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3 mar 2015 O Globo CÁSSIA ALMEIDA cassia@ oglobo.com. br
Estudo mostra que imposto menor
sobre trabalho aumentou o emprego
Em um ano, número de vagas em empresas beneficiadas cresceu 15,6%
“O fim do benefício vai afetar negativamente o emprego e o salário e pode ter efeito em preços, importações e
arrecadação” Clóvis Scherer
Pesquisador
Pesquisa da Universidade de Haia constatou aumento de 15,6% no emprego em empresas de quatro
setores beneficiados. Pagar menos imposto sobre o trabalho criou mais emprego e fez a renda subir, de
acordo com dissertação de mestrado do economista Clóvis Scherer, pesquisador do Dieese. Para seu
estudo, defendido no fim do ano passado na Universidade de Haia, na Holanda, ele dividiu 74 mil
empresas em dois grupos: um que substituiu o recolhimento de 20% sobre a folha de pagamento por 1%
a 2% do faturamento, e outro que já optava pelo Simples, pagando alíquota menor.
Foram empresas com até 50 empregados, dos setores que foram incluídos na regra de contribuição
sobre o faturamento logo no primeiro momento do programa, no fim de 2011: confecção, parte da
indústria têxtil, tecnologia de informação e comunicação e call center.
— Depois de isolar outros efeitos sobre as empresas, constatou­ se aumento de 15,6% no quadro das
que receberam o benefício fiscal. Nas outras, o aumento foi de 2,9% — explicou Scherer.
Na última sexta­feira, o governo aumentou em 150% as alíquotas sobre o faturamento, praticamente
anulando a desoneração feita pela equipe econômica anterior, no primeiro governo da presidente Dilma
Rousseff. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, classificou a política de “negócio grosseiro” e foi, no dia
seguinte à declaração, repreendido publicamente pela presidente, que defendeu o programa e disse que o
comentário dele havia sido infeliz.
— Essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano e não tem criado e nem sequer protegido
empregos — dissera Levy na semana passada.
Pelas contas de Scherer, em um ano, as empresas que optaram pela tributação sobre o faturamento
contrataram 31 mil funcionários, 93% disso, ou 29 mil vagas, exclusivamente pela desoneração criada no
primeiro governo da presidente Dilma.
Para chegar a esse número, ele retirou as influências de inovações tecnológicas e da escolaridade dos
empregados. As empresas comparadas são do mesmo tamanho, da mesma região e dos mesmos setores.
Para Scherer, retirar os benefícios pode levar ao efeito inverso: cortar vagas de trabalho, principalmente
em um ano que deve ser recessivo, se as projeções dos analistas de mercado se confirmarem:
— O fim do benefício vai afetar negativamente o emprego e o salário e pode ter efeito em outras
variáveis como preços, importações e na própria arrecadação.
QUASE DUAS VAGAS POR EMPRESA
O estudo mostrou que cada empresa tinha em média 10,9 empregados. Com a redução do imposto, o
número aumentou em 1,7 vaga por empresa. Em termos absolutos, a diferença é mais flagrante. Nas 74
mil empresas foram criados 48 mil empregos em 2012, 64% deles naquelas que optaram pela cobrança
sobre o faturamento.
No salário, também houve ganho. O aumento real foi de 2,3%. A melhoria salarial ficou aquém da que
aconteceu para os trabalhadores das seis maiores regiões metropolitanas do país. O rendimento real subiu
4,1%, quase o dobro do avanço entre as pequenas empresas que deixaram de contribuir sobre a folha de
pagamento.
— Entre os dois grupos, a subida do salário foi semelhante. Mas, quando se isola o efeito da política de
desoneração, percebe­se que, entre elas, a alta seria menor se não houvesse o benefício fiscal — disse
Scherer.
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