UTOPIA (Eduardo Galeano) A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: PRINCIPIOS E EXPERIÊNCIAS Profa. Ma. Maria Simone Ferraz Pereira Moreira Costa (FACIP/GEPAE/UFU) Função Social da Escola e Avaliação: como entender essa relação? Frente à lógica social e educacional que temos é possível construir uma educação que garanta qualidade para as diferentes classes sociais? É possível aprender a avaliar de um modo que faça sentido para os profissionais da educação e, principalmente, para os estudantes? Qual a responsabilidade de cada um e de todos nesse processo? Ampliando a conversa... Anualmente: gastos milhões de reais para gerar dados de avaliação sobre instituições escolares, seus alunos e professores Dados: normalmente não são usados por quem tem condições de promover melhorias na escola (professores, especialistas, funcionários, alunos e pais) Freitas (2009) Quanto mais se espera (ou se cobra) da escola uma resposta concreta para explicar/superar os índices vergonhosos de proficiência dos alunos obtidos nas diferentes formas de avaliação externa que incidem sobre ela Menos se observa nos profissionais da educação uma disposição para se engajarem em processos de qualificação escolar (SORDI, 2009, p. 4) O QUE FIZEMOS NO ENCONTRO DE ONTEM (SEXTA-FEIRA, 14/03/204)... • 1º Momento: Projeção dos Clipes Utopia (Eduardo Galeano) A Escola (Paulo Freire) • 2º Momento: Discussão e elaboração de um paralelo mostrando a escola REAL e a escola IDEAL na perspectiva da escola POSSÍVEL • 3º Momento: Apresentação da síntese, PARCIAL, das discussões (análise da escola atual e proposições). • 4º Momento: Exposição dialogada dos slides (conteúdo programático) RICO e COLOROSO DEBATE, tendo como pano de fundo a realidade em que o grupo se encontra inserido. HOJE: CONTINUAR AS REFLEXÕES - DEBATES Razões Práticas e Razões Políticas para Defender Processos de Avaliação Institucional nas Escolas de Ensino Fundamental • ESCOLA QUE TEMOS: dependente das decisões do topo do sistema ou dos poderes centrais Pouca autonomia na definição de seus próprios caminhos Desencantamento: professores e estudantes – sentido do trabalho pedagógico realizado Função social da escola e relevância no desenvolvimento do país: negativas repercussões no imaginário social • Mudanças: não ocorrem por decreto nem sem o envolvimento dos atores implicados no processo. • Escola: complexa e singular Tomada como referência – espaço social: congrega múltiplos interesses/sujeitos (complexidade) Possui singularidade capaz de afetar suas formas de agir e/ou reagir ao que se propõe sobre e para ela Razões Práticas e Razões Políticas para Defender Processos de Avaliação Institucional nas Escolas de Ensino Fundamental • Mudar a escola: Pessoas Admitir pertinência do projeto Participar com responsabilidade e compromisso social Se perceber com alguma governabilidade sobre a realidade da escola Conceber a mudança desde dentro – construir escola que querem mostrar de dentro pra fora ‘Mudar espaço social no qual se joga a sorte do tipo de cidadãos que queremos ver agindo e intervindo em nossa sociedade’ (SORDI, 2009, p.6) Reunidas em prol do bem comum Se sintam respeitadas e ativas no processo: legitimidade política – garantia da legitimidade técnica Razões Práticas e Razões Políticas para Defender Processos de Avaliação Institucional nas Escolas de Ensino Fundamental • Mudança não pode ocorrer de forma incremental: Não se trata de mudar primeiro professores, alunos ou famílias Mudar a escola como um todo Sujeitos e seu contexto mudem ao mesmo tempo e por interação recíproca: relações externas e internas, processos de trabalho, projeto educativo • Mudanças no ensino como um todo e não apenas da sala de aula ou do professor isoladamente Razões Práticas e Razões Políticas para Defender Processos de Avaliação Institucional nas Escolas de Ensino Fundamental ‘Como pensar a avaliação da escola que não quer mudar? Como mudar uma escola que não quer se avaliar? Como admitir que uma instituição que ensina se recuse a aprender?’ (SORDI, 2009, p.8) Qual a gênese do problema? Não avaliamos porque faltam modelos a esse nível de escolarização? Nos afastamos da avaliação porque ela pode desvelar as contradições do trabalho desenvolvido pela escola? Razões políticas que perpassam a avaliação... “O silêncio que produzimos na avaliação da educação básica acaba permitindo que novos discursos sobre a qualidade das escolas e dos professores possam ser reproduzidos, reproduzindo uma determinada concepção de ensino que muito deseja a desejar quando a conversa gravita em torno de educação e seus múltiplos sentidos” (SORDI, 2009, p. 09) Razões Práticas e Razões Políticas para Defender Processos de Avaliação Institucional nas Escolas de Ensino Fundamental ‘As crianças precisam de uma escola pública de boa qualidade. E a resposta a este chamamento social não pode prescindir da participação dos atores da escola. A saída é aprender a avaliar de um modo que nos faça sentido e assim, desestabilizar a cultura avaliativa que nos desconforta, pela proposição de uma outra alternativa’ (SORDI, 2009, p.11) O que fazer frente a essa constatação? Há luz no fim do túnel? Onde deve ser posto o esforço para que a escola pública ensine cada vez mais e melhor? AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL: PRINCIPIOS E EXPERIÊNCIAS Avaliação da Aprendizagem – Sala de Aula Avaliação Institucional Escola Avaliação Sistêmica Avaliação Institucional Processo sistemático de análise de uma atividade ou instituição. Permite compreender, de forma contextualizada, todas as suas dimensões e implicações. Estímulo ao seu aperfeiçoamento. Opção da escola • ESCOLA coletivamente: Se organiza para a necessidade de se autoavaliar, Auto conhecer avanços/problemas detectados, Significação e produção de sentidos e de mudanças necessárias ao desempenho de sua função. Avaliação Institucional Compromisso e valorização dos diferentes sujeitos da escola. Garantir ações participativas e dialógicas. “Múltiplos protagonistas se apresentam com igualdade de direitos, de voz e de poder” (FREITAS, L. C.; SORDI, FREITAS; MALAVAZI) Estudantes Equipe gestora Múltiplos Protagonistas Famílias Avaliação Institucional Que ESCOLA temos? Qual Queremos? Funcionários Poder Público Professores AI: processo valioso na produção da melhoria da educação pública Política: considerar as condições concretas em que escolas operam e compromissos que assume Valorização da escola a partir daqueles que fazem a escola Atores sociais: concretizam o trabalho na escola – sem eles não há mudanças na educação Por meio da AI: poder público pode estabelecer política de avaliação Princípios orientadores do processo: construídos coletivamente e conhecidos por todos • REALIDADE EXISTENTE A escola que temos Construção: problemas e soluções • AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL • REALIDADE DESEJADA • ( PACTO DA QUALIDADE NEGOCIADA A escola que queremos Natureza negociável Natureza Natureza Transformadora participativa QUALIDADE Natureza Auto Reflexiva Natureza Formadora Natureza Processual Natureza Contextual NATUREZA DA QUALIDADE • NATUREZA NEGOCIÁVEL: a qualidade não é um dado de fato, não é um valor absoluto, não é adequada a um padrão ou a normas estabelecidas a priori e do alto; Debates entre indivíduos e grupos que têm um interesse em relação à rede educativa, que tem responsabilidade para com ela, com a qual estão envolvidos de algum modo e que trabalham para explicitar e definir de modo consensual, valores, objetivos, prioridades, ideias sobre como é a rede e como deveria ou poderia ser. • NATUREZA PARTICIPATIVA: não há qualidade sem participação; É a sinergia das ações dos atores ao buscar fins compartilhados que torna efetiva a possibilidade de realizá-los. NATUREZA DA QUALIDADE • NATUREZA AUTO-REFLEXIVA: fazer a qualidade não implica somente em agir, mas também um refletir sobre a capacidade de elas realizarem objetivos consensualmente definidos; Olhar para os próprios limites. • NATUREZA CONTEXTUAL DA QUALIDADE : Natureza intersubjetiva e negociável; Não é um valor absoluto, pois os contextos são diferenciados; As realidade locais que se propõe a colocar a qualidade em prática; Ocorre de acordo com a própria história e com o que temos efetivamente. NATUREZA DA QUALIDADE • NATUREZA PROCESSUAL: Não é um produto, um dado; Se desenrola com o tempo; Não se pode dizer nunca que esteja concluída. • NATUREZA TRANSFORMADORA: ponto central; Todo o processo só tem sentido se promover a transformação; Isso só é possível com a “co-construção” de significados em torno da instituição e da rede; Reflexão compartilhada que enriquece os participantes. Qualidade tem uma natureza formadora • Produtor de cultura Através da troca, a qualidade é construída e a formação constituída. (BONDIOLI, 2004) AI: compromisso com a escola pública de qualidade Profissionais da escola (gestores, funcionários) Professores Estudantes Famílias Poder Público A invisibilidade dos estudantes nos processos de qualificação da escola TEM ALGO A DIZER OS ESTUDANTES SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? • “O problema da nossa escola é a questão da segurança. Também alguns professores têm interesse e muitos não se interessam pelos alunos, pelo ensino. Estamos desde o início do ano sem professor de uma matéria. Tínhamos projetos interessantes de Educação Física e hoje não tem mais. O professor responsável saiu e a atual só trabalha vôlei. E quem gosta de outros esportes? Queremos nos organizar