NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 A GUERRA CIVIL EM RUANDA E A ATUAÇÃO DA ONU Elisa Cristina Nolli 1 Charles Alexandre Souza Armada 2 RESUMO A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional criada com o intuito de garantir a paz e a segurança mundial, direitos e assistência humanitária, assim como deter guerras entre Estados. No ano de 1994, Ruanda é abalada por um genocídio que vai de abril a julho do mesmo ano. Foi um episódio mortal entre dois grupos étnicos que obteve um saldo oficial de 1.074.017 mortos que constituíam 13% da população total do país. A ONU não aprovou o envio de forças militares ao país por motivos internos e manteve uma posição omissa em relação ao salvamento das vítimas. A decisão foi arduamente criticada pelos demais Estados africanos e por agências humanitárias. A partir de uma recuperação dos antecedentes da guerra civil em Ruanda, que determinaram o genocídio no ano de 1994, o presente estudo pretende analisar a atuação da ONU no episódio e, também, o posicionamento apresentado por esse organismo internacional pósgenocídio. Depreendeu-se da pesquisa efetuada que a inércia do organismo internacional pode ter contribuído para a dimensão da tragédia verificada. O método utilizado para a pesquisa foi o método indutivo e o estudo foi operacionalizado através de técnicas do referente, categorias básicas e fichamento. Palavras-chave: Genocídio. Organização das Nações Unidas. Guerra Civil. Ruanda. INTRODUÇÃO A República de Ruanda era uma colônia da Bélgica, a qual não negava esforços para manter um domínio direto e duro. Ela fazia uso da Igreja Católica, a qual manipulava a mente dos tutsis de classe alta, para que eles reprimissem a população menos favorecida financeiramente, a qual era, em sua maioria, hutus. A cobrança de impostos exacerbada, assim como o trabalho escravo, foi, ao longo dos tempos, criando diferenças socioeconômicas, assim como, sentimentos de raiva e rancor nos menos beneficiados. 1 2 Graduanda do curso de Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí. Mestrando em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí e em Direito Ambiental e Sustentabilidade pela Universidade de Alicante, Espanha. Especialista em Direito Publico pela Fundação Regional de Blumenau-FURB. Professor dos cursos de Direito, Administração de Empresas e Relações Internacionais da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI. Endereço eletrônico: [email protected] 699 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 Como uma tentativa de mudar este cenário, os hutus mais extremistas partem para um massacre em massa, contra os tutsis e os hutus mais moderados. O genocídio em si, tem início quando o avião do então presidente é atingido e o mesmo morre com a explosão de um míssil. O genocídio em Ruanda vai de abril a julho de 1994 e trouxe como consequência um saldo oficial de 1.074.017 mortos que constituíam 13% da população total do país.3 O objetivo do presente artigo é analisar as causas do genocídio ocorrido em Ruanda e a atuação da Organização das Nações Unidas no episódio. Inicialmente, o presente estudo discorrerá sobre os antecedentes da guerra civil. Em seguida, será analisada a atuação do organismo internacional e a guerra civil. Finalmente, o presente estudo pretende examinar o posicionamento da ONU pós-genocídio em Ruanda. 1. Os Antecedentes da Guerra Civil em Ruanda Ruanda é um país localizado no continente africano, na região dos Grandes Lagos da África, fazendo fronteira com países como a República Democrática do Congo, Uganda e a Tanzânia. Possui uma área total de aproximadamente 26.338 km², uma população de 10,9 milhões de pessoas e seu PIB (Produto Interno Bruto) é de US$5,6 bilhões. 4 As diferenças étnicas e privilégios de alguns grupos específicos neste país são provenientes desde a época de sua colonização, realizada pela Bélgica, a qual fez com que o grupo Tutsi, cidadãos com a pele negra um tanto mais clara, maior estatura, mais magros e narizes mais finos, tornar-se o grupo mais forte político, econômico e militarmente. Estes eram considerados superiores ao grupo Hutu, os quais eram rebaixados por terem a pele mais negra e serem mais baixos, sendo assim considerados subalternos aos demais. No momento em que o povo belga chega à região para a colonização em 1916, foram concedidas carteiras de identidade classificando cada indivíduo de acordo com a sua determinada etnia. Como os Tutsis detinham de certos privilégios, 3 ZOCCHI, Paulo. Almanaque Abril 2012. 2.ed. São Paulo: Editora Abril, 2012. p.579. 