AVALIAÇÃO DE ESTILOS DE APRENDIZAGEM: UMA COMPARAÇÃO ENTRE PROFESSORES QUE OPTARAM POR NOVAS TECNOLOGIAS E PROFESSORES QUE OPTARAM POR CONTINUAR COM TECNOLOGIAS TRADICIONAIS Evelise Maria Labatut Portilho PUCPR RESUMO O termo Estilo de Aprendizagem vem surgindo nos últimos anos de forma significativa no âmbito educativo, mas não de forma exclusiva. Este trabalho pretende avaliar os diferentes Estilos de Aprendizagem comparando um grupo de professores universitários que adotam as novas tecnologias na sua prática pedagógica e um segundo grupo de professores universitários que permanecem utilizando tecnologias tradicionais em suas aulas. Os resultados alcançados a partir da análise do instrumento QHAEA (Questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem) indicam que a idade é uma variável significativa na opção dos professores na hora de utilizar as novas tecnologias. O estilo reflexivo de aprendizagem aparece de forma predominante nos dois grupos de professores. A pesquisa ainda revela uma tendência diferente no uso dos Estilos de Aprendizagem dos professores universitários, provocando novos estilos de ensinar. Palavras-chaves: avaliação – aprendizagem - estilos de aprendizagem – professores universitários - novas tecnologias. AVALIAÇÃO DE ESTILOS DE APRENDIZAGEM: UMA COMPARAÇÃO ENTRE PROFESSORES QUE OPTARAM POR NOVAS TECNOLOGIAS E PROFESSORES QUE OPTARAM POR CONTINUAR COM TECNOLOGIAS TRADICIONAIS Evelise Maria Labatut Portilho PUCPR Diferenças conceituais O estudo sobre o processo de aprendizagem acadêmica depara-se hoje com inúmeras terminologias referentes a diferentes conceitos e propostas teóricas. Entre as dificuldades destaco a questão da tradução de uma língua a outra, uma vez que para a realização deste trabalho recorri, em grande parte, a um referencial de língua inglesa e espanhola para que pudesse ir construindo o repertório bibliográfico. Outra dificuldade que encontro na delimitação de alguns termos é a questão do modismo, ou seja, a utilização de “palavras chavões” que ao invés de clarear idéias servem para impressionar quem lê ou ouve. É comum encontrarmos nos eventos de educação atualmente, termos como capacidades, habilidades, estratégias e estilos de aprendizagem. Percebo muitas vezes, que estudiosos da área perdem um tempo enorme na discussão de conceitos que na realidade não passam de palavras diferentes sobre uma mesma concepção. Primeiramente, é oportuno registrar que o conceito de capacidade, dentro de uma visão cognitista de aprendizagem, que coincide com nossas crenças atuais, visualiza o sujeito como sendo aquele que sempre é capaz de aprender. Por esta razão, este conceito não será discutido neste trabalho. Partimos do termo “habilidade” (skill) que na literatura científica é utilizado para designar a habilidade (ou sua ausência) de uma pessoa para realizar determinadas atividades. Segundo Monereo Font (2000), as habilidades são capacidades que podem expressar-se mediante comportamentos em qualquer momento, já que foram desenvolvidas através da prática, quer dizer, por via procedimental, de maneira que por trás de todo o procedimento humano existe uma habilidade que possibilita que tal procedimento se efetue. Habilidade é poder realizar algo, e isto não supõe em nenhum caso que uma habilidade possa ser reduzida a um único procedimento, nem que procedimento signifique o mesmo que habilidade. As pessoas, em determinados momentos da vida, se sentem “habilitadas para fazer algo” ou sabem que podem “exercer a ação de”, como é o caso das habilidades motoras (andar, correr...) ou inclusive, das habilidades que se desenvolvem em função do contexto em que cada indivíduo está inserido, como é o caso das cidades em que o andar de bicicleta é uma necessidade. Em outros momentos, aparece o sujeito que está em “processo de habilitação”, como por exemplo, quando aprende a dirigir. Por tanto, as habilidades, diferente das capacidades, são construídas e algumas nem sequer chegarão a ser característica da pessoa. Também encontramos na literatura