Nome: Estudos Literários Turma: Nº: 3º ano Rev. Gabarito – Textos não verbais I Wilton Out/10 O que você deve saber sobre LEITURA DE TEXTOS NÃO-VERBAIS E DE QUADRINHOS Neste tópico, analisaremos um texto não-verbal e três tirinhas. O primeiro texto é um quadro de autoria do artista brasileiro Vik Muniz e faz uma releitura do mito grego de Narciso. Os outros três textos são histórias estruturadas em quadrinhos, criadas por Bill Watterson, Quino e Laerte Coutinho, que conjugam imagem e palavras para expressar seus conteúdos humorísticos. O quadro a seguir foi criado por Vik Muniz, um dos artistas brasileiros mais respeitados no exterior atualmente. Para compor seu quadro, Muniz utilizou como referência a obra Narciso, de Caravaggio (1571-1610), importante pintor italiano que utilizava em suas telas o contraste entre sombra e a luz. Vik “releu” a obra original do italiano utilizando todo tipo de entulho: pneus, balde, geladeira velha etc. O efeito de estranhamento que causa esse quadro reside, sobretudo, no fato de Narciso ser o símbolo máximo da vaidade. Caravaggio enfatizou esse elemento em sua obra pintando um rapaz de extrema beleza que se contempla numa fonte. Muniz, por sua vez, desconstrói a ideia de beleza do personagem mitológico, uma vez que o recria a partir de um material pouco “nobre”: o lixo e o entulho. Mito de Narciso. Narciso era filho do deus-rio Cephisus e da ninfa Liríope e considerado o mais belo dos homens sobre a terra. Quando nasceu, seus pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o destino do belo filho. A resposta foi que ele teria uma vida muito longa se não visse o próprio rosto. Muitas gregas se apaixonaram por ele, mas Narciso não se interessou por nenhuma delas. Certo dia, Eco, amante dos bosques e dos montes, apaixonou-se por Narciso e foi desprezada por ele. A ninfa ficou tão triste que se afastou para um local deserto onde permaneceu até morrer, só restando seus gemidos. As outras ninfas, irritadas com o que Narciso havia provocado em Eco, pediram a Nêmesis, deusa da justiça, que o punisse fazendo com que ele sofresse por um amor impossível. Numa tarde de verão, Narciso aproximou-se de uma límpida fonte para beber água, debruçou-se e viu refletido nas águas seu belo rosto. Então, apaixonou-se pela própria imagem. Permaneceu nessa posição até morrer. Em seu lugar, foi encontrada uma bonita flor amarela e branca que recebeu o nome de Narciso. A tirinha a seguir, Calvin e Haroldo, faz parte de uma série criada pelo artista norte-americano Bill Watterson e publicada em jornais de todo o mundo entre 1985 e 1995. O personagem Calvin é um menino de seis anos que tem como companheiro um tigre muito inteligente chamado Haroldo. Na primeira parte da tirinha reproduzida, Calvin, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa, explica a um interlocutor porque está com o rosto desfigurado: num debate com seu pai, passou a “ver os dois lados da questão”, então “começou a ver os dois lados de tudo”. Na segunda parte da história em quadrinhos, o rosto de Calvin apresenta-se ainda mais transformado e ele explica a seu interlocutor que “a perspectiva foi fraturada” depois que o “tradicional único ponto de vista foi abandonado” por ele no debate com o pai. Trata-se de uma brincadeira de Watterson com o Cubismo, movimento europeu de vanguarda que recusou a ideia de que a arte deveria imitar a natureza (mimesis). Os cubistas utilizavam em sua obra volumes, cubos e outros planos geométricos, reconstruindo as formas sob vários ângulos diferentes. Os principais representantes dessa vanguarda na pintura foram Pablo Picasso, Georges Braque e Fernand Léger. Enem – 2002 (Adaptado de WATTERSON, Bill. Os dez anos de Calvin e Haroldo. V. 2. São Paulo. Best News, 1996). A tirinha a seguir foi retirada da série Mafalda, uma história em quadrinhos muito popular no mundo todo, criada pelo cartunista argentino Quino. As narrativas da espirituosa menina Mafalda foram publicadas originalmente entre 1964 e 1973. Na primeira parte da tirinha, Mafalda olha de maneira indignada para um caranguejo e o acusa de “andar para