Escola E. E. F. M. Félix Araújo – Geografia – Prof° Tibério Mendonça – 1º Ano
OS DESLOCAMENTOS
POPULACIONAIS
A
Palavra migração vem do latim migro,
que significa "ir de um lugar para outro".
Assim, o que denominamos migração
demográfica é o deslocamento realizado por um
indivíduo ou por um grupo de pessoas, que se
desloca de um lugar para outro no qual pretende
viver, fixar residência. A população que realiza
esses deslocamentos é denominada migrante; se
esse movimento for de saída (de seu país de
origem, por exemplo), também é conhecida como
emigrante. O movimento contrário, de entrada,
distingue os imigrantes. O saldo entre o número
de imigrantes e emigrantes é a migração líquida,
ou saldo migratório, o qual tanto pode ser
negativo como positivo.
Quando o movimento migratório ocorre
de uma nação para outra é chamado de migração
externa; já a migração interna é a que se realiza
dentro de um mesmo país. Entre as migrações
externas mais importantes da atualidade destacase a dos países subdesenvolvidos para os países
desenvolvidos, que têm as melhores ofertas de
trabalho, além da possibilidade de uma vida
melhor. Contingentes significativos da população
dos subdesenvolvidos vêem-se atraídos por esses
benefícios, e, assim, deixam seus territórios de
origem.
Tipos de migrações
Êxodo rural ⇒ é o processo de saída do
homem do campo para as cidades.
Normalmente é um processo definitivo;
Êxodo urbano ⇒ é o processo de saída do
homem da cidade para o campo;
Pendular ⇒ constituem deslocamentos
diários de milhões de trabalhadores que
moram na periferia e nos subúrbios, pela
manhã, em direção ao centro, retornando a
seus lares após a jornada de trabalho;
Intra-regional ⇒ é uma migração interna,
realizadas dentro de uma mesma região de um
país;
Inter-regional ⇒ é uma migração também
interna, realizadas dentro de um país só que
de uma região pra outra;
Desterritorialização ⇒ é o processo no qual
a população de um país, região é obrigada a
deixar sua área por uma série de razões, seja
por ordem natural, política, guerra, etc;
Transumância ⇒ é o deslocamento sazonal,
que estão relacionadas as estações do ano.
Essas migrações são do tipo “vai-e-volta”,
isto é, o indivíduo desloca-se de sua área de
origem para outra área, retornando
posteriormente;
Transfronteiriço ou Commuting ⇒ é o
movimento de pessoas que diariamente
atravessam a fronteira entre dois países para
trabalhar, usar serviços etc.;
Nomandismo ⇒ se caracteriza pelo
deslocamento constante de povos ou tribos
em busca de alimentos, pastagens etc. Os
povos nômades não têm habitação fixa,
morando
quase
sempre
em
tendas
desmontáveis.
Processo migratório nos países desenvolvidos
entre os séculos XIX e XX
Uma explosão demográfica tomou conta
da Europa no fim do século XIX e no início do
XX. A ciência melhorara a qualidade de vida e
mais pessoas sobreviviam às doenças,
aumentando a expectativa de vida e elevando as
taxas de natalidade. Ao mesmo tempo, crises
agrícolas causaram a escassez de alimentos em
razão da devastação provocada por sucessivas
guerras. A solução para o excedente de população
estava em países longínquos como os do
continente americano, carentes de mão-de-obra.
Nações como o Brasil prometiam terras e
a possibilidade de realização do sonho de riqueza
e, assim, atraíam trabalhadores italianos, alemães,
espanhóis e japoneses. Entre 1890 e 1899, entrou
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no país 1,2 milhão de imigrantes. O número
equivale ao de estrangeiros no Censo de 1940 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Na primeira metade do século XX, as
migrações do velho mundo (Europa) em direção
ao novo mundo (Américas) continuariam, embora
em menor número.
Inversão de rota
Nos últimos 50 anos, porém, a situação se
inverteu. Os países desenvolvidos viram sua
população diminuir. A tendência foi verificada
depois da 2ª Guerra Mundial, quando as taxas de
natalidade caíram, causando o envelhecimento da
população. Ao mesmo tempo, houve elevação do
nível educacional. A partir daí, passou a faltar
trabalhadores para os serviços pesados e mal
remunerados, desprezados pela população nativa.
Isso ocorreu em países como os Estados Unidos,
o Japão e nos da Europa Ocidental. Foi aí que se
inverteu a mão da rota da corrente migratória.
Atualmente, o número de migrantes no mundo
inteiro chega a 200 milhões. O principal fluxo
migratório, de cerca de 60%, sai dos países
pobres e em desenvolvimento rumo aos
desenvolvidos.
