INSTITUTO AGRONÔMICO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DE GENÓTIPOS DE CANA-DEAÇÚCAR AO PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO NO SISTEMA RADICULAR KARINA IOLANDA SILVA Orientador: Rafael Vasconcelos Ribeiro Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, Área de Concentração em Tecnologia da Produção Agrícola Campinas, SP Abril 2014 . Ficha elaborada pela bibliotecária do Núcleo de Informação e Documentação do Instituto Agronômico S586r Silva, Karina Iolanda Respostas fisiológicas de genótipos de cana-de-açúcar ao peróxido de hidrogênio no sistema radicular / Karina Iolanda Silva. Campinas, 2014. 47 fls Orientador: Rafael Vasconcelos Ribeiro Dissertação (Mestrado) Agricultura Tropical e Subtropical – Instituto Agronômico 1. Cana-de-açúcar – variação genótipa 2. Fotossíntese - déficit Hídrico 3. Metabolismo antioxidante I. Ribeiro, Rafael Vasconcelos II. Título CDD. 633.61 -IAC -- SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS INSTITUTO AGRONÔMICO Pós-Graduação Av. Barão de Itapura 1481 Caixa Postal 28 13001-970 Campinas, SP - Brasil (19) 2137-0601 [email protected] INSTITUTO AGRONÔMICO Curso de Pós-Graduação Agricultura Tropical e Subtropical Certificado Título: Respostas fisiológicas de genótipos de Aprovação de cana-de-açúcar ao peróxido de hidrogênio no sistema radicular Aluna: Karina lolanda Silva Área de Concentração: Tecnologia da Produção Agrícola Processo SAA n'': 2.858/2012 Orientador: Dr. Rafael Vasconcelos Ribeiro Aprovado pela Banca Examinadora: Campinas, 28 de abril de 2014 Visto: ~ ~ana Parada D,las da Silv~lra Coordenadora pos-Graduaçao Instituto Agronomlco I À minha mãe Miriam E às minhas irmãs Kelly e Kátia, DEDICO Aos meus avós Francisco e Iolanda OFEREÇO iii AGRADECIMENTOS - A Deus pelo amparo e por sempre mostrar a direção a seguir. - Ao Dr. Rafael Vasconcelos Ribeiro pela orientação, amizade, oportunidade, ensinamentos e conselhos valiosos desde a graduação; - Ao Dr. Eduardo Caruso Machado pelas conversas, sugestões e auxílio. - À Dra. Ana Maria M.A. Lagôa pelas sugestões na pré-banca e na banca examinadora. - Ao Prof. Ricardo Ferraz de Oliveira pela participação da banca examinadora. - À minha família pelo apoio e carinho. - Ao Fabrício pelo amor, paciência e auxílio em todos os momentos. - Aos colegas da fisiologia vegetal Daniela, José Rodrigues, Fernanda, Guilherme, Lílian e Érick pela ótima convivência, em especial Cristina, Paulo e Neidiquele pelo auxílio na experimentação em campo e laboratório. - Aos colegas da PG/IAC Juliana, Augusto, André e Natália pelo companheirismo. - Ao técnico de apoio Severino Nogueira pelas boas ideias na montagem e condução dos experimentos. - Aos professores da PG/IAC, pelos ensinamentos transmitidos. - À Pós-Graduação e ao Instituto Agronômico pela oportunidade. - À Capes e à Fapesp pelo suporte financeiro. - A todos que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a realização deste trabalho. iv “Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância.” (John F. Kennedy) v SUMÁRIO LISTA DE ABREVIAÇÕES............................................................................................. LISTA DE TABELAS....................................................................................................... LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ RESUMO........................................................................................................................... ABSTRACT....................................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 2 REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 3.1 Material vegetal........................................................................................................... 3.2 Condições experimentais............................................................................................. 3.2.1 Preparo da solução nutritiva..................................................................................... 3.2.2 Condições ambientais............................................................................................... 3.2.3 Tratamento com peróxido de hidrogênio.................................................................. 3.3. Quantificação de peróxido de hidrogênio (H2O2) na solução nutritiva e em material vegetal.......................................................................................................... 3.4 Avaliações fisiológicas................................................................................................ 3.4.1 Extrato enzimático e atividade de enzimas do sistema antioxidante........................ 3.4.2 Proteínas solúveis totais............................................................................................ 3.4.3 Peroxidação lipídica.................................................................................................. 3.4.4 Condutância hidráulica das raízes............................................................................. 3.4.5 Trocas gasosas e atividade fotoquímica.................................................................... 3.4 Delineamento experimental e análises estatísticas...................................................... 4 RESULTADOS.............................................................................................................. 4.1 Superóxido dismutase (SOD)...................................................................................... 4.2 Peróxido de hidrogênio (H2O2).................................................................................... 4.3 Catalase (CAT)............................................................................................................ 4.4 Ascorbato peroxidase (APX)....................................................................................... 4.5 Proteínas solúveis totais............................................................................................... 4.6 Peroxidação lipídica..................................................................................................... 4.7 Condutância hidráulica das raízes................................................................................ 4.8 Trocas gasosas............................................................................................................. 4.9 Atividade fotoquímica................................................................................................. 5 DISCUSSÃO.................................................................................................................. 6 CONCLUSÃO................................................................................................................ 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... vii viii ix xii xiii 1 3 14 14 14 14 15 15 16 17 17 18 18 19 19 20 21 21 21 22 23 23 25 25 26 27 30 38 39 vi LISTA DE ABREVIAÇÕES A Assimilação de CO2 A/CI Eficiência instantânea de carboxilação A/gs Eficiência intrínseca do uso da água APX Ascorbato peroxidase CAT Catalase CI Concentração intercelular de CO2 CTE Cadeia transportadora de elétrons ERO Espécie reativa de oxigênio ETR Transporte aparente de elétrons FSI Fotossistema I FSII Fotossistema II FV/FM Eficiência quântica potencial do fotossistema II gs Condutância estomática Lp Condutância hidráulica das raízes MDA Aldeído malônico Q Radiação fotossinteticamente ativa SOD Superóxido dismutase vii LISTA DE TABELAS Tabela 1 Eficiência quântica potencial do fotossistema II (FV/FM) na folha +1 em genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 e IACSP94-2094 em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada valor representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas iguais indicam que não houve diferença estatística entre os tratamentos, enquanto letras maiúsculas iguais indicam que não houve diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)............................................................................................... 28 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 Produção de H2O2 pela enzima superóxido dismutase (SOD) por dismutação do ânion superóxido, e ação desintoxicante das enzimas catalase (CAT) e ascorbato peroxidase (APX), convertendo H 2O2 a H2O................................................................................................................ 09 Figura 2 Procedimento para avaliação da condutância hidráulica das raízes (Lp)...... 19 Figura 3 Atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) nas folhas (a) e nas raízes (b) em genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H 2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre as concentrações de H2O2, enquanto os asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)............................................................................ 21 Figura 4 Concentração de peróxido de hidrogênio (H2O2) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto os asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05).......................................................................................................... 22 Figura 5 Atividade da enzima catalase (CAT) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05).............................. 23 Figura 6 Atividade da enzima ascorbato peroxidase (APX) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP942094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)......................................................................................................... 24 Figura 7 Concentração de proteínas solúveis totais nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média ix Figura 8 de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas iguais indicam que não houve diferença estatística entre os tratamentos (p>0,05)..................... 24 Concentração de aldeído malônico (MDA) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05).......................................................................................................... 25 Figura 9 Condutância hidráulica das raízes (Lp) em genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada ponto representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)............................................................................ 26 Figura 10 Assimilação de CO2 (A, em a) e condutância estomática (gs, em b) na folha +1 de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP942094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Em (a), a interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Em (b), letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)............................................................................ 27 Figura 11 Eficiência instantânea de carboxilação (A/CI, em a) e eficiência intrínseca do uso da água (A/gs, em b) na folha +1 de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05)............................................................................ 28 Figura 12 Transporte aparente de elétrons (ETR) na folha +1 de genótipos de canade-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asterisco indica diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05).............................................. 29 x Figura 13 Reação do sistema antioxidante, trocas gasosas e relações hídricas nas folhas e nas raízes de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2094 (tolerante ao déficit hídrico) e IACSP94-2101 (sensível ao déficit hídrico) ao aumento da concentração de H2O2 na solução nutritiva para 3 mmol L1 . SOD: superóxido dismutase; APX: ascorbato peroxidase; CAT: catalase; MDA: aldeído malônico; Prot: proteínas s. totais; O2-·: ânion superóxido; H2O2: peróxido de hidrogênio; H2O: água; Lp: condutância hidráulica das raízes; gs: condutância estomática; A: assimilação de CO2, A/CI: eficiência instantânea de carboxilação e A/gs: eficiência intrínseca do uso da água. A cor vermelha indica aumento da atividade/teor; a cor verde indica manutenção da atividade/teor, a cor azul indica redução da atividade/teor.............................................................................................. 33 Figura 14 Reação do sistema antioxidante, trocas gasosas e relações hídricas nas folhas e nas raízes de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2094 (tolerante ao déficit hídrico) e IACSP94-2101 (sensível ao déficit hídrico) ao aumento da concentração de H2O2 na solução nutritiva para 80 mmol L-1. SOD: superóxido dismutase; APX: ascorbato peroxidase; CAT: catalase; MDA: aldeído malônico; Prot: proteínas s. totais; O2-·: ânion superóxido; H2O2: peróxido de hidrogênio; H2O: água; Lp: condutância hidráulica das raízes; gs: condutância estomática; A: assimilação de CO2, A/CI: eficiência instantânea de carboxilação e A/gs: eficiência intrínseca do uso da água. A cor vermelha indica aumento da atividade/teor; a cor verde indica manutenção da atividade/teor, a cor azul indica redução da atividade/teor............................................................................................ 36 xi Respostas fisiológicas de genótipos de cana-de-açúcar ao peróxido de hidrogênio no sistema radicular RESUMO A diminuição ou interrupção do fornecimento de água à planta induz o déficit hídrico afetando diretamente a produtividade da cana-de-açúcar. Nessas condições há geração de espécies reativas de oxigênio, como H2O2. O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que há variação genotípica de cana-de-açúcar em resposta ao H2O2 no meio radicular e que o genótipo tolerante é capaz de restringir o dano oxidativo, manter o transporte de água para a parte aérea, reduzindo os efeitos negativos do déficit hídrico na fotossíntese. Os genótipos IACSP94-2094 (tolerante ao déficit hídrico) e IACSP94-2101 (sensível ao déficit hídrico) foram crescidos em câmara de crescimento e avaliados em três condições quanto à disponibilidade de H2O2 em solução nutritiva: controle; 3 mmol L -1 e 80 mmol L-1. Avaliouse as trocas gasosas, a atividade fotoquímica, a condutância hidráulica das raízes e o metabolismo antioxidante nas raízes e nas folhas após 15 minutos da indução