trás”, o que faria dele um “bicho sem futuro”. Ela se utiliza de uma característica do caranguejo (andar para trás) para associá-la a uma postura humana que ela considera negativa. Na segunda parte da tirinha, a personagem de Quino agride verbalmente o crustáceo chamando-o de “estúpido” e “sem futuro”. Na terceira parte, Mafalda olha para frente (metáfora de futuro) e reconsidera, na quarta parte, sua opinião inicial sobre o fato de o caranguejo “andar para trás”. A menina se questiona sobre o futuro. Para ela, o caranguejo poderia, em lugar de andar para trás (metáfora de passado), estar “voltando” de um futuro ruim. O humor presente na tirinha decorre, principalmente, do fato de a personagem Mafalda relacionar uma característica do caranguejo a uma perspectiva de futuro. A tirinha a seguir foi criada por Laerte Coutinho, um dos principais quadrinistas do Brasil. Nela, três personagens muito novos aparecem desacompanhados de adultos. Na cena, eles fumam, jogam e bebem, ou seja, praticam ações inesperadas para crianças. As práticas inadequadas mostradas na tirinha de Laerte contrastam com a mensagem veiculada pela televisão presente ao lado da mesa do grupo: “Este programa é inadequado para menores de 12 anos”. O que reforça o humor da situação é o fato de um dos meninos do trio pedir que se desligue a televisão por esta apresentar um programa proibido para crianças, mas desconsiderar completamente que os três estão envolvidos em vícios altamente condenáveis para suas idades, o que é uma contradição. Resolução PUC – 2007 LEITURA DE TEXTOS NÃO-VERBAIS E DE QUADRINHOS NO VESTIBULARr Os concursos vestibulares atuais têm trabalhado com insistência a leitura de textos não-verbais, de quadrinhos e de textos não-verbais associados a poemas e a canções. Em geral, os alunos apresentam uma certa dificuldade na análise desse tipo de texto ou na relação dele com textos verbais. Observe atentamente cada imagem presente nas obras em análise e os textos – quando houver – que compõem as histórias em quadrinhos. Apresentamos ainda algumas questões que têm como base anúncios publicitários. Aproveite para retomar as ambiguidades e a polissemia presentes nesse tipo de texto. 1) UFPR – 2008 Tendo em vista a charge de Fausto, considere as seguintes afirmativas: 1. O efeito de humor é obtido, dentre outras coisas, pela recuperação do sentido literal da frase do último quadrinho. 2. A expressão “trem-bala” constitui uma metáfora: veloz como uma bala. Fausto associa, à já metaforizada expressão, um novo sentido. 3. O mico retratado no último quadrinho simboliza a vergonha do povo brasileiro diante dos infortúnios. 4. O desenho do Congresso Nacional no último quadro permite associar as figuras humanas retratadas nesse quadro com os políticos brasileiros, que se revoltam com os escândalos divulgados nos últimos meses. Assinale a alternativa correta. 1-) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras. 2-) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. 3-) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. 4-) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. 5-) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. Resposta correta: Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. Trabalhe a questão proposta a seguir pela banca da UFPR explorando a ambigüidade presente na primeira parte da tirinha: “Seu vendedor disse que seu produto se conserta sozinho. É verdade?” 1) UFPR – 2008 Com base na tira acima, é correto afirmar: 1. A tira demonstra que afirmar que algo foi dito implica, necessariamente, afirmar que o que foi dito é verdadeiro. 2. A resposta dada no segundo quadrinho mostra que a pergunta feita no primeiro quadrinho é ambígua. 3. A resposta do segundo quadrinho permite concluir que o produto em questão se conserta sozinho. Assinale a alternativa correta. 1-) Somente a afirmativa 1 é verdadeira. 2-) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. 3-) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. 4-) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. 