20 - 10 - 2006 Carta da Ziriguidiberta Concepções CAVJ Cursinho, Semana da Bio e afins Já fazem quase dois anos que me despedi de Botucatu e por assim dizer de tudo que aí se encontra. Bom, não penso assim. Foram quatro anos muito intensos e bem vividos e vivenciados. Aprendi muito e sem sombra de dúvida muito fora da sala de aula. Isso abrange o fato de estar longe da família, numa cidade diferente, ter que gerenciar a própria vida, se impor limites e descobrir coisas. No entanto vou me restringir a um pedacinho de Botucatu, para mim o mais importante, que foi a universidade. Entramos na universidade a fim de sermos biólogos - seja lá licenciado, bacharel ou médico -, nutricionistas, físicos, engenheiros, médicos, enfermeiros, veterinários, zootecnistas... Enfim, estabelecer a nossa profissão, o nosso futuro. Estamos aqui para aprender a nossa profissão. Ir as aulas, conhecer e entender os conteúdos, aprender a aplicálos e ao fim de 4-6 anos colocar tudo isso em prática e ganhar nosso dinheirinho, sermos independentes. Concordam? Bom, eu não. A nossa vida profissional não está dissociada da nossa vida pessoal, emocional, conjugal... Enfim, tudo de certo modo se relaciona, influi e sofre influências “externas”. Então como eu quererei ser um bom profissional simplesmente me fechando no meu mundinho do que compreende estritamente a minha profissão? Pena que muitos de nós percebemos isso quando as grandes oportunidades de crescimento humano já passaram. E sem dúvida essas grandes oportunidades apresentam-se durante a nossa graduação. Os nossos 4, 5 ou 6 anos são muito mais ricos do que podemos imaginar. Vejamos pelo IB... Além das aulas, o que mais se pode fazer? Bom, faz um tempinho que não ando por aí, mas o CAVJ é ponto de partida para qualquer coisa que se queira fazer para além das restritas paredes da sala de aula. Com certeza alguma coisa vai se encaixar no seu perfil e vai fazer você aprender e crescer muito, abrindo os olhos e a cabeça para muitas coisas que sequer fazemos idéia. A Representação discente, por exemplo, é algo essencial para nos mantermos atentos ao que se passa na nossa universidade e a oportunidade para participarmos dela ativamente procurando torná-la melhor principalmente para a galerinha que vai entrar nos próximos anos. E, digo por experiência própria, faz diferença sim na nossa formação como profissional. Os projetos de extensão são outro ponto relevante e na minha opinião deveria ser obrigatório para todos os alunos de todas as universidades, mesmo eu não gostando da palavra “obrigatório”. Se algo interfere na nossa formação, e aí nem tanto profissional, mas pessoal e humana, são os trabalhos de extensão. Infelizmente as nossas universidades são mancas. O tripé Ensino, Pesquisa e Extensão dificilmente mantêm-se “de pé”. Mesmo ainda tendo e podendo melhorar muito, Botucatu é um lugar muito legal e privilegiado para se trabalhar com extensão. E é uma pena que muitos não se dêem conta disso e passem os 4 anos alheios a essa oportunidade única e transformadora. Agora eu vou falar das minhas duas meninas dos olhos e filhos pródigos do CAVJ. Quem não ouviu falar do Cursinho e quem não participou da Semana da Bio? Com duas semanas em Botucatu me interessei em ajudar no cursinho e lá foi a bixete e outros bixos se intrometerem na reunião dos veteranos. O cursinho estava começando, no seu segundo ano. Nós queríamos ajudar um pouco, e acabamos que fomos logo dando aula e, no meu caso, só me desvencilhei dele quando fui embora de Botucatu. O Cursinho tem uma idéia e um ideal os quais começaram a se perder, lá por 2004 mais ou menos. O Cursinho nasceu de uma vontade do CAVJ, lá por 1999 senão me engano, de fazer extensão de verdade. De levar oportunidade para quem carecia das mesmas. De possibilitar o ingresso na universidade para quem, de alguma forma, era excluído pelo sistema. Nunca se pensou no Cursinho lucrando, se tornando uma entidade independente do CAVJ, desvencilhada da Universidade, dividindo-se em grupos, tendo as coisas do Cursinho, tendo o dinheiro do Cursinho. O Cursinho é do CAVJ, assim como o CAVJ é do Cursinho. E, sendo assim, é de todos os alunos do IB, os quais devem trabalhar junto pelo Cursinho, e trabalhar pela extensão e pelo crescimento pessoal e humano, e não por status, por horas/aula na disciplina de Prática de Ensino ou por certificado. Isso começou acontecer quando eu ainda fazia parte do cursinho, e é algo realmente triste. Porque reflete como podemos ser cegos, superficiais e mesquinhos. E se os objetivos são estes, tão pessoais e banais, o Cursinho se perde das suas idéias, do seu ideal, perde a sua qualidade e cada vez mais é distanciado do CAVJ, o que é impossível de se fazer, uma vez que ambos são indissociáveis. Agora a minha real menina dos olhos, a Semana da Bio. Fui parar por acaso numa reunião, num dia de almoço super nutritivo no Ice Burg, na terceira semana de aula. Bixete perdida é realmente um desastre. Fui rabiscada, servi de lousa, mas não teve jeito... Realmente tomei a Semana da Bio para mim, me apaixonei. A partir de então não larguei mais. E é, sem dúvida, do que mais sinto falta até hoje. Não tem nada igual. Tudo o que pode acontecer