Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios BES pode contestar revogação da garantia de Angola Maria João Gago | [email protected] Garantia de José Eduardo dos Santos a mais de 70% do crédito do BES Angola foi confirmada pelo ministro das Finanças angolano. O acto validou o aval. E pode ser motivo para BES e outros accionistas contestarem a sua revogação. A garantia soberana que o presidente de Angola concedeu ao BES Angola (BESA) foi confirmada pelo ministro das Finanças angolano. A confirmação do governo de Luanda foi exigida pelo Banco de Portugal para aceitar a validade do aval nas contas do Banco Espírito Santo relativas a 2013, sabe o Negócios. E, segundo responsáveis do sector financeiro, dá margem ao BES e restantes accionistas do BESA para contestarem judicialmente a decisão do Banco Nacional de Angolano (BNA) de revogar a garantia assinada por José Eduardo dos Santos. A validade da garantia do presidente angolano foi assumida pelo ministro das Finanças, Armando Manuel, numa carta enviada ao presidente executivo do banco angolano, com data de 7 de Janeiro de 2014. A missiva, a que o Negócios teve acesso, refere explicitamente que "a atribuição de garantias soberanas insere-se no leque de medidas que o Presidente da República (...) está habilitado a adoptar". E inclui o despacho em que o governante angolano concede o aval ao BESA. "O Estado angolano, neste acto representado pelo ministro das Finanças (...), mediante autorização do Presidente da República (...) presta, pela presente, Garantia Autónoma, irrevogável, até ao valor de 5.700 milhões de dólares americanos (...), assumindo a responsabilidade pelo bom e integral cumprimento das operações identificadas", lê-se no despacho, datado de 31 de Dezembro de 2013, incluído na carta de Armando Manuel ao líder do BESA. Além dos créditos listados em anexo ao documento, o aval incluía ainda os imóveis dados como garantia. Na carta enviada a Rui Guerra, o ministro angolano justifica a concessão do aval como "forma de fomento e do desenvolvimento das referidas empresas e empresários nacionais, permitindo-lhe o acesso a financiamento". Armando Manuel reconhece ainda "o potencial subjacente aos créditos" objecto da garantia, "vista como um elemento impulsionador do desenvolvimento do sector económico privado". No entanto, a 4 de Agosto, um dia depois de o BdP anunciar a resolução ao BES, o BNA decide intervir no BESA, nomeando dois administradores provisórios e revogando a garantia soberana. O comunicado do supervisor angolano refere que o aval tinha sido emitido a pedido do BES Angola, na sequência da "degradação da [sua] carteira de crédito" e "enquanto decorria a avaliação da implementação de medidas mais definitivas que assegurassem a estabilidade do sistema financeiro nacional". Um enquadramento que o despacho, em que o ministro das Finanças concede a garantia, ignora. Os termos em que o aval foi concedido, constantes do despacho a que o Negócios teve acesso, confirmam a sua validade jurídica. Foi por reconhecer o seu valor legal que o BdP aceitou a garantia e dispensou o BES de registar imparidades para o risco associado ao BESA, onde tinha uma participação de 55,71% e um crédito de 3.300 milhões de euros, nas contas de 2013. No entanto, depois de o supervisor português ter intervencionado o BES, a exposição ao BESA foi separada: a participação no banco angolano ficou no BES, enquanto o crédito foi transferido para o Novo Banco, depois de totalmente provisionado. Como accionista do BESA - prestes a perder a sua posição na sequência da intervenção do BNA - o BES pode ainda contestar a decisão do supervisor angolano. Uma possibilidade sobre a qual o presidente do banco, Luís Máximo dos Santos, não se pronuncia "O BES considera que, neste momento, não é oportuno pronunciar-se sobre este assunto", adiantou fonte autorizada do BES. 2014-10-29