dos tratamentos. Embora a presença de H2O2 na solução nutritiva tenha reduzido a condutância hidráulica das raízes, a abertura estomática, o transporte aparente de elétrons e a eficiência instantânea de carboxilação em ambos os genótipos, IACSP94-2094 apresentou maiores valores dessas variáveis se comparado a IACSP94-2101. Há variação genotípica em relação à resposta fisiológica da cana-de-açúcar ao aumento da concentração de H2O2 no sistema radicular, sendo as alterações observadas nas raízes associadas a modificações na fisiologia da parte aérea das plantas. O genótipo IACSP94-2094 apresenta o sistema antioxidante radicular mais efetivo frente ao aumento do H2O2 no meio radicular, independente da concentração de H2O2. Em baixas concentrações de H2O2, IACSP94-2094 tem o transporte de água e as trocas gasosas menos afetados quando comparado ao genótipo IACSP94-2101. Essa menor sensibilidade de IACSP94-2094 em altas concentrações de H2O2 está associada ao aumento nas atividades da superóxido dismutase nas raízes e nas folhas e catalase nas raízes. Palavras-chave: condutância hidráulica de raízes, déficit hídrico, fotossíntese, metabolismo antioxidante, Saccharum spp. xii Physiological responses of sugarcane genotypes to hydrogen peroxide in roots ABSTRACT Low water supply causes water deficit and affects sugarcane yield. Under such conditions, the production of reactive oxygen species is enhanced, being H 2O2 one of them. The aim of this study was to test the hypothesis that sugarcane genotypes respond differently to H 2O2 in root medium, being the tolerant genotype able to limit the oxidative damage and maintain the water transport from roots to shoots, reducing the negative effects of water deficit on photosynthesis. The sugarcane genotypes IACSP94-2094 (drought tolerant) and IACSP942101 (drought sensitive) were grown under growth chamber and evaluated in three conditions in relation to the H2O2 availability in nutrient solution: control; 3 mmol L-1 and 80 mmol L-1. Leaf gas exchange, photochemical activity, root hydraulic conductance and antioxidant metabolism in both roots and leaves were evaluated after 15 minutes of H 2O2 supplying. Although the H2O2 presence in nutrient solution has reduced the root hydraulic conductance, stomatal aperture, apparent electron transport rate and instantaneous carboxylation efficiency in both genotypes, IACSP94-2094 presented higher values of those variables as compared to IACSP94-2101. There is a significant genotypic variation in relation to the physiological responses of sugarcane to increasing H2O2 in root tissues, being root changes associated to modifications in plant shoots. The genotype IACSP94-2094 presents a root antioxidant system more effective when H2O2 increases in root medium, regardless H2O2 concentration. Under low H2O2 concentration, the water transport and leaf gas exchange of IACSP94-2094 were less affected as compared to IACSP94-2101. This lower sensitivity of IACSP94-2094 under high H2O2 concentration was associated to increases in superoxide dismutase activity in roots and leaves and increases in catalase activity in roots. Keywords: antioxidant metabolism, photosynthesis, root hydraulic conductance, Saccharum spp., water deficit. xiii 1 INTRODUÇÃO A produção da cana-de-açúcar tem aumentado em todo o país e nos próximos anos serão necessários grandes investimentos financeiros para atender a crescente demanda interna brasileira de açúcar e etanol (AGRIANUAL, 2013; MAPA, 2014). O Brasil possui disponibilidade de terras cultiváveis para o plantio da cana-de-açúcar, tecnologia de produção e a estrutura de distribuição de seus produtos. Porém, no intuito de aumentar as áreas de plantio, a produção desta cultura está sendo expandida para áreas com clima menos favorável. Assim, se faz necessária a busca por novos modelos de utilização dos recursos hídricos, principalmente em locais que apresentem grandes períodos de estiagem (CONAB, 2012; MAPA, 2014). A falta de água é um dos principais fatores que prejudicam o pleno desenvolvimento das culturas. As primeiras respostas das plantas à diminuição do fornecimento de água é a indução do fechamento estomático e a diminuição da pressão de turgor foliar (TAIZ & ZEIGER, 2009). Posteriormente, as plantas apresentarão outras alterações morfofisiológicas, como diminuição da expansão foliar e indução do alongamento de raízes, além da abscisão foliar. Pode-se considerar que estas alterações mantem o status hídrico das plantas e reduzem o impacto do déficit hídrico na produção de biomassa (SMIT & SINGELS, 2006). Do ponto de vista fisiológico, a deficiência hídrica ocasiona diminuição da fotossíntese e reduz a produção de fotoassimilados. Quando há alteração no balanço redox celular ocasionado pelo excesso de energia, moléculas tóxicas são produzidas a partir de reações entre o oxigênio atmosférico e intermediários reduzidos, formando as espécies reativas de oxigênio (EROs), como o peróxido de hidrogênio (H2O2). As EROs têm sua produção principal nas mitocôndrias, cloroplastos e peroxissomos e podem induzir, em casos mais severos, a degradação de proteínas, a peroxidação lipídica bem como danos e alterações no material genético, afetando componentes chave do metabolismo. Para combater os efeitos deletérios destes compostos reativos, o sistema antioxidante das plantas é ativado por meio de reações mediadas por enzimas (BIENERT et al., 2007; GILL & TUTEJA, 2010; ISHIBASHI et al., 2011). Em condição de baixa disponibilidade hídrica, o cultivo de genótipos que apresentam menor inibição da fotossíntese e menor redução do acúmulo de biomassa é uma possível alternativa para garantir a produtividade em ambientes restritivos (SINCLAIR et al., 2008). 1 Como a deficiência ocorre no solo, as raízes das plantas são os primeiros órgãos afetados e espera-se que a produção de EROs seja aumentada. Nesse contexto, o metabolismo antioxidante nas raízes deve ser capaz de metabolizar as EROs, impedindo maiores danos às trocas gasosas e à produção dos fotoassimilados. Portanto, genótipos tolerantes ao déficit hídrico devem apresentar uma rápida resposta do sistema antioxidante nas raízes, preservando o aparato fotossintético. Além dos efeitos diretos das EROs no metabolismo fotossintético, sabe-se que o H2O2 é um inibidor da atividade das aquaporinas, afetando também o transporte de água na planta e, consequentemente, o aparato estomático (CHEESEMAN, 2007; QUAN et al., 2008; SALES et al., 2013). O presente trabalho tem por objetivo testar a hipótese de que existe variação genotípica em cana-de-açúcar em resposta ao aumento da concentração de peróxido de hidrogênio (H2O2) no sistema radicular. Assim, o genótipo tolerante ao déficit hídrico apresentaria uma resposta do sistema antioxidante radicular mais efetiva frente ao aumento do H2O2 no meio radicular, reduzindo o impacto negativo dessa ERO no metabolismo das plantas. Essas apresentariam maior condutância hidráulica das raízes, maior abertura estomática e fotossíntese se comparadas a plantas de um genótipo sensível ao déficit hídrico. 2 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A cultura da cana-de-açúcar: variações genotípicas frente ao déficit hídrico O Brasil é o maior produtor da cana-de-açúcar e seu cultivo encontra-se em todas as regiões do país, destacando-se os estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e São Paulo, sendo esse último responsável por mais de 50% de toda a produção brasileira. A cultura tem sua grande importância na indústria de açúcar e álcool, anidro e hidratado (LUCCHESI, 2008; IBGE, 2011; CONAB, 2012; MAPA, 2014). A expansão da produção vem ocorrendo em áreas da região sul, sudeste, centro-oeste e nordeste do país. Porém, a produtividade das últimas safras tem sido afetada pela má distribuição das chuvas (AGRIANUAL, 2013). Problemas ocasionados pela estiagem são frequentes em todos os Estados produtores do Norte e do Nordeste e em regiões do estado de São Paulo, fazendose necessário o uso de técnicas de irrigação, que aumentam o custo da produção (LUCCHESI, 2008; CONAB, 2012; IBGE, 2012). O cultivo da cultura da cana-de-açúcar é realizado pelo plantio de segmentos do colmo. Nos 30 primeiros dias de desenvolvimento originam-se as raízes de fixação e a planta é mantida pelas reservas do colmo e pelos nutrientes e água absorvidos pelas raízes. Após dois a três meses de plantio o sistema radicular já está desenvolvido e a sua profundidade varia conforme o genótipo e as condições do local como umidade, temperatura e nutrição do solo (LUCCHESI, 2008). Plantas ao serem submetidas ao déficit hídrico apresentam alterações importantes, iniciando com a diminuição do volume celular, aumento na concentração do protoplasto e sua progressiva desidratação. A primeira e mais sensível reação ao déficit hídrico é a diminuição da turgescência (LARCHER, 2004). Medidas osmorregulatórias são iniciadas para auxiliar na manutenção do volume celular e assim garantir a abertura estomática e a assimilação de CO2. As células produzem nos vacúolos compostos osmorreguladores que não interferem nas funções enzimáticas e promovem o ajuste osmótico, garantindo a integridade da membrana, de proteínas e enzimas. A integridade da membrana e a funcionalidade da célula em geral só pode ser preservada ou recuperada dependendo do grau de degradação das membranas e de sua capacidade de reparo (LARCHER, 2004; DESIKAN, 2004; GUIMARÃES et al., 2008; CARLIN & SANTOS, 2009). O ajuste osmótico se desenvolve de forma lenta, possibilitando maior retirada da água firmemente retida no solo. 3 A expansão foliar e o alongamento de raízes são mais sensíveis ao déficit hídrico por serem dependentes do turgor celular, que é afetado no início do estresse (BRAY et al., 2000; TAIZ & ZEIGER, 2009). A diminuição da área foliar exposta à radiação solar é uma resposta precoce ao déficit hídrico, reduzindo a transpiração e garantindo o suprimento de água por períodos mais longos (PIMENTEL, 2004; ZHAO, 2013). Em eventos de déficit hídrico mais prolongado, a abscisão foliar ocorre pelo aumento da síntese de ácido abscísico e do hormônio etileno. Aumento no crescimento das raízes é possível pela economia de energia e de carbono através da inibição da expansão foliar. Em solos com baixa umidade, os ápices das raízes perdem turgor induzindo crescimento preferencial das raízes em direção às áreas do solo ainda úmidas (BRAY et al., 2000; TAIZ & ZEIGER, 2009). Em cana-de-açúcar sob déficit hídrico, o primeiro órgão a detectar a falta de água é o sistema radicular (CRUZ DE CARVALHO, 2008; HEINEN et al., 2009) e quando essa condição alcança a parte aérea promove decréscimo da condutância estomática (gs), causando diminuição da transpiração e da assimilação de CO2. O fechamento estomático é uma das primeiras estratégias para evitar a desidratação (MACHADO et al., 2009) e afeta a fotossíntese devido à redução do substrato CO2. A interrupção da entrada de CO2 no mesofilo causa menor carboxilação e assim menor consumo dos produtos da atividade fotoquímica, NADPH e ATP. Cria-se então uma situação de excesso de pressão energética no aparato fotoquímico que pode levar à fotoinibição e diminuição da eficiência quântica do fotossistema II (FSII), como verificado em cana-de-açúcar sob déficit hídrico (SILVA et al., 2007; RIBEIRO et al., 2013). Na falta de água, a queda da fotossíntese pode ser relacionada também à redução dos teores de clorofila, diminuição da atividade fotoquímica e bioquímica (MACHADO et al., 2009; RIBEIRO et al., 2013). Em longo prazo, o déficit hídrico afeta o acúmulo de matéria seca do colmo e de sólidos solúveis no caldo, o perfilhamento e o número e crescimento de entrenós (SINGELS et al., 2000; ZHAO et al., 2013). Respostas de aclimatação eficientes podem indicar materiais com potencial de produção em condições de estresse moderado (MACHADO, et al., 2009; BASNAYAKE et al., 2012; RIBEIRO et al., 2013). Segundo SMIT & SINGELS (2006) o grau das alterações morfofisiológicas depende da intensidade da deficiência hídrica e varia conforme o genótipo. A cana-de-açúcar é uma cultura de genoma híbrido e poliploide, havendo grande variação genotípica (SOUZA & SLUYS, 2010). As regulações química e hidráulica do crescimento atuam em conjunto, variando de acordo com o genótipo, com as condições do solo e com a extensão dos danos pelo estresse (BACON et al., 2002). Neste sentido, o melhoramento genético da cultura é realizado com o intuito de desenvolver variedades mais produtivas, mais 4 adaptadas a colheitas mecanizadas e com maior tolerância às condições estressantes, como a restrição hídrica, ataque de pragas e doenças (LANDELL & BRESSIANI, 2008; MANN & SANTOS, 2009). Nesse contexto, acredita-se que o conhecimento dos mecanismos fisiológicos responsáveis pelo aumento da eficiência do uso da água e da tolerância ao déficit hídrico seja essencial para o contínuo desenvolvimento de novas variedades de cana-deaçúcar (INMAN-BAMBER et al., 2005; ZHAO et al., 2013). 2.2 Relações hídricas e aquaporinas Na parte aérea, a superfície de área foliar é mais ocupada pelas células epidérmicas do que pelos estômatos. A epiderme é uma camada de células derivadas da protoderme que protege as folhas da perda de água, de choques mecânicos e da entrada de bactérias e fungos patogênicos. Para conter a perda de água para o ar circundante da folha, a epiderme produz uma cutícula externa feita de cera e cutina, que são substâncias lipídicas impermeáveis, responsáveis pela baixíssima transpiração cuticular. Assim, o caminho usual do vapor de água da folha para a atmosfera durante a transpiração é através dos estômatos (NOBEL, 1999; TAIZ & ZEIGER, 2009; NABORS, 2012). O estômato controla a saída do vapor de água pelas folhas e a entrada de CO2, sendo a abertura estomática controlada pela conformação das duas células-guardas que circundam o poro estomático. Quando as células-guardas absorvem água, as paredes externas mais finas se distendem e geram um afastamento entre as células, permitindo a abertura de um orifício, o ostíolo. Quando as células-guardas estão relativamente flácidas os estômatos se fecham e assim o grau de hidratação das células define a conformação dos estômatos (NOBEL, 1999; NABORS, 2012). O fechamento dos estômatos em resposta à seca é uma típica via de transdução de sinais. Em condição de perda excessiva de água por transpiração tem-se a participação do hormônio ácido abscísico (ABA), oriundo de redistribuição, biossíntese ou transferência das raízes para a parte aérea, chegando às células-guardas e causando o fechamento estomático. O ABA se liga a proteínas receptoras na membrana das células-guardas e esta ligação induz a formação de EROs, como o H2O2 sintetizado via NADPH oxidase, causando a abertura de canais de Ca+2 na membrana celular e induzindo a entrada de cátion no citoplasma. Um aumento nos níveis de proteínas ativam canais de cálcio adicionais no tonoplasto induzindo a liberação do cálcio do vacúolo. O Ca+2 acumulado será responsável pela saída de íons Cl- e inibição da entrada de íons K+ na célula, promovendo a despolarização da membrana. Dentro das células ocorre o acúmulo de íons Ca+2 e um aumento do pH, despolarizando a membrana. 