OPINIÃO15 SEXTA-FEIRA, 11 DE JULHO DE 2014 A GAZETA Angelo Passos Jornalista, escreve às sextas-feiras neste espaço Joilton Sergio Rosa É professor do curso de Administração da Faesa Cariacica Tão cedo a inflação não deve deixar de perturbar o Votar não dá o direito aos eleitos de errarem país. Banco Central projeta IPCA a 6,4% em 2015. sempre, dá à população o dever de cobrar Altíssimo. Contribui para frear o crescimento do PIB destes políticos Além do limite O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) rompeu o teto de 6,5% ao ano, altíssimo, estabelecido pelo Banco Central. Atingiu 6,52% em 12 meses encerrados em junho, e isso por certo terá efeito psicológico ruim. O cenário de inflação inquietante existia antes de o IPCA estourar o limite da meta. Esse fato não cria novo ambiente inflacionário, mas tende a piorar o atual, à medida que contribui para a descrença na eficácia dos mecanismos oficiais de controle do IPCA. O país está pagando alto preço pela leniência das autoridades à inflação, que está acima do centro da meta, 4,5%, há quatro anos. E, ao que se vê, vai continuar transbordando. O Banco Central está projetando inflação de 6,4% ao longo de 2015 – nível venenoso que mina a competitividade da economia e tolhe o seu crescimento. É óbvio que a sensação de insegurança em relação aos preços estimu- la o defensivismo. Sempre que a inflação muda de patamar, para cima, os atores econômicos se sentem convidados a acompanhar. A chamada inércia inflacionária não permite que a inflação futura fique abaixo da inflação passada. A nossa inflação não é produto da demanda agregada. Por conveniência política, o próprio governo atua para reduzir a eficiência da política monetária, ao manter a política fiscal expansionista (excesso de gastos). Mesmo assim, a demanda não é o grande fator inflacionário. O problema maior está na indexação, apesar de já serem decorridos 20 anos do Plano Real, os preços ainda são impulsionados pela indexação. Nenhum governo se esforçou como devia para quebrar essa corrente. No ano passado, o IBGE divulgou um dado impressionante: nada menos de 42% dos itens usados para apurar o IPCA têm preços indexados. O caminho para frear gastos do governo é o aumento do superávit primário (poupança para pagar os juros da dívida pública). E, evidentemente, o setor público cumprir o prometido, sem usar a contabilidade criativa. Ajudaria também a reverter a desconfiança dos investidores em relação à gestão econômica do país. “Insucesso” da democracia Há alguns dias, fui questionado sobre um “movimento” pelo voto nulo, se seria uma boa ideia. Respondi logo que isso é uma interpretação errônea da legislação eleitoral brasileira. Anular o voto não anula a eleição. A lei diz que serão computados os votos válidos e os votos brancos, nulos não servem para nada. Alguém pode pensar: “serve para expressar minha insatisfação”. Pode ser, no entanto, essa sua forma de demonstrar o desagrado não surtirá o efeito esperado, apenas favorecerá os políticos de carreira. Me perguntaram também: “se a cidadania é um direito, por que sou ‘obrigado’ a votar?” Bom, até 1984 nós brigávamos para votar, então por que essa reação agora? Será que esta insatisfação está no ato de votar ou com os políticos eleitos? Votar é um ato rápido que nos permite escolher, mesmo errando. Não votar não me tira a responsabilidade pelos problemas sociais que temos. É preciso lembrar que é por meio da política que se define a aplicação dos recursos em infraestrutura, saúde, educação, entre outros. Estamos prontos para facultar o voto? Se na obrigatoriedade há políticos que estão há décadas no poder, imagine se só votarem os grupos ligados a eles e não milhões de cidadãos comuns? Será que a democracia pela qual lutamos não está sendo o sucesso que esperávamos? Devemos mudar a forma de escolha