5-) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. Resposta correta: Somente a afirmativa 2 é verdadeira. A questão proposta pela UFMA trabalha com a ambiguidade presente na frase “Tem algo pra dor no estômago?” (primeiro quadro da tirinha). Observe que essa ambiguidade é produzida pela inserção da preposição “pra”. 3)UFMA – 2009 O efeito humorístico da tirinha abaixo é produzido: a) pela contradição entre a pergunta de Eddie Sortudo e a cena que compõe o primeiro quadro. b) pela ambigüidade que a preposição “pra”, no primeiro quadro, produz. c) pelo jogo de sentidos que a expressão “dor de estômago” instaura, no segundo quadro. d) pelo prato que Hagar oferece a Eddie Sortudo na primeira cena. e) pelo efeito sonoro do enunciado “goulache da Helga”. Resposta: B As questões propostas a seguir pela banca da UNIFAL não estão necessariamente ligadas a uma imagem. Elas têm como base um cartaz publicitário, tipo de texto bastante comum nos concursos vestibulares atuais. Procure explorar o cartaz em detalhes antes de partir para as perguntas. UNIFAL – 2007 Leia o texto abaixo: Questão 4 O objetivo comunicativo do texto é: a) defender a tese de que há um tipo de mulher ousada e independente que não se enquadra no estilo contemporâneo feminino. b) persuadir o leitor a rejeitar qualquer tipo de imitação barata e desonesta. c) debater sobre as questões referentes a raça e etnia. d) incitar o leitor a consumir um produto que contenha as mesmas singularidades requeridas por ele. e) promover um produto, através de elementos atributivos, para um público-alvo específico. Resposta: E Questão 5 Levando em conta o texto, é INCORRETO afirmar que: a) o anúncio mescla tanto características advindas da construção do gênero publicitário quanto singularidades do que seja um texto dicionarizado. b) o anúncio traz uma seqüência de informações que não permite uma leitura contínua. c) o anúncio é um conjunto de informações e qualificações independentes sobre um determinado assunto. d) as informações, no tipo de texto dicionarizado, não podem ser trocadas de lugar porque prejudicam a compreensão textual. e) o conjunto de atributos sobre a “mulher tupperware” não passa de uma estratégia discursiva empregada para promover o produto. Resposta: D Questão 6 Dentre as expressões abaixo, aquela que se refere, simultaneamente, à Mulher Tupperware e ao produto Tupperware é: a) “De todas as raças.” b) “Que rejeita imitações.” c) “Contemporânea.” d) “Vencedora.” e) “Que tem objetivos de vida [...].” Resposta: B Questão 7 “Que tem objetivos de vida e luta por eles.” Assinale a alternativa em que o conectivo “e”, em destaque, tem o mesmo valor lógicosemântico que no fragmento acima: a) Acordou tarde e perdeu a hora estabelecida para a entrevista. b) Bomba de efeito moral assusta e não fere. c) Costumava mentir a idade e entrar na boate. d) Roubou remédio para a filha e foi preso. e) A nave viaja no interior da terra e traz notícias de lá. Resposta: E Questão 8 “Que é ousada e audaciosa.” “Sintonizada com o seu tempo.” Nos fragmentos acima, é CORRETO afirmar que os elementos em destaque: a) formam palavras compostas. b) são formas livres. c) são formas invariáveis. d) estão ligados a uma base verbal. e) têm diferente valor semântico. Resposta: D A questão a seguir trata de duas obras. A primeira é O pensador (1904), escultura de bronze criada pelo artista francês Auguste Rodin (1840-1917). A obra retrata um homem em meditação. Rodin criou O pensador sob encomenda para o governo francês, em 1880. A obra comporia, junto com outras, um grande portal em bronze baseado no livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri, a ser instalado no Museu das Artes Decorativas, em Paris. O projeto não foi finalizado. A segunda obra é um fragmento do romance Em liberdade, do autor mineiro Silviano Santiago. O livro trata de um episódio da vida do escritor modernista Graciliano Ramos: “No dia 13 de janeiro de 1937, por iniciativa de amigos e graças à ajuda do advogado Sobral Pinto, Graciliano Ramos livrou-se da prisão, após quase um ano encarcerado. O que teria sentido o autor de Vidas secas ao arriscar os primeiros passos em liberdade? O