thiago borges
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dilmarousseff
Aecio Neves - Senador
cn em série Eleições
O que eles dizem
da economia
POLÍTICA ECONÔMICA Crescimento do PIB, inflação e dívida pública
deverão dominar a agenda do próximo governo em matéria de política
econômica. Entender como cada candidato tratará essas questões
em suas campanhas é fundamental na hora de votar
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Cidade Nova • Julho 2014 • nº 7
Fabio R. Pozzebom/ABr
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alvez você já saiba, talvez
deixe para decidir depois da
Copa. Ou talvez só escolha
cinco minutos antes. Não
importa a hora, o fato é que até o
dia 5 de outubro você terá que optar
por um postulante à presidência da
República –de uma lista que não foi
feita por você. Você poderá escolher
aleatoriamente, ou por simpatizar
mais com um candidato, ou ainda
pode optar por aquele que fizer a
melhor campanha na TV e que estiver em primeiro nas pesquisas. Mas,
se você é daqueles que gosta de se
informar para poder decidir ou se
prefere entender melhor a diferença
entre os candidatos e suas propostas, precisará dedicar um bom tempo a debates e leituras de análises
na imprensa e fora dela.
Para tentar lhe ajudar, mesmo
que de forma incompleta, iniciamos
nesta edição uma série de reportagens que terá como objetivo mapear
as principais propostas e as ideias-base que fundamentam os programas de governo dos três principais
postulantes ao Palácio do Planalto.
Em ordem alfabética, Aécio Neves,
Dilma Rousseff e Eduardo Campos.
Escolhemos três temas-chave
para serem abordados em cada uma
das reportagens. E, para abrir a série, vamos destacar os principais desafios que o próximo governo terá
em matéria de política econômica
e como cada um dos candidatos e
suas plataformas de campanha pretende enfrentá-los. Com uma taxa
de crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) – a soma de todas as receitas que o país tem – abaixo do
esperado, o Brasil vive dias de incerteza no cenário econômico. Precisa
recobrar os níveis de produtividade
que manteve até três anos atrás, mas
teme-se um cenário de mais dificuldades ainda nos dois primeiros anos
do mandato do futuro presidente.
Um desafio imediato será o de
combater a inflação. Independente
de quem sair vitorioso nas urnas, o
presidente vai lidar com uma alta
de preços que já encosta no teto
da meta e vem sendo segurada por
intervenções diretas do governo,
como a manutenção do preço da
gasolina, que não poderá se segurar
por muito tempo.
A agenda da política econômica
deve conter ainda estratégias para
a manutenção da baixa taxa de desemprego e para a melhora da competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Com
os programas de governo ainda em
fase de elaboração, não temos como
saber com exatidão de que forma
esses temas serão tratados por cada
candidato. No entanto, é possível
antever qual será a tendência de
cada plataforma com base nas diretrizes que já foram lançadas pelos
três principais candidatos.
O fantasma da inflação
Se a primeira impressão é a que
fica, a missão do novo presidente,
para ter um bom início de mandato, é controlar os índices de inflação. Segundo o economista José
Luiz Niemeyer, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais
(Ibmec) e pesquisador do Núcleo de
Políticas e Estratégia da USP, esse é
um ponto-chave que tem influência tanto na percepção do governo
quanto em outras variáveis da política econômica. “Do ponto de vista
macroeconômico o controle da inflação é fundamental porque a alta
dos preços cria um novo câncer na
economia e faz com que se perca o
planejamento econômico. Eleva-se
a carestia em famílias brasileiras.
Aqueles que não têm conta em banco, que são a grande maioria, sofrem no seu dia a dia”, aponta.
Mas as medidas de contenção da
inflação produzem efeitos colaterais importantes, o principal deles
é o impacto nos gastos públicos,
como explica a economista Cristina
Helena Pinto de Melo, professora
da PUC-SP. “A inflação não saiu do
controle, ela só não está no centro
da meta. O Banco Central aprendeu
uma dura lição, pois quando flexibilizou a taxa de juros, mexeu com
as expectativas e fez com que todo
mundo trabalhasse com o limite
máximo de inflação tolerável para
o governo”, destaca. “O problema
é que hoje o controle inflacionário
está ligado a uma única medida de
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política econômica, a taxa de juros,
que é um indexador importante da
dívida pública. Então o controle da
inflação custa muito caro para a
sociedade”, ressalta. Ou seja, para
controlar a inflação, o governo hoje
é obrigado a elevar os juros, mas
quando faz isso, acaba tendo que pagar um valor mais alto de juros aos
seus credores. Dessa forma, grande
parte das receitas do governo acaba se perdendo no pagamento dos
juros da dívida pública e não pode
ser destinada a suprir necessidades
emergenciais da sociedade.
