REVISTA BUSINESS PORTUGAL ESPECIAL TORRES NOVAS O melhor vinho tinto do Sul sociedade agrícola do Vale godinho Reconhecida e denominada como Alveirão, a Sociedade Agrícola do Vale Godinho nasce num ambiente de cariz familiar, aproveitando as paisagens típicas do norte Ribatejano. A agricultura biológica é um elemento distintivo a favor desta sociedade, que continua a somar pontos positivos, sendo esta característica uma das possíveis soluções para a sua internacionalização. faria vieira e alexandra mendes Administrador e enóloga Como foi possível um pequeno produtor de Torres Novas ter visto um dos seus vinhos classificado como o melhor vinho tinto do sul? Que vinho é este? Não estavam a concurso os grandes vinhos do Sul? O vinho a que se refere é o nosso vinho Maximo’S Tinto 2009 e a distinção foi obtida no âmbito da Vinipax 2013. Deixe-me situar um pouco os leitores. A Vinipax é um certame de divulgação dos vinhos do sul no sentido que lhe dá Aníbal Coutinho: Ribatejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve. A Vinipax realiza-se anualmente e comporta um concurso de vinhos para o qual são convidados todos os produtores do sul. Não tenho a relação exata dos produtores presentes, mais de 60, mas é indubitável que nos batemos com os grandes vinhos do sul. Quanto ao vinho tinto ganhador, julgo que o mais importante a dizer é que não é um vinho gizado 38 para ganhar prémios, feito de uvas hiper-escolhidas e objeto de mini vinificações. É antes um vinho na linha dos nossos topos de gama, que têm saído com a marca Maximo’S. Quando ocorreu o concurso – outubro de 2013 – o Maximo’S Tinto 2009 estava à disposição do público há vários meses e tinha sido objeto de notas de prova pela crítica especializada portuguesa, com pontuações positivas mas sem que tenha ocorrido qualquer estridência. Salientava-se apenas a medalha de prata no Concours Mondiale de Bruxelles, único concurso internacional a que havia sido submetido. Como era constituído o júri? Acha que o facto de o júri ser dominantemente não-português contribui para explicar o prémio? O concurso de vinhos que ocorreu na Vinipax 2013 foi da responsabilidade da Federação Internacional de Jornalistas e Escritores de Vinhos (FIEEJ), que agrupa críticos de vinhos de mais de 60 países (http://www. fijev.org). Isto explica alguma coisa? Não sei. O júri era constituído por 17 elementos dos quais apenas cinco portugueses. Um outro vinho que lhe submetemos – Maximo’S Branco 2011 – não obteve qualquer distinção. Michael Schafer, que na Vinipax 2013 presidiu a uma das secções do júri e que dedicou recentemente um dia inteiro a visitar-nos, manifestou forte admiração pelo facto de o Maximo’S Branco 2011 não ter ficado pelo menos no “top 10” dos vinhos brancos do sul. Mas a verdade é que não ficou, no seu curriculum consta apenas uma medalha da revista ‘Decanter’. Aproveito para dizer que este nosso branco de 2011 tem por aí uma plêiade de apaixonados. Ainda está à venda, mas em breve será substituído pelo Maximo’S Branco REVISTA BUSINESS PORTUGAL ESPECIAL TORRES NOVAS 2012 (menos exuberante no nariz mas a suscitar igual entusiasmo daqueles a quem o temos dado aprovar, não vai haver hiato na qualidade nos nossos branco). Como foi recebido, que efeito está a ter o prémio atribuído ao Maximo’S Tinto 2009? Sendo um vinho feito a partir de uvas biológicas e havendo como há uma imagem não positiva acerca dos vinhos “bio” portugueses… para a causa Bio, que impacto teve? A repercussão mediática do prémio foi perto de zero; excetuou-se a imprensa regional, ‘Almonda’, ‘O Riachense’, ‘O Ribatejo’, etc.. Nos media ou secções dos media especializadas em vinhos ocorreu uma espécie de blackout às avessas. O presidente da CVRTejo, José Gaspar, chegou a manifestar indignação: não esqueçamos que o prémio foi também uma vitória da região do Tejo. Mas percebe-se o incómodo: a luta pela venda de vinho está cada vez mais ríspida em Portugal, quiçá na Europa, quiçá no