para melhorar.” (Andressa, Pedro (8º ano) e Matheus, EMEF P. C. E. M.). • “Os problemas da escola são a falta de professores, o desinteresse dos alunos durante as aulas e o professor não impõe respeito. Na infraestrutura não conseguimos ver problema” (Luana, Thales e Guilherme, EMEF P. A. F. C. C.) TEM ALGO A DIZER OS ESTUDANTES SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? • “A infra estrutura da escola é precária em alguns aspectos, principalmente em relação a quadra. Está precisando de uma super reforma. O pedagógico, no começo do ano faltou professor de português e de matemática. Tivemos troca constante do professor de inglês. A comunidade usa a quadra e destrói. Tentamos fechar a quadra para a comunidade não continuar destruindo (muito vandalismo). Em função das constantes substituições de professores estamos sempre recomeçando. Sempre no começo das matérias” (Bruna, 8º ano, EMEF M. L. P. C.) • “Alguns professores enrolam muito nas aulas, conversam muito e não dão o conteúdo. Alguns são desmotivados, não explicam direito, não trabalham o texto. Estão na sala por obrigação, preguiçosos e molengas” (Amanda, 6º ano, EMEF O. C.) TEM ALGO A DIZER OS ESTUDANTES SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? • “Toda semana temos alteração de horário porque falta professores. Levamos material trocado, temos que buscar em casa e muitas vezes não conseguimos entrar novamente na escola. Também tem o desinteresse dos professores, eles atendem celular na sala e nos proíbem de usar. Uns professores passam todos os horários conversando com o orientador e ficamos sem fazer nada, outros professores nos levam para o pátio e também ficamos sem fazer nada. Já falamos com a diretora, mas nada aconteceu” (Michele, 9º ano, EMEF E. M.) • Temos muitos problemas entre nós: alunos x alunos; alunos x diretora. Tentamos resolver os problemas com alguns projetos. Discordamos bastante da diretora e lutamos por nossos interesses porque temos que gostar de estar na escola. Um exemplo é o projeto do rádio/música no recreio. Começamos mais foi a maior disputa de estilos e a diretora disse que era para acabar. Agora resolvemos voltar com o projeto e decidimos colocar um estilo em cada dia. Um dia será a música que a diretora gosta (risos)” (Isabel, 9º ano, Anaila, 8º ano, EMEF V. D. L.) TEM ALGO A DIZER OS ESTUDANTES SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? • Ângela: acho que podia ter reuniões, juntar as opiniões dos alunos, ia ser legal. Porque ai ia ver o que os alunos pensam, como eles podiam ajudar a escola. Ah, o ano passado a gente se reuniu e ia fazer uma rebelião por causa do recreio, o tempo era pouco, não dava pra fazer nada, falta de rampa, banheiro sujo. • Todos: é, é mesmo, uma rebelião de alunos. • Observadora: conta pra mim como foi isso. • Ângela: todo mundo estava juntando plaquinha, cartaz pra escrever um monte de coisa. Falar como queria. • Andreza: um dia a gente chegou a fazer, todo mundo saiu andando e falando o que queria, mas a diretora proibiu a gente e ameaçou dar suspensão pra todo mundo se a gente não parasse. Aí a gente parou ninguém queria levar suspensão. (EMEF P. F. S, 11 anos, 6º ano) TEM ALGO A DIZER OS ESTUDANTES SOBRE A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO? • “Estou aqui desde a 1ª série e pra mim (sic) a escola não tem nada de bom. Os professores não gostam de explicar a matéria, querem que os alunos aprendam sozinhos. Os professores você pergunta pra eles alguma coisa e eles deixam você falando sozinho e vão fazer outra coisa. Você pergunta alguma coisa da matéria e eles falam ‘o meu querido, eu já expliquei um montão de vezes’. É obrigação dele! (Henrique, 11 anos, 6º ano, EMEF P. F. S) Para que serve a Avaliação Institucional? É possível aprender a avaliar de um modo que faça sentido para os profissionais da educação e, principalmente, para os estudantes? Qual a responsabilidade de cada um e de todos nesse processo? Desafios.... Demandar do poder público condições para garantir o ensino/aprendizagem Mobilização da comunidade local Compromisso com os resultados da avaliação Ensinar aTODOS e a CADA UM Referências • BONDIOLI, A. O projeto pedagógico da creche e sua avaliação. Campinas: Autores Associados, 2004. • FREITAS, L. C. de [et. al.]. Avaliação Educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. • FREITAS, L. C. Eliminação Adiada: O Ocaso das Classes Populares no Interior da Escola e a Ocultação da (Má) Qualidade do Ensino. Educ. Soc., Campinas, vol.28, n. 100, p.965 – 987, Especial – Out. 2007. • SORDI, M. R. L. & SOUZA, E. S. A Avaliação como Instância Mediadora da qualidade da Escola Pública: A Rede Municipal de Educação de campinas como Espaço de Aprendizagem.Campinas, SP: Millennium Editora, 2009.