Neles, no entanto, as vantagens oferecidas
tanto à população nativa quanto ao imigrante não
são as mesmas de décadas atrás. De maneira
geral, o Estado já não é capaz de sustentar o
crescimento de benefícios como aposentadoria e
seguro-desemprego para as populações cada vez
mais envelhecidas. Além disso, a globalização
facilitou a migração de empresas e pessoas, com
vantagem para os que são "competitivos" - com
alto nível de educação e de especialização.
Nesse contexto, os imigrantes qualificados
se sentem atraídos pelos países mais ricos, onde
os salários são mais elevados. É o que se chama
de "fuga de cérebros" das nações pobres. Esse
tipo de emigração, bastante seletiva, vem
ocorrendo nos últimos anos. Isso ocorre mesmo
nos casos em que o cargo a ser ocupado é inferior
à do país de origem. Dados do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) de
2006 mostram que os 10% da população de renda
mais baixa na Noruega ganham mais que os 10%
mais ricos de 57 países, entre eles Ucrânia, Egito,
Índia e Paquistão.
A Xenofobia
A concorrência entre os habitantes do país
e os imigrantes por postos de trabalho e as
diferenças culturais têm gerado tensão nos países
ricos, a ponto de os governos instituírem políticas
restritivas à entrada de mais imigrantes e de as
fronteiras
européias,
norte-americanas
e
australianas passarem a ser protegidas por muros
e cercas e vigiadas constantemente por câmeras e
guardas.
A aversão aos estrangeiros, chamada de
xenofobia, se expressa também nas urnas.
Governos de direita - tradicionalmente contrários
aos imigrantes - vêm ganhando força com
propostas de endurecimento às leis de imigração e
combate aos clandestinos como forma de proteger
os interesses dos cidadãos naturais da terra. O
terrorismo, outra forte causa de xenofobia atinge
principalmente os imigrantes de origem árabe e
muçulmanos, mas leva desconfiança aos demais.
Um triste exemplo foi o caso do brasileiro Jean
Charles de Menezes, que vivia ilegalmente em
Londres e foi assassinado pela polícia inglesa no
metrô em julho de 2005, confundido com um
terrorista.
Barreiras
A pobreza decorrente do desenvolvimento
desigual do planeta, agravada nas últimas décadas
pela globalização, é um dos motivos que
intensificam a corrida migratória. Outro são os
conflitos, como os da África e do Oriente Médio,
que fazem aumentar o número de refugiados.
Antes abertos aos imigrantes, países como Canadá, Austrália e, sobretudo, Estados Unidos
passaram a restringir a imigração, preferindo
acolher apenas a mão-de-obra qualificada e,
portanto, mais apta a contribuir para o
enriquecimento do país.
Um exemplo de zona de tensão está na
fronteira dos EUA, o país mais rico do mundo,
com o México. Na Europa, os imigrantes somam
56,1 milhões de pessoas - cerca de 10% são
ilegais. Os obstáculos naturais enfrentados para
chegar ali também são dificílimos de transpor. Os
africanos, por exemplo, atravessam o imenso
Saara a partir de diversos pontos até chegar às
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praias do Mediterrâneo na esperança de burlar a
vigilância e alcançar país europeu escolhido.
Quando conseguem entrar no país
escolhido, os imigrantes caem na mira de
policiais. Clandestinos, levam vida difícil, são
alvo de discriminação, exploração em
subempregos e vitimas de violência, pois não
podem recorrer à polícia para denunciá-la.
Estimativas do UNODC (órgão das Nações
Unidas contra o crime e drogas) indicam que o
tráfico internacional de mulheres, crianças e
adolescentes movimenta a cada ano entre 7
bilhões e 9 bilhões de dólares, sendo uma das
atividades mais lucrativas do crime organizado
transnacional.
Algumas vezes, mesmo imigrantes
legalizados e seus descendentes nascidos no novo
país enfrentam problemas decorrentes da falta de
oportunidades e, descontentes, geram focos de
instabilidade. Em outubro e novembro de 2005,
na França, uma onda de protestos contra a
exclusão social e a repressão policial tomou os
subúrbios de Paris, reduto de populações
descendentes de imigrantes. Os protestos vieram
de jovens que colocaram fogo em carros e
enfrentaram a polícia.
Na França, 8% da população é de origem
estrangeira. A maioria originária de países
africanos (2,2 milhões), principalmente da
Argélia, antiga colônia. Em seguida, estão os
imigrantes oriundos de nações vizinhas europeus
(1,7 milhão).
A tendência da população mundial é
crescer mais nos países pobres e em
desenvolvimento, onde a taxa de natalidade é
maior. Para conter o fluxo e ainda sim aproveitar
os benefícios econômicos da imigração, os países
desenvolvidos têm adotado medidas de controle
da situação, como concessão de vistos de trabalho
temporário e legalização daqueles que já estão há
muito tempo no território, e procuram evitar a
migração de familiares dos já residentes. Só há
facilidade de aceitação nos casos em que o
imigrante é qualificado para trabalhos
especializados.