dos nossos representantes? Voltar à ditadura? À monarquia? Votar não dá o direito aos eleitos de errarem sempre, dá à população o dever de cobrar destes políticos. Precisamos de uma democracia não só do voto, só isso não nos torna cidadãos. O que você faz para cobrar daqueles que você elegeu? Portanto, temos “ainda” que votar e cobrar, escolher políticos melhores e não deixar de escolher. Com o voto nulo, ninguém mostra só insatisfação, mostra o desejo de se eximir de uma responsabilidade: “eu não votei em ninguém, então não sou culpado de nada”. O que fazer? Primeiro, se eu puder sugerir, uma boa estratégia é votar em quem nunca se elegeu, ou seja, políticos mais novos, com menos acordos. Pesquisar a história política dos candidatos é importante, há sites e ONGs especializados para isso. E ter certeza de uma coisa: o que o político mais precisa não é de dinheiro, é de voto, do seu voto, e ele sabe que alguns votarão nele de qualquer jeito. E o voto nulo pode – e muito – facilitar isso. Graziela Fortunato É especialista em Finanças e professora da Fucape Business School Há, no mínimo, três motivos para as pessoas estarem endividadas e enfrentando problemas de dívidas Por que as pessoas estão endividadas A toda hora se lê no jornal ou se ouve nos telejornais sobre o percentual das famílias brasileiras endividadas. De fato, quase 63% das famílias possuíam dívidas em fevereiro de 2014 e 20% estão em atraso. E por que isso preocupa? Primeiro, há o efeito na economia, com a redução de vendas no varejo, dado que os recursos financeiros pessoais tendem a ser direcionados ao pagamento das dívidas e não ao con- sumo. Segundo, há o efeito na vida pessoal quando há dificuldade em sanar as dívidas. Há, no mínimo, três motivos para as pessoas estarem endividadas e enfrentando problemas de dívidas. Entender esses motivos pode ser um ponto de partida para um melhor controle financeiro. Inicialmente, a inflação tem estado em um patamar baixo em relação ao período antes do Plano Real. Desde então, a inflação média é de 6,45% ao ano em comparação aos percentuais médios de mais de 600% ao ano de 1980 a 1994. Houve uma demanda reprimida, ou seja, uma vontade de consumir que pôde ser sanada, pois as pessoas recuperaram o poder de compra. Junto a esse cenário de inflação baixa, há as políticas governamentais de incentivo ao consumo. Uma delas é a baixa dos juros, que induz as pessoas a comprar ao invés de economizar. Por exemplo, o rendimento da caderneta de poupança acumulado até maio deste ano foi de 2,82% enquanto que a inflação avançou 3,33%. Isso mostra que é melhor consumir do que poupar. Além disso, há a facilidade de crédito. Hoje, todos têm cartão de crédito, há a linha de cheque especial, empréstimo pessoal, empréstimo consignado, além das facilidades dadas pelas lojas e concessionárias de carros. As lojas costumam oferecer condições de pagamento de parcelas fixas pequenas em 10 ou 12 vezes que são bastante atrativas pelo olhar de quem quer realmente consumir. Esses são alguns dos fatores que levam as pessoas a consumir. Neste caso, não estou levando em consideração a força do marketing com as propagandas. Em termos gerais, consumo e o endividamento por si só não são efetivamente problemas. Não ter condições de pagar por esse consumo e se descontrolar financeiramente é que trará dificuldades futuras. Diretor de Jornalismo: ABDO CHEQUER [email protected] | Editor-chefe: ANDRÉ HEES [email protected] | Editores Executivos: EDUARDO CALIMAN [email protected] e ANDRÉIA LOPES [email protected] | Editor Executivo Digital: AGLISSON LOPES [email protected] | Editor Executivo Visual: EDSON DE MELO [email protected] | Domingo: LÚCIA GONÇALVES - lhgonç[email protected] | Editor de Arte: PAULO NASCIMENTO [email protected] | Editor de Qualidade: CARLOS HENRIQUE BONINSENHA [email protected]