o termo “estratégias” (strategies), muitas vezes confundido com “técnicas”. Pozo Municio (2000) ressalta que as técnicas são procedimentos aplicados de modo não controlado, não planejado e rotineiro. Já as estratégias requerem planificação e controle da execução, como acontece com o sujeito que aprende, aquele que deve compreender o que está fazendo e o por quê. Em outras palavras, as técnicas são o conjunto de ações que se realizam para obter um objetivo de aprendizagem, dentro de um plano que foi discutido e elaborado, com o fim de se conseguir uma meta. Sendo assim, podemos entender a partir desta análise, que uma estratégia comporta uma ou mais técnicas. A discussão sobre as estratégias de aprendizagem aparece também nas referências sócio-interacionistas quando apresentam um processo de interiorização muito próximo ao conceito vygotskyniano de zona do desenvolvimento proximal (Flavell, 1985), onde o sujeito ao desenvolver o processo de aprendizagem baseiase em estratégias cada vez mais específicas conforme a tarefa que esteja realizando. Seguindo o raciocínio de Flavell podemos afirmar que o uso de uma estratégia requer que o sujeito seja jogador antes de treinador, que aplique e pratique uma técnica para que, refletindo sobre ela, adquira um controle crescente sobre o seu uso. A opção por Estilos de Aprendizagem Nos últimos anos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, o conceito de Estilos de Aprendizagem tem aparecido como um elemento a ser avaliado e levado em consideração pelos docentes e os próprios alunos. Estamos acostumados com pesquisas que se preocupam em avaliar comportamentos, rendimento acadêmico, habilidades e técnicas de trabalho intelectual, quase sempre levando em conta um critério normativo na hora da avaliação. Apesar do conceito de Estilos de Aprendizagem estar presente nas investigações desde a década de setenta, é a partir de 1990 que encontramos uma preocupação maior com a avaliação dos estilos pessoais que apresentam os diferentes sujeitos na hora de aprender, partindo de um marco conceitual de atenção às diferenças e não tanto ao diagnóstico das dificuldades. Conceitos importantes e básicos no sistema educativo, como é o de avaliação individual, avaliação da prática docente, atenção à diversidade, podem e devem ter um apoio conceitual e metodológico importante na avaliação e conhecimento das diferentes maneiras de aprender que possuem os sujeitos. Este conhecimento permitirá adequar a programação docente aos estilos dos alunos em alguns casos, e em outros, ajustar a programação para melhorar aqueles estilos em que são mais deficitários, assim como auxiliar o professor a diversificar seu estilo de ensinar. Acreditando na relação entre Estilo de Aprendizagem e estilo de ensinar é que optei por fazer esta pesquisa com dois grupos diferentes de professores universitários e conseqüentemente, seus diferentes estilos de ensinar e aprender. O conceito “Estilos de Aprendizagem” (learning styles), em geral aparece como sendo o “como as pessoas gostam de aprender”, e para alguns autores também é considerado como a maneira como as pessoas pensam. Segundo afirma Sternberg, em sua Teoria Triárquica da Inteligência Humana (1985), os estilos intelectuais são o autocontrole mental que os sujeitos fazem de seus mecanismos da inteligência. Em 1988, se refere aos estilos de pensamento ou intelectuais para identificar o procedimento que as pessoas empregam para utilizar os próprios recursos da inteligência. Este autor (1999) diferencia um estilo de uma atitude, afirmando que o estilo não é uma atitude, mas sim a forma preferida de utilizar as atitudes que alguém possui. Atitude se refere a qualidade na hora de realizar uma atividade. Estilo, no entanto, se refere ao como a pessoa gosta de fazer esta atividade. Em outras palavras, estilos são maneiras diferentes das pessoas utilizarem a inteligência. Outro autor importante é Schmeck (1988) que em seus estudos constata a dinâmica do processo de aprendizagem, quer dizer, quanto mais consciência