Até o momento, porém, pouco se
falou concretamente das estratégias
dos partidos para o controle da inflação. A indexação da dívida pública à taxa Selic, apontada pela economista como um dos fatores que
contribuem para a deterioração das
contas públicas, foi ignorada nas
diretrizes lançadas por PT, PSDB e
PSB. Contatados, os partidos preferiram não se manifestar a respeito.
prazo todas praticamente já foram
empreendidas. Baixamos a taxa de
juros, apesar de já termos voltado
a elevá-la, flexibilizamos a política
fiscal. A única coisa que ainda falta
é mexer na taxa de câmbio, mas de
qualquer forma, uma expansão na
taxa de câmbio mudaria muito mais
a composição do PIB do que aumentaria seu valor”, explica Melo.
O setor manufatureiro e a indústria ainda têm capacidade de se expandir, por isso algum crescimento
poderá vir nesse âmbito. No entanto, alerta a economista, “o principal
fator para mudar hoje essa variação
do PIB está relacionado a fatores de
longo prazo, como profissionais mais
qualificados, tecnologias mais produtivas, outro tipo de arranjo produtivo.
E isso demora para acontecer. Precisaria que o governo colocasse na sua
agenda medidas de longo prazo, não
só de curto prazo”, complementa.
PIBinho
Como não poderia deixar de ser,
os três partidos prestes a entrar em
pé de guerra pelo Palácio do Planalto apontam razões diferentes para
o PIB não ter tido o desempenho
esperado e asseguram ter a receita
para reverter o quadro. As análises
são feitas também de acordo com o
que o partido julga conveniente divulgar. Mesmo assim é importante
ouvir o que eles têm a dizer. O curioso é que as três principais siglas na
corrida presidencial partem da concepção de que é papel do Estado intervir para que a economia tome os
rumos desejados. Há diferenças na
forma como essa intervenção deve
se dar e na sua intensidade, mas nenhum deles levanta abertamente a
bandeira de uma grande redução da
presença do Estado na economia.
Aécio Neves e o PSDB são os
que mais se aproximam disso. Nas
Retomar as taxas de crescimento é outro tema que deve estar na
ordem do dia para o próximo chefe de governo. Após um período de
forte expansão na década passada,
o ritmo da economia brasileira sofre
muito para alcançar índices mínimos de crescimento. A falta de dinamismo da economia e a necessidade de recobrar o fôlego estarão no
centro da campanha presidencial.
Especialistas alertam, no entanto,
que a margem de manobra para
uma reversão do quadro no curto
prazo é pequena, afinal ações de
efeito rápido já vem sendo tomadas
pelo governo desde que a crise econômica mundial se fez sentir com
mais força no Brasil.
“As medidas que a gente podia
adotar para expandir o PIB no curto
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12 diretrizes lançadas no final de
2013, o partido afirma que setores
como Educação e Saúde devem permanecer sob as asas do Estado, bem
como obras de infraestrutura. Por
outro lado, o partido fala em criar
um “ambiente econômico saudável” para que a “atuação da livre iniciativa e do investimento privado
promova o melhor funcionamento
de uma economia de mercado mais
produtiva e capaz de mobilizar o capital que o país precisa para acelerar
seu crescimento”.
Por sua vez, as diretrizes que
moldarão o programa de governo
da pré-candidata Dilma Rousseff­
são explícitas na condenação ao
que chama de “herança maldita
proveniente da ditadura militar, do
desenvolvimentismo conservador,
da devastação neoliberal, da ditadura do capital financeiro e monopolista sobre a economia, da lógica do
Estado mínimo”. O PT reconhece
que o crescimento do PIB precisa recobrar seu vigor e acredita que “essa
expansão está intimamente ligada,
entre outros fatores, ao aumento da
produtividade, especialmente no
setor industrial, que poderá ser favorecido pelo início do novo ciclo
de expansão global”.
Já a plataforma de Eduardo Campos, no PSB, busca apresentar-se
como uma terceira via – inclusive
com seu aparato de marketing político voltado para dar essa impressão.
Em relação ao crescimento da produtividade, o partido promete “investir pesadamente em infraestrutura e logística”. O PSB ainda traz à
baila a promessa de uma “transição
para a economia de baixo carbono”
e investimentos em “inovação tecnológica nos processos produtivos”.
O partido de Campos diz se nortear
por “um planejamento de médio e
longo prazo”, mas não dá detalhes
de como isso vai acontecer.
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