5 Uma nova saída de K+ e de Cl- dos vacúolos para o citosol reduz a concentração osmótica e então a água sai da célula alterando a conformação das células-guardas (NOBEL, 1999; PEI et al., 2000; NABORS, 2012). A habilidade da planta em manter seu balanço hídrico é fundamental para garantir sua sobrevivência em condições ambientais adversas. Alterações na disponibilidade hídrica no solo afetam rapidamente a permeabilidade das células (MAUREL et al., 2008). Afetando outros níveis de organização, o déficit hídrico pode limitar o desenvolvimento do organismo em última instância (YORDANOV et al., 2000; MACHADO et al., 2009). A água no contínuo solo-planta-atmosfera é transportada de acordo com o gradiente de potencial da água e a demanda evaporativa exige que a água perdida pela transpiração seja reposta para a devida manutenção de hidratação dos tecidos. Nas raízes, a entrada de água ocorre com maior facilidade nas regiões onde a resistência ao movimento é menor (MARENCO & LOPES, 2009). O transporte de água longitudinalmente ou de forma axial para a parte aérea se dá pelo xilema, que possui paredes secundárias espessas e lignificadas, com poros que ligam células adjacentes facilitando a ascensão da água (NOBEL, 1999). O transporte radial de água se dá por três rotas: apoplástica, onde a água passa pelos espaços intercelulares; simplástica, na qual a água entra em contato com o citoplasma e se move célula a célula via plasmodesmo, estabelecendo um contínuo citoplasmático; e a transcelular, na qual a água atravessa o plasmalema celular. O transporte simplástico e transcelular são conhecidos como transporte célula a célula e não é possível distinguir a água que passa separadamente por eles (STEUDLE & PETERSON, 1998; PIMENTEL, 2004). A passagem da água por canais específicos foi descoberta na tentativa de explicar o transporte de água dentro das plantas uma vez que a bicamada lipídica dificulta a passagem da água. Em 1992, descobriu-se a existência das aquaporinas, proteínas integrais de membrana que são estruturas presentes na membrana plasmática e que facilitam a passagem da água por difusão transmembranar (BIENERT et al., 2007). As aquaporinas estão dispostas na membrana plasmática em arranjos com funcionalidade independentes e são classificadas de acordo com a similaridade da sequência de nucleotídeos (YE & STEUDLE, 2006), sendo as mais importantes as subfamílias das proteínas da membrana plasmática (PIP) e das proteínas do tonoplasto (TIP). Estudos revelaram a presença frequente das aquaporinas nos tecidos dos feixes vasculares, nas células do parênquima do xilema e nas células companheiras do floema, sugerindo sua participação no transporte de água entre xilema e floema (KNIPFER et al., 2011). Assim, a contribuição das aquaporinas está no transporte célula a célula, pela passagem transcelular e simplástica (STEUDLE, 2000). As aquaporinas facilitam a passagem 6 rápida e passiva da água pelas membranas celulares e são responsáveis por até 95% da permeabilidade da água na membrana plasmática (HENZLER et al., 2004). Três formas de regulação do transporte de água mediado pelas aquaporinas são propostas, a saber: (a) variação na abundância ou expressão das aquaporinas, sendo a forma de regulação mais importante; (b) movimento destas por sítios celulares; e (c) o estado de abertura/fechamento (portão) das aquaporinas (SUI et al., 2001; HACHEZ et al., 2012). A permeabilidade das membranas à água é então definida pela presença de distintas isoformas de aquaporinas e regulada geneticamente, sendo responsável pela eficiência diferencial de absorção e transporte via plasmodesmo (KNIPFER et al., 2011). Em condições normais diz-se que a expressão das aquaporinas apresenta papel importante não apenas nas relações hídricas no sistema radicular mas também da parte aérea, afetando os processos fisiológicos relacionados (STEUDLE, 2000; ZHANG et al., 2008; HEINEN et al., 2009). Como exemplo, verificou-se aumento da expressão de PIPs nas raízes de genótipos de arroz tolerantes ao déficit hídrico, ao passo que o material sensível não apresentou variação significativa na expressão de PIPs (LIAN et al., 2006). 2.3 Estresse oxidativo e metabolismo antioxidante Assim como o déficit hídrico, outros fatores, abióticos e/ou bióticos, interferem na fotossíntese e são indutores em potencial do estresse oxidativo. Entre estes fatores podem ser apontadas temperaturas extremas, salinidade, toxidez por metais pesados, deficiências nutricionais, condições anóxicas e ataque de patógenos (DESIKAN et al., 2004). Devido ao estresse, a planta apresentará uma redução no uso de energia captada e o estresse oxidativo terá origem no desbalanço entre a oferta de energia obtida dos fótons absorvidos e a quantidade de energia efetivamente utilizada pela fotossíntese (CRUZ DE CARVALHO, 2008; CHEESEMAN, 2007). Moléculas causadoras do estresse oxidativo têm origem no oxigênio que se torna reativo a partir do fornecimento de energia em sítios de transporte de elétrons e fontes enzimáticas. Estima-se que entre 1% e 2% do O2 consumido seja desviado para a produção de EROs em diferentes locais subcelulares (BHATTACHARJEE, 2005). A oxidação da água no FSII ocorre no complexo de produção de oxigênio, onde a liberação de uma molécula de O 2 requer a oxidação de duas moléculas de água e a remoção de quatro elétrons (TAIZ & ZEIGER, 2009). A energia luminosa excita a molécula de clorofila resultando em alta energia de excitação em forma molecular de vida longa, podendo reagir com o oxigênio e formar 7 EROs. Os pigmentos excitados doam energia ao O2, produzindo o radical superóxido (O2-·) (LAWLOR, 2001). Na respiração mitocondrial, a redução de quatro elétrons produz em condição normal uma molécula de água pela enzima do complexo IV citocromo oxidase. Porém, na reação acidental de um elétron com outros componentes do transporte de elétrons tem-se a formação de EROs e estima-se que entre 1% e 5% do O2 consumido nas mitocôndrias resulte na produção de EROs (MOLLER, 2001; TAIZ & ZEIGER, 2009). Nos cloroplastos, o FSI e FSII são os locais principais para a produção do oxigênio singleto e O 2-·. Nas mitocôndrias, complexo I, ubiquinona e complexo III da cadeia transportadora de elétrons (CTE) são os principais locais da produção do O2-· (GILL & TUTEJA, 2010). Em condição de estresse oxidativo os compostos reduzidos do oxigênio atmosférico alteram o metabolismo celular e um dos resultados é a peroxidação de ácidos graxos polinsaturados por meio de rupturas ou encurtamento da membrana celular levando ao aumento de fluidez e da permeabilidade. As proteínas por sua vez reagem direta ou indiretamente com produtos finais da peroxidação lipídica, levando a modificações e quebra das cadeias laterais. Outro efeito da presença de espécies reativas é a alteração do DNA, inclusive o mitocondrial por meio de mutações genéticas (DESIKAN, 2004; TAIZ & ZEIGER, 2009). A dismutação de O2-· é facilitada a partir da adição de mais um elétron de outro O2-· e posterior protonação, resultando na geração do peróxido de hidrogênio (HUNG et al., 2005; YANG et al., 2007). Esta espécie reativa na presença de metais de transição, como cobre e ferro, pode reagir e produzir o radical hidroxila (OH·) na chamada reação de Fenton. A OH· é conhecida como a espécie mais reativa e danosa por reagir com todas as moléculas biológicas como DNA, lipídios e proteínas, por sua facilidade de difusão entre as membranas e pela falta de uma enzima antioxidante específica para sua remoção (LAWLOR, 2001; DESIKAN, 2004; GILL & TUTEJA, 2010). Nestas circunstâncias, as plantas se utilizam de um complexo sistema antioxidante de defesa contra possíveis danos pela produção das EROs. Este sistema deve ser eficiente na eliminação de baixas concentrações das EROs e rápido o bastante para eliminá-las conforme são produzidas (LAWLOR, 2001). Este sistema envolve enzimas como a superóxido dismutase, catalase e ascorbato peroxidase (NETO, 2005; CRUZ DE CARVALHO, 2008). A superóxido dismutase (SOD) é a primeira enzima na linha de defesa do sistema antioxidante e a mais efetiva, por ser uma enzima onipresente e de alta velocidade de reação. O produto da SOD através da dismutação de radicais superóxido é o H2O2 (Figura 1), sendo posteriormente oxidado a O2. As SODs são classificadas conforme seus cofatores: cobre/zinco 8 (Cu/Zn-SOD), manganês (Mn-SOD) e ferro (Fe-SOD), e são localizadas em diferentes compartimentos celulares. O aumento da atividade de SOD tem sido observado em várias espécies submetidas a condições estressantes (BIENERT et al., 2007). O2 SOD ·- H2O2 APX CAT H2O Figura 1 - Produção de H2O2 pela enzima superóxido dismutase (SOD) por dismutação do ânion superóxido, e ação desintoxicante das enzimas catalase (CAT) e ascorbato peroxidase (APX), convertendo H2O2 a H2O. A ascorbato peroxidase (APX) é uma enzima localizada em todos os compartimentos de produção de EROs, onde pode funcionar como um regulador de H2O2 em nível celular (NETO, 2005; CRUZ DE CARVALHO, 2008). A APX tilacoidal e estromal tem sua grande importância na regulação dos processos redox em plantas, como na síntese de NADPH e na produção de ATP (LAWLOR, 2001). A APX está envolvida na manutenção do metabolismo celular no início da condição estressante e na sinalização, por um ajuste fino da concentração de ERO (MITLER, 2002), pois possui alta afinidade por H2O2 (µM) e a reação contra esta molécula necessita da ação conjunta dos complexos antioxidantes do ciclo da glutationa. Assim como a SOD, aumentos da atividade de APXs são observados em condições de estresse (NETO et al., 2006). A catalase (CAT) está localizada predominantemente nos peroxissomos, podendo atuar como um removedor do excesso de H2O2 (na faixa de mM) sob condições estressantes, apesar de ter menor afinidade com esta ERO comparada a APX. A CAT não tem sua atividade afetada pelo estado redox das células uma vez que não necessita de redutores equivalentes para sua função (MITLER, 2002). Pode dismutar grande quantidade de H2O2 com apenas uma molécula e sua grande importância está na remoção de H2O2 gerado nos peroxissomos por oxidases envolvendo a β-oxidação de ácidos graxos e fotorrespiração. Tem a capacidade de gerar dismutação direta do H2O2 a água e O2 (GILL & TUTEJA, 2010). Um aspecto importante é a ação conjunta das enzimas no sistema antioxidante (Figura 1), ocorrendo um balanço entre as enzimas SOD, CAT e APX de forma que na supressão de uma delas, as outras enzimas compensem sua ação para garantir a efetividade do sistema 9 antioxidante. Embora haja essa característica, CAT e APX não são completamente redundantes, cada uma tendo seu sítio principal de ação (WILLEKENS et al., 1997). Enfim, o balanço entre as enzimas SOD e as responsáveis pela eliminação do H2O2 regula a presença de O2-· e H2O2 nas células (BOWLER et al., 1991). NAYAR & GUPTA (2006) verificaram que as atividades da SOD e da CAT foram significativamente maiores nas raízes do que nas folhas de plantas de milho em condições de estresse hídrico leve, sugerindo diferenças nos mecanismos de defesa dos órgãos. Em pinhãomanso, SILVA et al. (2010) verificaram que a atividade da CAT, APX e SOD foram estimuladas sob condições de estresse por alta temperatura. NETO et al. (2006) observaram que a atividade da CAT teve maior participação na eliminação do H 2O2 do que a enzima APX em folhas e raízes de milho em estresse salino, hipotetizando que a CAT seja a enzima mais importante na desintoxicação de H2O2 na folhas. A tolerância à seca pode ser garantida pelo aumento da expressão das enzimas antioxidantes para combater as EROs em vários compartimentos celulares. No cloroplasto, o controle da produção e proteção contra EROs se mostrou essencial para a tolerância à seca e salinidade (MITLER, 2003; MITLER et al., 2004). CIA et al. (2012) verificaram que folhas do genótipo de cana-de-açúcar sensível à seca apresentaram maior acúmulo de produtos de peroxidação lipídica e de H2O2 sob déficit hídrico. Já o genótipo tolerante apresentou aumento da atividade das enzimas CAT e APX. Em folhas de cana-de-açúcar, SALES et al. (2013) encontraram relação entre os níveis de fotossíntese e a atividade do sistema antioxidante, com o genótipo tolerante à seca apresentando maior atividade da SOD e APX na fase de recuperação do estresse. MEDEIROS et al. (2014) também observaram aumento na atividade de SOD e APX e manutenção da atividade da enzima CAT nas folhas de cana-de-açúcar submetidas a estresse salino. Também em folhas de cana-de-açúcar, BOARETTO et al. (2014) reportaram que a enzima CAT foi responsável pela queda dos níveis de H2O2 e a SOD foi considerada a enzima responsável pelo melhor desempenho do sistema antioxidante e tolerância da cana-de-açúcar em condição estressante. Estudos relacionando o sistema antioxidante e as relações hídricas ainda são escassos e a maioria dos trabalhos que avaliam respostas antioxidantes foca apenas na parte aérea ou no sistema radicular de forma separada e sem estabelecimento de relação entre esses órgãos. Tal fato limita a nossa compreensão de como as plantas reagem a situações estressantes quando se considera a interação entre as relações hídricas e os metabolismos antioxidante e fotossintético. 