O LÚDICO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES DO CURSO DE FORMAÇÃO DE LUDOEDUCADORES : UMA PROPOSTA DIALÓGICA Hilda Lucia Cerminaro Sarti e Maria Ângela Barbato Carneiro176 Objetivos A proposta de estudar um grupo que buscava uma formação na área lúdica teve como objetivos: − diagnosticar que conhecimentos os participantes possuíam sobre o assunto; − quais as representações que traziam das brincadeiras de infância; − até que ponto tais imagens poderiam favorecer suas práticas; e, − em que medida uma capacitação que tratasse do assunto lhes poderia ser útil. Metodologia Embora o grupo de profissionais que freqüentaram o curso de extensão, de formação básica para ludoeducador estivesse composto por vinte e três pessoas, apenas dezoito participaram desta pesquisa, pois priorizamos trabalhar com os sujeitos que estavam presentes quando da aplicação de todos os instrumentos. A investigação teve três momentos. O primeiro, constituído por uma avaliação diagnóstica contendo quatorze questões abertas, foi realizado antes do início do curso propriamente dito. Tinha como objetivo verificar a escolarização dos participantes, qual o conceito de jogo que tinham, como o utilizavam na sua prática, além de buscar quais as brincadeiras mais significativas que eles haviam realizado durante a infância. O segundo momento compreendeu o desenvolvimento do curso propriamente dito, quando foram discutidos os seguintes assuntos: − Conceito sobre jogo, brinquedo e brincadeira; − Adequação das brincadeiras infantis às diferentes etapas de desenvolvimento da criança; − Jogos utilizados durante a infância ( com ênfase maior aos jogos cooperativos); − O perfil do ludoeducador. Todo o trabalho realizado buscou articular os pressupostos teóricos aos dados da realidade. O terceiro momento consistiu no preenchimento de um material composto por três questões abertas e na elaboração de dois desenhos acompanhados de depoimentos registrados pelos pesquisadores. Além disso, a própria instituição organizou um questionário avaliativo com quatro etapas, contendo 5 questões cada uma, das quais utilizamos apenas uma por estar diretamente relacionada ao nosso trabalho. Para a realização deste trabalho optou-se por uma investigação qualitativa por ser mais adequada à área da Educação, uma vez que a fonte de dados foi ambiente natural, isto é, o curso de formação de ludoeducadores; porque o nosso interesse estava no processo de formação dos profissionais, nos conceitos e experiências que possuíam e nas mudanças observadas ao longo do trabalho; porque havia necessidade de descrevermos dados para 176 PUC/SP. 254 justificarmos os avanços ou retrocessos nas suas práticas; e, porque havia uma grande preocupação com as perspectivas dos participantes.Optou-se, ainda, pela modalidade de estudo de caso, porque escolhemos apenas um pequeno grupo de 18 pessoas para ser observado durante o início, o desenrolar e o término de um curso de formação,buscando avaliar as implicações do curso sobre os sujeitos. Os dados obtidos A etapa inicial constituída por uma avaliação diagnóstica da clientela foi realizada no primeiro encontro. Como as questões eram abertas permitiram aos participantes uma exposição mais livre das idéias, mapeando que entendimento tinham do assunto. Além disso, o instrumento continha informações básicas sobre a escolaridade de cada um, buscando levantar, além dos dados pessoais, de formação, das lembranças das brincadeiras de infância, também a prática pedagógica. Procurava ,ainda, detectar as dificuldades sentidas pelos profissionais na utilização dos jogos com as crianças. A segunda fase trabalhou os conteúdos já mencionados, aliando aspectos teóricos à prática, de modo que para cada conjunto de informações eram realizadas atividades lúdicas complementares em sala de aula, das quais participavam todos os integrantes do curso.Vale ainda ressaltar que a todo momento os participantes expressavam a pertinência e adequação dos conteúdos às expectativas existentes no início do curso. O terceiro e último momento do trabalho consistiu na aplicação de um instrumento composto por cinco questões que buscava investigar qual a evolução existente no conceito de jogo por um lado,que informações os sujeitos já possuíam sobre o assunto e onde haviam obtido,por outro, como consideravam a atividade no momento da representação realizada através do desenho no qual os sujeitos deviam expressar-se como haviam se percebido no início e no final do curso.Os resultados mostraram-se bastante interessantes, demonstrando que os sujeitos tiveram mais clareza em relação às discussões teóricas sobre o assunto, entendendo concepções que se contrapõem ou se justapõem. No entanto,o que mais nos chamou atenção foram os desenhos representando como as pessoas se sentiam antes da experiência vivida no curso e no início da etapa final, visto que este instrumento foi aplicado no décimo encontro. Em sua grande maioria os sujeitos procuraram explicitar, inicialmente, um momento de interrogação, preocupação,isolamento e até mesmo confusão de idéias. Já a segunda fase do desenho demonstrava expressões mais felizes, rostos sorridentes, informações organizadas, perspectivas mais abertas. A riqueza dos desenhos, realizados em branco e preto, demonstrando o significado que o curso teve para os participantes e sua relevância quer do ponto de vista do conteúdo, quer na perspectiva da forma, ao mesmo tempo em que alguns(6)conseguiram perceber que jogar não é apenas competir, mas cooperar. Utilizou-se ainda uma das questões do instrumento aplicado pela instituição(COGEAE/PUCSP)para complementar as informações obtidas anteriormente e avaliar até que ponto as atividades desenvolvidas durante o curso já vinham sendo aplicadas. Sobre este aspecto,13 educadores confessaram que já estavam utilizando o que haviam aprendido,cinco não responderam, no entanto alguns ainda colocaram que estavam mudando de atitude em relação à atividade , visto que passaram a considerá-la com outros olhos. Referências Bibliográficas BETTELHEIM,B.. Uma vida para seu filho. 11a. ed.,Rio de Janeiro,Campus,1988. BRUNER,J.. El habla Del niño. 3ª. Ed.,Barcelona,1995 255 Educação e Mudança. 23a. ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra,1979 Educação como prática da liberdade. 22a. ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra,1996 HUIZINGA,J.. Homo Ludens. Lisboa:Azar,1943 GADAMER,V.. Antropologia Cultural. São Paulo:EPU/EDUSP,1977 PIAGET,J.. A formação do símbolo na criança. 3a. ed. Rio de Janeiro: Zahar,1978 VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente. 2a. ed., São Paulo:Martins fontes,1988. FREIRE, P.. --------------- 256