a pessoa tiver de seu Estilo de Aprendizagem mais possibilidades terá de aprender com qualidade, utilizando estilos diferentes e mais profundos de acordo com as demandas da atividade. David Kolb (1984) também se refere aos estilos, propondo um modelo de aprendizagem experimental cíclico aplicável a diversas situações. O autor afirma que os Estilos de Aprendizagem se desenvolvem como conseqüência dos fatores hereditários, das experiências prévias e das exigências do ambiente atual em que vive o sujeito. Seu modelo de diagnóstico dos Estilos de Aprendizagem se estende a níveis adultos, como é o propósito desta pesquisa. Kolb assinala que os diferentes fatores e as diferentes situações (tanto internas como externas ao sujeito), promovem um determinado nível ou grau de desenvolvimento que se manifesta em diferentes estilos ou modos de aprender. Em sua proposta, existem duas dimensões principais no processo de aprendizagem, que correspondem aos dois principais caminhos pelos quais aprendemos: o primeiro corresponde a como percebemos a nova informação ou experiência e o segundo se refere à maneira como processamos o que percebemos. Kolb combina as duas dimensões e conclui que as pessoas se situam em quatro tipos básicos de estilos dominantes de aprendizagem: o convergente, o divergente, o assimilador e o adaptativo. Os quatro Estilos de Aprendizagem estudados por Kolb, estão presentes em seu questionário (Learning Style Inventory – LSI), que é um instrumento de autodiagnóstico no qual propõe quatro pontuações. Na proposta de Kolb percebemos que os Estilos de Aprendizagem são situacionais, isto é, o sujeito hoje utiliza um ou outro Estilo de Aprendizagem, e pode ser que amanhã já não se sirva mais do(s) mesmo(s). Outro autor importante a ser citado neste estudo é Peter Honey, principalmente porque o instrumento utilizado nesta pesquisa é também de sua autoria, juntamente com Catalina Alonso e Domingo Gallego, e que foi traduzido e adaptado por Portilho (2003). Honey (1986) e seu colega Alan Mumford encontram na proposta de Kolb algum subsídio para seus trabalhos, como é a aceitação deles ao processo circular de aprendizagem, mas o instrumento elaborado por Kolb, não lhes parece útil e nem adequado para o trabalho que realizam com executivos ingleses. O aspecto interessante da pesquisa de Honey e Mumford, ressaltado por Alonso (1993), está em conhecer por quê as pessoas que vivem em um mesmo contexto e em uma mesma realidade aprendem de maneira diferente umas das outras. A resposta que ambos propõem reside na diferença e no modo de cada pessoa reagir, justificado por suas diferentes necessidades diante da aprendizagem que lhes é oferecida. Neste momento aparecem os Estilos de Aprendizagem que respondem as diferentes atitudes diante da aprendizagem. Honey e Mumford destacam alguns fatores que influem na aprendizagem: as destrezas de aprendizagem, o tipo de trabalho que o indivíduo realiza, o clima da organização (atitudes entre os colegas), a análise das necessidades de aprendizagem, as oportunidades de aprendizagem, a natureza da aprendizagem e a atitude emocional diante do confronto aos novos problemas. Honey classifica os Estilos de Aprendizagem em: ativo, reflexivo, teórico e pragmático. • Estilo Ativo – são pessoas que se destacam por sua vivacidade, são de mente aberta e gostam de novas experiências. • Estilo Reflexivo – são pessoas que se caracterizam pela observação e por analisarem tudo antes de chegarem a uma conclusão. São boas ouvintes. • Estilo Teórico – são pessoas que buscam a racionalidade, a objetividade e a lógica, assim como a análise e a síntese. Tendem a ser perfeccionistas. • Estilo Pragmático – são pessoas que tendem a aplicar as idéias na prática do dia a dia. Seus objetivos giram em torno da funcionalidade. O instrumento de Honey sobre Estilos de Aprendizagem é denominado Learning Stilles Questionnaire (LSQ), composto por 80 itens e cujo objetivo é o de destacar as tendências do comportamento pessoal. Como fundamento deste estudo devo destacar a