10 2.4 Peróxido de hidrogênio em plantas Em sistemas biológicos, o peróxido de hidrogênio é conhecido como uma ERO com importantes ações deletérias em organelas e membranas celulares. O grande interesse em pesquisa com H2O2 tem relação com suas características distintas das outras EROs. O H2O2 é uma molécula sem carga e não é um radical; é relativamente estável sob condições fisiológicas; tem meia-vida longa se comparado às outras espécies reativas (ms vs. µs); seu número de oxidação é intermediário (-1); seu momento dipolo é muito semelhante ao da água e pode ser convertida à água e oxigênio sem a necessidade de equivalentes de redução (BIENERT et al., 2006; 2007). Além dos efeitos deletérios, o H2O2 é conhecido também como uma molécula de transdução de sinal, atuando como mensageiro secundário, já que um pequeno acúmulo deste composto é suficiente para o sistema antioxidante agir de forma imediata. Acredita-se que o H2O2 ative amplificadores de sinal em locais específicos dentro das células (DAT et al., 2003), ativando receptores de proteína, fatores de transcrição e inibição de fosfatases e culminando na ativação de rotas de desintoxicação (MITLER, 2002; MITLER et al., 2004). Além de transdutor de sinal, existem evidências de que o H2O2 seja uma molécula que auxilie no desenvolvimento, na proliferação e na morte celular (BIENERT et al., 2006; SLESAK et al., 2007; CRUZ DE CARVALHO, 2008). O H2O2 atua como uma molécula sinalizadora em processos celulares autócrinos, ou seja, estimulando atividades dentro da célula, como o fechamento estomático induzido pelo ABA, e parácrinos ou atividades intercelulares (BIENERT et al., 2006). A molécula passou a ser aceita como um mensageiro secundário devido a sua relativa longa meia-vida e por sua alta permeabilidade pelas membranas (QUAN et al., 2008) estando envolvida em várias reações e sinalizações em cascata necessárias ao crescimento da planta, como na coordenação do funcionamento raiz-parte aérea e no controle estomático (CHEESEMAN, 2007). Sabe-se que o H2O2 apresenta dois papéis principais: em baixas concentrações tem como função a aclimatação e promoção da tolerância à determinada condição de estresse, e em altas concentrações leva à morte celular programada (GILL & TUTEJA, 2010). ISHIBASHI et al. (2011) verificaram que a aspersão foliar de solução de H2O2 1 mM em plantas de soja atrasou os sintomas de déficit hídrico como o amarelecimento e murcha foliar por manter o conteúdo relativo de água na folha. Esses autores ainda observaram que as plantas submetidas à seca e à aspersão do H2O2 apresentaram taxa fotossintética e condutância estomática maiores do que as plantas submetidas à seca e sem aspersão do H 2O2. No entanto, 11 DUNAND et al. (2007) verificaram redução do comprimento de raízes submetidas à 0,5 a 1,0 mM de H2O2. YANG et al. (2007) e JIANG et al. (2013) verificaram aumento na concentração de cálcio nas raízes devido ao H2O2 (50 µM) e sugeriram uma possível relação com o fechamento estomático induzido pelo ácido abscísico (ABA). Esta sinalização antecipada evitaria danos celulares devido à desidratação e seria uma resposta de aclimatação com impacto positivo na eficiência do uso da água em condição de déficit hídrico passageiro ou leve. A concentração do H2O2 na célula é dada pelo influxo e formação intracelular assim como pelo efluxo e ação desintoxicante do sistema enzimático (BIENERT et al., 2006). O H2O2 é gerado principalmente nos cloroplastos via reação de Mehler, nas mitocôndrias pelo transporte de elétrons e nos peroxissomos pela fotorrespiração (CHEESEMAN, 2007). A produção é mais rápida em peroxissomos e cloroplastos, sendo as mitocôndrias as mais vulneráveis aos danos oxidativos (CRUZ DE CARVALHO, 2008; ISHIBASHI et al., 2011). Sabe-se que devido à sua condição estrutural e propriedades físico-químicas muito semelhantes às da água, o H2O2 tem facilidade no transporte simplástico entre as membranas através das aquaporinas (JOHNSON et al., 2003; BIENERT et al., 2006; 2007; SLESAK et al., 2007). DUNAND et al. (2007) observaram que plantas de Arabidopsis expostas à H2O2 em solução nutritiva por sete dias tiveram produção de EROs no apoplasto das raízes por ação das NADPH oxidases da membrana plasmática e acumularam H2O2 na zona de diferenciação. Outros estudos verificaram que o apoplasto é um importante sítio de alocação de ânion superóxido sendo convertido espontaneamente ou por SOD extracelular a H 2O2 (BOLWELL et al., 2001). O citosol, por sua vez, não é tido como um sítio de produção de H2O2, mas como um dissipador deste, a partir do vazamento para outros compartimentos celulares (SLESAK et al., 2007). Pesquisas mostram que o H2O2 diminui a condutância hidráulica de raízes, no entanto, o mecanismo ainda não é completamente entendido. A primeira hipótese e a mais estudada é a inibição das aquaporinas pela formação de um portão oxidativo que fecha o canal. O portão oxidativo seria uma peça importante na regulação do transporte de água através das membranas celulares em condições de estresse (YE & STEUDLE, 2006; BIENERT et al., 2007; EHLERT et al., 2009). Supõe-se que os canais de água são fechados quando o radical hidroxila (OH·), produzido pela reação de Fenton ou outra ERO, oxida-o diretamente, causando a inibição das aquaporinas. Outra interpretação seria de que a permeabilidade das 12 aquaporinas seja danificada por danos causados pelas EROs, como a peroxidação lipídica (YE & STEUDLE, 2006; BIENERT et al., 2007; HEINEN et al., 2009). Com a indução do acúmulo de EROs nas raízes de Arabidopsis, BOURSIAC et al. (2008) verificaram inibição da capacidade de absorção de água mediada pelas PIPs das raízes. Além disso, observou que o H2O2 exógeno foi capaz de reduzir a condutância hidráulica das raízes em até 90% em menos de 15 minutos. O autor sugere que o H2O2 causa uma espécie de compartimentalização das PIPs, inativando assim sua função e induzindo um mecanismo de sinalização celular. 13 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Material vegetal Dois genótipos de cana-de-açúcar (Saccharum spp.) desenvolvidos pelo Programa Cana do Instituto Agronômico (PROCANA IAC) foram utilizados: IACSP94-2094, tolerante ao déficit hídrico, recomendado para solos com baixa disponibilidade de água (LANDELL et al., 2005; RIBEIRO et al., 2013) e IACSP94-2101, sensível à falta de água, recomendado para solos com disponibilidade de água média a alta e solos moderadamente drenados (LANDELL et al., 2005). Para a obtenção das mudas plantou-se discos de colmo contendo uma gema das variedades selecionadas. Foram tomados os devidos cuidados quanto à homogeneidade dos discos contendo as gemas. Os discos foram plantados em substrato comercial composto de turfa de Sphagnum, vermiculita expandida, calcário dolomítico, gesso agrícola e traços de fertilizante NPK (Carolina Soil do Brasil, Vera Cruz, Rio Grande do Sul, Brasil) e após 30 dias do plantio, quando as plantas tinham de três a quatro folhas, as mesmas foram transferidas para solução nutritiva. 3.2 Condições experimentais 3.2.1 Preparo da solução nutritiva O sistema radicular foi lavado em água deionizada para a remoção do substrato aderido à superfície da raiz. Posteriormente, as plantas foram transferidas para caixas plásticas com capacidade para 15 L, contendo solução nutritiva modificada de Sarruge (1975), diluída ¼. Após cinco dias de aclimatação das mudas ao novo ambiente de crescimento, a solução nutritiva foi renovada, aumentando a concentração dos nutrientes (½ força). Seguindo-se mais cinco dias nesta condição, a solução foi renovada à força iônica completa e, após aclimatação, os tratamentos foram iniciados. As fontes nutricionais e suas respectivas concentrações foram: nitrato de potássio (101,97 g L-1), nitrato de cálcio (236,15 g L-1), sulfato de magnésio (246,48 g L-1), nitrato de amônio (80,01 g L-1), di-hidrogênio fosfato de potássio (136,09 g L-1), cloreto de potássio (111,81 g L-1), ferro EDDHMA (33,33 g L-1), ácido bórico (1,69 g L-1), sulfato de zinco (1,10 14 g L-1), sulfato de cobre (0,16 g L-1), sulfato de manganês (0,92 g L-1) e molibdato de amônio (2,32 g L-1). Em relação ao manejo da solução nutritiva, valores de condutividade elétrica da solução foram mantidos entre 80% e 85% do valor original (1,8 a 2,0 mS cm-1) com o auxílio de um condutivímetro portátil microprocessado (TEC-4P-MP, Tecnal, Piracicaba, São Paulo, Brasil). Foram também monitorados o volume da solução nas caixas plásticas e a aeração da solução foi realizada um compressor de ar. O pH foi mantido entre 5,5 e 6,0 mediante adição de KOH ou HCl 0,1 mol L-1, sendo medido com pHmetro portátil (TEC-3P-MP, Tecnal, Piracicaba, São Paulo, Brasil). 3.2.2 Condições ambientais O experimento foi conduzido em câmara de crescimento modelo PGR15 (Conviron, Winnipeg, Manitoba, Canadá), com 12 horas de fotoperíodo e as variáveis ambientais controladas. A temperatura do ar foi de 30/20ºC (dia/noite), a umidade relativa do ar foi mantida em 80% e a radiação fotossinteticamente ativa (Q) em 800 µmol m-2 s-1, com o sistema de iluminação situado a aproximadamente de 20 cm acima das plantas. 3.2.3 Tratamentos com peróxido de hidrogênio O experimento foi estabelecido em caixas plásticas (tratamentos), cada uma acondicionando oito plantas. No momento da indução dos tratamentos, foi verificado o volume da solução nutritiva de manutenção das plantas e retirou-se o compressor de ar. Na administração do H2O2, o mesmo era cuidadosamente solubilizado na solução nutritiva, evitando contato com a luz. Os tratamentos foram estabelecidos com o objetivo de induzir condições contrastantes, sendo uma com baixa e outra com alta concentração de H2O2 na solução nutritiva. Para isso, foram necessários testes para verificar a sensibilidade das trocas gasosas da cana-de-açúcar ao H2O2. Em testes preliminares foram avaliados os efeitos de solução nutritiva com concentrações de H2O2 variando entre 0,25 e 90 mmol L-1. Com base nas avaliações de trocas gasosas, optou-se por utilizar soluções com concentração baixa (4,5 mmol L-1) e alta (90 mmol L-1) de H2O2. Ao quantificar por método volumétrico as concentrações reais de H2O2 na solução nutritiva, constatou-se uma pequena variação entre os valores planejados e os estabelecidos: 4,5 vs. 3 mmol L-1 (baixa concentração) e 90 vs. 80 15 mmol L-1 (alta concentração). Nesse estudo, serão consideradas as concentrações efetivamente obtidas de H2O2 na solução nutritiva, i.e., 3 e 80 mmol L-1. 3.3 Quantificação do peróxido de hidrogênio (H2O2) na solução nutritiva e em material vegetal Para a confirmação das concentrações utilizadas em solução nutritiva dos tratamentos com peróxido de hidrogênio foi utilizado o método volumétrico de Iodometria, segundo BACCAN et al. (2001). Esta técnica de oxidação se estabelece na titulação do iodo produzido e liberado a partir da ação redutora de íons iodeto sobre o peróxido de hidrogênio em meio ácido. O procedimento foi iniciado com a coleta e transferência de alíquota de 25 mL da solução nutritiva para erlenmeyer de 250 mL. Adicionou-se 10 mL de ácido sulfúrico (H2SO4) 2 mol L-1 para evitar a formação de iodato. Em seguida, acrescentou-se 1 grama de iodeto de potássio (KI), responsável por evitar perdas do iodo por volatilização, formando íons triiodeto. Catalisou-se a reação com a adição de três gotas de solução de molibdato de amônio [(NH4)6 Mo7 O24. 4 H2O)], 3% (m/v) e pH 7,0. A titulação foi realizada com solução-padrão de tiossulfato de sódio (Na2S2O3) 0,1 mol L-1 e 3 mL de solução de amido como indicador, que garante à solução uma coloração que varia de azul intensa à marrom escura devido à formação de complexos de adsorção com o iodo. O ponto final foi verificado pela mudança da cor marrom escura para incolor. A concentração de peróxido de hidrogênio na solução nutritiva, determinada em mol L-1, foi obtida considerando-se que 2 moles de iodeto reagem com 1 mol de H2O2 (massa molar = 34,01 g mol-1 ) para produzir 1 mol de I2, que por sua vez reage com 2 moles de tiossulfato de sódio. A determinação de H2O2 em material vegetal foi realizada seguindo o método de ALEXIEVA et al. (2001). Coletou-se o homogeneizado obtido de 0,1 g de tecido vegetal fresco moído em nitrogênio líquido com 0,02 g de polivinilpolipirrolidona (PVPP) e 1 mL de TCA 0,1% (p/v). O extrato foi centrifugado a 10.000 rpm e 4ºC por 15 minutos. O meio de reação foi constituído de 0,8 mL de KI 1 mol L-1, 0,2 mL de tampão fosfato de potássio e 0,2 mL do extrato bruto. Os microtubos permaneceram no escuro e no gelo por 1 hora, e após este período a leitura de absorbância foi feita a 390 nm. A curva de calibração foi confeccionada com pontos de 0 a 15 µg mL-1 de H2O2 e o resultado foi expresso em µmol H2O2 g-1 MF. 16 3.4 Avaliações fisiológicas 3.4.1 Extrato enzimático e atividade de enzimas do sistema antioxidante Para obtenção do extrato, macerou-se em almofariz 0,2 g de massa fresca de tecido vegetal (folha ou raiz) com nitrogênio líquido, 0,02 g de PVPP 1% e 2 mL de meio de extração contendo tampão fosfato de potássio 0,1 mol L-1 pH 6,8, etilenodiaminotetracético (EDTA) 0,1 mmol L-1 e fluoreto de fenilmetilsulfônico (PMSF) 1 mmol L-1. Após centrifugação do homogeneizado a 15.000 g por 15 minutos e 4ºC, coletou-se o sobrenadante (extrato bruto) que foi conservado em banho de gelo até o momento das determinações. Para a determinação da atividade da enzima superóxido dismutase (SOD, EC 1.15.1.1) foi utilizado o método de GIANNOPOLITIS & RIES (1977). Os meios de reação eram constituídos por 1,5 mL de tampão fosfato de sódio 100 mmol L -1 pH 7,8, 0,78 mL de metionina 50 mmol L-1, 0,06 mL de EDTA 5 mmol L-1, 0,345 mL de água deionizada e 0,030 mL do extrato bruto. Em seguida, adicionou-se 0,06 mL de riboflavina 100 µmol L-1 e 0,225 mL de cloreto de azul de nitrotetrazólio (NBT) 1 mmol L -1. Um grupo de tubos foi exposto à luz de lâmpada fluorescente (30 W) por 4 minutos, e o outro grupo permaneceu no escuro. A absorbância foi medida a 560 nm. Uma unidade de SOD é a quantidade da enzima necessária para inibir em 50% a fotorredução do NBT e a unidade de sua atividade é expressa em U min1 mg-1 de proteína. A atividade da enzima catalase (CAT, EC 1.11.1.6) foi quantificada utilizando o método de HAVIR & MCHALE (1987). O meio de reação era constituído por 1,5 mL de tampão fosfato de potássio 100 mmol L-1 pH 6,8, 1,1 mL de água deionizada e 0,3 mL de solução de H2O2 125 mmol L-1. Os tubos foram tampados e levados a banho-maria a 25ºC por 2 minutos. Adicionou-se 0,1 mL do extrato bruto e acompanhou-se o decréscimo na absorbância a 240 nm no tempo de 1 minuto a 25ºC. A atividade da CAT foi calculada utilizando-se o coeficiente de extinção molar 36 M -1 cm -1 e expressa em µmol min-1 mg-1 de proteína. A quantificação da atividade da enzima ascorbato peroxidase (APX, EC 1.11.1.11) foi feita seguindo o método de NAKANO & ASADA (1981). O meio de reação era constituído por 1,5 mL de tampão fosfato de potássio 100 mmol L-1 pH 6,0, 0,86 mL de água deionizada, 0,24 mL de ácido ascórbico 10 mmol L-1 e 0,3 mL de solução de H2O2 10 mmol L-1. Os tubos seguiram para banho-maria a 25ºC por 2 minutos, e em seguida, adicionou-se 0,1 mL do extrato bruto e acompanhou-se o decréscimo da absorbância a 290 nm no tempo de 1 minuto 17 a 25ºC. A atividade da APX foi calculada utilizando-se o coeficiente de extinção molar 2,8 mM-1 cm -1 e expressa em µmol min-1 mg-1 de proteína. 