acontece na Semana da Bio. Tudo que você não espera, que você não imagina, não crê, não sonha acontece. É um aprendizado incrível e muito divertido. Repleto de altos e baixos, brigas e discussões, risadas e choros, raiva e desespero, tristeza e alegria, satisfação e empolgação, companheirismo, adrenalina, responsabilidade, seriedade, ansiedade... Enfim, um misto sem fim de sensações e vivências. Coisas e pessoas que ficarão para sempre. Um pedacinho muito especial do CAVJ. Sim, do CAVJ. Assim como o Cursinho, Semana da Bio e CAVJ são indissociáveis. Sem CAVJ não existe Semana da Bio. Mas, infelizmente, as vezes as coisas sobem a cabeça e a vista fica turva. Aí é aquela história: dinheiro da Semana da Bio, pessoal só da Semana da Bio, sei lá o quê da Semana da Bio e blá blá blá... E aí de novo a Semana da Bio perde sua essência, qualidade e força. Não sei por que o povo tem mania de querer fugir do CAVJ. É igual filho querendo fugir dos pais na adolescência... Mas já é todo mundo bem grandinho para se comportar desse jeito e cultivar mesquinhez num lugar conhecido por UNIVERSIDADE. A Semana da Bio não visa e nunca visou lucro. O dinheiro tem que ser o estritamente necessário para cobrir os gastos e só. Se por ventura sobrasse algum dinheiro em caixa, este é do CAVJ. E pode ser utilizado pelo mesmo em qualquer uma de suas estâncias. Parece injusto, uma vez que esse dinheiro pode ser utilizado na próxima Semana, poupar um pouco de trabalho (realmente conseguir grana é fogo...), baratear as taxas de inscrição ou criar-se insenções para alunos que não podem pagá-la. Sim, isso tudo é muito legal. Se for possível guardar essa grana e fazer isso, ótimo, mas se o CAVJ precisa, ele tem todo direito de usar. Assim como no ano seguinte, se a galerinha da Semana da Bio precisar de grana, o CAVJ tem a obrigação de ajudar. E para isso o CAVJ tem que gerenciar bem a (pouca) grana que tem. Mas isso aconteceria se mais pessoas se envolvessem e ajudassem, com idéias e táticas, o próprio CAVJ, afinal ele é de todos vocês, alunos do IB. Aí, além desses problemas com a idéia da grana dinheiro ao mesmo tempo em que é solução traz problemas insolucionáveis surgem aquelas “ideinhas” megalomaníacas e burocráticas. A Semana da Bio é um evento que tem por objetivo primeiro contemplar os alunos do Instituto de Biociências com atividades científicas, lúdicas e culturais as quais não são abordadas no campus. É um evento dos alunos feito para os alunos. Isso não exclui a possibilidade de alunos de outros lugares participarem, o que de fato é super legal, uma vez que surge a possibilidade trocas de idéias, experiências e vivências com pessoas diferentes de lugares diferentes. Além de divulgar a nossa Universidade. Fazer do objetivo da Semana da Bio trazer mais e mais pessoas de fora, focar nos alunos de outras universidades e em palestrantes apenas bambambans é pura besteira. É estar fugindo plenamente do que a Semana Bio é desde que surgiu a mais de 30 anos. Pelo contrário, focar na participação dos alunos da Unesp de Botucatu, e trazer alguns exalunos da própria universidade como palestrantes sempre foi o mote da Semana. É essa cara da Semana da Bio que, na minha opinião, a fez crescer tanto e ser um evento de qualidade e com identidade própria. Além de tudo o caráter nada burocrático e extremamente inclusivo da Semana da Bio foi um outro fator que a mais fez crescer (a Semana da Bio em 2003 contou com mais de 350 inscritos). Organização e burocracia não precisam, necessariamente, andar juntos. Organização é fundamental. Burocracia é chato e antipático. A Organização da Semana da Bio sempre foi algo deveras elogiado pelos palestrantes e ouvintes do evento. No entanto, quando ela, assim como o Cursinho, começou a se perder do CAVJ, e começar com ares megalomaníacos fundidos com uma quantia considerável de burocracia desnecessária, os elogios foram dando lugar a alguns poréns... Agora não só o coffebreak tem sido alvo de críticas. A questão é simples. Devemos e precisamos participar da Universidade. Viver a Universidade. E não só na sala de aula, nos laboratórios e festas. Mas se envolver realmente com o que ela é e entender realmente do que ela se trata (tenho certeza que muita gente acha que é só sala de aula e iniciação científica...). E além de se envolver, entender o que são as coisas com as quais estamos nos envolvendo. Saber de fato o que é o Cursinho CAVJ-IB e a Semana da Bio. Por que eles existem? Há quanto tempo? Qual foi a idéia? Como que se sustentam? Como mantê-los? Quais foram os problemas? E ter em mente que tudo isso vem de algo que todos devíamos participar de alguma forma, seja ativamente ou “passivamente” (indo a reuniões, assembléias, lendo e escrevendo para o jornal...), que é o CAVJ. Posso ter me estendido bastante. Na verdade escreveria algumas outras folhas. Mas texto grande ninguém gosta de ler... Infelizmente... Mas isto é outra conversa. Espero que quem leia, pare, pense, olhe para o lado, se levante e vá fazer algo que realmente vai fazer diferença, muita, para si e para a Universidade e em longo prazo para todos nós, no que chamamos de Nação. Rafaela L. Falaschi (Ziriguidi Berta XXXVII Bio) [email protected]