proposta que Catalina Alonso formula em sua tese de doutorado, apresentada em 1993, e que posteriormente (1994) foi adaptada a um livro, onde participaram Domingo Gallego e Peter Honey. Fazendo referência a Keefe, Alonso (1994) define Estilos de Aprendizagem como sendo os traços cognitivos, afetivos e fisiológicos que servem de indicadores relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem a seus ambientes de aprendizagem. Alonso adaptou o instrumento LSQ de Honey, da língua inglesa para a espanhola, nascendo assim o C.H.A.E.A., (Cuestionario de Honey y Alonso de Estilos de Aprendizaje) – Questionário Honey e Alonso de Estilos de Aprendizagem. Cada um dos Estilos de Aprendizagem utilizados por Alonso foi definido segundo os conceitos de Honey, acrescentando a cada um deles uma lista de características que determinam com mais clareza o campo de destrezas de cada estilo. O Método Objetivo da Pesquisa O objetivo desta pesquisa é avaliar os Estilos de Aprendizagem de dois grupos distintos de professores, comparando o grupo dos que optaram por adotar novas tecnologias nos seus programas de aprendizagem e o grupo dos que optaram por continuar com tecnologias tradicionais em seu fazer da sala de aula. Profissionais participantes da pesquisa A presente pesquisa foi realizada na PUCPR, campus Curitiba, contando com a participação de 2 grupos de professores. O primeiro grupo era composto de docentes que participam do Projeto MATICE (Metodologias de Aprendizagem via Tecnologias de Informação e Comunicação Educacionais). O objetivo deste projeto é desenhar uma metodologia de ensino alternativa baseada no acompanhamento do uso de um ambiente de aprendizagem colaborativa via web, no momneto atual, o EUREKA, em parceria com professores convidados. O EUREKA é uma ferramenta pedagógica de apoio ao desenvolvimento dos programas de aprendizagem, com foco no ensino presencial. O segundo grupo foi composto aleatoriamente por professores dos diferentes centros universitários, que optaram por continuar utilizando tecnologias tradicionais, isto é, não fazem parte do projeto MATICE e nem utilizam o EUREKA em seus programas de aprendizagem. Foi um total de 39 professores da PUC-PR, de diversos centros, sendo 24 que trabalham com novas tecnologias (Grupo 1) e 15 que trabalham com tecnologias tradicionais (Grupo 2). O Instrumento Foi aplicado a cada um desses professores, o questionário Honey-Alonso de Estilos de Aprendizagem (anexo), uma adaptação e tradução de Portilho, do instrumento de Catalina Alonso, Domingo Gallego e Peter Honey (1994). Este questionário apresenta uma relação de 80 itens sobre Estilos de Aprendizagem sendo necessário assinalar apenas as situações que conferem com a preferência de aprendizagem de cada participante. Os 80 itens são breves e se estruturam em quatro grupos de 20 itens correspondentes aos quatro Estilos de Aprendizagem: ativo, reflexivo, teórico e pragmático. Todos os itens estão distribuídos aleatoriamente formando um único conjunto. A pontuação absoluta que o sujeito obtém em cada grupo de 20 itens, será o nível alcançado em cada um dos quatro Estilos de Aprendizagem. É um questionário auto-aplicado, onde na última folha ele mesmo observa qual o estilo predominante de aprendizagem ele possui, por ordem decrescente. Foram registrados a idade, o sexo e o centro em que atua na instituição, além das respostas às questões relativas aos estilos. Para cada professor, a partir das suas respostas, foram calculados os escores de cada estilo e o grau de comportamento (percentual de respostas apontadas no estilo). O objetivo do estudo foi comparar os grupos, em relação aos Estilos de Aprendizagem, considerando os resultados de grau de comportamento. Resultados Inicialmente, testou-se a hipótese nula de que a idade média do Grupo 1 é igual à idade média do Grupo 2, versus a hipótese alternativa de idades médias diferentes. Para tanto, foi aplicado o teste t de Student, levando-se em consideração a homogeneidade das variâncias. O resultado do teste indica a