3.4.2 Proteínas solúveis totais A quantificação de proteínas solúveis totais seguiu o protocolo modificado de BRADFORD (1976). O reagente corante de proteína (Bradford reagent Sigma, B6916 Coomassie brilliant blue, BG-250) foi preparado na razão de 1:4 de água deionizada. A amostra para a determinação foi preparada coletando-se em tubo de ensaio 0,03 mL do extrato enzimático, 0,07 mL de água deionizada e 3 mL do reagente de Bradford diluído. A leitura de absorbância foi feita a 595 nm. A curva padrão foi feita com quatro concentrações de albumina de soro bovino (BSA): 0,002, 0,005, 0,010 e 0,020 mg. O resultado foi expresso em mg g-1 MF. 3.4.3 Peroxidação lipídica A avaliação da peroxidação lipídica pela quantificação do aldeído malônico produzido foi feita segundo o método de CAKMAK & HOST (1991). Para a obtenção do extrato, uma amostra de 0,160 g de massa fresca do tecido vegetal foi macerada em 1,5 mL de solução de ácido tricloroacético (TCA) 0,1% (p/v) em almofariz, e em seguida, centrifugada a 10.000 rpm por 15 minutos e o sobrenadante recolhido. Transferiu-se 0,5 mL do extrato para um tubo de ensaio com rosca contendo 1,5 mL da solução de ácido tiobarbitúrico 0,5% (TBA). Os tubos foram incubados em banho-maria a 90ºC por 20 minutos, com agitação. A reação foi interrompida em banho de gelo, e após resfriamento o conteúdo de cada tubo foi transferido para microtubo de 2 mL e centrifugado a 10.000 rpm por 10 minutos. Posteriormente, os microtubos permaneceram em repouso por 30 minutos em temperatura ambiente, e em seguida leu-se a absorbância da amostra em 532 nm e 600 nm para descontar a absorbância inespecífica a 600 nm. Para calcular a quantidade de MDA na amostra considerou-se o coeficiente de absortividade do MDA de 155 mM -1 cm-1 e o resultado foi expresso em nmol g1 MF. 18 3.4.4 Condutância hidráulica das raízes Avaliações da condutância hidráulica (Lp) das raízes foram realizadas segundo o procedimento descrito por AROCA et al. (2001) e ilustrado na Figura 2. A planta foi transferida da caixa plástica com solução nutritiva de manutenção para um recipiente de plástico contendo 300 mL da mesma solução nutritiva em que as plantas estavam. Em seguida cortou-se a planta a aproximadamente 5 cm abaixo das folhas. A extremidade cortada permaneceu no lado externo da câmara, em contato com algodão (seco e previamente pesado) inserido em um tubete de plástico para permitir a coleta da seiva exsudada. O segmento da planta na solução foi selada em câmara de pressão do tipo Scholander (modelo 3005, Soil Moisture Equipment Corp., Goleta, Califórnia, EUA) de modo a impedir a passagem de ar. As pressões exercidas foram de 0,2, 0,4 e 0,6 MPa e os tempos em cada pressão variaram de 8 a 12 minutos. O algodão úmido foi pesado ao final (massa final) e substituído a cada aumento de pressão. Por fim, as raízes foram armazenadas em solução de etanol 80% para posterior quantificação da área radicular com o auxílio do software Safira (EMBRAPA, 2013). As medidas foram realizadas no meio do fotoperíodo para evitar diferenças de Lp ocasionadas pela mudança do período do dia, sendo Lp calculado pela relação entre o fluxo de exsudação e a pressão aplicada corrigida para a área radicular, sendo expresso em mmol m-2 s-1 MPa-1. Aplicação de pressão por alguns minutos Algodão seco em tubete de plástico Corte da parte aérea Superfície de corte Absorção da seiva pelo algodão Transferência das raízes em solução para bomba de pressão Solução nutritiva mais H2O2 Coleta das raízes para quantificação da área radicular Figura 2 – Procedimento para avaliação da condutância hidráulica das raízes (Lp). 19 3.4.5 Trocas gasosas e atividade fotoquímica As trocas gasosas foram medidas com um analisador de gases por infravermelho modelo Li-6400 (Licor, Lincoln, Nebrasca, EUA) acoplado a um fluorômetro modulado (6400-40 LCF, Licor, Lincoln, Nebrasca, EUA). As variáveis analisadas nas folhas foram: assimilação de CO2 (A), condutância estomática (gs) e concentração intercelular de CO2 (CI). Estas variáveis foram medidas sob condições de alta radiação (Q = 2000 μmol m-2 s-1) e concentração de CO2 do ar mantida a 380 μmol mol-1, de acordo com MACHADO et al. (2009). Foram calculadas a eficiência intrínseca do uso da água (A/gs) e a eficiência instantânea de carboxilação (A/CI) (MACHADO et al., 2009). Medidas simultâneas de trocas gasosas e da emissão de fluorescência da clorofila foram realizadas, sendo o transporte aparente de elétrons (ETR) estimado. Em tecidos adaptados ao escuro por 30 minutos com auxílio de papel alumínio, estimou-se a eficiência quântica potencial do fotossistema II (FV/FM). Os cálculos foram realizados de acordo com ROHÁCEK (2002). As avaliações foram realizadas 15 minutos após a aplicação de H2O2 em solução nutritiva, na primeira folha totalmente expandida e com a lígula aparente (folha +1), no terço médio do limbo foliar. A diferença de pressão de vapor entre a folha e o ar (VPD L) foi de 2,2±0,3 kPa e a temperatura foliar (T f) foi de 29,1±0,3 ºC durante as avaliações. 3.4 Delineamento experimental e análises estatísticas O delineamento experimental foi em blocos casualizados em esquema fatorial 2 (genótipos) x 3 (concentrações de H2O2). Os dados foram submetidos à análise de variância (ANAVA) e quando detectada diferença significativa, as médias (n=3) foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 20 4 RESULTADOS 4.1 Superóxido dismutase (SOD) Folhas do genótipo IACSP94-2101 não apresentaram variações significativas na atividade da SOD após 15 minutos de exposição de H2O2, independente da concentração (Figura 3a). Já o genótipo IACSP94-2094 teve aumento da atividade da SOD foliar na concentração de 80 mmol L-1 (Figura 3a). O genótipo IACSP94-2101 apresentou a maior atividade foliar da enzima nas plantas controle se comparado ao genótipo IACSP94-2094. Em raízes, houve aumento da atividade da SOD apenas em IACSP94-2094 com 80 mmol L-1 -1 -1 SOD (U min mg prot.) (Figura 3b). 100 (a) 80 IACSP94-2101 IACSP94-2094 * (b) a 60 40 * a ab 20 b a 0 03 a a bb a a 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) a 80 Figura 3 - Atividade da enzima superóxido dismutase (SOD) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre as concentrações de H2O2, enquanto os asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 4.2 Peróxido de hidrogênio (H2O2) Após 15 minutos da aplicação de H2O2 na solução nutritiva, o teor de H2O2 determinado nas folhas foi maior nas plantas submetidas ao tratamento de 80 mmol L-1, se comparadas às plantas controle e às tratadas com 3 mmol L-1 (Figura 4a). Nas raízes, os dois 21 genótipos apresentaram aumento importante no teor de H2O2 no tratamento de 80 mmol L-1, sendo observados maiores valores em IACSP94-2094 (Figura 4b). -1 H2O2 (mol g MF) 3 (a) IACSP94-2101 IACSP94-2094 (b) * 2 a 1 0 * b ab a b c a 03 bb a bb 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) 80 Figura 4 - Concentração de peróxido de hidrogênio (H2O2) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto os asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 4.3 Catalase (CAT) Na avaliação de CAT em folhas verificou-se que apenas o genótipo IACSP94-2101 apresentou alterações, como menor atividade no tratamento de 80 mmol L-1 após 15 minutos de tratamento (Figura 5a). Os genótipos apresentaram diferenças na atividade da enzima nas plantas controle e tratadas com 3 mmol L-1 de H2O2, sendo que as maiores atividades foram verificadas em IACSP94-2101. De forma evidente verificou-se aumento significativo na atividade da CAT nas raízes de IACSP94-2094 quando expostas a 80 mmol L-1 (Figura 5b). Nessa condição, a atividade da CAT foi 6 vezes maior na IACSP94-2094 quando comparada à IACSP94-2101. 22 (a) 15 * * -1 -1 CAT (mol min mg prot.) 20 10 a 5 0 IACSP94-2101 IACSP94-2094 a a ab b * a * a ab bb b 03 (b) 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) b 80 Figura 5 - Atividade da enzima catalase (CAT) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 4.4 Ascorbato peroxidase (APX) O genótipo IACSP94-2101 apresentou queda da atividade de APX nas folhas em 3 e 80 mmol L-1, ao passo que IACSP94-2094 apresentou queda na atividade apenas no tratamento com maior concentração de H2O2 (Figura 6a). Comparando os genótipos, pôde-se constatar que IACSP94-2094 apresentou maior atividade da enzima nas plantas controle e nas tratadas com 3 mmol L-1. Em raízes, IACSP94-2101 apresentou redução severa na atividade da APX em 80 mmol L-1; entretanto, com médias superiores ao do genótipo IACSP94-2094 nas plantas controle e tratadas com 3 mmol L-1 (Figura 6b). IACSP94-2094 apresentou redução na atividade da APX apenas em 80 mmol L-1 (Figura 6b). 4.5 Proteínas solúveis totais Os genótipos apresentaram teores similares de proteínas, tanto nas folhas como nas raízes (Figura 7). Em relação ao tratamento com H2O2, não foram observadas respostas significativas tanto em folhas como em raízes após 15 minutos de exposição (Figura 7). 23 IACSP94-2101 IACSP94-2094 (a) * -1 8 *a 4 (b) *a -1 APX (mol min mg prot.) 12 *a b 0 a 03 a b b a b b ab 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) 80 -1 Proteínas s. totais (mg g MF) Figura 6 - Atividade da enzima ascorbato peroxidase (APX) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 10 (a) 8 aa 6 aa 4 (b) a a a 2 0 IACSP94-2101 IACSP94-2094 a aa 03 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) a a 80 Figura 7 - Concentração de proteínas solúveis totais nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas iguais indicam que não houve diferença estatística entre os tratamentos (p>0,05). 24 4.6 Peroxidação lipídica Em relação à peroxidação lipídica, não foram verificadas variações significativas nas folhas em função do tratamento com H2O2, em ambos os genótipos (Figura 8a). Nas raízes, o genótipo IACSP94-2101 não apresentou mudança em relação às plantas controle após 15 minutos de tratamento (Figura 8b). Já o genótipo IACSP94-2094 apresentou aumento na peroxidação das raízes apenas em 3 mmol L-1. Embora com significado estatístico, esse resultado é inconsistente uma vez que a peroxidação lipídica em 80 mmol L -1 foi inferior à observada em 3 mmol L-1. Em 80 mmol L-1 de H2O2, o genótipo IACSP94-2094 apresentou menor dano de membrana nas raízes se comparado ao IACSP94-2101 (Figura 8b). (a) IACSP94-2101 IACSP94-2094 (b) 30 -1 MDA (nmol g MF) 40 a a a 20 a 10 a a 0 * * aa a b 03 a 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) b 80 Figura 8 - Concentração de aldeído malônico (MDA) nas folhas (a) e nas raízes (b) de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 4.7 Condutância hidráulica das raízes A condutância hidráulica das raízes foi reduzida com o aumento da concentração de H2O2 em ambos os genótipos (Figura 9). Todavia, IACSP94-2101 apresentou queda de Lp de 46% em 3 mmol L-1 e de 85% em 80 mmol L-1, enquanto que IACSP94-2094 apresentou redução de Lp de 27% em 3 mmol L-1 e de 60% em 80 mmol L-1. Logo, o genótipo IACSP94- 25 2094 tem Lp menos afetado pela aplicação de H2O2 e apresenta maiores valores que -2 -1 -1 Lp (mmol m s MPa ) IACSP94-2101 em ambos os tratamentos com H2O2 (Figura 9). 2,5 2,0 1,5 IACSP94-2101 IACSP94-2094 * 1,0 * 0,5 0,0 a b 03 c 80 H2O2 (mmol L ) -1 Figura 9 - Condutância hidráulica de raízes (Lp) em genótipos de cana-de-açúcar IACSP942101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada ponto representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 4.8 Trocas gasosas Houve redução da assimilação de CO2 com o aumento da dose de H2O2 na solução nutritiva, em ambos os genótipos (Figura 10a). Todavia, as redução em A foi sempre menor em IACSP94-2094 se comparado ao IACSP94-2101, sendo cerca de 4% vs. 30% em 3 mmol L-1 e de 45% vs. 64% em 80 mmol L-1. IACSP94-2094 ainda apresentou maiores valores de fotossíntese se comparado ao IACSP94-2101 após 15 minutos de tratamento com H2O2 (Figura 10a). Na análise da condutância estomática, verificou-se queda conforme o aumento da dose de H2O2 na solução nutritiva para ambos os genótipos (Figura 10b). Embora tenha apresentado maior condutância estomática do que IACSP94-2094 nas plantas controle, houve maior redução de gs em IACSP94-2101 quando tratada com H2O2 (Figura 10b). 