Esperamos que esse
dia chegue logo
O
crescimento da economia brasileira fez com
que a arrecadação de impostos no Brasil batesse mais um recorde em abril desse ano. Nesse
referido mês, a União arrecadou R$ 70,9 bilhões,
representando um crescimento de 16,75% em
relação ao mesmo mês do ano passado. É bom
lembrar que as receitas vêm batendo recordes há 7
meses seguidos.
Autoridades econômicas e os políticos ligados
ao Governo não conseguem esconder a sua imensa
satisfação com o bom momento da economia brasileira, principalmente pelo fato de ocorrer em pleno
ano eleitoral.
As previsões de crescimento econômico do país
convergem para um valor superior a 6% em relação
ao ano anterior. Trata-se de um valor que há muito
tempo o país não alcançava.
É bom ressaltar, entretanto, que esse valor é
comparado com uma base muito baixa, ou melhor,
com uma base negativa. Isso porque, em 2009, o
Produto Interno Bruto (PIB) teve uma queda de 0,2%,
como consequência da crise financeira mundial.
Nessas condições a economia do Brasil está apenas
buscando de volta, em 2010, aquilo que foi perdido
em 2009. Mesmo assim essa reação mostra a força
da economia brasileira.
Quando comparamos o crescimento do Brasil,
nesse ano, em relação aos dos outros países, vemos
que a continuidade da política econômica nos últimos
anos tornou o país mais forte contra crises externas.
A média de crescimento da economia mundial, em
2010, deverá ser de 4,2% e a da América Latina de
4,0% (previsões do Fundo Monetário Internacional),
o que mostra uma performance econômica do Brasil
bem superior á média global e regional.
Voltando aos recordes de arrecadação federal
de impostos, que nesse ano já totalizou R$ 256
bilhões (de janeiro a abril), podemos chegar a duas
conclusões. A primeira é que a carga tributária
sobre o setor produtivo do país continua muito
elevada e a segunda é que esses fartos recursos
têm o efeito colateral de permitir o prosseguimento
dos altos gastos públicos, sem maiores conse­
6 - BRAZIL EXPORT
quências no curto-prazo.
Dissemos que a economia brasileira é forte, mas
poderia ficar mais forte, ainda, com crescimentos
mais significativos e sustentáveis no longo prazo.
Para isso, seria necessária uma política de menores
e mais eficientes gastos, ampliação dos recursos de
investimento e uma mentalidade voltada às reformas
do Estado.
O Governo, entretanto, tem ido na direção oposta.
Ele manteve uma das maiores cargas tributárias do
mundo com arrecadações crescentes a cada ano
(apenas em 2009 houve uma queda devido à crise
mundial). Apoiado nessa base, o Governo aumentou
progressivamente os seus gastos, contratou novos
funcionários públicos, concedeu aumentos polêmicos aos servidores e ignorou as reformas tributária
e previdenciária, tão necessárias ao Brasil. Está,
portanto, transferindo aos próximos governantes os
custos políticos das fortes medidas a serem tomadas
para o equilíbrio fiscal no futuro próximo.
Para compensar a ausência das reformas o Governo criou a política de superávits primários destinados a reduzir as despesas com os juros da dívida
pública. Essa iniciativa sempre foi bem vista pelos
analistas econômicos e investidores externos, mas
não substitui as reformas. A cada ano, o Governo tem
mais dificuldade para cumprir o valor estabelecido
para esses superávits primários (atualmente em
3,3% do PIB).
Nesse ano eleitoral, o saco de bondades do
Governo e, principalmente, do Congresso vem incluindo muitos cargos públicos e aumentos salariais
inoportunos para os servidores, criando uma despesa
adicional e permanente para os cofres da União, que
pode chegar a R$ 50 bilhões por ano.
Para aquele leitor que acredita que uma arrecadação recorde de tributos poderá levar a um
aumento significativo nos investimentos, a uma
queda na carga tributária e à realização de reformas
do Estado, pedimos que não desanime, pois ainda
vai chegar o dia em que o Brasil estará acima dos
interesses dos políticos. Esperamos que esse dia
chegue logo.
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