fato é que Graça – como era carinhosamente chamado – jamais escreveu uma linha sequer sobre o período que se sucedeu à soltura. Mas deveria ter escrito – pensa o poeta, escritor, crítico e professor Silviano Santiago que, em uma das mais originais viagens literárias de nosso tempo, aventurou-se em imaginar o que Graciliano teria anotado em um diário a respeito do que viu e viveu nos primeiros três meses fora das grades. No livro Em liberdade, Santiago apresenta uma ficção ‘alterbiográfica’, recriando Ramos política e existencialmente. Para mergulhar nesta história, ele estudou durante quatro anos a vida do escritor alagoano, sua obra, pesquisou jornais, revistas e livros da época e consultou mapas do Rio de Janeiro de então. ‘A partir deste material deixei que minha imaginação delirasse. Para mim foi uma coisa mágica, como se eu estivesse psicografando’, conta ele. Em liberdade foi considerado pelo crítico literário Fábio Lucas – em matéria no Jornal da Tarde – uma das obras que melhor representa a ficção, a poesia e a ensaística brasileiras do século XX. Também um conjunto de críticos da Folha de S. Paulo, há algum tempo, listou o livro entre os dez melhores romances brasileiros dos últimos 30 anos. Passando pela história de Cláudio Manoel da Costa, no século XVIII, Em liberdade pauta-se em Graciliano Ramos, mas chega a Wladimir Herzog, discutindo a questão do intelectual e o poder. Para Santiago, o livro é um grande mergulho na realidade brasileira. ‘Uma tentativa de integrar o Brasil, levando em conta seu dilaceramento’, afirma ele. Desde quando foi publicado – na década de 80 – Em liberdade tem suscitado diversas interpretações. A reação da crítica foi entusiástica e salientava a audácia da proposta ficcional. Para os leitores, o romance causou grande rebuliço por ir contra a maré do início dos anos 80, pois se tratava de um livro que enfatizava a liberdade no momento em que, apesar de ser importante o problema da reconstrução da democracia no país, os relatos de prisão eram dominantes nas livrarias”. (Site da editora Rocco. http://www.rocco.com.br. Consultado em 22 de agosto de 2009, às 21h28) UFBA – 2007 – (2ª FASE) Questão 9 Texto I I – O PENSADOR. (1879-1889). Auguste Rodin. RODIN, A. O Pensador. Bronze. In: JANSON, H. W. História da arte. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998. p. 638. II. Penso em pessoas que sobreviveram ao que experimentei na cadeia e tento adivinhar o que estaria passando nas suas cabeças e o que estaria acontecendo nas suas vidas. Perco tempo a multiplicar o número de pessoas em estado semelhante ao meu. Faço-o com intuito de minimizar a importância que querem dar à minha vida de perseguido político. Essa importância é o privilégio que serviria para diferençar-me dos demais intelectuais brasileiros. São os meus amigos (e agora “companheiros de luta”) que querem agigantar o meu valor com o intuito de tornar-me líder, bandeira a arregimentar pessoas insatisfeitas com a perseguição aos comunistas, orientada pelos militares fascistas desde a revolução de 35. Não quero desapontá-los. Não quero endeusar-me. Vejo que têm o direito de falar o que falam e até mesmo de exigirem de mim, comportamento, palavras e críticas, compatíveis com o sofrimento por que passei injustamente. Não sou homem de fugir às responsabilidades. Receio, e chego a temer nos piores momentos, é que queiram — no fundo — reduzir-me à condição de eterno enjaulado, de vítima para todo o sempre. Dizem que lutaram pela minha liberdade (e eu lhes agradeço de todo o coração), mas não querem deixar-me gozá-la. É contra isso que me insurjo, lutando para não acreditar nos elogios descabidos. Toda e qualquer luta política que repousa sobre a prisão e o ressentimento conduz a nada, no máximo a uma ideologia de crucificados e mártires, que terminam por ser os fracassados heróis da causa. SANTIAGO, Silviano. Em liberdade: uma ficção de Silviano Santiago. 