rejeição da hipótese nula no nível de significância de 0,05. Pode-se dizer, então, que há diferença significativa entre as idades médias dos dois grupos, ou seja, o grupo das tecnologias tradicionais apresenta maior idade média. Os resultados dos testes estatísticos indicam que, para o estilo reflexivo, o estilo de aprendizagem predominante na nossa amostra, existe diferença significativa entre os professores que aplicam novas tecnologias e os professores que utilizam tecnologias tradicionais. Observamos que o grau de comportamento médio do estilo reflexivo do grupo de professores que aplicam tecnologia tradicional é maior do que o grau de comportamento dos professores do outro grupo. Para os outros Estilos de Aprendizagem, os grupos não diferem significativamente. Em nenhum dos grupos há associação significativa entre idade e os graus de comportamento dos Estilos de Aprendizagem. Entretanto, observamos que no grupo das tecnologias tradicionais, existe uma tendência à significância entre idade e o grau de comportamento do estilo ativo de aprendizagem (p=0,0730). Como o coeficiente de correlação é negativo (-0,4937), isto significa que, quanto maior a idade, menor é o grau de comportamento deste estilo. Os resultados dos testes estatísticos indicam também que, para ambos os grupos, não existem diferenças significativas entre os professores do sexo masculino e os professores do sexo feminino, em relação aos graus de comportamento de todos os estilos. Entretanto, observamos uma forte tendência à rejeição da hipótese nula no nível de significância de 5%, quando se comparam professores do sexo masculino e do sexo feminino que trabalham com novas tecnologias, no estilo de aprendizagem teórico. A média para os professores do sexo masculino é maior do que a média para os professores do sexo feminino. Foi realizada um estudo entre os grupos 1 e 2 de professores em relação aos graus de comportamento dos Estilos de Aprendizagem, considerando os diferentes Centros da PUCPR. Para fins de comparações entre os grupos e entre os centros, foram agrupados os centros CCJS e CTCH e os centros CCAA e CCBS, por similaridade de área de atuação. Desta forma, a análise foi realizada considerando 3 centros: CCJS/CTCH, CCET e CCAA/CCBS. Em todas as comparações, com exceção de estilo reflexivo no Centro CCJS/CTCH em que se observa uma tendência, a diferença de grau de comportamento entre os professores que usam novas tecnologias e os professores que usam tecnologias tradicionais não é significativa. Como também não encontramos diferença significativa entre os centros em que atuam os professores. CONSIDERAÇÕES FINAIS A teoria dos Estilos de Aprendizagem vem sendo utilizada mais precisamente com estudantes (Portilho, 2003a e 2003b; Cano García, 2000; Camarero Suárez y al., 2000; Eisman e Moreno, 2000; Berrocoso, 1997; Alonso 1994; Prieto, 1991); primeiramente para que eles, conhecendo seu estilo de Aprendizagem predominante, possam melhorar o desempenho acadêmico e também possam apresentar versatilidade na hora de aprender, uma vez que poderão ter mais consciência das diferenças entre as disciplinas e os estilos de ensinar, partindo do conhecimento pessoal do como eles mesmos gostam de aprender. Nesta pesquisa o objetivo foi a análise do Estilo de Aprendizagem dos professores, e especificamente, universitários, para que num outro olhar pudéssemos conhecer e comparar os Estilos de Aprendizagem de dois grupos de professores que fizeram opções diferentes na sua prática pedagógica. Os dados levantados na pesquisa demonstram algumas relações que são importantes serem destacadas. A primeira delas assinala a questão da idade: o segundo grupo, composto por docentes que optaram por tecnologias tradicionais, apresentou maior idade média que o primeiro grupo. É importante que se faça uma ressalva com relação ao chamado “tradicional”. Em hipótese alguma se pretende denegrir com a expressão, como sendo algo velho, em desuso ou mesmo incompetente. Ao contrário, o fato de não participarem de um projeto que propõe