26 * -2 -1 20 0,20 (a) 16 12 IACSP94-2101 IACSP94-2094 * 0 0,15 b b ab 03 0,10 a c 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) c 0,05 -1 4 *a -2 8 (b) gs (mol m s ) A (mol m s ) 24 c 80 0,00 Figura 10 - Assimilação de CO2 (A, em a) e condutância estomática (gs, em b) na folha +1 de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. Em (a), a interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Em (b), letras minúsculas distintas indicam diferença estatística entre os tratamentos, enquanto asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). Após 15 minutos de tratamento ambos os genótipos apresentaram redução de A/CI em 80 mmol L-1 (Figura 11a), variando entre -32% (IACSP94-2094) e -37% (IACSP94-2101). Em relação à eficiência do uso da água, verificou-se aumento de A/gs em ambos os genótipos quando tratados com H2O2 (Figura 11b). Os valores médios de A/CI e A/gs em IACSP942094 foram sempre superiores aos de IACSP94-2101 quando as plantas foram submetidas ao H2O2. 4.9 Atividade fotoquímica Não houve decréscimo da eficiência quântica potencial do fotossistema II (FV/FM) nas plantas submetidas às diferentes concentrações de H 2O2, sendo os valores similares em ambos os genótipos (Tabela 1). 27 -1 -1 -2 2,5 2,0 250 (a) * * 200 * 1,0 100 50 aa 03 b ba 80 03 -1 H2O2 (mmol L ) -1 0,0 * (b) 150 1,5 0,5 IACSP94-2101 IACSP94-2094 A/gs (mol mol ) A/CI (mol m s Pa ) 3,0 a 0 80 Figura 11 - Eficiência instantânea de carboxilação (A/CI, em a) e eficiência intrínseca do uso da água (A/gs, em b) na folha +1 de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asteriscos indicam diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). Tabela 1 - Eficiência quântica potencial do fotossistema II (Fv/Fm) na folha +1 de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2101 e IACSP94-2094 em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Tratamentos IACSP94-2101 IACSP94-2094 Controle 0,770 ± 0,003 aA 0,772 ± 0,006 aA 3 mmol L-1 0,763 ± 0,011 aA 0,766 ± 0,004 aA 80 mmol L-1 0,771 ± 0,005 aA 0,760 ± 0,005 aA Cada valor representa a média de três repetições ± desvio padrão. Letras minúsculas iguais indicam que não houve diferença estatística entre os tratamentos, enquanto letras maiúsculas iguais indicam que não houve diferença entre os genótipos (p>0,05). O transporte aparente de elétrons (ETR) foi reduzido pelo aumento da concentração de H2O2 na solução nutritiva após 15 minutos de exposição, em ambos os genótipos (Figura 12). No entanto, a redução de ETR foi menor em IACSP94-2094 quando comparado a IACSP942101, principalmente no tratamento com 80 mmol L-1 (-25% vs. -38%). IACSP94-2094 teve maior ETR que IACSP94-2101 quando tratado com 80 mmol L-1 de H2O2. 28 -2 -1 ETR (mol m s ) 150 IACSP94-2101 IACSP94-2094 120 * 90 60 30 0 ab c 03 80 H2O2 (mmol L ) -1 Figura 12 - Transporte aparente de elétrons (ETR) na folha +1 de genótipos de cana-deaçúcar IACSP94-2101 (●) e IACSP94-2094 (○) em função da concentração de H2O2 na solução nutritiva. Medidas realizadas após 15 minutos de aplicação de H2O2. Cada símbolo representa a média de três repetições ± desvio padrão. A interação genótipo vs. H2O2 não foi significativa e as letras comparam as doses de H2O2 considerando as médias compostas pelos dois genótipos. Asterisco indica diferença estatística entre os genótipos (Tukey, p<0,05). 29 5 DISCUSSÃO Os resultados revelaram que a aplicação de H2O2 na solução nutritiva afetou significativamente as plantas de cana-de-açúcar. Todavia, os efeitos foram dependentes da concentração de H2O2 usada e também do genótipo de cana-de-açúcar considerado. A discussão dos resultados será feita em três etapas e na primeira consideraremos os efeitos esperados da aplicação de H2O2 no sistema radicular das plantas. Na segunda e terceira etapas trataremos de como baixas e altas concentrações, respectivamente, afetam a fisiologia da cana-de-açúcar, dando ênfase às variações genotípicas. Em geral, a aplicação do H2O2 na solução nutritiva é reconhecida e sinalizada pelo sistema radicular gerando um estresse oxidativo ainda no apoplasto pelo acúmulo de ânion superóxido, promovendo assim a formação de outras EROs (BIENERT et al., 2006; BOLWELL et al., 2001). O acúmulo de EROs nas raízes desencadeia uma resposta antioxidante (LAWLOR, 2001; CRUZ DE CARVALHO, 2008) e a primeira enzima a agir é a superóxido dismutase, responsável pela dismutação do ânion superóxido e geração de H2O2 (BIENERT, 2007). A degradação do H2O2 é obtida pela ação das enzimas catalase e ascorbato peroxidase, sendo essa última mais importante na presença de baixas concentrações do H2O2. A catalase, por sua vez, atua na eliminação de altas concentrações de H 2O2, tendo a função principal de composto desintoxicante (MITLER, 2002). De acordo com o grau do estresse gerado danos celulares podem ocorrer, como a degradação de proteínas e da membrana plasmática, que serão maiores ou menores dependendo da capacidade do sistema antioxidante em degradar o H2O2 (DESIKAN, 2004; GILL & TUTEJA, 2010). O transporte das EROs é provavelmente inexistente na maioria dos casos, visto a curta meia vida destas, o que impossibilitaria seu transporte à longas distâncias. Porém, se existe alguma ERO capaz de ser transportada a pequenas distâncias no xilema pelo fluxo transpiratório é o H2O2 devido a sua maior meia vida de alguns milissegundos comparada às outras EROs (MULINEAUX et al., 2006; SLESAK et al., 2007). A presença do H2O2 na raiz poderia afetar de alguma forma o transporte de água por entre as membranas celulares por inativação das proteínas de transporte de água, as aquaporinas. Com a perda de função das aquaporinas, a condutância hidráulica é reduzida e assim há redução no fluxo de água na planta (YE & STEUDLE, 2006; BIENERT et al., 2007; POU et al., 2013). Na condição de baixa disponibilidade hídrica a abertura estomática é reduzida para evitar perda excessiva de vapor de água para a atmosfera. No entanto, o fechamento 30 estomático afeta também a assimilação de CO2 devido à menor disponibilidade de CO2, causando inicialmente um desbalanço entre a atividade fotoquímica e a bioquímica (LAWLOR, 2001; CRUZ DE CARVALHO, 2008). Dessa forma, há acúmulo de intermediários reduzidos na cadeira transportadora de elétrons nos tilacóides e aumento da produção de EROs nas folhas. Nesse contexto, a atividade fotoquímica e bioquímica da fotossíntese pode ser reduzida e tal redução será regulada pela capacidade do sistema antioxidante nas folhas. Organismos menos sensíveis à falta de água possivelmente apresentam maior fluxo de água na planta e por isso podem ser menos afetados quando se considera a abertura estomática e a assimilação de CO2 (MACHADO et al., 2009). Além da manutenção do fluxo de água, o sistema antioxidante de genótipos menos sensíveis deve ser efetivo para impedir ou minimizar os efeitos deletérios gerados pelo estresse oxidativo (MITLER et al., 2004). Quando consideradas as respostas da cana-de-açúcar à baixa concentração de H2O2 na solução nutritiva, não houve aumento na atividade da enzima SOD na raiz em ambos os genótipos, sugerindo que não houve a geração de estresse oxidativo no sistema radicular (Figura 3b). Esta interpretação pode ser confirmada pela ausência de alteração na quantidade de H2O2 no tecido radicular e da manutenção ou mesmo redução da atividade das enzimas responsáveis por sua eliminação, CAT e APX (Figuras 4b, 5b e 6b). Embora tenha sido verificado aumento na concentração de MDA no genótipo IACSP94-2094, aparentemente este aumento foi inconsistente e os teores de proteína nas raízes dos genótipos permaneceram inalterados (Figuras 8b e 7b). A condutância hidráulica das raízes (Lp) foi reduzida com a aplicação de 3 mmol L -1 de H2O2 em ambos os genótipos, com consequente decréscimo da condutância estomática e da assimilação de CO2 (Figuras 9, 10b, 10a). A redução de Lp poderia ser explicada pela inibição do fluxo de água através das aquaporinas causado pelo H2O2 (EHLERT et al., 2009). No entanto, Lp foi reduzido sem que houvesse aumento do teor de H2O2 nas raízes, sugerindo a sensibilidade das raízes ao aumento da concentração de H2O2 no substrato de crescimento, i.e., na solução nutritiva. A redução da fotossíntese foi associada à menor abertura estomática e de ETR (Figuras 10b e 12). Como não houve redução no teor de clorofila (dados não apresentados) e FV/FM permaneceu inalterado em ambos os genótipos (Tabela 1), pode-se sugerir que a redução de ETR representa um mecanismo fisiológico relacionado ao fechamento dos centros de reação do FSII para evitar o excesso de pressão energética nos fotossistemas. Ainda, as reações de carboxilação da fotossíntese parecem não ter sido afetadas 31 pela aplicação de 3 mmol L-1 de H2O2 na solução nutritiva, conforme indicado pela relação A/CI (Figura 11a). Mesmo com a redução de ETR, os resultados sugerem a ocorrência de alteração no balanço redox nas folhas de IACSP94-2101, a qual estaria associada ao excesso de pressão energética no aparato fotoquímico. De fato, houve redução na atividade da APX e aumento do teor de H2O2 nas folhas de IACSP94-2101 (Figuras 4a e 6a). Ainda que trabalhos citem que concentrações de H2O2 consideradas normais em folhas geralmente são menores que 0,1 µmol g-1 MF (VELJOVIK-JOVANOVIC et al., 2002), podendo a chegar a 5 µmol g-1 MF (CHESSEMAN, 2006), teores ao redor de 0,5 µmol g-1 MF foram suficientes para gerar alterações na atividade das enzimas do sistema antioxidante nesse estudo. Nas folhas, o genótipo IACSP94-2094 apresentou aumento na atividade da enzima SOD, porém, esta não causou mudanças no teor de H2O2 (Figuras 3a e 4a). Esta resposta está de acordo com a ausência de alteração das atividades da APX e da CAT (Figuras 5a e 6a). No genótipo IACSP94-2101, a concentração de SOD nas folhas não foi alterada apesar de um pequeno aumento na concentração de H2O2 e a justificativa desse aumento seria a inibição da atividade da APX (Figuras 3a, 4a e 6a). A enzima APX é encontrada substancialmente nos cloroplastos, onde ocorre constantemente a oxidação e redução de glutationa e ascorbato necessários no ciclo do ascorbato-glutationa. A remoção do H2O2 é obtida por ação da APX que oxida ascorbato a monodeidroascorbato (GILL & TUTEJA, 2010). Mesmo com o aumento no teor de H2O2 em IACSP94-2101, não houve dano de membrana e o teor de proteínas foliares permaneceu inalterado (Figuras 7a e 8a). Com base nessas respostas fisiológicas, pode-se sugerir um modelo de como o aumento da concentração de H2O2 na solução nutritiva afeta genótipos de cana-de-açúcar com tolerância diferencial ao déficit hídrico (Figura 13). A principal diferença entre os genótipos diz respeito à sensibilidade ao H2O2, sendo o material tolerante à seca (IACSP94-2094) menos afetado quando considerados Lp, gs e A se comparado ao genótipo sensível IACSP942101 (Figuras 9 e 10a,b). Além da menor sensibilidade, IACSP94-2094 apresentou aumento da atividade da SOD nas folhas enquanto IACSP94-2101 teve redução da atividade da APX e aumento do teor de H2O2 nas folhas (Figura 13). 32 IACSP94-2101 SENSÍVEL IACSP94-2094 TOLERANTE ·¯ ·¯ O2 O2 HO HO 2 2 HO HO 2 2 2 2 ·¯ ·¯ O2 O2 HO HO 2 2 = Figura 13 - Reação do sistema antioxidante, trocas gasosas e relações hídricas nas folhas e nas raízes de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2094 (tolerante ao déficit hídrico) e IACSP94-2101 (sensível ao déficit hídrico) ao aumento da concentração de H2O2 na solução nutritiva (3 mmol L-1). SOD: superóxido dismutase; APX: ascorbato peroxidase; CAT: catalase; MDA: aldeído malônico; Prot: proteínas s. totais; O2 -·: ânion superóxido; H2O2: peróxido de hidrogênio; H2O: água; Lp: condutância hidráulica de raízes; gs: condutância estomática; A: assimilação de CO2, A/CI: eficiência instantânea de carboxilação e A/gs: eficiência intrínseca do uso da água. A cor verde indica aumento da atividade/teor; a cor amarela indica manutenção da atividade/teor, a cor vermelha indica redução da atividade/teor. Quando considerada a alta concentração de H2O2 na solução nutritiva, houve aumento na atividade da enzima SOD nas raízes do genótipo IACSP94-2094 (Figura 3b), indicando estresse oxidativo. Como consequência, houve aumento na concentração de H2O2 nas raízes de IACSP94-2094 (Figura 4b) e a via de desintoxicação do H2O2 ativada foi pela enzima CAT, já que a atividade da APX foi reduzida (Figura 6b). Sabe-se que a catalase tem como função primordial a eliminação de H2O2 (MITLER, 2002; GILL & TUTEJA, 2010), que chegou a concentrações ao redor de 2 mol g-1 MF nas raízes de IACSP94-2094 (Figura 5b). Pode-se considerar que a ação do sistema antioxidante foi efetiva no impedimento de danos 33 de membrana já que não houve alteração nas concentrações de MDA e o teor de proteínas permaneceu estável (Figuras 7b e 8b). Nas raízes do genótipo IACSP94-2101, houve acúmulo de H2O2 e este não foi gerado por dismutação via atividade da SOD (Figuras 3b e 4b). Uma possível explicação seria a dismutação espontânea do ânion superóxido a H2O2 (BOLWELL et al., 2001), todavia, os resultados indicam que houve acúmulo de H2O2 devido à redução das atividades da APX e CAT nas raízes de IACSP94-2101 (Figuras 4b, 5b e 6b). Apesar disso, o teor de proteínas permaneceu estável, assim como o nível de peroxidação lipídica (Figuras 7b e 8b). Seria possível que uma análise posterior (após horas de tratamento) da integridade de membranas e do teor proteico revelasse danos celulares significativos e assim as respostas fisiológicas observadas nesse estudo representam as primeiras reações do metabolismo, antes da ocorrência de um estresse oxidativo severo. A redução da atividade da APX nas raízes de IACSP94-2101 poderia estar relacionada à oxidação não enzimática do ascorbato, o seu substrato. Como produto da oxidação do ascorbato, há também a produção de H2O2, o que contribuiria para o aumento dessa ERO nos tecidos (DEBOLT et al., 2007). Além disso, a própria APX assim como outras peroxidases produzem transitoriamente H2O2 na presença de ferro III (BINDSCHEDER et al., 2006). Em relação à inibição da CAT, POLIDOROS & SCANDALIOS (1999) reportaram que altas concentrações de H2O2 podem levar a uma “explosão” oxidativa, causando uma inibição sistêmica da expressão gênica de CAT. As altas concentrações de H2O2 nas raízes causaram redução de Lp em ambos os genótipos, com consequências para gs e A (Figuras 9 e 10a,b). A redução de Lp estaria associada à inibição das aquaporinas mediada pelo aumento do teor de H 2O2 nas raízes dos dois genótipos estudados (BOURSIAC et al., 2008). Apesar de IACSP94-2094 ter acumulado