4. ed. Rio de janeiro: Rocco, 1994. p. 56-57. A partir da leitura das duas obras — “O Pensador”, de Rodin, e o fragmento do romance Em liberdade, de Silviano Santiago, — indique os aspectos em que elas se aproximam quanto à temática. Justifique o seu ponto de vista, embasando-se, sobretudo, no fragmento transcrito (II). Resposta sugerida pela banca: Tanto o texto I quanto o texto II evidenciam o homem e seu caráter reflexivo e o estado de tensão gerado por esse ato. No texto I, isso é visto no semblante do homem e na sua postura corporal. No texto II, o narrador personagem reflete sobre a sua situação de experseguido político, vítima de um regime opressor e rejeita a ação dos amigos que querem aprisioná-lo nessa condição, transformá-lo em “bandeira de luta”. As questões a seguir, propostas pela banca da UNICAMP, tratam do uso da grafia como transcrição da fala. Retome esse conceito linguístico antes de resolver os itens apresentados. Aproveite também para revisar o tópico variação linguística. UNICAMP – 2009 Questão 10 É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no universo rural brasileiro. a) Explique o recurso utilizado para caracterizar o modo de falar das personagens na tira. Resposta esperada pela banca: O recurso utilizado é a transgressão da ortografia ou, dito de outra forma, o uso da grafia como transcrição da fala; ou seja, a tira apresenta uma forma de escrita que tenta reproduzir a fala das personagens. Esse recurso pode ser exemplificado de três maneiras: pela troca da consoante l por r (como em prantando); pela supressão da vogal na proparoxítona (como em árv[o]re), processo muito comum na fala; e pela troca da vogal e por i (como em di e isperança). b) É possível afirmar que esse modo de falar caracterizado na tira é exclusivo do universo rural brasileiro? Justifique. Resposta esperada pela banca: Não. Os fenômenos representados na tira encontram-se também em regiões urbanas e não refletem, necessariamente, escolaridade ou classe social do falante. Por exemplo, a troca da consoante l por r é um processo bastante recorrente nas regiões urbanas. A supressão da vogal em palavras proparoxítonas (xícara, abóbora, etc.) faz parte de um processo fonológico amplamente presente no português brasileiro de forma geral. Finalmente, a elevação da vogal átona (e _i) é uma marca de diferenciação regional e não de oposição rural/urbano. Não se cobrará o uso de metalinguagem na referência aos fenômenos aqui mencionados. A questão a seguir trata das possíveis diferenças sintáticas entre o português falado na Europa e o falado no Brasil. Aproveite para retomar o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que entrou em vigor em 2009, e que alterou a acentuação de algumas palavras, extinguiu o uso do trema e sistematizou a utilização do hífen, entre outras mudanças. A Academia Brasileira de Letras publicou a 5ª. edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) que já está em consonância com o novo Acordo Ortográfico. UNICAMP – 2009 Questão 11 Calvin é personagem de uma conhecida tirinha americana traduzida para várias línguas. a) A primeira tira é uma tradução portuguesa e a segunda, uma tradução brasileira. Dê um exemplo de uma diferença sintática entre a tradução do português europeu e a do português brasileiro. Descreva essa diferença. Resposta esperada pela banca: Normalmente, considera-se que as diferenças entre o português falado na Europa e o falado no Brasil são meramente lexicais ou, quando muito, fonológicas. A questão pretende que o candidato seja capaz de detectar diferenças sintáticas entre as duas línguas que, de forma alguma, devem ser caracterizadas, respectivamente, como norma culta (a tradução lusitana) e forma coloquial ou não normativa (a tradução brasileira). São vários os exemplos de diferenças sintáticas encontradas na comparação entre as duas tiras. Não se espera que o candidato utilize de metalinguagem, mas que, antes de tudo, seja capaz de apontar e descrever as diferenças. Agruparemos alguns exemplos das possíveis diferenças a serem apontadas e as descreveremos em seguida. Grupo 1 Não vou comer vs. eu não vou comer; é um prato de lixo tóxico vs. isso é uma pasta tóxica; se o comeres vs. se você comer; já sinto os efeitos vs. eu sinto. Nos casos acima, no português