mundo. No plano da promoção dos vinhos ‘bio’ também houve algum desconforto, com afloramento de posturas competitivas mais do que cooperativas, como seria curial. A ‘onda’ que os produtores de vinho biológico ou de uvas biológicas poderiam ter cavalgado não aconteceu, em parte, porque nem eles nem as suas agremiações fizeram fosse o que fosse por isso; relevese o caso das menções aparecidas no site da nossa associação, AGROBIO (www.agrobio.pt) e em alguns sites institucionais. entusiasmos com as coisas do vinho nos finais da década de 90. A casa agrícola que está na sua génese era uma exploração familiar, tradicional na nossa região (lembrar que estamos em pleno coração da zona conhecida por ‘figueiral de torres’, hoje em vias de extinção absoluta), produzindo de tudo um pouco: frutos secos, figo preto à cabeça, azeite, vinho, caprinos e ovinos, queijo artesanal, etc.. Num relance caricatural: o figo seco era com a Cooperativa do Figo de Torres Novas, o azeite era com a Cooperativa do Azeite de Árgea, o vinho era com a Adega Cooperativa de Tomar (nossa sub-região em termos vitivinícolas). Falando desta última: lutámos para que ela se organizasse e passasse a produzir também vinhos com marcas dos cooperantes e a partir das suas próprias uvas (tínhamos presente o exemplo da Borgonha). João Melícias (um dos enólogos portugueses senador, que desde estes princípios nos acompanha) disponibilizou-se para liderar o projetopiloto desta reconversão a partir da nossa produção de uvas). Não foi possível e hoje a Adega Cooperativa de Tomar já não existe – como não existe a de Ourém, outra que nos era próxima. Entretanto a exploração, de estritamente familiar que era, tinha evoluído para uma sociedade por quotas, tinha ampliado a área de vinha (por reconversão de encostas antes dedicadas à figueira), neste particular, com o aconselhamento benévolo de Luís de Carvalho, outro senador, de cuja influência ainda hoje beneficiamos, e tinha adoptado o modo de produção biológico, tendo como mentor Luís Mendes. Em 2004 e 2005 vinificamos em instalações de terceiros. A colheita de 2005 dá origem ao nosso primeiro Maximo’S Tinto, em que João Melícias teve como assistente uma jovem enóloga, Alexandra Mendes, hoje vice-presidente da Associação Portuguesa de Enologia e principal responsável direta pelas nossas vinificações. O resto é história que o leitor adivinhará: procura do nosso nicho de mercado (o consumidor bio e o consumidor exigente de vinhos), internacionalização, sempre tentando tirar partido dos dois fatores mais distintivos, agricultura biológica e vinicultura por uma grande equipa de enologia. Os vinhos “bio” são diferentes por quê? Abreviando ao limite a resposta: porque as uvas de que lhe dão origem são produzidas em obediência a uma norma europeia severa sobre práticas agrícolas respeitadoras do meio ambiente e porque a transformação das uvas em vinho o é igualmente; por exemplo, a utilização do Anidrido Sulfuroso (lembrar a menção ‘contém sulfitos’ que aparece nos rótulos) é drasticamente limitada. E tudo isto sob auditorias sistemáticas de organismos de controlo (no nosso caso, a Ecocert Portugal). A certificação ‘bio’ o que garante é isto: um produto que na sua feitura obedeceu a uma norma. O simples facto de ter obedecido a um regulamento, por mais severo que seja, é garantia de um produto de superior qualidade? Claramente que não. É condição potenciadora da qualidade, é condição porventura necessária; não mais do que isso. No caso dos vinhos é flagrante. Eles têm de ir a provas cegas, onde os jurados não sabem se o que estão a apreciar é bio ou não é bio. Foi o caso do ‘melhor vinho tinto do sul’ que aqui nos tem ocupado, Maximo’S Tinto 2009. E a ALVEIRÃO quem é? Diga-nos algo da sua história, das suas vinhas, do modo de produção biológico que adotaram. Os vinhos biológicos são diferentes dos convencionais em quê? O consumidor deve preferi-los, porquê? A ALVEIRÃO Lda é uma empresa que nasce dos 39