mais H2O2 na raiz, a inibição da Lp foi menor quando comparado a IACSP94-2101 (Figuras 4b e 9). Logo, o genótipo IACSP94-2101 apresenta maior sensibilidade de Lp ao acúmulo de H2O2. Seria razoável supor que exista uma sensibilidade diferencial dos tipos de aquaporinas presentes nas raízes dos genótipos ao H2O2, de forma que a presença ou abundância de um determinado tipo cause variação na sensibilidade ao H2O2. Neste estudo, há evidências de que a condição estressante no sistema radicular é sinalizada hidraulicamente, via redução do transporte de água e consequente fechamento estomático. Além da redução da atividade fotoquímica, houve também redução da eficiência de carboxilação da fotossíntese nas plantas tratadas com 80 mmol L -1 de H2O2 (Figuras 11a e 12). Uma vez que a fotossíntese é reduzida e há pressão energética no aparato fotoquímico, 34 com acúmulo de intermediários reduzidos, a produção de EROs nos cloroplastos é uma consequência do metabolismo oxigênico (BIEHLER & FOCK, 1996). Tal como constatado em baixa concentração de H2O2, o decréscimo de ETR parece ser uma resposta fisiológica para reduzir a produção de EROs e impedir maiores danos. Evidências nesse sentido são a manutenção de FV/FM, dos teores de clorofila e de MDA nas folhas (Tabela 1; Figura 8a). Além dessas, a relação ETR/A foi sempre na média de 10 mol mol-1, sugerindo que mesmo com redução de ETR havia elétrons suficientes para permitir a fixação do CO 2. Portanto, a fotossíntese dos genótipos estudados foi inibida por limitações de origem difusiva (estômatos) e bioquímica (carboxilação). Assim como no sistema radicular, verificou-se que a alta concentração do H2O2 na solução nutritiva aumentou a atividade da enzima SOD nas folhas de IACSP94-2094 (Figura 4a), indicando que houve produção de superóxido na parte aérea. Como produto da atividade da SOD, houve aumento no teor de H2O2 nas folhas de IACSP94-2094 e as enzimas APX e CAT não foram ativadas para remover essa ERO (Figuras 4a, 5a e 6a). O genótipo IACSP942101 não apresentou alterações na atividade da SOD e houve aumento do teor de H 2O2 nas folhas associado à redução nas atividades da APX e CAT quando as plantas foram expostas a 80 mmol L-1 de H2O2 na solução nutritiva (Figuras 4a, 5a e 6a). Não foram detectados danos de membrana e houve manutenção na concentração de proteínas solúveis totais em ambos os genótipos (Figuras 7a e 8a). Nesse estudo também é proposto um modelo de como as plantas de cana-de-açúcar reagem à concentração elevada de H2O2 no substrato de crescimento, tendo como base as respostas fisiológicas detectadas nas raízes e nas folhas (Figura 14). Basicamente, as diferenças entre o genótipo tolerante (IACSP94-2094) e o sensível (IACSP94-2101) residem na indução da atividade da SOD nas folhas e raízes e da CAT nas raízes das plantas tolerantes e na sensibilidade da CAT nas plantas sensíveis. Enquanto a SOD é a primeira enzima a atuar no sistema antioxidante das plantas dismutando superóxido, as catalases atuam como primeira enzima na desintoxicação do H2O2, sendo posteriormente seguida pela APX que atua na presença do H2O2 apenas em concentrações baixas. A CAT está localizada principalmente nos peroxissomos e atua rapidamente evitando a dispersão do H2O2 para outros compartimentos celulares (MITLER, 2002; YABUTA et al., 2002). 35 IACSP94-2101 SENSÍVEL IACSP94-2094 TOLERANTE ·¯ ·¯ O2 O2 HO HO 2 2 HO HO 2 2 2 2 ·¯ ·¯ O2 O2 HO HO 2 2 = Figura 14 - Reação do sistema antioxidante, trocas gasosas e relações hídricas nas folhas e nas raízes de genótipos de cana-de-açúcar IACSP94-2094 (tolerante ao déficit hídrico) e IACSP94-2101 (sensível ao déficit hídrico) ao aumento da concentração de H 2O2 na solução nutritiva (80 mmol L-1). SOD: superóxido dismutase; APX: ascorbato peroxidase; CAT: catalase; MDA: aldeído malônico; Prot: proteínas s. totais; O 2 -·: ânion superóxido; H2O2: peróxido de hidrogênio; H2O: água; Lp: condutância hidráulica de raízes; gs: condutância estomática; A: assimilação de CO2, A/CI: eficiência instantânea de carboxilação e A/gs: eficiência intrínseca do uso da água. A cor verde indica aumento da atividade/teor; a cor amarela indica manutenção da atividade/teor, a cor vermelha indica redução da atividade/teor. De uma forma geral, as respostas antioxidantes de IACSP94-2094 parecem ter como intuito o rápido controle do estado redox celular, sendo ativadas mesmo em baixas concentrações de H2O2 no substrato (Figura 13). Esse mecanismo de controle ocorre no sistema radicular e nas folhas para evitar dano oxidativo, sendo uma característica do genótipo que tem tolerância ao déficit hídrico. Por outro lado, pode-se sugerir a menor efetividade do sistema antioxidante enzimático no genótipo sensível à seca, com IACSP94- 36 2101 apresentando maior sensibilidade das relações hídricas e da fotossíntese ao aumento de H2O2 no substrato (Figuras 4b e 10a,b). A estratégia de aumentar a disponibilidade de H2O2 no meio radicular e induzir o aumento de EROs no sistema radicular das plantas poderia simular a ocorrência de um déficit hídrico, uma vez que estresses abióticos também levam ao estresse oxidativo (CRUZ DE CARVALHO, 2008). A condição com menor concentração de H2O2 estaria mais próxima de uma condição real de cultivo de cana-de-açúcar, onde o déficit hídrico é induzido mais lentamente. Nesse contexto, as respostas fisiológicas apresentadas pelo genótipo IACSP942094 estão de acordo com a sua tolerância à seca reportada por MACHADO et al. (2009) e RIBEIRO et al. (2013). Em uma condição de estresse agudo, simulada pela maior concentração de H2O2 no substrato, ambos os genótipos teriam dificuldades na manutenção do balanço hídrico e da fotossíntese, sendo o crescimento limitado. Mesmo sendo severamente afetado, o genótipo IACSP94-2094 ainda assim apresentaria maior fotossíntese do que IACSP94-2101, sendo essa resposta associada à maior atividade fotoquímica e bioquímica (Figuras 10a, 11a e 12). De fato, RIBEIRO et al. (2013) reportou a resistência do aparato fotossintético de IACSP94-2094 em condição de deficiência hídrica, enquanto SALES et al. (2013) observaram também rápida recuperação da fotossíntese nesse genótipo após a ocorrência de estresses simultâneos de seca e baixa temperatura. Tal recuperação foi associada à maior atividade da SOD e da APX em IACSP94-2094 quando comparado ao genótipo sensível (SALES et al., 2013). Evidentemente, as respostas fisiológicas tratadas nesse estudo dizem respeito à reação do metabolismo das plantas após 15 minutos do aumento da concentração de H 2O2 na solução nutritiva, sendo melhorada a nossa compreensão sobre os eventos iniciais associados à indução do estresse oxidativo nas raízes de cana-de-açúcar. Para uma melhor extrapolação dos resultados obtidos nesse estudo para a condição de campo em que as plantas são cultivadas, torna-se necessária a análise temporal mais longa, na escala de dias. Como há poucos relatos na literatura sobre a conexão entre o metabolismo antioxidante, as relações hídricas e o metabolismo fotossintético em plantas, especialmente quando consideradas as raízes e as folhas, a nossa discussão sobre as respostas observadas é limitada. Por outro lado, esta constatação revela uma área na fisiologia de plantas que merece maior atenção, colaborando para uma visão sistêmica do metabolismo vegetal. 37 6 CONCLUSÃO Há variação genotípica em relação à resposta fisiológica da cana-de-açúcar ao aumento da concentração de peróxido de hidrogênio no sistema radicular, sendo as alterações observadas nas raízes associadas a modificações na fisiologia da parte aérea das plantas. O genótipo IACSP94-2094, tolerante ao déficit hídrico, apresenta o sistema antioxidante radicular mais efetivo frente ao aumento do H2O2 no meio radicular, independente da concentração de H2O2. Em baixas concentrações de H2O2, IACSP94-2094 tem o transporte de água e as trocas gasosas menos afetados quando comparado ao genótipo IACSP94-2101, sensível ao déficit hídrico. Essa menor sensibilidade de IACSP94-2094 em altas concentrações de H2O2 está associada ao aumento nas atividades da SOD nas raízes e nas folhas e CAT nas raízes. 38 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRIANUAL - ANUÁRIO DA AGRICULTURA BRASILEIRA. Cana-de-açúcar. Informa economics /FNP. South America. São Paulo: 2013. 354p. ALEXIEVA, V.; SERGIEV, I.; MAPELLI, S.; KARANOV, E. The effect of drought and ultraviolet radiation on growth and stress markers in pea and wheat. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.24, p.1337-1344, 2001. AROCA, R.; TOGNONI, F.; IRIGOYEN, J.J.; SÁNCHEZ-DIAZ, M.; PARDOSSI, A. Different root temperature of two maize genotypes differing in chilling sensitivity. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v.39, p.1067-1073, 2001. BACCAN, N.; ANDRADE, J.C. de.; GODINHO, O.E.S.; BARONE, J.S. Química analítica quantitativa elementar. 3 ed. Campinas: Unicamp, 2001. 308p. BACON, M.A.; DAVIES, W.J.; MINGO, D.; WILKINSON, S. Root signals. In: WAISEL, Y.; ESHEL, A.; KAFKAFI, U. Plant roots. 3 ed. New York: Copyright, 2002. 1120p. BASNAYAKE, J.; JACKSON, P.A.; INMAN-BAMBER, N.G.; LAKSHMANAN, P. Sugarcane for water-limited environments. Genetic variation in cane yield and sugar content in response to water stress. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.63, p.6023-6033, 2012. BHATTACHRJEE, S. Reactive oxygen species and oxidative burst: roles in stress, senescence and signal transduction in plant. Current Science, Bangalore, v.89, p.1113-1121, 2005. BIEHLER, K.; FOCK, H. Evidence for the contribution of the Mehler-Peroxidase reaction in dissipating excess electrons in drought –stressed wheat. Plant Physiology, Rockville, v.112, p.265-272, 1996. BIENERT, G.P.; SCHJOERRING, J.K.; JAHN, T.P. Membrane transport of hydrogen peroxide. Biochimica et Biophysica Acta-Biomembranes. Amsterdam, v.1758, p.994-1003, 2006. BIENERT, G.P.; MOLLER, A.L.B.; KRISTIANSEN, K.A.; SCHULZ, A.; MOLLER, I.M.; SCHHJOERRING, J.K., JAHN, T.P. Specific aquaporins facilitate the diffusion of hydrogen peroxide across membranes. The Journal of Biological Chemistry, Bethesda, v.282, p.11831192, 2007. BINDSCHEDLER, L.V.; DEWDNEY, J.; BLEE, K.A.; STONE, J.M.; ASAI, T.; PLOTNIKOV, J.; DENOUX, C.; HAYES, T.; GERRISH, C.; DAVIES, D.R.; AUSUBEL, F.M.; BOLWELL, G.P. Peroxidase-dependent apoplastic oxidative burst in Arabidopsis required for pathogen resistance. The Plant Journal, Oxford, v.47, p.851-863, 2006. 39 BOARETTO, L.F.; CARVALHO, G.; BORGO, L.; CRESTE, S.; LANDELL, M.G.A.; MAZZAFERA, P.; AZEVEDO, R.A. Water stress reveals differential antioxidant responses of tolerant and non-tolerant sugarcane genotypes. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v.74, p.165-175, 2013. BOLWELL, G.P.; BINDSCHEDLER, L.V.; BLEE, K.A.; BUTT, V.S.; DAVIES, D.R., GARDNER, S.L.; GERRISH, C.; MINIBAYEVA, F. The apoplastic oxidative burst in response to biotic stress in plants: a three-component system. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.53, p.1367-1376, 2002. BOURSIAC, Y.; BOUDET, J.; POSTAIRE, O.; LUU, D.T.; TOURNAIRE-ROUX, C.; MAUREL, C. Stimulus-induced downregulation on root water transport involves reactive oxygen species-activated cell signaling and plasma membrane intrinsic protein internalization. The Plant Journal, Oxford, v.56, p.207-218, 2008. BOWLER, C.; SLLOTEN, L.; VANDENBRANDEN, S.; RYCKE, R. de ; BOTTERMAN, J.; SYBESMA, C.; MONTAGU, M.V.; INZÉ, D. Manganese superoxide dismutase can reduce cellular damage mediated by oxygen radicals in transgenic plants. The EMBO Journal, Oxford, v.10, p.1723-1732, 1991. BRADFORD, M.M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram quantities of protein utilizing the principle of protein dye-binding. Analytical Biochemistry, New York, v.722, p.248-254, 1976. BRAY, E.A.; BAILEY-SERRES, J.; WERETILNYK, E. Responses to abiotic stresses. In: BUCHANAN, B.; GRUISSEM, W.; JONES.R. (Eds). Biochemistry & Molecular Biology of Plants. Rockville: American Society of Plant Physiologists, 2000. p.1158-1203. CAKMAK, I.; HORST, N.J. Effect of aluminium on lipid peroxidation, superoxide dismutase, catalase, and peroxidase activities in root tips of soybean (Glycine max). Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.83, p.463-468, 1991. CARLIN, S.D.; SANTOS, D.M.M. dos. Indicadores fisiológicos da interação entre déficit hídrico e acidez do solo em cana-de-açúcar. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.44, p.1106-1113, 2009. CHEESEMAN, J.M. Hydrogen peroxide concentrations in leaves under natural conditions. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.57, p.2435-2444, 2006. CHEESEMAN, J.M. Hydrogen peroxide and plant stress: a challenging relationship. Plant Stress, Isleworth, v.1, p.4-15, 2007. CIA, M.C.; GUIMARÃES, A.C.R.; MEDICI, L.O.; CHABREGAS, S.M.; AZEVEDO, R.A. Antioxidant responses to water deficit by drought-tolerant and -sensitive sugarcane varieties. Annals of Applied Biology, Warwick, v.161, p.313-324, 2012. CONAB - Companhia nacional de abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: cana-de-açúcar, primeiro levantamento, abril/2012. Brasília: Conab, 2012. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/12_04_10_09_19_04_boletim_de_ca na.pdf> Acesso em: junho/2012. 40 CRUZ DE CARVALHO, M.H. Drought stress and reactive oxygen species. Production, scavenging and signaling. Plant Signaling & Behavior, Austin, v.3, p.156-165, 2008. DAT, J.F. PELLINEN, R.; BEECKMAN, T.; VAN DE COTTE, B.; LANGEBARTELS, C.; KANGASJARVI, J.; INZÉ, D.; BREUSEGEM, F.V. Changes in hydrogen peroxide homeostasis trigger an active cell death process in tobacco. The Plant Journal, Oxford, v.33, p.621-632, 2003. DEBOLT, S.; MELINO, V.; FORD, C.M. Ascorbate as a biosynthetic precursor in plants. Annals of Botany, Londres, v.99, p.3-8, 2007. DESIKAN, R.; HANCOCK, J.T.; NEILL, S.J. Oxidative stress signaling. In: HIRT, H.; SHINOZAKI, K. (Eds.). Plant responses to abiotic stress. Berlin: Springer, 2004. 