4 ZOCCHI, Paulo. Almanaque Abril 2012. p.578. 700 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 estes puderam desfrutar de melhores oportunidades de empregos e de uma melhor educação da que foi ofertada aos Hutus. Deste modo, naturalmente, começa a nascer um sentimento de raiva no grupo menos favorecido, que em 1959 indigna-se com a atual situação presenciada. As combinações de ressentimentos com o episódio vivido acabam culminando em uma série de revoltas, as quais matam mais de 20 mil Tutsis e faz que com que uma diáspora suceda para países vizinhos, como Uganda, Tanzânia e Burundi. Após a independência nacional ocorrida em 01 de julho de 1962, o povo Hutu tomou a frente do poder, e foi quando várias medidas de repressão contra os Tutsis foram tomadas. Decorrendo vários anos de instabilidade política, em 1990 uma sucessão de problemas econômicos e climáticos surge e faz com que a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), grupo político liderado por Tutsis refugiados em outros países, lance ataques militares contra o governo Hutu, o qual estava no poder naquela época. Esses ataques permearam por três anos, até que, no dia 05 de abril de 1993, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a resolução 872, denominada de ‘Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda’ (MIANUR), com o intuito principal de certificar que o fim das disputas seria realizado através da assinatura do Acordo de Arusha. Este acordo criado pelos Estados Unidos juntamente com a França e a Organização da Unidade Africana pretendia cessar com a guerra civil que ocorria em Ruanda no momento. Foram enviados mais de dois mil homens para Ruanda, supervisionados pelo general do exército canadense Roméo Dallaire, com o objetivo de assegurar o fim dos combates em Ruanda. No entanto, esse era um país onde a paz era desconhecida no momento. Ruanda tornou-se o terceiro país com maior índice de importação de armas5, e isso com certeza era preocupante. Dallaire ordenou que alguns soldados belgas escoltassem a primeira-ministra Agathe Uwilingiyimana, todavia, a Interahamwe, conhecida como sendo a milícia armada dos Hutus, matou-a juntamente com seu marido e os soldados belgas. Com 5 SCAGLIONE, Daniele. Ruanda: Memórias de um Genocídio. Mundo e Missão. São Paulo, 2004. ed. set. p. 12-14. Disponível em: <http://www.pime.org.br/mundoemissao/atualidadesafricamemorias.htm>. Acesso em: 12 nov, 2012. 701 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 esse feito, a Bélgica, que possuía os soldados mais bem preparados, decidiu que iniciaria a retirada do seu exército dos solos ruandeses. O General Dallaire que comandava as tropas da ONU, vendo toda essa situação, e tendo sido avisado por um informante que um genocídio estava sendo preparado, decide então pedir insistentemente para que mais tropas sejam enviadas ao país para auxiliarem nos confrontos entre a população, todavia, os pedidos foram negados. O general canadense não estava autorizado a intervir no conflito, no entanto, ele deveria evitar ao máximo um conflito armado. O Conselho de Segurança da ONU e o então presidente dos Estados Unidos da América, Bill Clinton, deram por explicação que não enviariam mais tropas em virtude de um acontecimento de três meses antes na Somália, onde dezoito soldados americanos foram mortos. “Não queremos outro Mogadíscio, por isso, mantenha-se firme”.6, frase dita a Dallaire determinando que ele continuasse mantendo o peace keeping, ou seja, que mantivesse a paz sem a interferência de armas. 2. O Genocídio em Ruanda e a atuação da ONU O marco que é considerado o início do genocídio ocorre em 06 de abril de 1994, quando o avião em que viajava o então presidente de Ruanda, Juvénal Habyarimana, juntamente com o presidente do Burundi, é atacado e os dois chefes de Estado morrem. Foi um acidente previamente premeditado por agentes desconhecidos, que, no entanto, acredita-se que tenha sido executado por civis hutus. 7 O que ocorria neste país pobre estava tomando um âmbito sem limites. Tutsis e Hutus estavam sendo mortos através de facões importados anteriormente da China, com os quais agrediam violentamente seus inimigos. Os Hutus que participaram do massacre possuíam sessões diárias de ingestão de álcool e faziam uso de drogas para cometerem tais atos brutais. 8 6 BARKER, Gregory. Ghosts of Rwanda. 2004. Documentário <http://freedocumentaries.org/film.php?id=190>. Acesso em: 15 nov. 2012. 7 PAULA, Luiz Augusto Módolo de. Genocídio e o tribunal penal internacional para Ruanda. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2135/tde-26032012-114115/pt-br.php>. Acesso em: 18 dez. 2012. 