brasileiro o sujeito é sempre expresso lexicalmente na sentença, diferentemente do que ocorre no português europeu. Grupo 2 se o comeres vs. se você comer. Nesse caso, o português europeu retoma o antecedente mistela verde pelo pronome o, enquanto o português brasileiro deixa o complemento do verbo comer sem nenhuma retomada lexical para coisa verde. Ainda no exemplo acima, há a diferença entre o uso da segunda pessoa do discurso marcada morfologicamente no verbo em português europeu (se [tu] comeres), enquanto no português brasileiro o mais usual é o você, com o verbo na terceira pessoa (se você comer). Grupo 3 que te transformará vs. que irá te transformar Nesse exemplo, é importante perceber que o português brasileiro, diferentemente do europeu, marca o futuro com o uso de dois verbos (forma analítica). Ainda no exemplo acima, há a diferença de posição do te em português europeu, como proclítico ao verbo em função do que, e como proclítico ao infinitivo no português brasileiro. Grupo 4 de o pôr a comer vs. de fazer ele comer Aqui a oposição se dá no uso do pronome que retoma Calvin. Na fala, geralmente não se encontram, no português brasileiro, as formas oblíquas (o), mas as retas (ele). Nesse caso específico é importante salientar que há uma diferença de estrutura resultante da opção de tradução pelos verbos pôr e fazer. No caso do português europeu, o pronome é o complemento direto do verbo [pôr X [a comer]]. No caso do português brasileiro, temos os chamados “sujeitos acusativos”, ou seja, o pronome é sujeito da sentença subordinada, mas igualmente objeto do verbo da sentença principal [fazer [ X comer]]. b) Explique a diferença de sentido entre os verbos ter e haver em “Tem que haver um jeito melhor de fazer ele comer!”, na segunda tirinha. Resposta esperada pela banca: Espera-se que o candidato perceba que o verbo ter, nesse caso específico, é parte da expressão tem que, cujo sentido é o de ‘ter obrigação de’, ‘ser preciso’, ‘ser necessário’, ‘dever’. Por outro lado, o verbo haver tem o sentido de ‘existir’. A questão a seguir tem como base um anúncio publicitário que faz uso da polissemia dos signos (multiplicidade de significados de uma palavra) como recurso de construção de sentidos. Esse tipo de questão tem sido muito comum nos concursos vestibulares. Analise-a com cuidado. Identifique em que palavras se percebe o uso desse recurso na propaganda apresentada e explique como isso ocorre. UFBA – 2008 (2ª fase) Questão 12 VIVO: propaganda. Veja, São Paulo: Abril, ed. 2000, ano 40, n. 11, 21 mar. 2007. Fragmento do encarte especial destacável. O texto publicitário faz uso da polissemia dos signos — ou seja, da multiplicidade de significados de uma palavra — como recurso de construção de sentidos. Identifique em que palavras se percebe o uso desse recurso na propaganda apresentada e explique como isso ocorre. Resposta: A oração “que Vivo pega”, no contexto em que está sendo utilizada, tem sentido ambíguo: Vivo tanto pode significar esperto, quanto pode ser lido como o nome da operadora telefônica. O cliente esperto usa (“pega”) a operadora, uma vez que ela não apresenta problemas na captação do sinal (ou seja, “pega”), ou, ainda, Vivo agrada, vira moda (“pega”). Na segunda ocorrência, a palavra “Vivo” aparece como marca, sinônimo (sinal) de qualidade. O termo “sinal” também pode ser lido como contato da rede de telefonia. UFR – 2009 Questão 13 Leia a tira de Ciça. Sobre a tira, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. () () () O uso da expressão rainha do lar é um recurso persuasivo, uma vez que a personagem masculina tem intenção de interferir na vontade e na ação das personagens femininas. Outrora, a expressão rainha do lar era usada como forma de a mulher sentir-se importante e feliz como dona de casa, sem desejar entrar no mundo pertencente ao homem. No segundo quadrinho, a fala da personagem masculina indica sua resistência em aceitar a nova situação da mulher e, no terceiro, reafirma sua postura de autoritarismo. Assinale a seqüência correta. A) V, F, V B) V, V, F C) F, V, F D) V, V, V E) F, F, V Resposta: D