300p. DUNAND, C.; CRÈVECOEUR, M.; PENEL, C. Distribution of superoxide and hydrogen peroxide in Arabidopsis root and their influence on root development: possible interaction with peroxidases. New Phytologist, Oxford, v.174, p.332-341, 2007. EHLERT, C.; MAUREL, C.; TARDIEU, F.; SIMONNEAU, T. Aquaporin-mediated reduction in maize root hydraulic conductivity impacts cell turgor and leaf elongation even without changing transpiration. Plant Physiology, Rockville, v.150, p.1093-1104, 2009. EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Sistema de Análises de Fibras e Raízes (SAFIRA). Disponível em: <http://www.cnpdia.embrapa.br/labimagem>. Acesso em: 09nov2013. GIANNOPOLITIS, O.; RIES, S.K. Superoxide dismutase: I. Occurrence in higher plants. Plant Physiology, Rockville, v.59, p.309-314, 1977. GILL, S.S.; TUTEJA, N. Reactive oxygen species and antioxidant machinery in abiotic stress tolerance in crop plants. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v.48, p.909-930, 2010. GUIMARÃES, E.R.; MUTTONI, M.A.; MUTTONI, M.J.R.; FERRO, M.I.T.; RAVANELI, G.C.; SILVA, J.A. da. Free proline accumulation in sugarcane under water restriction and Spittlebug infestation. Scientia Agricola, Piracicaba, v.65, p.628-633, 2008. HACHEZ, C.; VESELOV, D.; YE, Q.; REINHARDT, H.; KNIPFER, T.; FRICKE, W.; CHAUMONT, F. Short-term control of maize cell and root water permeability through plasma membrane aquaporin isoforms. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.35, p.185198, 2012. HAVIR, E.A.; MCHALE, N.A. Biochemical and development characterization of multiples forms of catalase in Tobacco-leaves. Plant Physiology, Rockville, v.84, p.450-455, 1987. HEINEN, R.B.; YE, Q.; CHAUMONT, F. Role of aquaporins in leaf physiology. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.60, p.2971-2985, 2009. HENZLER, T.; YE, Q.; STEUDLE, E. Oxidative gating of water channels (aquaporins) in Chara by hydroxyl radicals. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.27, p.1184-1195, 2004. 41 HOOIJMAIJERS, C.; RHEE, J.Y.; KWAK, K.J.; CHUNG, G.C.; HORIE, T.; KATSUHARA, M.; KANG, H. Hydrogen peroxide permeability of plasma membrane aquaporins of Arabidopsis thaliana. Journal of Plant Research, Tóquio, v.125, p.147-153, 2012. HUNG, S.H; YU, C.W, LIN, C.H. Hydrogen peroxide functions as a stress signal in plants. Botanical Bulletin of Academia Sinica, Nankang, v.46, p.1-10, 2005. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento sistemático da produção agrícola. Rio de Janeiro: FIBGE, v. 24, 2011.82 p. INMAN-BAMBER, N.; SMITH, D. Water relations in sugarcane and response to water deficits. Field Crops Research, Amsterdam, v.92, p.185-202, 2005. ISHIBASHI, Y.; YAMAGUCHI, H.; YUASA, T.; IWAYA-INOUE, M.; ARIMA, S. ZHENG, S.H. Hydrogen peroxide spraying alleviates drougth stress in soybean plants. Journal of Plant Physiology, Stuttgart, v.168, p.1562-1567, 2011. JIANG, Z.; ZHU, S.; YE, R.; XUE, Y.; CHEN, A.; AN, L.; PEI, Z.M. Relationship between NaCl- and H2O2- induced cytosolic Ca+2 increases in response to stress in Arabidopsis. Public Library of Science, San Francisco, v.8, p.1-10, 2013. JOHNSON, S.M.; DOHERTY, S.J., CROY, R.R.D. Biphasic superoxide generation in potato tubers: a self amplifying response to stress. Plant Physiology, Rockville, v.13, p.1440-1449, 2003. KAISER, W.M. Reversible inhibition of the Calvin cycle and activation of oxidative pentose phosphate cycle in isolated intact chloroplasts by hydrogen peroxide. Planta, Berlin, v.145, p.377-382, 1979. KNIPFER, T.; BESSE, M.; VERDEIL, J.L., FRICKE, W. Aquaporin-facilitated water uptake in barley (Hordeum vulgare L.) roots. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.62, p.4115-4126, 2011. LANDELL, M.G. de A.; BRESSIANI, J.A. Melhoramento genético, caracterização e manejo varietal. In: DINARDO-MIRANDA, L.L.; VASCONCELOS, A.C.M.; LANDELL, M.G. de A. Cana-de-açúcar. Campinas: Instituto Agronômico. 2008. p.101-156. LANDELL, M.G.A.; CAMPANA, M.P.; FIGUEIREDO, P.; VASCONCELOS, A.C.M; XAVIER, M.A.; BIDOIA, M.A.P.; PRADO, H.; SILVA, M.A.; DINARDO-MIRANDA, L.L.; SANTOS, A.S.; PERECIN, D.; ROSSETTO, R.; SILVA, D.N.; MARTINS, A.L.M.; GALLO, P.B.; KANTACK, R.A.D.; AZANIA, C.A.A.M.; PINTO, L.R.; SOUZA, S.A.C.D. Variedades de cana-de-açúcar para o Centro-Sul do Brasil: 15° liberação do programa cana IAC (1959-2005). Campinas: Instituto Agronômico, 2005. 33p. LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos: Rima, 2004. 531p. LAWLOR, D.W. Photosynthesis. Oxford: BIOS Scientific Publishers Ltda, 2001. 386p. 42 LIAN, H.L.; YU, X.; LANE, D.; SUN, W.N.; TANG, Z.C.; SU, W.A. Upland rice and lowland rice exhibited different PIP expression under water deficit and ABA treatment. Cell Research, Londres, v.16, p.651-660, 2006. LUCCHESI, A.A. Cana-de-açúcar (Saccharum spp.). In: CASTRO, P.R.C.; KLUGE, R.A.; SESTARI, I. Manual de fisiologia vegetal: fisiologia de cultivos. Piracicaba: Editora Agronômica Ceres, 2008. p.58-76. MACHADO, R.S.; RIBEIRO, R.V.; MARCHIORI, P.E.R.; MACHADO, D.F.S.P.; MACHADO, E.C.; LANDELL, M.G.A. Respostas biométricas e fisiológicas ao déficit hídrico em cana-de-açúcar em diferentes fases fenológicas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.44, p.1575-1582, 2009. MANN, R.S.; SANTOS, R.B. dos. Censo varietal. Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão. Sergipe, 2009. 21p. MAPA (Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento). Cana de açúcar. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/vegetal/culturas/cana-de-acucar>. Acesso em: 13jan2014. MARENCO, R.A.; LOPES, N.F. Fotossíntese. In: MARENCO, R.A.; LOPES, N.F. Fisiologia vegetal: fotossíntese, respiração, relações hídricas e nutrição mineral. 3 ed. Viçosa: UFV, 2009. p.47-107. MAUREL C., VERDOUCQ L., LUU D.T. & SANTONI V. Plant aquaporins: membrane channels with multiple integrated functions. Annual Review of Plant Biology, Palo Alto, v.59, p.595–624, 2008. MEDEIROS, C.D.; NETO, J.R.C.; OLIVEIRA, M.T.; RIVAS, R.; PANDOLFI, V.; KIDO, E.A.; BALDANI, J.I.; SANTOS, M.G. Photosynthesis, antioxidant activities and transcriptional responses in two sugarcane (Saccharum officinarum L.) cultivars under salt stress. Acta Physiologiae Plantarum, Oxford, v.36, p.447-459, 2014. MISZALSKI, Z.; SLESAK, I.; NIEWIADOMSKA, E.; BACZEK-KWINTA, R.; LUTTGE, U.; RATAJCZAK, R. Subcellular localization and stress responses of superoxide dismutase isoforms from leaves in the C3-CAM intermediate halophyte Mesembryanthemum crystallium L. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.21, p.169-179, 1998. MITLER, R. Oxidative stress, antioxidants and stress tolerance. Trends in Plant Science, Oxford, v.7, p.405-410, 2003. MITLER, R.; VANDERAUWERA, S.; GOLLERY, M.; BREUSEGEM, F.V. Reactive oxygen gene network of plants. Trends in Plant Science, Oxford, v.9, p. 490-498, 2004. MOLLER, I.M. Plant mitochondria and oxidative stress: electron transport, NADPH turnover, and metabolism of reactive oxidative species. Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, Palo Alto, v.52, p.561-591, 2001. MULLINEAUX, P.M.; KARPINSKI, S.; BAKER, N.R. Spatial dependence for hydrogen peroxide-directed signalling in light-stressed plants. Plant Physiology, Rockville, v.141, p.346-350, 2006. 43 NABORS, M.W. Introdução à botânica. São Paulo: Roca, 2012. 646p. NAKANO, Y.; ASADA, K. Hydrogen peroxide is scavenged by ascorbate-specific peroxidase in spinach chloroplasts. Plant and Cell Physiology, Kyoto, v.22, p.1068-1072, 1981. NAYYAR, H.; GUPTA, D. Differential sensitivity of C3 e C4 plants to water deficit stress: Association with oxidative stress and antioxidants. Environmental and Experimental Botany, Oxford, v.58, p.106-113, 2006. NETO, A.D.A. In: Nogueira, R.J.M.C.; ARAÚJO, E.L.; WILLADINO, L.G.; CAVALCANTE, U.M.T. Estresses ambientais: danos e benefícios em plantas. Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2005. 500p. NETO, A.D.A.; PRISCO, J.T.; ENÉAS-FILHO, C.E.B.A, GOMES-FILHO, E. Effect of salt stress on antioxidative enzymes and lipid peroxidation in leaves and roots of salt-tolerant and salt-sensitive maize genotypes. Environmental and Experimental Botany, Oxford, v.56, p. 87-94, 2006. NOBEL, P.S. Physicochemical & Environmental Plant Physiology. 2 ed. San Diego: Academic Press, 1999. 474p. PEI, Z-M.; MURATA, Y.; BENNING, G.; THOMINE, S.; KLUSENER, B.; ALLEN, G.J.; GRILL, E.; SCHROEDER, J.I. Calcium channels activated by hydrogen peroxide mediate abscisic acid signaling in guard cells. Nature, London, v.406, p.731-734, 2000. PIMENTEL, C. A relação da planta com a água. Seropédica: Edur, 2004. 191p. PMGCA - Programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar Centro de Ciências Agrárias – Universidade Federal de São Carlos. Disponível em: <http://pmgca.dbv.cca.ufscar.br>. Acesso em: 14 maio 2013. POLIDOROS, A. N.; SCANDALIOS, J.G. Role of hydrogen peroxide and different classes of antioxidants in the regulation of catalase and glutathione S-transferase gene expression in maize (Zea mays L.) Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.106, p.112-120, 1999. POU, A.; MEDRANO, H.; FLEXAS, J.; TYERMAN, S.D. A putative role for TIP and PIP aquaporins in dynamics of leaf hydraulic and stomatal conductances in grapevine under water stress and re-watering. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.36, p.828-843, 2013. QUAN, L.-J.; ZHANG, W.-W.; SHI, H.-Y. LI. Hydrogen peroxide in plants: a versatile molecule of the reactive oxygen species network. Journal of Integrative Plant Biology, Chichester, v.50, p.2-18, 2008. RIBEIRO, R.V.; MACHADO, R.S.; MACHADO, E.C.; MACHADO, D.F.S.P.; MAGALHÃES FILHO, J.R.; LANDELL, M.G.A. Revealing drought-resistance and productive patterns in sugarcane genotypes by evaluating both physiological responses and stalk yield. Experimental Agriculture, Cambridge, v.49, p.212-224, 2013. 44 ROBINSON, J.M. Does O2 photoreduction occur within chloroplasts in vivo? Physiologia Plantarum, Copenhagen v.72, p.666-680, 1988. ROHÁCEK, K. Chlorophyll fluorescence parameters: the definitions, photosynthetic meaning, and mutual relationships. Photosynthetica, Pragha, v.40, p.13-29, 2002. SALES, C.R.G.; RIBEIRO, R.V.; SILVEIRA, J.A.G.; MACHADO, E.C.; MARTINS, O.M.; LAGÔA, A.M.M.A. Superoxide dismutase and ascorbate peroxidase improve the recovery of photosynthesis in sugarcane plants subjected to water deficit and low substrate temperature. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v.73, p. 326-336, 2013. SARRUGE, J.R. Soluções nutritivas. Summa Phytopathologica, Piracicaba, v.1, p.231-233, 1975. SILVA, M.A.; JIFON, J.L.; SILVA, J.A.G.; SHARMA, V. Use of physiological as fast tools to screen for drought tolerance in sugarcane. Brazilian Journal of Plant Physiology, Londrina, v.19, p.193-201, 2007. SILVA, E.N.; SILVA, S.L.F.; FONTENELE, A.V.; RIBEIRO, R.V.; VIÉGAS, R.A.; SILVEIRA, J.A.G. Photosynthetic changes and protective mechanisms against oxidative damage subjected to isolated and combined drought and heat stresses in Jatropha curcas plants. Journal of Plant Physiology, Victoria, v.167, p.1157-1164, 2010. SINCLAIR, T.R.; ZWIENIECKI, M.A.; HOLBROOK, N.M. Low leaf hydraulic conductance associated with drought tolerance in soybean. Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.132, p.446-451, 2008. SINGELS, A.; KENNEDY, A.J.; BEZUIDENHOUT, C.N. The effect of water stress on sugarcane biomass accumulation and partitioning. South African Sugar Journal, Durban, v.74, p. 241-245, 2000. SLESAK, I.; LIBIK, M.; KARPINSKA, B.; KARPINSKI, S.; MISZALSKI, Z. The role of hydrogen peroxide in regulation of plant metabolism and cellular signaling in response to environmental stresses. Acta Biochimica Polonica, Varsóvia, v.54, p.39-50. 2007. SMIT, M.A.; SINGELS, A. The response of sugarcane canopy development to water stress. Field Crops Research, Amsterdam, v.98, p.91-97, 2006. SOUZA, G.M.; SLUYS, M.V. Genômica e biotecnologia da cana-de-açúcar: estado da arte, desafios e ações. In: CORTEZ, L.A.B. (Coord.). Bioetanol da cana-de-açúcar. P & D para produtividade e sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010. p. 325-332. STEUDLE, E. Water uptake by roots: effects of water deficit. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.51, p.1531-1542, 2000. STEUDLE, E.; PETERSON, C.A. How does water get through roots? Journal of Experimental Botany, Oxford, v.49, p.775-788, 1998. SUI H.; HAN, B.G.; LEE, J.K.; WALIAN, P., JAP, B.K. Structural basis of water-specific transport through the AQP1 water channel. Nature, London, v.414, p.20-27, 2001. 45 TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 719p. VELJOVIC-JOVANOVIC, S.; NOCTOR, G.; FOYER, C.H. Are leaf hydrogen peroxide concentrations commonly overestimated? The potential influence of artefactual interference by tissues phenols and ascorbate. Plant Physiology and Biochemistry, Paris, v.40, p.501507, 2002. WILLEKENS, H.; CHAMNONGPOL, M.D.; SCHRAUDNER, M.; LANGEBARTELS, C.; MONTAGU, M.V.; INZÉ, D.; VAN CAMP, W. Catalase is a sink for H 2O2 and is indispensable for stress defence in C3 plants. The EMBO Journal, Oxford, v.16, p.48064816, 1997. YANG. Y.; XU, S.; AN, L.; CHEN, N. NADPH oxidase-dependent hydrogen peroxide production induced by salinity stress, may be involved in the regulation of total calcium in roots of wheat. Journal of Plant Physiology, Victoria, v.164, p.1429-1435, 2007. YE, Q.; STEUDLE, E. Oxidative gating of water channels (aquaporins) in corn roots. Plant, Cell and Environment, Oxford, v.29, p.459-470, 2006. YABUTA, Y.; TAKASHI, M.; YOSHIMURA, K.; TAKEDA, T.; ISHIKAWA, T.; SHIGERU, S. Thylakoid membrane-bound ascorbate peroxidase is a limiting factor of antioxidative systems under photo-oxidative stress. The Plant Journal, Oxford, v.32, p.915952, 2002. YORDANOV, I.; VELIKOVA, V., TSONEV, T. Plant responses to drought, acclimation and, stress tolerance. Photosynthetica, Pragha, v.38, p.171-186, 2000. ZHANG, Y.; WANG, Z.; CHAI, T.; WEN, Z.; ZHANG, H. Indian mustard aquaporin improves drought and heavy-metal resistance in tobacco. Molecular Biotechnology, Totowa, v.40, p.280-292, 2008. ZHAO, D.; GLAZ, B.; COMSTOCK, J.C. Sugarcane leaf photosynthesis and growth characters during development of water-deficit stress. Crop Science, Madison, v.53, p.10661075, 2013. 46