Nas regiões mais pobres, o fenômeno da
"fuga de cérebros" preocupa. A situação chega a
extremos como no Caribe e na África, onde 50%
dos profissionais qualificados migram. São
cientistas, professores, médicos, pesquisadores
qualificados. Na África do Sul, os médicos
emigrantes são 9 mil dos 33 mil graduados por
ano. No Brasil, 2,2% das pessoas com educação
superior optam por emigrar, segundo o Banco
Mundial.
Migração interna no Brasil
As persistentes desigualdades entre as
regiões do Brasil são há décadas motivo para
migrações internas. Pelas contas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
39,8% da população, cerca de 72 milhões de
brasileiros, vive fora do município de origem. A
maioria está em idade economicamente ativa,
entre 18 e 39 anos.
Comparando-se os dados recentes aos do
Censo de 2000, verifica-se que o volume de
migrantes que circulam entre as regiões do país
caiu de 5,2 milhões para 4,8 milhões, um
decréscimo de 7%. O Sudeste deixou de ser o
principal destino das migrações. Isso ocorre em
razão do aumento de investimentos no interior,
principalmente na Região Centro-Oeste, que
passou a atrair a maioria dos migrantes
brasileiros, tendo 36,3% de população vinda de
fora.
Segundo o IBGE, atualmente Mato
Grosso é o estado líder em crescimento na
participação do Produto Interno Bruto (PIB)
nacional, resultado da expansão agrícola e da
indústria. Os números também evidenciam o
avanço de migrantes em direção à Amazônia. No
entanto, uma tendência histórica se mantém: a
região que mais "exporta" migrantes ainda é a
Nordeste. Nordestinos totalizam 33% da
população em outras localidades do país.
Mas o Nordeste também vive a "migração
de retorno". Entre 1999 e 2004, 714 mil
nordestinos regressaram à região. Os estados
onde esse movimento é mais evidente são: o
Maranhão, com um aumento de 79%, e o Rio
Grande do Norte, com crescimento de 54%.
O fator determinante para o retorno é a
desconcentração industrial em benefício de todas
as regiões do país.
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A força do imigrante
O poder do imigrante na economia
mundial cresce na mesma medida em que as
correntes migratórias se fortalecem, apesar da
vigilância. Além de assumir subempregos e
produzir riquezas na nação escolhida, ele envia
grandes quantias à família no país de origem.
Em 2005, as remessas oficiais totalizaram 167
bilhões de dólares. Contando com os envios informais - aqueles que não passam por
instituições bancárias -, estima-se que valor
passe de 450 bilhões.
É um dinheiro que acaba sendo fator de
redução da pobreza, já que é usado pela família
nos país de origem, sobretudo para alimentação,
saúde e educação. Nos EUA, os imigrantes são
responsáveis por produzir cerca de 1 trilhão de
dólares por ano em bens e serviços, o que
representa 10% do PIB norte-americano. Em
2006, o fluxo de remessas para a América Latina
e para o Caribe foi de 62,3 bilhões de dólares,
14% a mais do que em 2005, superando o fluxo
de investimentos diretos e ajuda financeira para a
região, segundo o Fundo Multilateral de
Investimentos (Fomin) do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID).
indivíduos prontos para produzir sem que
tenham arcado com os elevados custos de sua
criação e formação;
Podem acarretar mudanças de costumes,
concorrência à mão-de-obra local e problemas
políticos, ideológicos, raciais (formação de
grupos raciais minoritários e socialmente
isolados - os quistos raciais) etc.;
Vantagens econômicas para os países que não
possuem
condições
de
atender
às
necessidades básicas de sua população, tais
como emprego, moradia, saúde e educação.
Por tudo o que estudamos até aqui
(conflitos, guerras, discriminação, adaptação de
migrantes), podemos concluir que o grande
desafio para os países, no século XXI, será o
respeito às diferenças, a convivência entre os
povos e a aceitação do pluralismo cultural.
Conseqüências das migrações
Dentre as muitas conseqüências dos
movimentos
migratórios,
podem
ser
mencionados:
-----------------------------------------
Contribuição e influência no processo de
ocupação e povoamento, na distribuição
geográfica da população e, é claro, no próprio
desenvolvimento econômico;
Contribuição no processo de miscigenação
étnica e na ampliação e difusão cultural entre
os povos;
Quando a emigração significa a perda de
trabalhadores adultos qualificados, bem como
de técnicos e cientistas de alto nível, os
prejuízos para o país emigratório são
enormes, ao passo que para os países
imigratórios as vantagens econômicas são
muito grandes, porque eles estão recebendo
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