8 PAULA, Luiz Augusto Módolo de. Genocídio e o tribunal penal internacional para Ruanda. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2135/tde-26032012-114115/pt-br.php>. Acesso em: 18 dez. 2012. 702 disponível em: NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 Em uma rotina que teve a durabilidade de praticamente cem dias, os Hutus saíam de suas casas às 9h30min em busca de seus vizinhos, os quais eram considerados adversários perigosos, e vasculhavam dentro de casas e pântanos. Eles retornavam à suas residências perto das 16h, após passarem o dia inteiro decapitando Tutsis e Hutus moderados. Posteriormente a um árduo e longo dia de labor, eles saíam para beber cerveja e se divertir com os demais Hutus extremistas. Costumavam afirmar que: “Matar era menos cansativo do que plantar”. 9 Os líderes Hutus pregavam abertamente a matança dos Tutsis e faziam dos meios de comunicação, como o rádio, ferramentas para instigarem o medo e comentarem o que iria ocorrer com os Tutsis e Hutus simpatizantes, que eram chamados de baratas, árvores altas e ervas daninhas. Quando, em suas ‘caçadas’, o grupo extremista não encontrava ninguém em sua residência, esta era completamente destruída. A explicação que davam para cometer tal ato era de que os Tutsis deveriam ser completamente apagados da face da Terra. Foi mais de um milhão de cidadãos mortos durante estes cem dias de tragédia nacional. Devido à grande quantidade de mortes, não era possível enterrar todos os corpos, portanto, estes ficavam jogados dentro de valas, escolas abandonadas e até mesmo em igrejas. A comunidade internacional falhou com Ruanda, pois sabia o que estava ocorrendo. Eles tinham a completa noção de que um genocídio estava sendo preparado, que a milícia estava treinando para matar e que armas estavam sendo feitas e encomendadas de outros países apenas com o intuito de exterminar um determinado grupo devido a uma disputa antiga. Relatórios diários eram enviados para as Nações Unidas e para o Governo francês com as informações sobre o avanço da situação política que estava ocorrendo em Ruanda, e mesmo sabendo de tudo, nada foi realizado para deter tal acontecimento. 10 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi, literalmente, um organismo inútil nesse massacre. Ela detinha de meios para compreender o que acontecia e 9 HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: Relatos do genocídio em Ruanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 10 BARKER, Gregory. Ghosts of Rwanda. 2004. Documentário <http://freedocumentaries.org/film.php?id=190>. Acesso em: 15 nov. 2012. 703 disponível em: NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 sabia como interferir, no entanto, não o fez. Poderia ter prevenido os massacres já que o general Dellaire havia pedido o envio de mais tropas para o local. No entanto, não o fez. Segundo Paul Rusesabagina 11 , um Tutsi que foi considerado um herói do genocídio por ter abrigado e salvo mais de 1.200 vidas em um hotel no qual trabalhava como gerente, afirma em uma entrevista para a revista “Aventuras na História” 12que: O pior erro que a ONU cometeu foi nos manter confiantes de que eles estavam lá, que iriam nos ajudar e que impediriam os assassinatos em massa. Por conta disso, muitas pessoas que saíram do país com medo do massacre acabaram voltando. Mas, quando 10 soldados belgas foram mortos no primeiro dia do genocídio, retiraram as tropas de paz de lá. Com isso, milhares de pessoas que se amontoaram em igrejas e escolas sob a proteção da ONU foram abandonadas à própria sorte. Aliás, nesses casos, a ONU até facilitou o trabalho dos assassinos, concentrando milhares de vítimas no mesmo local. O genocídio tem o seu término datado em julho de 1994 quando os Tutsis invadem e dominam a capital de Ruanda, Kigali. Desde então eles têm mantido o poder político em suas mãos e governado o país através do presidente Paul Kagame, um general Tutsi que em 1994 ajudou a tomar o poder dos Hutus na guerra civil, considerada o evento mais trágico do século 20. 3. O Posicionamento da ONU pós-Genocídio O genocídio ocorrido em Ruanda foi um dos piores acontecimentos na história da humanidade. Após o término desse massacre horrendo, a ONU, depois de praticamente nada ter feito, instala em Arusha, na Tanzânia, um Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR). Esse tribunal foi criado com o intuito de julgar todo e qualquer responsável pelo genocídio, assim como demais atos graves de violação dos direitos internacionais humanitários cometidos no território ruandês e também em Estados vizinhos, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 1994. 