são INDIVIDUAIS (cada pessoa deve ter o seu). Não se pode emprestar para ninguém, nem para irmãos e muito menos pegar emprestado. Cuidados Especiais: SORO FISIOLÓGICO: O soro fisiológico deve ser guardado na geladeira sempre bem fechado. Procurar comprar sempre frasco pequeno (250ml) para que não fique aberto por muito tempo e se contamine. Lavar sempre as mãos antes de manipular. Sempre usar a medida correta de soro recomendada pelo médico nas nebulizações que, geralmente, varia entre 3 a 5 ml (pode usar uma seringa de 5 ml para medir). Não ultrapassar esta medida , pois além da nebulização ficar muito mais demorada, o medicamento ficará muito diluído, causando a diminuição do seu efeito. PULMOZYME: Deve ser armazenado sempre na geladeira, dentro de sua caixa. Não usar após o prazo de validade. Sempre segurar a ampola do Pulmozyme na extremidade indicada. Somente na hora de usar, deve pressionar com os dois dedos no meio da ampola para que todo o líquido caia no copinho. A melhor hora para fazer uso do pulmozyme é sempre após o broncodilatador, na parte da manhã, juntamente com a fisioterapia respiratória. Só pode ser usado com o compressor e nebulizador de ar comprimido a jato. OBS 6> Nunca fazer uso da TOBI ou de outro antibiótico inalalável sem antes enxugar bem o copinho. Os medicamentos não podem ser misturados. 54 ACAM - FREITAS, L.C.M.; GUARINO, R.C.; CUNHA, S.M. Quem Somos: um olhar sobre as condições de vida e tratamento dos portadores de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro. Junho de 2007. Disponível em www.acamrj.org.br SEQUÊNCIA CORRETA PARA O USO DOS MEDICAMENTOS: BRONCODILATADOR + SORO FISIOLÓGICO OU PUFF (receitado pelo médico, na quantidade estipulada por ele). ESTÍMULO DA TOSSE, LIMPEZA DO NARIZ (ASSOAR UMA NARINA DE CADA VEZ). O soro também pode ser usado para lavar bem a narina. PULMOZYME (se houver indicação do médico para o uso do mesmo) FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA (técnicas e manobras ensinadas e orientadas pelo fisioterapeuta que acompanha seu filho / filha) ANTIBIÓTICO INALÁVEL (COLIMICINA, TOBRAMICINA, GENTAMICINA) (se houver indicação do médico para o uso do mesmo, de acordo com os horários na prescrição médica). Milena Moreira Rodrigues Oliveira Fisioterapeuta CREFITO 25172 - F 55