10Entrevista
Jornal Universitário
Dezembro de 2000
AZIZ
AB
SABER
Eu eliminei as pessoas que chamam
“
de histéricos os que querem discutir
com seriedade os transgênicos
A entrevista a seguir
reproduz os principais
trechos de um programa
exibido pela TV Cultura de
Florianópolis em que os
professores da UFSC Luiz
Fernando Scheibe e Maria
Dolores Buss, além do
presidente da Aassociação
dos Geógrafos Brasileiros
Carlos Porto Gonçalves,
conversaram com o geógrafo
Aziz Ab Saber, Professor da
Universidade de São Paulo e
ex-presidente da Sociedade
Brasileira para o Progresso
da Ciência. O programa foi
gravado durante a realização
do XXII Encontro Nacional
de Geógrafos, que aconteceu
na UFSC no mês de julho.
Scheibe - O encontro tem como
tema geral os outros 500 na formação
do território brasileiro. Queremos chamar a atenção para a questão de que
não basta estudarmos os aspectos históricos e geográficos, mas colocar a geografia na história e vice versa. Mais
do que isso, chamar a atenção para o
fato de que a ciência tem um papel
relevante e não pode se furtar da sua
relação com a cidadania. O que o senhor acha disso?
Aziz – O processo civilizatório dependeu do conhecimento. E ciência é
o conhecimento potencializado pelo
método, pelas técnicas por aparelhagens que foram sendo construídas com
a evolução das teconologias . Evidentemente a ciência prolongada pelas
tecnologias à disposição dos homem
tem a capacidade de elevar o processo
cultural do homem e criar cidadania. A
geografia é o suporte das atividades humanas na face da terra visando a sociedade e o homem e todos os homens,
independentemente de classes. Isso
tem sido a grande contribuição dos
geógrafos para a a conquista da cidadania, já que em outros níveis existe
uma tendência para a segregação dos
diferentes segmentos das sociedade.
Como se uns, por uma questão de berço e de lugar onde nasceram, tivessem
que ser inferiores àqueles que nasceram em berço nobre e em condições
sócio-economicas totalmente diferentes.
Porto – Eu quero colocar uma questão sobre a ciência e a cidadania, com
relação aos espaços públicos e privados. A questão dos trangênicos, por
exemplo, onde se vê a questão dos
insteresses privados e públicos. Há uma
geopolítica neste caso.
Aziz – Foram provavelmente
geógrafos que se dedicaram ao entendimento do espaço como mercadoria
no capitalismo selvagem. E foi um grupo de jovens que percebeu que todos
os espaços eram requeridos pelos
especuladores para que eles tivessem
liberdade total de uso independentemente da organização do espaço. Que
deveria ser privilegiada em termos de
que alguns devem e podem ser usados
para o mundo urbano enquanto outros
são passíveis de serem trabalhados por
agroecossistemas. E outros ainda em
função das biodiversidades que o planeta terra tem em diferentes domínios
e regiões deveriam ser preservados de
um modo integral para todo o sempre,
se possível. E nesse sentido os geógrafos
deram uma primeira contribuição para
mostrar que é impossível um liberalismo total, um neoliberalismo, em que
as pessoas por um direito de propriedade, que as vezes foi fruto de uma história perversa, de apossamento de solos, até por grilagens dentro de um país
de desmensurável extensão como o
brasil - e todo mundo acha que em
função da propriedade cartorialmente
registrada pode se fazer o que quiser
com isso. Mas a questão da geopolítica
dos transgênicos me interessa em particular. É evidente que a ciência tem
todo o direito de estudar dentro da
interface entre biologia e biomédicas,
dentro da interface entre biologia e
economicidade, os produtos transgê
nicos. Mas entre estudar e propor e aplicar alguns transgênicos para situações
as mais diversas em países e regiões as
mais diversas existe um abismo. Eu dou
o exemplo que deveria ser meditado
no Brasil com muita insistência. Existem empresas americanas – a
Monsanto, por exemplo – que pressionam o Brasil para que ele entre na era
dos transgênicos na produção da soja.
E essa presão é internacional. E por quê?
Por que nos Estados Unidos eles receberam os transgênicos com muito mais
facilidades, sem pensar no futuro e nas
consequências que possam ter estes
mesmos transgênicos para o homem
mas também para a economia E depois eles têm o interesse de que outros entrem na era dos transgênicos
porque poderia haver mais mercado
para aqueles que não entraram. E isso
os cientistas brasileiros não são capazes de perceber. Eu ainda estou lembrando de algumas manifestações que
ocorreram na SBPC, tanto no Rio Grande do Sul como agora em Brasília em
que as pessoas falam dos transgênicos
com a maior facilidade. E criticam os
outros como histéricos por que seriam contra os transgênicos. O que me
deixa profundamente indignado. Eu
eliminei as pessoas que chamam de
histéricos aqueles que querem discutir com seriedade a questão dos
transgênicos. Vejamos o caso do Rio
Grande do Sul. Se no Rio Grande do
Sul entrassem os transgênicos nós iríamos ter menos mercado para vender a soja, por que tem transgênicos
nos Estados Unidos e na Argentina. E
os mais desejados são aqueles que não
são transgênicos pelo mundo inteiro.
Então, do ponto de vista da geopolítica
dos transgênicos, a nossa situação é a
de não permitir que de imediato se
transformem os produtos básicos de
exportação do Brasil- que são uma
garantia dentro de um processo extremamente triste da economia nacionalé necessário que a gente continue com
a soja BR e não entre nos transgênicos.
Para poder favorecer as exportações
“
Os proprietários de
agropecuárias foram
retirando a matinha
da cabeceira e o
resultado é que
houve desperinização
de drenagem em
plena amazônia
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Eu eliminei as pessoas que chamam de histéricos os que querem