11 A história de Paul Rusesabagina ficou mundialmente conhecida após ter sido retratada no filme Hotel Ruanda em 2004. 12 PACHECO, Sílvia; REZENDE, Rodrigo. Paul Rusesabagina: Um herói na história de Ruanda. Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/paulrusesabagina-heroi-ruanda-435635.shtml>. Acesso em: 30 out, 2012. 704 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 Segundo pesquisas, até novembro de 2011, o TPIR já havia indiciado 95 pessoas, dentre elas 59 foram condenadas, 17 aguardam apelação, 10 foram absolvidas e 9 dos planejadores do genocídio ainda encontram-se foragidos13. É curioso saber que em junho do ano passado, a ex-ministra da Família e Desenvolvimento da Mulher, Pauline Nyiramusuhuko, quem por cargo deveria ser completamente contra a violação dos direitos humanos, foi sentenciada à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, conspiração por cometer genocídios e outros delitos.14 Apesar de a ONU ter criado o TPIR para julgar os culpados pelo genocídio e por crimes humanitários, muitos países e organizações criticaram a sua atuação nesse massacre. Quando da criação da ONU, seu principal foco era manter a paz e segurança mundial, garantir direitos e assistência humanitária e também deter guerras entre Estados, porém, parece que a filosofia que norteou sua criação foi esquecida durante o acontecimento em questão. Em um discurso na capital Kigali, no ano de 2009, o presidente Paul Kagame15 acusa a ONU de ter grande responsabilidade pelo genocídio. Ele afirmou que: “Eles os abandonaram para serem mortos. Não seriam eles os culpados? Acho que foi também covardia. Eles se foram sem disparar um único tiro”. Várias prisões guardam nos dias de hoje as pessoas que participaram ativamente do genocídio. As pessoas que foram compelidas e obrigadas a participarem da matança tiveram a oportunidade de se redimirem perante os conselhos de verdade e reconciliação. Com este intuito, foi criado um tribunal básico da comunidade chamado de ‘gacaca’, por meio do qual as pessoas que estavam em Ruanda durante o genocídio, mesmo as que não participaram efetivamente dele, pudessem testemunhar o que viram e quem viram durante esta guerra civil. 13 ZOCCHI, Paulo. Almanaque Abril 2012. 2.ed. São Paulo: Editora Abril, 2012. p.579. 14 ZOCCHI, Paulo. Almanaque Abril 2012. p.579 15 Presidente de Ruanda acusa ONU de covardia no genocídio. BBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090407_ruanda_rc.shtml>. Acesso em: 30 out, 2012. 705 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 Esses tribunais também foram usados para a reconciliação dos ruandeses, porque entendeu-se que quando as pessoas que foram vítimas e as pessoas que vitimaram se encontrassem, discutiriam o caminho à frente. 16 Juntamente com a criação do tribunal básico, a publicação de um dicionário com os nomes dos desaparecidos foi realizada, assim como a exumação dos cadáveres enterrados em fossas coletivas e a construção de memoriais, como foi o caso do Memorial de Kigali.17 Jean Hatzfeld 18 , em seu livro, descreve uma entrevista com uma sobrevivente do genocídio, a qual assegura que testemunhar sobre o ocorrido não levará a nada, tendo em vista que os ouvintes não acreditarão em uma só palavra. O povo de Ruanda teme um novo ataque, um novo genocídio, caso o governo, a ONU e demais países e órgãos internacionais pacificadores não tomem alguma decisão sobre a violência que ainda continua rondando os ruandeses. Segundo Paul Rusesabagina: 19 Se o governo não mudar suas políticas, se nada for feito para que haja justiça em Ruanda e se os líderes do genocídio não forem punidos, outro massacre acontecerá. Como eu disse, a matança nunca parou. Nós dizemos em Ruanda que a música ainda é a mesma, só mudaram os dançarinos. Ademais do medo existente sobre um próximo genocídio, os sobreviventes ainda têm receio de exporem-se em público. Ataques e mortes ocorreram no ano de 2003 àqueles que retrataram o que viram e sabiam sobre o ocorrido.20 Após o retorno do general canadense Romeo Dallaire ao Canadá, ele aposentou-se das Forças Armadas por motivos médicos, tendo apresentado um quadro crônico de stress pós-traumático. Ele se acusou pelas tantas falhas ocorridas no período do genocídio, e acabou entrando em depressão. 16 Genocídio em Ruanda. Globo News. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=qcdRZrmjMvM&feature=relmfu>. Acesso em: 12 out, 2012. 17 SILVA. Márcio Seligmann. Narrar o trauma – A Questão dos Testemunhos de Catástrofes Históricas. