Semana 2 - Conclusão da Leitura
Daniel Roy
11 de fevereiro de 2004
De acordo com estudos do Departamento de Comércio dos EUA 1,
realizado no ano 2000, 51% dos lares americanos possuíam computador e
41% tinha acesso à Internet. Estes números não deixam nenhuma dúvida
de que o computador pessoal é um recurso reconhecível na sociedade
americana; também é aceitável que os computadores sejam, em grande
parte, uma ferramenta de processamento de textos, e-mail, acesso à
Internet e tarefas semelhantes. Até que ponto o computador chegou a um
estado de "fechamento" (“closure”), como definido por Pinch e Bijker 2?
Acredito que o computador tenha chegado a um estado de
fechamento ‘temporário’; a maioria das famílias americanas concorda com
o "propósito, significado e forma física" do ‘computador’ (que veio a ser o
computador pessoal na sociedade americana) 3. Este consenso sobre a
forma física do computador é extraordinário, devido às dramáticas
transformações que ele sofreu em sua curta história. Os computadores
atingiram o fechamento apesar destas transformações substanciais, devido
ao curto período de tempo em que se tornaram populares. No entanto, este
fechamento será efêmero, à medida que os computadores encolhem em
tamanho, crescem em número e com o tempo desaparecem de vista. Como
as pessoas definem ‘computador’, quando a geladeira, o carro e o telefone
celular são todos computadores? A única definição coerente de
"computador" logo se tornará impossível. Embora a idéia de fechamento
possa ser um tema interessante para se aplicar ao desenvolvimento de
novas tecnologias, os quase ilimitados aplicativos de computadores
dificultam a obtenção de qualquer coisa a partir da compreensão da
evolução dos computadores através da idéia de se alcançar o
"fechamento".
1
http://www.ntia.doc.gov/ntiahome/fttn00/contests00.html
Edwards, 7
3
Edwards, 7
2
No artigo de Mahoney, ele relaciona a analogia histórica que
compara o desenvolvimento do computador com o do automóvel 4. O fato de
que o computador vai eventualmente deixar seu estado temporário de
"fechamento", aponta uma falha na comparação entre o automóvel e o
computador. Enquanto a realização física e a finalidade do automóvel
permaneceram praticamente inalteradas em toda sua história, o
computador já se espalhou em todos os aspectos da vida moderna.
O impacto do computador pode ser mais comparável ao impacto da
mídia impressa. Ambos possibilitaram um novo nível de acesso ao
"conhecimento". Enquanto a mídia impressa democratizou o acesso à
informação, o computador teve uma função semelhante com relação à
censura: hoje são as pessoas, não o Estado, quem decide o que é ou não
aceitável e acessível. Uma outra analogia ao automóvel é o trem, que foi a
primeira grande revolução no transporte. Os trens encurtam o espaço físico
que separa cidades distantes. Semelhantemente, a Internet comprimiu o
"espaço" cultural que separa os quatro cantos do mundo.
1 Wired
Por muitos anos li Wired, uma revista dedicada a técnicos. Porém, eu
nunca a examinei pelo ponto de vista de gênero, como discutido por Kling.
Que gênero combina melhor com a Wired e como ele e o enfoque se
modificaram em função do fracasso das pontocom?
Lançada em 1993, a Wired profetizou uma utopia tecnológica
eminente. No entanto, a Wired mudou por causa do fracasso das
pontocom; uma revista que anteriormente continha 100 páginas agora
possui a metade (com o dobro de anúncios). O impacto do fracasso atingiu
também o número de páginas?
Estou convencido de que testemunhei uma mudança significativa no
enfoque desde a era das pontocom. Embora seja evidente que tanto a era
pré como a pós-fracasso do jornalismo da Wired utilizava visões
utópicas/futuristas sobre computação, o entusiasmo desenfreado da Wired
4
Mahoney, 14
foi atenuado por uma pitada de realidade.
Como exemplo clássico do estilo utópico, um artigo de janeiro de
1994 intitulado: "Outra Revolução no Sistema de Saúde", descreve um
mundo futuro (2004) aperfeiçoado pela tecnologia: em uma cena, um
homem sofre um colapso devido a um ataque cardíaco, ativando
imediatamente um telefonema automático de emergência e encaminhando
seus registros médicos à unidade EMT; ao chegar, eles já sabem seu nome
completo, o número do telefone da esposa e sobre sua alergia à penicilina.
Em outro cenário do futuro, uma moça conversa sobre puberdade e sexo
com seu computador, ajudando-a a superar os momentos difíceis.
De acordo com Kling, o estilo utópico é incapaz de abordar a reação
à nova tecnologia em um contexto social 5. A existência de uma tecnologia é
insuficiente para garantir sua plena integração e desenvolvimento de uma
situação ou sociedade em geral. No primeiro caso da idéia utópica de rede
médica, o fato de que tal cena exigiria uma grande colaboração entre
entidades corporativas e governamentais relativamente refratárias e
estagnadas é totalmente ignorado. No segundo exemplo, o autor ignora
completamente qualquer preocupação que os pais possam ter, deixando
uma criança ser educada por um computador em relação a assuntos
relativos a sexo.
A Wired de 2004 ainda endossa uma visão utópica da tecnologia. O
melhor exemplo disto é a seção "Achados" que ocupa a página final da
revista com uma "imagem do futuro": este mês, balas que também curam
problemas psicológicos. No entanto, o entusiasmo da Wired e as
tendências futuristas estão no lado mais comportado: uma Wired recente
inseriu o título "Unwired", explicando o futuro da tecnologia sem fios.
Porém, a utopia mais empolgante que eles poderiam mostrar era a de que
todos os débitos feitos através de dispositivos sem fio apareceriam em uma
única conta 6. Obviamente, é preciso um amplo estudo para mostrar
qualquer tendência real no gênero de jornalismo da Wired.
5
6
Kling, 8
Wired Dezembro 2003, “Unwired”
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