o uso de novos recursos tecnológicos de ensino, não menos valida este professor que, utilizando a expressão oral e o quadro de giz pode ser brilhante quando provoca o pensar dos seus alunos. Por outro lado, percebemos que diferente dos mais jovens, o professor com mais idade tem mais resistência ou dificuldade na utilização de novos recursos, até mesmo porque para isto necessita mudar seu estilo de aprendizagem. Albuerne (1994), em seu artigo sobre Estilos de Aprendizagem e desenvolvimento, fazendo referência a Kolb, assinala que o processo de desenvolvimento parece estar fortemente baseado em diferentes maneiras de aprendizagem, sugerindo uma certa relação entre os Estilos de Aprendizagem e o processo de desenvolvimento. Sua pesquisa parece confirmar as diferenças presentes entre o Estilo de Aprendizagem e a idade dos envolvidos, como é o caso apontado no nosso estudo. A variável sexo não aparece como um dado significativo na pesquisa, confirmando o que Cano García (2000) já havia observado em seu estudo com estudantes universitários. Segundo este autor, as diferenças de gênero são muito poucas, e ainda, dependem do tipo de profissão estudada. O que explicaria o fato de que em muitas pesquisas essas diferenças não aparecem. Esta conclusão nos permite observar com mais detalhamento o dado ressaltado na nossa investigação sobre a forte tendência dos professores homens que optaram por novas tecnologias e que apresentam mais características do estilo teórico na sua aprendizagem, do que as mulheres do mesmo grupo. Parecem ser eles muito mais metódicos, lógicos, objetivos, críticos, disciplinados, sistemáticos, perfeccionistas e curiosos. Outra relação que os dados da pesquisa colocam em evidência, mostra que o estilo reflexivo, tanto para o grupo 1 como para o grupo 2, continua sendo o Estilo de Aprendizagem predominante na nossa cultura, tanto em alunos como em professores, o que foi confirmado nas investigações de Alonso (1994) e Portilho (2003). Isto nos leva a acreditar que a sociedade, o contexto em que vivemos e o nosso sistema de ensino privilegiam características de aprendizagem que valorizam pessoas ponderadas, conscientes, receptivas, analíticas, persistentes, observadoras, detalhistas, prudentes, cuidadosas, de maneira muita mais intensa do que as características dos outros Estilos de Aprendizagem estudados neste trabalho. Por outro lado, os dados também mostram uma tendência forte entre o grupo que utiliza novas tecnologias em sua prática pedagógica e os que utilizam tecnologias tradicionais, com relação ao uso dos diferentes estilos. O grupo 1 apresenta uma preferência menor na utilização do estilo reflexivo, indicando que os outros estilos estão sendo mais utilizados neste grupo do que nos professores do segundo grupo. E este fato nos leva a perguntar: será que a utilização de novas tecnologias na prática pedagógica está mudando o Estilo de Aprendizagem dos professores universitários? Qual a conseqüência deste aspecto no estilo de Aprendizagem dos alunos? Quais os Estilos de Ensinar que deveriam ser destacados na universidade diante desta nova tendência? Acredito que estas sejam algumas questões que deveriam ser trabalhadas em outras pesquisas que abordem temas referentes ao processo aprendizagem-ensino. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALBUERNE, F. Estilos de Aprendizaje y desarrollo: perspectiva evolutiva. Infancia y Aprendizaje, vol. 67 – 68, p. 19 – 34, 1994. ALONSO, C.M. Análisis y Diagnóstico de los Estilos de Aprendizaje en Estudiantes Universitarios. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, vol. I e II, 1993. ALONSO, C.M.; GALLEGO, D.J. y HONEY, P. Estilos de Aprendizaje. Que són. Como se diagnostican. Bilbao: Mensajero, 1994. CANO GARCÍA, F. Diferencias de género en estrategias y estilos de aprendizaje. Psicothema, vol. 12, n. 3, p. 360 – 367, 2000. FLAVELL, J. H. El Desarrollo Cognitivo. Madrid: Visor, 1985. HONEY, P. Y MUMFORD, A. Using our learning styles. 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