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05.pdf>. Acesso em: 05 nov, 2012. 18 HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: Relatos do genocídio em Ruanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 19 PACHECO, Sílvia; REZENDE, Rodrigo. Paul Rusesabagina: Um herói na história de Ruanda. Guia do Estudante.2007. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/paulrusesabagina-heroi-ruanda-435635.shtml>. Acesso em: 30 out, 2012. 20 COQUIO, Catherine. Rwanda: Le réel et les récits. Paris: Belin, 2004. 706 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 O general ainda escreveu um livro intitulado “Shake Hands with the Devil”21 em que afirma que o único modo do ódio entre a população ser erradicado seria o trabalho contra a pobreza, e a defesa dos direitos humanos, permitindo com que o país possa deixar para trás o século XX, o século dos genocídios, e adentrar definitivamente no século da Humanidade, o século XXI. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando-se em conta toda a tragédia ocorrida e todos os problemas psicológicos posteriores nas pessoas, é preciso que não apenas a ONU, mas o mundo como um todo comece a dar mais atenção aos países que passam por problemas internos graves. Estes problemas podem levar o país a uma tragédia com danos irreparáveis. É preciso que as pessoas entendam que diferenças vão existir, mas que acima de tudo respeitem-nas, tanto a cor, quanto raça, religião e opinião. Que os eventos ocorridos em Ruanda sirvam de exemplo para a comunidade internacional. A inércia da ONU contribuiu de modo contundente para o desfecho trágico naquele país, fazendo com que o ocorrido se alastrasse cada vez mais pelo Estado em questão. Uma das vastas propostas que podem ser utilizadas para a melhoria da convivência entre a sociedade seria a educação. Tornar-se-ia interessante se cada governo reunisse suas forças e lutasse em prol da educação das crianças, ensinando-as os problemas que ocorreram no passado e as ferramentas adequadas para evitá-los no futuro. Desse modo, preconceitos seriam que quase inexistentes, evitando assim, uma matança avassaladora como ocorreu em Ruanda. REFÊNCIAS DAS FONTES CITADAS BARKER, Gregory. Ghosts of Rwanda. 2004. Documentário disponível em: <http://freedocumentaries.org/film.php?id=190>. Acesso em: 15 nov. 2012. COQUIO, Catherine. Rwanda: Le réel et les récits. Paris: Belin, 2004. DALLAIRE, Romeo; BEARDSLEY, Brent. Shake Hands with the Devil: the failure of humanity in Rwanda. Canada: Editora Arrow, 2004. 21 DALLAIRE, Romeo; BEARDSLEY, Brent. Shake Hands with the Devil: the failure of humanity in Rwanda. Canada: Editora Arrow, 2004. 707 NOLLI, Elisa Cristina; ARMADA, Charles Alexandre Souza. A guerra civil em Ruanda e a atuação da ONU. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.1, p. 699-708, 1º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044 Entenda os fatos que levaram ao genocídio em Ruanda. O Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,entenda-os-fatosque-levaram-ao-genocidio-em-ruanda,296107,0.htm> Acesso em: 16 out, 2012. HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: Relatos do genocídio em Ruanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. PACHECO, Sílvia; REZENDE, Rodrigo. Paul Rusesabagina: Um herói na história de Ruanda. Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/paul-rusesabagina-heroiruanda-435635.shtml>. Acesso em: 30 out, 2012. PAULA, Luiz Augusto Módolo de. Genocídio e o tribunal penal internacional para Ruanda. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2135/tde26032012-114115/pt-br.php>. Acesso em: 18 dez. 2012 Presidente de Ruanda acusa ONU de covardia no genocídio. BBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/04/090407_ruanda_rc.shtml>. Acesso em: 30 out, 2012. SCAGLIONE, Daniele. Ruanda: Memórias de um Genocídio. Mundo e Missão. São Paulo, 2004. Edição do mês de Setembro.p. 12-14. Disponível em: <http://www.pime.org.br/mundoemissao/atualidadesafricamemorias.htm>. Acesso em: 26 jun, 2012. SILVA. Márcio Seligmann. Narrar o trauma – A Questão dos Testemunhos de Catástrofes Históricas. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05.pdf>. Acesso em: 05 nov, 2012. SOUZA, Mércia Cardoso de; MENDES, Gabriela Flávia Ribeiro; FILHO, José Maurício Vieira. Genocídio em Ruanda: uma análise da intervenção humanitária à luz do Direito Internacional. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8186>. Acesso em: 27 jun, 2012. ZOCCHI, Paulo. Almanaque Abril 2012, editora Abril, ano 2012. 708