ID: 59421610 25-05-2015 Tiragem: 8000 Pág: 8 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,00 x 32,38 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 2 Jornalistas temem ameaças à liberdade de imprensa FELISBELA LOPES, investigadora da Universidade do Minho, falou com cem jornalistas sobre os constrangimentos à liberdade de imprensa. Resultados estão no livro ‘Jornalista: profissão ameaçada’ COMUNICAÇÃO | José Paulo Silva | Felisbela Lopes apresenta esta quarta-feira, dia 27 de Maio, na Livraria Alêtheia, em Lisboa , o livro ‘Jornalista, profissão ameaçada’. A obra da investigadora na área dos media da Universidade do Minho traça um cenário preocupante sobre o exercício do jornalismo e a liberdade de imprensa em Portugal a partir do testemunho de um centena de profissionais do sector. As respostas de directores, editores e repórteres de praticamente todos os órgãos de comunicação social de âmbito nacional à pergunta: ‘Quais os maiores constrangimentos à liberdade de imprensa que os jornalistas portugueses enfrentam hoje?’ permitiram à autora concluir que “a profissão de jornalista está ameaçada”, seja “por uma crise económica que muitas vezes coloca em causa a independência das redacções”, seja “por fontes hegemónicas que querem tomar de assalto o espaço mediático”, seja ainda “por quadros legais que desamparam o jornalista na sua procura de informação”. Felisbela Lopes constata que “aquilo que hoje mais atormenta os jornalistas são os constrangimentos económicos”, afiançando que “estão aí as principais censuras”, agora concretizadas “na diminuição de meios, na redução de equipas, na limitação dos trabalhos”. De tudo isso ressalta “o pânico de perder o em- ROSA SANTOS “Os media tentam fazer a quadratura do círculo: fazer mais (conteúdos) com menos (dinheiro e profissionais)” prego” num contexto de “reduzido número de grupos editoriais”. Ao Correio do Minho, Felisbela Lopes lamenta a falta de empenho da classe política em legislar por uma efectiva limitação da concentração de meios de comunicação social. Outro dos constrangimentos apontados pelos jornalistas portugueses à liberdade de imprensa é “a pressão das fontes”. Se “o político que pressiona directamente o jornalista pertence ao passado”, hoje são cada vez mais assessores e agências de comunicação que exercem “pressão de agendamento e de cobertura mediática com técnicas apuradíssimas”. De acordo com a autora de ‘Jornalista: profissão ameaça- da’, “os jornalistas ficam próximos do estatuto de ‘copy paste’ ou de pé-de-microfone”, resignados que parecem estar “às versões daqueles que se instalaram no poder”. Há, segundo a investigadora da Universidade do Minho, “uma ditadura proveniente das fontes organizadas” e “uma confraria "Nunca tivemos acesso a tanta informação, mas também nunca tivemos tanta necessidade de quem a seleccione e lhe destaque conforme a relevância e o interesse.” Felisbela Lopes que domina os ‘plateaux’ informativos das televisões em horário nobre”. Felisbela Lopes volta a tocar num ponto sobre o qual tem alertado nos últimos anos: “n ‘o caso da região Norte, a pouca presença de protagonistas e analistas dela oriundos nos plateaux informativos das televisões é particularmente grave e incompreensível quando se trata de uma massa populacional de cerca de 3,7 milhões de pessoas, que concentra quase 40 por cenro das exportações, que tem tradicionalmente uma grande dinâmica sociocultural e onde se situam a segunda e terceira cidades do país” ( Porto e Braga). Justiça, futebol e campanhas eleitorais são “três campos so- ciais que procuram controlar os jornalistas”, assume Felisbela Lopes. No caso da Justiça, a investigadora da Universidade entende que o segredo de justiça é, perante os desenvolvimento dos últimos casos mediáticos nesta área, “um dever que os jornalistas têm o direito de violar” em nome da liberdade de imprensa, até que se faça uma classificação moderada dos processos com limitação de informação públicam, se circunscreva “a circulação de dados em investigação por um número muito reduzido de pessoas” e se promova uma “política de comunicação que termine de vez com o espectáculo de câmaras e microfones montado à porta dos tribunais. O futebol é visto pelos jornalistas que acompanham esta indústria desportiva como “campo de alta pressão” onde a liberdade está amputada. “Os jornalistas não falam com quem querem, falam com aqueles que querem dizer qualquer coisa no espaço mediático”, sendo claro neste universo que “mandam as fontes”. Sobre a cobertura das campanhas eleitorais, matéria que ganhou actualidade durante a escrita de ‘Jornalista: profissão ameaçada’, a autora não tem dúvidas: é necessária “uma legislação que garanta autonomia editorial e o direito à liberdade de informação” e deve acabar o anacrónico “dia de reflexão” em véspera do acto eleitoral. Perante este cenário sombrio traçado pelos próprios jornalistas sobre o exercício da profissão, Felisbela Lopes aponta “caminhos alternativos”, desafiando estes profissionais “a reinventarem processos produtivos de notícias”. Mas “seria também importante que as empresas reforçassem as práticas de deontologia e prática empresarial” para que o cartão de crédito não assuma de vez o lápis azul da censura de tempos idos. §perfil Investigação A informação da TV Felisbela Lopes, professora associada com agregação da Universidade do Minho, foi colaboradora no jornal Público entre 1990 e 1996, ano em que iniciou a sua carreira académica. É doutorada em informação televisiva e desenvolve investigação nesta área e em Jornalismo da Saúde É autora de ‘A TV do Real’ (2008), ‘A TV das Elites’ (2007), ‘A TV do Futebol’ (coordenação; 2006), ‘O Telejornal e o Serviço Público’(1999) e ‘Vinte Anos de Televisão Privada em Portugal’ (2012). É autora de uma crónica semanal no jornal Correio do Minho, comentadora residente da RTP e do Jornal de Notícias. ID: 59421610 25-05-2015 Tiragem: 8000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 4,18 x 3,66 cm² Âmbito: Regional Corte: 2 de 2 LIVRO DE FELISBELA LOPES JORNALISTAS TEMEM AMEAÇAS À LIBERDADE DE IMPRENSA Pág. 8